terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Manuscrito nos Confins do Mundo (Marcello Simoni)

Konrad von Marburg é um homem de disciplina férrea, mas que, confrontado com a heresia, não está disposto a deter-se perante nada que se meta no caminho entre ele e a sua presa. É aliás essa a razão que o leva a seguir um rasto de mortes que começa com um prisioneiro assassinado em circunstâncias estranhas e que segue no rasto de um magíster ambicioso que se vê com uma missão desagradável nas mãos. Tudo converge para um mesmo ponto: Nápoles, onde Ignazio de Toledo se encontra a negociar a venda de uma falsa relíquia e, devido a um mal-entendido e à aparição inoportuna de Suger de Petit-Pont, é confundido com um necromante que, ao que tudo indica, estará na origem das tais estranhas mortes. O problema é que von Marburg não está disposto a ouvir argumentos. E, por isso, a sede de conhecimento de Ignazio pode ser, desta vez, o seu fim.
De volta à vida de Ignazio de Toledo, mas, desta vez, numa aventura de contornos bastante diferentes, este terceiro livro constrói para o seu protagonista um percurso bastante peculiar. E a diferença nota-se logo nos primeiros capítulos, já que a entrada em cena de Ignazio é bastante mais tardia, sendo outras as personagens que se destacam na fase inicial. Mas, mais que isso, é interessante notar que, apesar de disposto a tudo na sua busca por conhecimento, o envolvimento de Ignazio nesta aventura em particular é, em grande medida, involuntário, o que, ao torná-lo, de certa forma, numa vítima das circunstâncias, permite ver a sua natureza de uma perspectiva diferente.
Este é, por si só, um ponto de partida bastante cativante, e uma boa forma de abrir caminho para uma história feita de acção em abundância, umas quantas revelações inesperadas e, principalmente, um toque de emoção bastante surpreendente. Ignazio não é uma personagem especialmente empática e muito menos o será Konrad von Marburg. Mas, ao longo do caminho que conduz ao confronto entre ambos, há toda uma multiplicidade de personagens e de acontecimentos que, por uma ou outra razão, despertam empatia. E esta empatia, associada às circunstâncias delicadas do próprio protagonista, é um dos elementos que mantém sempre viva a vontade de saber mais.
Quanto ao mistério propriamente dito, sobressaem dois aspectos. O elemento possivelmente sobrenatural, bem desenvolvido e com algumas revelações surpreendentes, contribui também em muito para que a leitura nunca deixe de ser intrigante. E as possibilidades em torno do "verdadeiro" magíster de Toledo, com todas as pistas e ligações a conduzir o enredo no sentido de um final que, pelo que tem de surpreendente, mas também pela intensidade dos momentos narrados, acaba por se revelar como especialmente satisfatório.
Intrigante, pois, tanto pelo cenário como pelas personagens que o povoam, este é, portanto, um livro que, com uma boa história, personagens fortes e um bom equilíbrio entre acção, mistério e emoção, cativa desde as primeiras páginas e nunca deixa de surpreender. Muito bom.

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