segunda-feira, 23 de abril de 2018

A Hora Solene (Nuno Nepomuceno)

Julgavam que a Dark Star estava acabada e que tudo se encaminhava para a paz possível, mas basta meia dúzia de acontecimentos cuidadosamente planeados para revelar a dimensão do seu erro. Uma aparente entrega voluntária deixa a Cadmo completamente exposta e, além das baixas causadas, leva à perda de informação preciosa. Entretanto, um homem é deixado a morrer na rua em resultado de uma traição inexplicável. E o mistério continua. Quem são os responsáveis? De que lado estão, afinal, os que pareciam ser aliados fiéis? E, se sobreviver é apenas o início, onde termina a missão? Alguns inimigos morreram. Outros foram capturados. Mas os piores continuam à solta - e não olharão a meios para a concretização dos seus planos.
Tendo em conta o fim do livro anterior, o mínimo que se poderia esperar deste volume final seriam grandes revelações, momentos de altíssima intensidade e uma série de novas possibilidades a emergir da extensão de um percurso aparentemente quase terminado. E é exactamente isso que este livro apresenta - isso e muito mais. Tudo ganha novos contornos. A informação já conhecida ganha uma nova dimensão e cada nova possibilidade abre caminho a grandes momentos de acção, intrigas e planos complexos e meticulosos e um ritmo de intensidade praticamente irresistível. E, claro, sem perder de vista o outro lado: pois, apesar de ser um espião de topo, André Marques-Smith continua a ser uma figura profundamente humana e com uma vida pessoal bastante rica - vida pessoal essa que complementa na perfeição a teia de intrigas em que a sua profissão e natureza o envolveram.
Sobressai, portanto - além, é claro, das muitas reviravoltas sobre as quais não posso dizer muito sem revelar demasiados segredos - acima de tudo o equilíbrio. André, o espião, é eficiente, meticuloso e implacável. André, o alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é, além de competente, um apoio constante e alguém bastante agradável de se ter por perto. E André, o homem - pura e simplesmente - é um poço de complexidades e de vulnerabilidades que, a cada nova revelação, se torna um pouco mais fascinante. Todas estas facetas fazem parte da sua natureza e o equilíbrio entre as várias partes da sua vida torna o enredo mais amplo, providenciando momentos de grande tensão, mas também de humor e de emoção.
E depois há a escrita, claro, e principalmente a intensidade irresistível com que tudo é narrado, deixando sempre em aberto a tensão que faz querer devorar mais algumas - ou muitas - páginas só para saber o que acontece a seguir. Há em tudo uma muito agradável naturalidade que projecta o leitor para dentro da narrativa e isso confere ao enredo ainda mais intenso, seja nos pontos de máxima tensão, seja nos mais simples e divertidos ou ainda nos rasgos de emotividade que marcam ainda mais por serem sempre surpreendentes.
No fim, quase tudo encaixa no sítio certo. E, se alguns pequenos aspectos parecem passar para segundo plano, também é certo que faz sentido que assim seja, pois, depois de tão longa jornada, não seria realista esperar que não ficassem marcas e silêncios na vida das personagens.
Máxima intensidade e máxima vulnerabilidade: assim se poderia descrever este derradeiro volume de uma história que cativa mesmo desde o início e se abre em mil surpresas até ao fim. Intenso, viciante e cheio de momentos memoráveis, um livro - e uma trilogia - que não posso deixar de recomendar. Muito, muito bom.

Título: A Hora Solene
Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica

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