segunda-feira, 18 de maio de 2015

A Rapariga no Comboio (Paula Hawkins)

Todos os dias, à mesma hora, Rachel entra no comboio. Faz parte da sua rotina. E, todos os dias, ao passar pela zona onde fica uma casa que lhe diz muito, observa o que julga ser o casal perfeito. Na sua imaginação, idealiza-lhes uma vida de felicidade e de genuíno afecto, tudo aquilo com que um dia sonhou. Até que um dia vê algo de diferente, algo que a leva a questionar o que realmente sabe sobre aquelas pessoas. E, quando pouco tempo depois, descobre que aquilo que viu pode dar respostas a um acontecimento perturbador, Rachel sente-se obrigada a contar tudo à polícia. O problema é que Rachel não é propriamente uma testemunha fiável. E o que sabe - ou pensa saber - pode não ser inteiramente real.
Narrado a partir dos pontos de vista de três das personagens mais importantes da história, este é um livro que cativa em primeiro lugar pela sua aura de mistério. Tanto na forma como as personagens se referem às suas vidas como no que vêem e conhecem da situação global, há, para cada revelação feita, um novo conjunto de possibilidades insinuadas, que abrem caminho a um novo conjunto de perguntas. É isso que, em primeiro lugar, desperta a curiosidade em saber mais e que, ao mesmo tempo, cria para o enredo um crescendo de intensidade que, com o conhecimento gradual das personagens - com tudo o que têm de contraditório e disfuncional - , facilmente se torna viciante. 
Também especialmente interessante é o facto de grande parte da história girar em torno de um acontecimento central, mas, ainda assim, haver todo um conjunto de elementos complementares a expandir a complexidade do enredo. A história de Rachel mistura-se com as de Megan e Anna, com todos os pontos e pessoas comuns nas suas vidas, mas também com o que têm de próprio e de divergente. Neste sentido, aliás, importa ainda realçar uma outra característica que sobressai. É que, sendo os capítulos narrados pela voz destas três personagens, e apesar das notórias semelhanças entre elas, cada uma delas tem uma voz própria, que transparece não só das suas circunstâncias, mas principalmente da forma como estas são narradas.
E se tanto as personagens como a forma como a sua história é narrada têm, por si mesmas, muito de intrigante, a forma como tudo converge para dar forma à história torna o enredo ainda mais intenso. É que, de descoberta em descoberta, a autora conduz personagens e leitor num percurso cheio de reviravoltas, muitas delas completamente inesperadas e, mesmo as que não o são, bastante interessantes. Tudo numa história de ritmo envolvente, com personagens tão complexas como fascinantes, e que culmina num final particularmente marcante.
Ora, a impressão que fica de tudo isto não podia deixar de ser muito positiva. E, assim sendo, o que fica deste A Rapariga no Comboio é a ideia de uma história surpreendente, viciante e em que o mistério está tanto nos acontecimentos como nas personagens que os protagonizam. Recomendo, portanto.

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