quarta-feira, 6 de abril de 2016

Razões para Viver (Matt Haig)

Aos vinte e quatro anos, no que devia ser um ponto de viragem positivo na sua vida, Matt Haig deu por si a afundar-se na depressão. Os meses que se seguiram seriam passados no fundo do poço, à procura de motivos para reagir, para superar, para viver. Foram tempos negros e é desses tempos que este livro fala. Mas também de como, depois do abismo, veio a longa subida em direcção à vida. E de tudo - desde as soluções mais aparentemente óbvias às mais difíceis de prever - o que o ajudou a suportar esse caminho.
Este não é propriamente um livro de auto-ajuda, apesar de apresentar uma boa quantidade de conselhos úteis. Também está muito longe de ser um estudo científico, ainda que se debruce, a espaços, sobre algumas das teorias existentes sobre a depressão. O que este livro é, acima de tudo, é um testemunho pessoal de alguém que foi ao inferno e voltou. E é isso precisamente que o torna tão marcante, pois, para quem já passou por lá, ou conhece alguém numa situação parecida, a forma como o autor fala da sua depressão é tão próxima, tão familiar, tão incrivelmente verdadeira que é como se as portas do pensamento se abrissem para dar voz a uma certeza muito simples: não somos os únicos a sentir o que sentimos.
É precisamente esta proximidade, tão eloquentemente escrita, que faz com que este livro cative, literalmente, desde as primeiras páginas. Ao falar dos seus momentos mais negros, a autor descreve algo relativamente ao qual é fácil sentir um certo reconhecimento. E descreve-o com imagens tão certeiras que a empatia e a identificação com o que nos está a contar são quase instantâneas. É tudo tão intenso e tão real, principalmente quando fala dos seus tempos mais negros, que a verdade das palavras é quase palpável.
Mas há mais de cativante neste livro para além da clareza dos factos. A forma como o autor constrói o livro, num registo muito próprio, em que a sua experiência pessoal se conjuga com os factos científicos conhecidos e uma análise muito clara, ainda que sucinta, à que é, ainda, a posição de muita gente sobre a depressão, permite transmitir um panorama muito claro sobre a doença. Além disso, ao partir do colapso para descrever a sua caminhada em direcção à recuperação, transmite também uma mensagem muito positiva: há vida para além da depressão. As coisas vão melhorar. Também isto passará.
Claro que não aponta respostas nem soluções universais - até porque, se elas existem, não são propriamente conhecidas. O que faz é contar-nos aquilo que funcionou na sua experiência pessoal e o que daí resultou em termos de futuro. E é talvez isso o mais importante neste livro que é todo ele memorável: a ideia de futuro e de vida depois do abismo. A compreensão de que, chegados ao fundo, há sempre a possibilidade de subir.
Este é, portanto, um livro corajoso, em que o autor abre as portas da sua experiência pessoal para transmitir uma mensagem muitíssimo pertinente: a de que há sempre razões para viver. Por isso, e por todas as pequenas coisas que lhe dão forma, tudo neste livro é uma lição. E uma daquelas que é imperioso assimilar. Recomendo sem reservas.

Autor: Matt Haig
Origem: Recebido para crítica

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