quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Tomada de Madrid (Mário Silva Carvalho)

Vivem-se os dias de (mais) uma guerra com Espanha e os avanços e recuos, tomadas e perdas, sucedem-se com impressionantes sucessos - e alguns erros flagrantes - para o lado de Portugal e dos seus aliados. E, algures entre todas estas movimentações, está Francisco de Brites, originário de Olinda e a combater por Portugal. É nesse percurso rumo a Madrid que as forças onde Francisco se encontra tomam Salamanca. E é aí que Francisco avista pela primeira vez a dona do seu coração. Chama-se Mariana, está prometida a outro homem e tudo indica que corresponde ao afecto do oficial português. Mas é também nobre e, por isso, de uma posição demasiado elevada para que Francisco possa aspirar a torná-la sua. E, entretanto, a guerra traz novos desencontros. E tudo pode acontecer.
Construído em forma de romance, mas centrado em grande medida nos elementos históricos, este é um livro que desperta sentimentos ambíguos. Primeiro, porque a história de amor associada ao protagonista parece, por vezes, assumir um papel claramente secundário relativamente aos desígnios da guerra. E depois porque o desenvolvimento de todos esses elementos, com todos os planos e movimentações associados, parecem conferir ao enredo um tom mais distante.
E, assim sendo, sentimentos ambíguos porquê? Porque a verdade é que, excepto na fase final, não é fácil sentir grande empatia para com as personagens, mas, apesar disso, o seu percurso não deixa de ser interessante. E é verdade também que a forma como alguns acontecimentos são narrados, de maneira muito sucinta e enfatizando acima de tudo os factos históricos, parece, por vezes, um pouco confusa, mas há, apesar disso, muito conhecimento a retirar. Junte-se a isto o facto de a narrativa crescer em envolvência com o evoluir dos acontecimentos, e o resultado é uma história que começa por parecer um tanto vaga, mas que, aos poucos, começa a cativar.
Há, além disso, alguma evolução em termos emocionais, se assim lhe podemos chamar. Não que chegue a haver propriamente muitos momentos emotivos (havendo, ainda assim, um ou outro na fase final). Mas as circunstâncias do protagonista, a forma como algumas personagens são tratadas e a forma como o amor de Francisco e a sua Mariana acaba por se expressar acabam por atenuar um pouco a tal sensação de distância, humanizando um pouco mais os indivíduos no centro de uma luta de forças maiores.
Ficam, portanto, os tais sentimentos ambíguos. Mas também a impressão de um livro que, apesar do início um pouco confuso, acaba por, com a sua vastidão de elementos históricos e o crescimento que, partindo das personagens, se estende ao próprio enredo, proporcionar uma boa leitura. E isso basta para que valha a pena conhecer esta história.

Autor: Mário Silva Carvalho
Origem: Recebido para crítica

1 comentário:

  1. Fiquei curiosa. Mesmo não sendo algo tão original assim, histórias sobre guerras são um dos meus pontos fracos. E, na minha opinião, valem a pena mesmo sendo um fiasco ahaahhaha

    http://notasmentaisparaumdiaqualquer.blogspot.com/

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