quinta-feira, 5 de março de 2015

Duas Vidas (Sheliza Firoz Hajiani)

Quando o pai lhe comunica que, devido a uma proposta de trabalho, têm de se mudar para Lisboa, Melanie percebe que a sua vida está prestes a mudar. Mas está longe de imaginar quanto. Longe da cidade que sempre conheceu e dos amigos mais próximos, Melanie apercebe-se, pela primeira vez, do quanto os pais estão ausentes da sua vida. Começa a questionar-se e a revoltar-se. E quando, numa escola nova, descobre que a integração só pode acontecer se se juntar a um grupo que é, em tudo, diferente do que ela sempre foi, Melanie começa a mudar os seus comportamentos. E a seguir por caminhos dos quais será difícil voltar.
Sendo este o primeiro livro de uma autora muito jovem, esperam-se, à partida, algumas fragilidades, mas também algum potencial. E o potencial existe, de facto. Há uma vontade da parte da autora de retratar os problemas da adolescência, as dificuldades de uma vida familiar com pais ausentes e as consequências de seguir por uma vida de vícios. Enfim, há na base da história uma mensagem positiva, que tem os seus pontos de interesse e o potencial para ser desenvolvida em algo de muito bom.
Infelizmente, as vulnerabilidades da narrativa abafam muito deste potencial. Desde logo, por uma escrita bastante confusa, em que as ideias são muitas vezes repetidas e em que a própria construção frásica é, por vezes, bastante estranha. E se, no que diz respeito à construção do texto, uma boa revisão teria resolvido muitos dos problemas, há, ainda assim, incongruências no desenvolvimento ou facetas deixadas por explorar. A acção decorre em Lisboa, mas todas as personagens têm nomes estrangeiros. Há situações relevantes - como a reabilitação de Melanie, por exemplo - que são exploradas de forma demasiado apressada. E, no que diz respeito às personalidades, são pouco desenvolvidas, excepto nas características mais vincadas e, por isso, dificilmente despertam empatia.
Quanto à protagonista, há, de facto, uma certa evolução com o desenrolar dos acontecimentos, o que torna as coisas bastante mais interessantes na fase final. Ainda assim, e mesmo tendo em conta que se trata de uma adolescente, Melanie é uma personagem demasiado centrada em si própria e até os seus momentos mais introspectivos se aproximam mais de birras que propriamente de pensamentos.
O que fica de tudo isto é uma história que poderia ter sido bastante mais interessante, mas da qual muito se perde pela narrativa confusa e pelo muito que é deixado por desenvolver. Há, ainda assim, bastante margem para evolução.

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