sexta-feira, 31 de outubro de 2014

No Limiar da Eternidade (Ken Follett)

Muitas coisas mudaram com o fim da Segunda Guerra Mundial, mas continuam a ser muitas as batalhas a travar. Na Alemanha, dividida pela construção do muro, alguns vivem a aurora da liberdade, enquanto outros permanecem sob um regime repressivo. Nos Estados Unidos, luta-se pelos direitos civis, ao mesmo tempo que as relações externas se tornam cada vez mais complicadas, com as tensões da Guerra Fria a ditar o sentido de todos os passos. Na União Soviética, dividem-se os pensamentos entre um conservadorismo a toda a prova e alguns ímpetos reformistas prontamente silenciados. E, um pouco por todo o mundo, os descendentes das cinco famílias que já aprendemos a conhecer, travam as suas lutas pela vida que desejam e pelos ideias que querem tomar como seus.
Sendo esta a conclusão de uma trilogia com bastantes pontos fortes, é apenas natural que as expectativas para esta leitura sejam bastante elevadas. Expectativas essas a que o livro corresponde inteiramente. Com bastantes pontos comuns com os anteriores - como, de resto, seria de esperar - mas também com umas quantas diferenças, No Limiar da Eternidade dá seguimento ao percurso através da história do século XX com a mesma envolvência e o mesmo impacto dos volumes anteriores.
E um dos pontos fortes deste livro é, de facto, comum aos restantes volumes. Trata-se, claro, da capacidade de o autor conjugar um sólido desenvolvimento do contexto histórico com as histórias pessoais dos seus protagonistas. Esta é tanto a história de Tanya e Dimka, George e Maria, Cam, Beep, Jasper, Walli, Dave e todos os outros, como a de um mundo em constante mudança. E este equilíbrio torna-se particularmente interessante tendo em conta que, neste livro em particular, não há um único conflito para o qual todas as circunstâncias convergem, mas uma série de situações que, apesar de situadas em diferentes pontos do espaço e do tempo, acabam por ter uma grande influência no cenário global.
Ora, a coexistência dos diferentes temas, associada ao grande número de personagens relevantes, cria a ideia de um maior dispersão de temas e de histórias. Cada personagem tem as suas convicções e as suas lutas pessoais, bem como um contexto particular em que se move. Ainda que, na totalidade, haja um cenário global em que cada um dos grandes acontecimentos tem algum impacto em todos os outros, as linhas de acção das personagens são agora mais separadas. E é daqui que surge um outro ponto forte. É que, apesar desta maior dispersão, continua a manter-se a mesma envolvência e a mesma vontade de saber mais sobre as personagens e o tempo em que se movem.
Quanto às personagens, sobressaem alguns aspectos particularmente fortes. O primeiro prende-se com as emoções que conseguem despertar, nos seus comportamentos mais nobres ou nos mais revoltantes, e na forma como reagem tanto aos grandes momentos como às pequenas coisas. O segundo está na forma como estas personalidades bem definidas contrastam ou encaixam com as dos seus antepassados (conhecidos, naturalmente, dos volumes anteriores, e alguns deles ainda presentes neste último livro). E o terceiro está nas relações que, de forma mais ou menos inesperada, contribuem também para reforçar a ideia de uma união global a emergir dos casos particulares.
Por último, e ainda, de certa forma, falando das personagens, uma nota para a forma como as suas histórias são concluídas, num final que não dá todas as respostas e em que nem todos os heróis têm a sua recompensa nem todos os vilões o seu castigo. Um final em aberto, quanto a certos aspectos, que deixa a impressão de que mais poderia ser dito em jeito de conclusão, mas que acaba por ser, apesar de tudo, o mais adequado. Afinal, os finais só acontecem quando a vida acaba...
Somadas todas as partes que definem esta história, a impressão que fica é a de uma leitura extensa, mas sempre envolvente, com personagens cativantes e um muito bem conseguido equilíbrio entre contexto histórico e histórias pessoais. Uma conclusão mais que adequada para uma longa, mas gratificante viagem. Muito bom.

Para mais informações sobre o livro No Limiar da Eternidade, clique aqui.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Novidade Topseller

Kate O’Hare, a implacável agente especial, e Nick Fox, um dos criminosos mais procurados do mundo e agora aliado do FBI, são destacados para uma missão de alto risco.
O alvo da missão é Carter Grove, ex-chefe de gabinete da Casa Branca e líder de uma agência de segurança privada. Há 10 anos, Grove roubou um raro artefacto chinês do Smithsonian, o qual foi secretamente substituído por uma peça falsa. Agora, o governo chinês exige a sua devolução. É preciso recuperar a verdadeira obra de arte sem levantar suspeitas, para evitar o corte de relações entre os EUA e a China.
Em contrarrelógio, Kate, Nick e a sua peculiar equipa de vigaristas têm apenas duas semanas para pôr em prática um plano ousado e mortal. De Washington a Xangai, passando pela Escócia, Canadá, Los Angeles e Nova Iorque, esta dupla improvável embarca numa emocionante aventura repleta de suspense e reviravoltas imprevisíveis.

Janet Evanovich é a autora de policiais mais vendida em todo o mundo, com 75 milhões de livros vendidos. Os seus livros são bestsellers consecutivos do New York Times.
Os policiais das séries Stephanie Plum, Lizzy & Diesel e Fox & O’Hare estão continuamente no top dos mais vendidos do New York Times e do USA Today.

Novidade Porto Editora

Uma lenda medieval ensombra a pequena cidade de Ordebec, na região francesa da Normandia: uma horda de cavaleiros mortos, descarnados, sem braços nem pernas, o Exército Furioso, erra à noite por um trilho na floresta, espalhando o terror entre os habitantes. Segundo reza a lenda, o exército de mortos-vivos vem anunciar a morte aos pecadores e, regra geral, os eleitos são os habitantes mais odiados: os assassinos e os ladrões.
Quando o estranho exército, fazendo jus à sua fama, colhe mais uma vítima, o comissário Adamsberg, a pedido de uma estranha mulher, vem de Paris e, juntamente com a sua equipa, os tenentes Danglard, Retancourt e Veyrenc, terá de investigar a crença nessa horda sinistra, desafiar superstições ancestrais e descobrir onde termina a lenda e onde começam os planos macabros de assassinatos em série.

Fred Vargas (pseudónimo de Frédérique Audouin-Rouzeau) nasceu em Paris em 1957. Estudou História e Arqueologia e publicou vários romances policiais que estão traduzidos em trinta e cinco países. 
Unanimemente reconhecida como a rainha francesa do polar, os seus livros foram galardoados com inúmeros prémios: o Prix Mystère de la Critique (1996 e 2000), o Grande Prémio da Novela Negra do Festival de Cognac (1999), o Trofeo 813, o Giallo Grinzane (2006) e o CWA International Dagger (2006, 2007, 2009 e2013). Só em França, as suas obras venderam já mais de cinco milhões de exemplares.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Tentação Perfeita (Lisa Kleypas)

Rafe Bowman aprendeu da maneira mais difícil que tentar conquistar a aprovação do pai seria sempre um esforço vão. Mas, interessado em conquistar um lugar na empresa, Rafe sabe que tem de aceder à vontade do pai e aceitar um casamento indesejado. É essa a razão que o leva a Inglaterra para conhecer a encantadora Lady Natalie, destinada a ser a sua futura esposa. O que Rafe não sabe é que ele, que nunca amou, pode ver as suas atenções dirigidas noutro sentido. E rodeado das sempre criativas atenções das Encalhadas, poderá descobrir que, mais que um casamento vantajoso, a vontade do seu coração pode ser o seu verdadeiro sucesso.
Mais breve que os volumes anteriores e com uma forte presença dos seus protagonistas, este livro funciona, em certa medida, como um epílogo para a série, até porque apresenta, de forma relativamente sucinta, mas cativante, a vida dessas personagens depois da conclusão das suas histórias. Além disso, a convergência de todas estas figuras para um mesmo lugar para celebrar o Natal cria um muito agradável ambiente de harmonia, ambiente esse que é, por si só, motivo mais que suficiente para apreciar a leitura.
Mas também este livro tem um casal protagonista e uma história que vale por si mesma. Uma história que tem também os pontos fortes das anteriores e que, por isso, não pode deixar de surpreender. Rafe e Hannah surgem de meios completamente diferentes e têm também perspectivas diferentes acerca da vida e do amor, ao que acresce, no caso de Rafe, há já conhecido o passado complicado que tem em comum com as irmãs. E o que acontece é que, como é, à partida, de esperar, destas diferenças surgem os traços complementares e o já expectável caminho da aversão ao afecto. Isto de forma relativamente sucinta, mas com uma fluidez e uma elegância que tornam tudo natural.
É, claramente, o romance o elemento dominante. E, apesar disso, não há exageros na expressão dos afectos nem nos momentos de sensualidade. Aliás, há algo de genuíno na relação entre os protagonistas, o que complementa de forma particularmente interessante o lado não muito simpático da família de Rafe.
Por último, quanto à conclusão, sobressai o facto de que, apesar da forma muitíssimo sucinta como são apresentados alguns dos acontecimentos (principalmente no que diz respeito a Natalie, mas também relativamente aos pais de Rafe), não parece que nada tenha sido deixado em falta. Tudo o que é essencial está lá e as coisas têm precisamente a importância de que precisam, num final que, simples, mas emotivo nas medidas certas, acaba por ser a melhor forma de encerrar a história.
Marcante nos afectos e surpreendente na forma como estabelece ligações com as restantes personagens da série, acrescentando também para elas algo mais, eis, pois, mais uma leitura cativante, com personagens fortes e uma relação que flui com naturalidade. Com belos momentos de afecto e, claro, a medida certa de emoção, um muito bom final.

Novidade Livros de Bordo

A Antiga Rota do Chá e dos Cavalos é uma viagem que percorre uma das mais antigas rotas comerciais no mundo. Partindo de Shangri-La, na província de Yunnan, no Sudoeste da China, Jeff Fuchs, juntamente com cinco tibetanos, segue em direcção a Lhasa, no Tibete, por um caminho atravessado durante séculos por caravanas comerciais que levavam produtos chineses, nepaleses e indianos para o Tibete.
Essas caravanas eram guiadas por lados, o nome dado aos antigos muleteiros tibetanos que percorriam os trilhos entre as montanhas transportando até centenas de quilos de chá em mulas. A vontade de registar as memórias de vida desses homens e de traçar de novo esse caminho por terra até Lhasa foi o que levou Jeff Fuchs, junto com outros cinco montanhistas tibetanos, a refazer a velha rota para recuperar a sua história. Foram milhares de quilómetros percorridos, passando pelas mais remotas aldeias tibetanas num contacto inesquecível com a cultura tradicional dos povos dos Himalaias.

Jeff Fuchs foi o primeiro ocidental a percorrer a Antiga Rota do Chá e dos Cavalos em toda a sua extensão. Canadiano com raízes húngaras, há mais de uma década que vive na Ásia, onde fez do Shangri-La a sua base. Ao explorar caminhos quase esquecidos nos Himalaias, Jeff Fuchs mostra a sua paixão pela cultura do chá, pelos conhecimentos e pela tradição oral dos povos indígenas das montanhas. Com vários artigos publicados em três continentes, foi a vontade de não deixar cair no esquecimento as palavras e as histórias dos últimos muleteiros dos Himalaias que o levou a passar a escrito a viagem pela Rota do Chá e dos Cavalos. Em 2011 foi escolhido como Explorador do Ano pela agência «Wild China», em reconhecimento pelo seu trabalho pela exploração sustentável das rotas comerciais dos Himalaias. A Antiga Rota do Chá e dos Cavalos é o seu primeiro livro.

sábado, 25 de outubro de 2014

Orgulho e Prazer (Sylvia Day)

Apesar das suas tentativas de manter uma presença discreta, Eliza Martin tornou-se alvo da atenção de muitos pretendentes, em grande parte devido à sua vasta fortuna. E por mais que Eliza esteja convicta de que não quer casar, isso não parece ser razão suficiente para dissuadir os seus pretendentes, ao ponto de ser possível que um deles esteja por detrás de uma série de acidentes. A preocupação leva Eliza a contratar um caçador de ladrões. O que ela está longe de imaginar é que o misterioso Jasper Bond não é só um homem atraente e eficiente no seu trabalho. É alguém tão diferente de todos os que conhece que talvez seja possível que lhe conquiste o coração....
Cruzando romance e sensualidade com uma bastante intrigante aura de mistério, este livro tem como principal ponto forte a história e a relação dos protagonistas. Ambos com um passado que moldou as suas escolhas e ambos perante o perigo e o romance, Eliza e Jasper surgem como duas figuras que, à primeira vista, são diferentes em tudo, mas que, com o evoluir do enredo, se revelam como complementares. E isso, apesar das diferenças sociais e dos mundos diferentes em que se movem, torna naturais as suas interacções.
Outro ponto interessante é, claro, o passado dos protagonistas. Neste aspecto em particular, o percurso de Jasper é o que se destaca, quer porque todas as revelações a seu respeito são feitas de forma muito espaçada, de modo a prolongar o mistério, quer porque as suas razões acabam por o colocar perante alguns dilemas. Ora, são esses mesmos dilemas que estão na origem de alguns dos momentos mais emotivos do livro e, por isso mesmo, acabam por ser um dos elementos mais marcantes na história dos protagonistas.
Quanto à situação dos acidentes e ao mistério que lhe está associado, fica a impressão de que alguns aspectos poderiam ter sido um pouco mais explorados, já que, por vezes, a situação se desvanece um pouco por entre a tensão e o romance. Ainda assim, as revelações inesperadas e o final especialmente intenso compensam o que é deixado por dizer e, no fim de tudo, todas as respostas essenciais estão lá.
Por último, importa ainda referir o bom equilíbrio que se cria entre leveza e tensão, sensualidade e emoção e, ainda, um muito agradável toque de humor. Tudo elementos que fazem desta história uma leitura cativante e surpreendente.
E é essa, precisamente, a impressão que fica desta leitura: a de uma história leve, com personagens carismáticas e um enredo que, apesar da aparente simplicidade, consegue surpreender e nunca deixa de cativar. Uma boa leitura, portanto.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Novidades Bizâncio para Outubro

Título: 150 Anos de Arte Moderna
Subtítulo: Num piscar de olhos
Autor: Will Gompertz
Págs.: 480
Preço: Euros 21,75 / 22,00
Colecção: Fora de Colecção

O que é a Arte Moderna?
Por que motivo a amamos ou a detestamos?
E por que motivo custa assim tanto dinheiro?
Junte-se a Will Gompertz, editor de arte na BBC, numa digressão estonteante que mudará para sempre a maneira como olha para a arte moderna.
Dos nenúfares de Monet aos girassóis de Van Gogh, das latas de sopa de Warhol ao tubarão em formol de Hirst, ouça as histórias por trás das obras-primas, conheça os artistas como eles eram realmente e descubra a autêntica magia da arte moderna.
 Depois de ler o livro, a sua próxima visita a uma galeria ou a um museu será muito menos intimidatória e muitíssimo mais interessante.

«Will Gompertz é o professor que nunca teve.» – The Guardian

Título: O País Debaixo da Minha Pele
Subtítulo: Memórias de amor e guerra
Autor: Gioconda Belli
Págs.: 432
Preço: Euros 16,04 / 17,00
Colecção: Vidas

«Um talento original e maravilhosamente livre. Inesquecível.» - Harold Pinter
Numa linguagem simples e directa, Gioconda Belli narra na primeira pessoa os acontecimentos que marcaram a sua história, desde a infância no seio de uma família burguesa de Manágua aos tempos de resistência sandinista e de intensa actividade política após a queda da ditadura de Somoza. Frontal, sem meias medidas, Gioconda Belli expõe convicções e dúvidas, acertos e erros, triunfos e derrotas, amores e desamores, ajudando-nos a perceber a história conturbada da América Latina.

«A melhor autobiografia que li em anos: Um relato poético, apaixonado e sem concessões de uma vida extraordinária. Um livro para desfrutar, ler e reler. Inolvidável.» – Salman Rushdie
«Melhor do que um romance…Uma história verdadeira de paixão, insurreição e morte. Um relato apaixonante contado com ternura, honestidade e humor.» – Los Angeles Times

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Deixados para Trás (Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins)

Tudo acontece em poucos instantes. As pessoas que, poucos momentos antes, estavam lá, desapareceram por completo, deixando para trás os objectos e até as roupas que tinham vestido, num fenómeno sem qualquer explicação. Ou com várias. Para Rayford Steele, aos comandos de um avião no momento em que tudo acontece, a justificação é aterradoramente clara. A devoção quase fanática da mulher à sua igreja deu-lhe as respostas que, antes não quis ouvir, mas que agora fazem todo o sentido. Os justos, os verdadeiros cristãos, foram levados e todos os outros foram deixados para trás para suportar as tribulações profetizadas no livro do Apocalipse. Rayford acredita, tem a certeza. Mas sabe que nem todos serão fáceis de convencer. Principalmente, quando o mundo em que se move está no limiar de uma nova ordem mundial...
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como as profecias do Apocalipse são transpostas para um cenário que, apesar do caos expectável, consegue surgir como essencialmente organizado. As reacções ao Arrebatamento têm a intensidade esperada de uma situação do género, mas, apesar disso, o mundo continua a mover-se ao ritmo dos interesses dominantes. E isto é interessante principalmente pela forma como os dois elementos se cruzam. Por um lado, as explicações para os desaparecimentos definem os passos do caminho de Rayford em direcção à sua fé. Por outro, os movimentos do enigmático e cativante Nicolae Carpathia põem em cena uma teia de movimentações políticas (e não só) que, aparentemente pouco relacionadas com o Arrebatamento, acabam por seguir num sentido muito próximo.
Ora, o resultado do cruzamento destas duas linhas é um enredo em que, em ambos os cenários, há sempre algo de relevante a acontecer, seja na forma como Rayford começa a assimilar os acontecimentos, seja nas movimentações em torno do suposto sonho de Carpathia. O resultado é uma narrativa sempre envolvente, com várias surpresas ao longo de percurso e com um conjunto de personagens que, apesar de ser bastante evidente o papel que têm de desempenhar, não deixam de surpreender pelo carisma - especialmente no caso de Nicolae.
Quanto à questão da fé, fica, por vezes, a impressão de ser um elemento demasiado consensual, tendo em conta a perspectiva global e as possíveis explicações. Ainda assim, e apesar de alguma repetição de ideias, a forma como o sistema é desenvolvido compensa o ocasional exagero, contribuindo também para manter a envolvência da leitura.
Envolvente e intrigante, com uma interessante abordagem à questão do Arrebatamento e, através dela, a outras questões relevantes sobre a fé e o funcionamento do mundo, este é, pois, um início promissor para uma história repleta de possibilidades interessantes. Fica, por isso, a curiosidade em saber o que se seguirá.

Novidades Planeta

Lady Aileana Kameron, a única filha do marquês de Douglas, estava destinada a uma vida cuidadosamente planeada em torno dos encontros sociais de Edimburgo – até ao dia em que uma fada assassina a sua mãe.
Agora, é o Inverno do ano de 1844 e Aileana mata fadas em segredo, nos intervalos da sua infinita agenda de festas, bailes e convites para tomar chá. Armada com pistolas de percussão e explosivos modificados, Aileana despe todas as noites o seu traje de jovem aristocrata para ir à caça. 
Está determinada a encontrar a fada que lhe matou a mãe e, pelo caminho, vai destruindo todas aquelas que se alimentam dos humanos nas muitas ruelas escuras da cidade. 
O equilíbrio entre as exigências da alta sociedade e a sua guerra privada é, porém, delicado e, quando um exército de fadas ameaça destruir Edimburgo, ela tem de tomar algumas decisões. 
O que estará Aileana disposta a sacrificar – e até onde será capaz de ir para consumar a sua vingança?

Versalhes, 1789.
A rebelião crescente chega às portas do palácio, e Maria Antonieta vê a sua vida privilegiada e pacífica rapidamente substituída pela violência. Uma vez que seus leais súbditos, o povo de França, procuram derrubar a coroa, colocando os herdeiros da dinastia Bourbon em perigo mortal. 
Levados para o Palácio das Tulherias, em Paris, a família real é posta no coração da Revolução. Apesar de alguns aliados fiéis, são cercados por espiões astutos e inimigos ferozes. 
No entanto, apesar das ameaças políticas e pessoais contra si, Maria Antonieta permanece, acima de tudo, uma esposa dedicada e mãe, ao lado do marido, Luís XVI, e ao tentar proteger os filhos. E, embora a rainha secretamente tente organizar o resgate da família das garras dos revolucionários, acaba por descobrir que não podem fugir nem dos perigos que os cercam, nem escapar de seu destino chocante.

A maior parte dos miúdos faria qualquer coisa para passar na Prova do Ferro. Mas não Callum Hunt. Callum quer falhar. 
O pai ensinou-o a desconfiar da magia e explicou-lhe que o Magisterium, a escola onde os aprendizes de Magos são treinados, é uma armadilha fatal. 
Callum tenta fazer o seu melhor para ser o pior de todos os candidatos – mas não consegue falhar. 
Superada a Prova do Ferro, não lhe resta outra opção, senão entrar para o primeiro de cinco anos de aprendizagem no Magisterium – um lugar povoado de memórias e de abismos, onde a herança negra do passado nunca está longe e o futuro é um caminho sinuoso na direcção da verdade. 
A Prova do Ferro foi apenas o início, porque o verdadeiro teste ainda está para vir...

Em plena guerra, uma jovem foge de Lisboa em 1941, a bordo de um navio que não chegará ao destino, afundado por submarinos alemães. 
Vinte anos depois, em 1961, uma bela mulher chega a Lisboa em 1961, decidida a acertar contas com o seu passado e com a perda irreparável de um amor. 
No tempo marcado por esta fuga e esta chegada, Ethel, Amanhã em Lisboa é uma história de amor entre uma judia e um traficante de volfrâmio que começa em Canfranc, a famosa estação ferroviária nos Pirenéus, posto de fronteira franco-espanhola, controlado pelos alemães durante a II Guerra Mundial, mas por onde refugiados judeus, espiões, intelectuais, artistas e escritores banidos tentam, apesar de tudo, a fuga para território livre. 
Tomar o comboio para Lisboa é visto por Ethel, 18 anos, holandesa, judia de ascendência portuguesa em fuga desde Paris, como um perigoso e arriscado passo para um amanhã cintilante de liberdade e para uma existência feliz ao lado da paixão de uma vida: Edgar. 
Mas em Lisboa, os alemães e os negociantes de volfrâmio adstritos às forças do regime fazem-nos regressar à condição de fugitivos.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Novidade Porto Editora

Blanca é professora, com uma carreira consolidada, dois filhos jovens. 
Confusa e devastada com o fracasso do seu casamento, decide deixar a sua actual vida para trás e ruma a Santa Cecília, na Califórnia, com a missão de organizar o espólio deixado por Andrés Fontana à Universidade; fechada num sótão sombrio, Blanca vê- se a braços com uma tarefa aparentemente hercúlea e cinzenta, mas que acabaria por revelar-se uma empreitada emocionante.
Amores cruzados, certezas e interesses silenciados que acabam por vir à tona, viagens de ida e volta entre Espanha e EUA, entre o presente e o passado de duas línguas e dois mundos em permanente reencontro.

Doutorada em Filologia Inglesa, Maria Dueñas é professora titular da Universidade de Murcia depois de ter já passado pela docência em várias universidades norte-americanas. 
É autora de trabalhos académicos e de muitos projectos educativos, culturais e editoriais. 
Maria Dueñas nasceu em Puertollano (Ciudad Real) em 1964, é casada, tem dois filhos e reside em Cartagena. 
O Tempo entre Costuras foi o seu primeiro romance, publicado pela Porto Editora, tendo sido adaptado à televisão, e exibido em Portugal pela TVI.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Homem que Era Salazar

Depois de uma discussão com o encenador, o actor que representa a personagem de Salazar deixa o teatro com a roupa de cena e vai jantar a um restaurante bem conhecido. Mas está longe de imaginar a grande mudança que começa com essa simples decisão. Ao ser confundido com a sua personagem, o actor decide responder à altura do seu papel. E, pouco depois, não se fala senão do que Salazar teria para dizer sobre a actualidade. Quase por brincadeira, ou para melhor divulgar a peça, o actor vê-se envolvido em entrevistas, reportagens, debates. E, à medida que se torna mais Salazar e menos ele próprio, vê-se mais perto de uma verdadeira intervenção nos rumos do país. Mas para os mudar para melhor? Ou não?
Relativamente breve e com um enredo bastante simples, este é um livro que, através de uma história contada com leveza e humor, parece pretender olhar para os assuntos sérios da actualidade. O contexto de crise, a forma como as pessoas vêem os políticos e o saudosismo que parece existir relativamente a Salazar estão na base desta narrativa que, peculiar em todos os aspectos e, apesar disso, bastante simples, consegue, ainda assim, apelar a uma certa reflexão.
Na verdade, e apesar dessa dita simplicidade, a impressão que fica é precisamente a de que a história é, acima de tudo, um meio para transmitir a mensagem.O percurso do Salazar que protagoniza este livro define-se, principalmente, como um conjunto de episódios invulgares, que partem quase de um acaso e culminam numa acção concertada em prol da mudança. E, apesar de haver sempre algo a acontecer, o facto é que nem em termos de personagens nem de acontecimentos há um impacto pessoal ou um desenvolvimento exaustivo de razões e comportamentos. 
Salazar e os que o rodeiam surgem mais como representações das ideias do que propriamente como personagens. Por isso, o que cativa não é tanto a história, que, considerada enquanto tal, tinha potencial para um muito maior desenvolvimento, mas as ideias que lhe estão associadas. E essas tornam-se, de facto, mais fáceis de assimilar pela forma como são apresentadas.
Tudo somado, a impressão que fica é a de uma leitura agradável e cativante, que, com leveza e humor, aborda de forma certeira uns quantos assuntos sérios. Um livro interessante, em suma.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Encontro em Itália (Liliana Lavado)

Inseparáveis durante a infância, Henrique e Sara seguiram caminhos diferentes e, com o passar do tempo, o contacto perdeu-se. Mas ficou sempre na memória a promessa de um reencontro futuro, de uma viagem planeada e destinada a acontecer um dia. Agora, quase que por acaso, Henrique volta a encontrar Sara numa rede social e bastam algumas mensagens para planear o regresso e a futura viagem. Mas o que Henrique não sabe é que Sara já não é a pessoa que ele recorda do passado. E que, na sua atribulada viagem a Itália, espera-o o início de uma grande revelação. E de uma missão capaz de mudar a sua percepção da vida.
Um dos aspectos interessantes deste livro é que, apesar da presença de um mistério para revelar, tudo começa por ser, inicialmente, o reencontro de dois amigos que talvez pudessem ser algo mais. Há descobertas para fazer e todo um cenário sobrenatural para explorar, mas estes são elementos que surgem já numa fase relativamente avançada do enredo. O que acontece, por isso, é que a história vive muito, e principalmente na fase inicial, das personagens e das relações entre elas. O que tem um lado bom, já que abre caminho para que as futuras surpresas possam surgir com maior naturalidade, mas também um lado menos bom, já que, à partida, há umas quantas figuras que não sobressaem propriamente pelas qualidades.
Ora, isto leva inevitavelmente a Sara. Há, de facto, um cuidado em construir explicações e motivos para aquilo em que Sara se transformou, e há também uma boa medida de traços redentores com a evolução do enredo. Ainda assim, nunca chega a haver empatia suficiente, até porque parte do que é a sua história - a tentativa de afastar todos do seu caminho - acaba por criar no leitor a mesma impressão de distância. Claro que há muitas e boas explicações para isto, e essas são parte do que faz com que a envolvência não se perca. Ainda assim, não é fácil sentir empatia para com uma personagem tão problemática.
Mas é a partir do momento em que o sobrenatural entra em cena que as coisas se tornam realmente interessantes. E por várias razões. Primeiro, porque há um vastíssimo potencial no sistema construído em torno dos anjos, com o que são e o que representam, e as teorias a eles associadas, a moldarem o cenário global numa perspectiva completamente diferente. Segundo, porque há, entre as várias figuras sobrenaturais, personagens no centro de momentos realmente marcantes. E terceiro, porque, apesar de alguns aspectos que poderiam ter sido mais aprofundados, é também da presença do sobrenatural que surgem as questões mais relevantes. 
No fim, todos os elementos convergem para uma conclusão marcante, ainda que não totalmente inesperada. E uma conclusão que, sem dar todas as respostas, ou, pelo menos, as respostas desejadas, acaba por se adequar - e, em certa medida, justificar - ao muito que sucedeu ao longo do enredo. Acaba por se estabelecer um equilíbrio, em suma, entre a simples humanidade das relações e aquilo que se esconde para lá delas.
Trata-se, portanto, de uma história em que nem tudo é perfeito, e muito menos as personagens, mas em que, entre os momentos caricatos e a emotividade que, aos poucos, se vai revelando, surgem grandes perguntas e boas respostas, num enredo cativante e, por vezes, surpreendente. A soma das partes é, por isso, uma boa leitura. 

Novidades Marcador

Para trinta e cinco raparigas a selecção é a oportunidade de uma vida.
É a possibilidade de escaparem de um destino que lhes está traçado desde o nascimento, de se perderem num mundo de vestidos cintilantes e jóias de valor inestimável, de viverem num palácio e competirem pelo coração do belo Príncipe Maxon.
No entanto, para America Singer, ser seleccionada é um pesadelo. Terá de virar as costas ao seu amor secreto por Aspen, que pertence a uma casta abaixo da sua, deixar a sua família para entrar numa competição feroz por uma coroa que não deseja, e viver num palácio constantemente ameaçado pelos ataques violentos dos rebeldes.
Mas é então que America conhece o Príncipe Maxon. Pouco a pouco, começa a questionar todos os planos que definiu para si mesma e percebe que a vida com que sempre sonhou pode não ter comparação com o futuro que nunca imaginou.

Habituámo-nos, desde a infância, a ouvir as histórias da Bíblia. Mesmo que nunca tenhamos parado para ler o livro sagrado, a saga de homens como Noé, Sansão, Moisés e Jesus sempre povoou o nosso imaginário. São relatos incríveis, repletos de guerras, traições, dramas e romance.
Electrizante como um livro de suspense,comovente como o mais belo romance, este livro vai conquistar até mesmo aqueles que nunca imaginaram entusiasmar-se com as histórias da Bíblia.
Com uma narrativa ágil e emocionante, «A Bíblia» levará o leitor a olhar para o livro sagrado com outros olhos – não apenas como o relato da criação da humanidade, mas como uma história que não vai conseguir parar de ler.


Novidade 5 Sentidos

Foi mais do que um beijo... foi uma oração de beijos ininterruptos, com as sílabas quentes e doces dos lábios e da língua dele inebriando-a de sensações. 
Londres prepara o Natal, e o americano Rafe Bowman aguarda o seu encontro marcado com Natalie Blandford, a muito bela e respeitável filha de Lady e Lord Blandford. O aspeto sedutor e físico impressionante do jovem agradariam certamente à prometida, não fosse a sua reputação de libertino e as suas maneiras americanas. 
As quatro amigas encalhadas dedicam-se, então, a ajudar o jovem pretendente, ensinando-lhe as regras da sociedade londrina e empenhando-se na aproximação dos futuros noivos. Contudo, o Natal é a época dos milagres, e o amor – essa emoção tão estranha a Rafe – ameaça brotar das mãos mais inesperadas. 
Uma encantadora viagem aos recantos do coração, pela autora bestseller Lisa Kleypas, a rainha do romance erótico.

Lisa Kleypas é autora de meia centena de romances já publicados em 25 línguas. Licenciada em Ciências Políticas, editou o primeiro romance com 21 anos. Os seus livros figuram constantemente em listas de bestsellers como o The New York Times e a Publishers Weekly. Os seus romances conquistaram já vários prémios RITA, o prestigiado galardão da RWA (Romance Writers of America). Figura no panteão da literatura de cariz sensual ao lado de autoras já bem conhecidas em Portugal, como Madeline Hunter, Elizabeth Hoyt, Mary Balogh, Emma Wildes ou Nicole Jordan.

Novidade Esfera dos Livros

D. Afonso Henriques, o Conquistador, viveu até ao limite das suas forças, falecendo com cerca de 76 anos. D. Fernando I, D. João II e D. João VI poderão ter sido envenenados. D. Afonso VI foi vítima na infância de uma «febre maligna» que o deixou marcado para a vida: coxeava e só com grande dificuldade movia a mão e o pé direitos e, provavelmente, não via e não ouvia desse lado. Morreu aos 40 anos devido a um acidente vascular cerebral, depois de uma vida marcada pelo sofrimento. D. Maria I ficou para a história como a Rainha Louca. Aos 57 anos revelaram-se os primeiros sinais de um transtorno mental que se foi agravando e a rainha acabou por falecer num avançado estado de demência. D. Maria II sucumbiu depois de o seu corpo exausto ter dado à luz 11 filhos no espaço de 16 anos. D. Manuel II, o último rei de Portugal, morreu asfixiado por um edema da glote, «no meio da mais patética aflição», pois enquanto o rei sufocava ninguém
sabia como socorrê-lo. Percorrendo as vidas de todos os monarcas portugueses, o historiador
Paulo Drumond Braga apresenta-nos uma perspectiva inovadora da nossa história. Porque a doença e a morte podem revelar muito sobre a forma como se viveu, esta obra original, baseada numa investigação inédita, dá-nos a conhecer as doenças de que sofreram os reis de Portugal e as possíveis causas de morte, assim como a evolução da medicina ao longo dos tempos.

Novidade Topseller

DOIS REFÉNS. UMA BALA. UMA DECISÃO TERRÍVEL. SACRIFICARIA A SUA VIDA PELA DE OUTRA PESSOA?
Uma jovem rapariga surge dos bosques após sobreviver a um rapto aterrador. Cada mórbido pormenor da sua história é verdadeiro, apesar de incrível. Dias mais tarde é descoberta outra vítima que sobreviveu a um rapto semelhante.
As investigações conduzem a um padrão: há alguém a raptar pares de pessoas que depois são encarcerados e confrontados com uma escolha terrível: matar para sobreviver, ou ser morto.
À medida que mais situações vão surgindo, a detetive encarregada deste caso, Helen Grace, percebe que a chave para capturar este monstro imparável está nos sobreviventes. Mas a não ser que descubra rapidamente o assassino, mais inocentes irão morrer…
Um jogo perigoso e mortal num romance de estreia arrebatador e de arrasar os nervos, que lembra filmes como Saw — Enigma Mortal e A Conspiração da Aranha.

M. J. Arlidge trabalha em televisão há 15 anos, tendo-se especializado em produções dramáticas de alta qualidade. Nos últimos 5 anos produziu um grande número de séries criminais passadas em horário nobre no Reino Unido. Encontra-se presentemente a escrever uma série policial para a BBC, além de estar a criar novas séries para canais de televisão britânicos e americanos.

domingo, 19 de outubro de 2014

Destrói Este Diário (Keri Smith)

Destruir para criar. Pode parecer, talvez, uma ideia estranha, mas a verdade é que é um bom ponto de partida para fazer coisas diferentes. A prova disso é este livro que, com muito poucas palavras e um conjunto de instruções talvez um pouco drásticas, consegue, apesar de tudo, dar a essa ideia uma boa forma de representação. No fundo, este livro resume-se a uma série de instruções mais ou menos inesperadas de como utilizar as páginas do diário. E, mais ou menos fáceis de seguir, acabam por ser bons exemplos de pontos de partida para fazer alguma coisa.
Ora, muitas das ditas instruções são mais de formas de destruição - o que seria de esperar, tendo em conta o título - do que propriamente de escrita. Assim, fica a sensação de alguns elementos em falta neste aspecto, já que, afinal, supõe-se que haja com o diário algum tipo de "partilha" de confidências. Ainda assim, e tendo em conta que o objectivo parece ser, por um lado, o de estabelecer algum sentido de diferença e, por outro, o de enfrentar certos medos (da página em branco ou da utilização de algo novo, por exemplo), a ideia de um diário destinado a passar por umas quantas aventuras destrutivas não deixa de ser cativante.
Depois, importa referir o aspecto visual, simples quanto baste e tão centrado no essencial como as muito sucintas e directas instruções, mas bastante adequado ao conteúdo e com algumas páginas especialmente interessantes. Em jeito de exemplo, a página dos rabiscos sobre o texto, qual excerto de um qualquer manual escolar, faz lembrar algo que todos - ou muitos - fazem ou fizeram, num determinado tempo, o que acaba por estabelecer uma certa familiaridade.
A impressão que fica de tudo isto é, muito resumidamente, a de um livro diferente, repleto de ideias inesperadas e com uma perspectiva muito interessante - ainda que um pouco exagerada - da destruição como ponto de partida para a criação de algo único e pessoal. Uma boa ideia, em suma.

sábado, 18 de outubro de 2014

Eu, Alex Cross (James Patterson)

Decidido a encontrar um melhor equilíbrio entre a profissão e a vida familiar, Alex Cross encontra-se a celebrar o aniversário em família quando, mais uma vez, o telefone toca. Mas, desta vez, a notícia é mais que um simples caso. A vítima é a sua sobrinha, Caroline Cross, e as circunstâncias em que o seu corpo foi encontrado são, no mínimo, perturbadoras. Por mais que o desejasse, Alex não pode deixar de tomar conta do caso. Mas, à medida que a história vai sendo revelada, as pistas apontam para um caminho perigoso. Há pessoas muito poderosas envolvidas e é mais que certo que farão tudo para encobrir a situação...
Tal como já vem sendo habitual nos livros deste autor, há também neste livro um conjunto de características familiares que, apesar de sobejamente conhecidas, nunca deixam de resultar. Os capítulos curtos, a escrita directa e sem descrições desnecessárias, o ritmo de acção intensa e a aura de perigo constante fazem deste livro a já habitual leitura viciante. Mas, neste caso em particular, surgem também algumas diferenças.
Sendo que um dos grandes pontos fortes desta série é o protagonista, é interessante notar que este livro se distancia da personagem para se focar mais no caso e nas vítimas. Apesar da ligação pessoal, desta vez não há tanto envolvimento nas situações mais perigosas, mas mais um desenrolar de pistas em direcção à resposta. O que acontece, por isso, é que, neste aspecto, o impacto emocional é um pouco menor, ainda que o mistério propriamente dito seja mais que suficiente para manter a envolvência. 
Além disso, e ainda que com uma presença mais discreta, continua a haver um elemento pessoal a acrescentar algo de emotivo à maior frieza do caso. É que também na vida pessoal de Alex há mudanças a acontecer e a situação delicada de uma personagem querida acrescenta emotividade ao enredo.
Ainda um outro ponto interessante é que, apesar de se tratar de um caso que envolve mais pessoas, e que, por isso, tem menos de causa pessoal, há toda uma perspectiva sobre os meandros do poder - e das vastas possibilidades de encobrimento - a ser construída ao longo do enredo. Um cenário que, sem dar todas as respostas, consegue, ainda assim, levantar umas quantas questões interessantes, principalmente tendo em conta a forma como tudo termina.
A soma de tudo isto é a já expectável leitura intensa e viciante, com um protagonista que, mesmo numa posição menos pessoal, não deixa de revelar os seus melhores traços e um enredo cativante e surpreendente. Uma boa leitura, portanto, como habitual.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alex Cross's Trial (James Patterson e Richard DiLallo)

Motivado por uma dura lição aprendida durante a infância, o advogado Ben Corbett sempre se prestou a defender os mais necessitados, independentemente de raça ou possibilidades. Mas, agora, Ben encontra-se perante o caso mais difícil da sua vida. Enviado a Eudora, o lugar onde cresceu, pelo presidente Roosevelt, Ben tem de descobrir a verdade sobre a segregação racial e a onda de linchamentos que, diz-se, se tornou quase rotina no Sul. Mas Ben é um homem sozinho contra os seus. E, mais uma vez, a única ajuda encontra-se longe dos seus supostos iguais, na figura de um homem velho e doente: Abraham Cross.
Apesar de ser considerado como fazendo parte da série Alex Cross, a relação deste livro com a série resume a dois pontos muito simples. O primeiro é que é apresentado como sendo um livro escrito pelo próprio Alex Cross (através de um prefácio do próprio). O outro é o facto de o dito Abraham Cross ser referido nesse mesmo prefácio como um seu antepassado. Tudo o resto neste livro é completamente independente da série, o que faz com que seja perfeitamente compreensível, mesmo sem ter lido qualquer dos volumes anteriores.
A história é, aliás, muito diferente do expectável da série. Desde logo, tudo decorre numa época diferente e, portanto, os comportamentos e as mentalidades são também diferentes. Além disso, e apesar dos óbvios pontos em comum, Ben Corbett é uma figura bastante diferente do Dr. Cross. Corajoso e determinado, sem dúvida, mas quase inocente nalgumas das suas convicções, Ben é uma personagem que gera tanta empatia pela sua força como pelas evidentes vulnerabilidades. Além disso, as suas circunstâncias reforçam bastante essa impressão de proximidade.
E, passando às ditas circunstâncias, há um tema central em todo o enredo: a segregação racial. E, no desenvolvimento do assunto, sobressaem dois aspectos. A capacidade de levantar todas as perguntas relevantes, mesmo numa narrativa em que a acção é um dos elementos fulcrais, e a forma como, a par com o comportamento racista das pessoas de Eudora, também se questionam a cobardia associada aos linchamentos (por parte dos que, longe de concordar com as ideias, se juntam aos acontecimentos por simples questões de suposta segurança) e a submissão à norma social dominante.
Ora, apesar de tudo o que este livro tem de diferente, continuam a manter-se os habituais pontos comuns aos livros de James Patterson. Capítulos curtos, acção intensa, momentos de perigo e um toque de emoção continuam a ser um elemento fundamental para tornar a leitura viciante. Mas, neste caso em particular, é interessante notar também como este estilo já conhecido se adequa tão bem a um tipo de história diferente do habitual.
Intenso e envolvente, com um protagonista forte e todo um contexto marcante, este é, pois, um livro que, das primeiras páginas e até às últimas palavras, cativa e surpreende em todos os aspectos. Muito bom.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ousar Ser Feliz (Rossana Appolloni)

Pode-se pensar que a felicidade está na concretização de um sonho, na construção de uma vida estável, na realização das coisas que se apreciam... Ou, talvez, um pouco de tudo isso. Mas que valores definem, efectivamente, a felicidade e que caminhos se podem seguir para a alcançar? É esse, precisamente, o tema deste livro, que, através de um conjunto de pequenos textos, pondera sobre as possibilidades e os percursos a seguir em direcção à felicidade.
Um dos aspectos mais interessantes neste livro é a forma como, ao expor as suas ideias em pequenos textos, complementados com ilustrações simples, mas bonitas, a autora confere às ideias um tom de certa leveza. Leveza essa que, ao tornar a leitura mais acessível, permite também realçar o essencial dessas mesmas ideias, cuja percepção se torna, assim, mais simples.
Também interessante é que, apesar de haver um conjunto de ideias base e umas quantas orientações, não há nem uma estratégia nem uma fórmula mágica. Sendo certo que também não as há na vida, esta atitude de aconselhar e de orientar, sem com isso indicar um único caminho possível ou uma fórmula milagrosa, torna os pontos de vista mais fáceis de aceitar e também mais realistas.
Quanto à brevidade, fica de alguns dos textos que a base das ideias poderia ter sido mais desenvolvida (por exemplo, nas referências ao epicurismo e ao estoicismo). Ainda assim, não parece que o objectivo seja uma exposição completa, mas algo de simples e de facilmente assimilável. E, nesse aspecto, o texto adequa-se perfeitamente.
Por último, importa realçar que, apesar do registo aparentemente leve, há, de facto, um conjunto de bons conselhos e de boas ideias, neste livro. Ideias que, nalguns casos, parecem quase demasiado óbvias, mas que, apesar disso, não deixam de ser relevantes.
A soma de tudo é uma leitura leve e agradável, que, sem nunca se tornar aborrecida ou cansativa, apresenta, de forma simples e sucinta, muito material para reflexão. Uma boa leitura, portanto.

Novidade Bertrand

Em 88 a. C., o mundo parece estar em guerra – de Roma à Grécia, passando ainda pelo Egipto, a civilização está à beira do conflito. Gordiano, um jovem romano que vive em Alexandria, quando não está a resolver quebra-cabeças, passa o seu tempo com Bethesda, a sua escrava, enquanto espera que o mundo volte à normalidade. No entanto, no dia em que Gordiano faz vinte e dois anos, Bethesda é raptada por bandidos que a confundem com a amante de um homem rico. Para salvar Bethesda, que afinal significa mais para si do que suspeitava, Gordiano tem de encontrar os raptores antes que eles se apercebam do seu erro e arranjem maneira de minimizar as suas perdas. Usando tudo aquilo que aprendeu com o seu pai, Gordiano tem de encontrá-los e convencê-los de que pode oferecer-lhes algo em troca da sua libertação.
À medida que as ruas de Alexandria mergulham lentamente no caos e os cidadãos começam a revoltar-se, depois de rumores sobre uma iminente invasão por parte do irmão do rei Ptolomeu, Gordiano vê-se envolvido numa perigosa trama – o saque do sarcófago de Alexandre, o Grande.

Steven Saylor é autor da série Roma Sub-Rosa, que tem merecido os mais rasgados elogios da crítica. Os seus romances estão traduzidos em mais de dezoito línguas e o autor tem figurado, na sua qualidade de especialista na política e vida romana em geral, em documentários no Canal História.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Teremos Sempre Paris (Ray Bradbury)

Breves, por vezes improváveis, quase sempre surpreendentes e, seguramente, muito bem escritos. Assim são os contos que constituem este livro, no qual uma forte impressão pessoal serve de mote a uma série de narrativas peculiares. É, isso aliás, que, desde logo, se deduz da introdução, Observar e Escrever, na qual o autor desvenda, de forma muito breve, a sua forma de escrever, bem como o que espera dos seus contos. Revelando uma postura especialmente pessoal relativamente à sua escrita, esta introdução desperta, desde logo, curiosidade para o que se seguirá.
O primeiro conto é Massinello Pietro. Referido como o favorito do autor, conta a história de um homem peculiar e de como a sua estranheza o destinou à prisão. Belo e comovente, este conto marca pelo contraste de um protagonista que quer espalhar alegria pelo mundo, mas cujo percurso reflecte principalmente a tristeza em seu redor. 
Em A Visita, uma mãe visita o homem que recebeu o coração do filho. Breve e aparentemente simples, este conto contém um mundo de emoção na forma precisa e comovente como reflecte a dor da protagonista. Impressionante.
Partidas de Golfe ao Crepúsculo narra um jogo em companhia peculiar. Intrigante e de leitura agradável, perde um pouco pela ambiguidade das razões das personagens. Interessante, ainda assim.
Segue-se O Homicídio, história de uma aposta de consequências mortais. Intrigante, mas demasiado apressado, deixa a impressão de que poderia ser uma história bastante maior. Ainda assim, com a escrita cativante e o ambiente de tensão quase palpável, não deixa de ser uma boa leitura.
Quando o Ramo se Parte fala do choro de uma criança por nascer. Muito breve, acaba por se revelar demasiado confuso. Apesar disso, a ideia, ainda que explorada de forma muito sucinta, não deixa de ser interessante.
O conto seguinte é o que dá título ao livro, Teremos Sempre Paris. História de paixão entre desconhecidos, cativa pela fusão de elegância e mistério com que todo o encontro é descrito. Envolvente e surpreendente, é também um conto breve, mas que fica na memória.
Em A Mamã Perkins Veio para Ficar, as personagens da rádio ganham vida para atormentar um homem que apenas queria um pouco de paz. Intenso e surpreendente, fascinante em tudo o que tem de improvável, este é, sem dúvida alguma, um dos melhores contos do livro.
Pares, mais um conto breve, apresenta um casal em que ambos os membros mantêm relações desconhecidas. Directo e sintético, mas interessante, este conto surpreende, acima de tudo, pela forma como tudo na história dá a entender um determinado facto... para, no fim, tudo ter um significado diferente.
Pater Caninus apresenta um cão com uma missão especial. Cativante e enternecedor, além de muito certeiro na análise que faz de alguns preconceitos motivados pelo orgulho, trata-se de um conto que, apesar de aparentemente simples, fica na memória.
Segue-se Chegadas e Partidas, a primeira saída de um casal de regresso à vida. Também peculiar, mas também cativante, este conto representa, nos seus protagonistas, o entusiasmo do que é novo e a calma do regresso à normalidade. Mais uma história interessante, portanto.
Últimas Gargalhadas fala do estranho resgate de um amigo, numa história com tanto de intrigante como de surreal. Cativante e de leitura agradável, mas com um ambiente todo ele estranhíssimo, deixa, no fim, mais perguntas que respostas.
O Verão da Pietà fala da força do amor de um pai por um filho, num conto pausado, quase introspectivo, mas comovente na força da sua mensagem.
O conto que se segue é Regressar a Casa, história de uma viagem a Marte e da construção de uma casa longe de casa. Um tanto improvável, mas estranhamente cativante, surpreende, em primeiro lugar, pelo cenário algo surreal, mas principalmente pela reflexão sobre o isolamento e as formas de o combater.
Anti-Conversa de Almofada apresenta dois amigos que viveram algo mais forte e agora têm medo de ter estragado tudo. Centrado, essencialmente, numa longa e peculiar conversa, este é um conto que evoca uma estranheza que nunca se desvanece. Mas que, apesar disso, consegue cativar.
Vem Comigo narra uma interrupção numa relação conflituosa. Também bastante peculiar e deixando certas perguntas em aberto, marca principalmente pela reflexão sobre a luta para salvar quem não quer ser salvo.
Memórias de infância e uma quase vingança póstuma fazem a história de Caroço da Maçã Michigan, um conto breve e também peculiar, mas, apesar disso, estranhamente cativante.
Os Reincarnados fala de um morto com vontade de voltar para o que perdeu. Mais extenso e mais pausado que a maioria dos contos deste livro, tem, também a sua medida de estranheza. Mas, com uma emotividade surpreendente e um final realmente impressionante, acaba, por ser, acima de tudo, uma história memorável.
Segue-se Remembrance, Ohio, história de um estranho casal. Neste conto, quase tudo é misterioso e muito pouco tem uma resposta esclarecedora. Consegue ser uma leitura intrigante, o final é, de facto, surpreendente, mas o que prevalece é, ainda e sempre, a impressão de estranheza.
Em Se os Caminhos Têm de se Cruzar de Novo, uma despedida desperta memórias de um passado comum. Simples, mas comovente, uma história de acasos e de destinos comuns. E mais um conto impressionante.
A Menina Appletree e Eu fala de um homem que se sente velho e da forma de ultrapassar essa situação. Mais um conto breve e simples, mas com uma emotividade cativante, principalmente no que diz respeito à cumplicidade entre o casal.
Um Encontro Literário fala de um homem cujo comportamento é moldado pelos livros que lê. Cativante e divertido, narrado com uma certa leveza, conta uma história improvável com total naturalidade.
E, por fim, um poema, América, um olhar sobre o país pelos olhos de quem sonha outros sonhos. Simples, mas belo.
O que fica, então, terminada a leitura destes contos, é uma impressão de cenários repletos de estranheza e de fascínio, nos quais se situam histórias surpreendentes, memoráveis, peculiares... sempre cativantes. A soma de tudo é, pois, uma boa leitura.

Divulgação: A Imagem, de Joel G. Gomes

Título: A Imagem
Autor: Joel G. Gomes 
Série: Intersecção (Volume 2)
Edição: 2014, Edição de Autor
Páginas: 585
PVP: 15€

Data de lançamento: 25 de outubro, às 21h30
Local: Biblioteca Municipal Bento de Jesus Caraça, Moita

Encomendas podem ser feitas em http://joelggomes.com/a-imagem/

Sinopse: Há seis anos que Lucas vive numa fuga constante devido a um segredo do seu passado. Quando chegou à vila da Moita julgou ter encontrado um sítio onde recomeçar a sua vida, mas em vez disso descobriu um novo nível para o seu pesadelo.
Alguém conhece o segredo de Lucas e está a usar isso como forma de obrigá-lo a ser cúmplice de crimes cada vez mais horrendos. Preso numa espiral de violência e dor, o pesadelo de Lucas parece destinado a não ter fim. Até ao dia em que se depara com uma estranha imagem que o força a olhar para si mesmo e enfrentar de vez o seu medo.
Começa então uma jornada de redenção e descoberta que o levará a encontrar segredos do seu passado que ele próprio desconhece. Forjando novas alianças, Lucas acredita estar à altura da ameaça que paira no horizonte, mas será ele capaz de fazer o sacrifício necessário para vencer?

Sete anos depois dos eventos de Um Cappuccino Vermelho, Joel G. Gomes apresenta A Imagem, o segundo volume da série INTERSECÇÃO. A Imagem desvenda o que aconteceu a Ricardo Neves e João Dias Martins. É uma nova história num universo já conhecido. Poderá parecer familiar, porém uma coisa se garante:
Nada se repete, tudo é novo. 

Extras: A edição em papel contém vários extras. A saber:
O Atraso: Conto adaptado de curta-metragem escrita pelo autor e realizada por David Rebordão, com interpretações de Tiago Castro e de Canto e Castro. A história de O Atraso decorre durante os eventos de Um Cappuccino Vermelho e serve também de antecipação para o quarto volume desta série, que se intitulará O Quarto Vazio.
Crime Proscrito: Primeiro capítulo de um romance escrito por Ricardo Neves, protagonista de Um Cappuccino Vermelho e de A Imagem.
Morte Inesperada: Primeiro capítulo de um romance escrito por João Dias Martins, protagonista de Um Cappuccino Vermelho e de A Imagem.
DVD: Book-trailers de A Imagem e de Um Cappuccino Vermelho, agradecimentos do autor e curta-metragem O Atraso.

Novidade 5 Sentidos

O fim de relação com Dominic deixou Beth de coração despedaçado. 
Acreditara desde o início na força daquele amor que seria eterno, mas um mal-entendido mostrou-lhe a fragilidade da relação e deitou tudo a perder. Por mais que tentasse evitar a constante presença e interferência de Andrei Dubrovski no seu relacionamento, o poder deste impedia-a de ser livre.
Desde que o conhecera que Andrei teimava em impedir a sua felicidade junto a Dominic, e desta vez parecia ter finalmente alcançado o seu objetivo. Dominic partira rumo a um novo projeto profissional e, porventura, a uma nova vida amorosa sem Beth. Mas será que Andrei conseguirá o que quer? 
A persistência de Beth no amor que sente por Dominic, e a certeza de que nada pode ter feito de errado, irão levá-la a viajar desesperadamente até Paris, atrás de Dominic, na esperança de uma reconciliação e, quem sabe, de provar que o verdadeiro amor pode superar as mais graves das provações.

Sadie Matthews já escreveu, sob vários pseudónimos, seis romances de literatura feminina. Esta trilogia foi considerada pela revista Cosmopolitan uma das dez leituras obrigatórias para todos os fãs de As Cinquenta Sombras de Grey.

domingo, 12 de outubro de 2014

Com Ar de Primavera (Fernando Rosinha)

Do amor e da natureza, do afecto que perdura ante o tempo que passa e da sua transposição para as flores e o mundo. É esta a matéria de que tratam os poemas que constituem este livro. Poemas construídos num registo pessoal, em que os afectos dominam, mas em que cada elemento da natureza assume um simbolismo próprio. E, no conjunto, uma visão global de um lado menos sombrio da vida, mais definido pelas emoções e pela beleza.
Um dos aspectos cativantes deste livro é a forma como os poemas são construídos, com uma estrutura livre quanto baste, mas com alguma tendência para a rima, e um tom que é quase o de alguém que conta uma história ou o fragmento de uma recordação. Cria-se, assim, uma espécie de proximidade relativamente ao sujeito poético, ao qual se associa uma relativa simplicidade, mas da qual sobressaem alguns versos inesperadamente marcantes. 
Para essa impressão de simplicidade contribui também a abundância de elementos naturais, com as emoções que lhe estão associadas. Mais que uma escrita simples, já que há vários poemas em que os versos seguem todos os caminhos menos os expectáveis, trata-se do reflexo de uma vida associada às coisas simples, da qual transparece quase que um certo optimismo. Também isso se torna cativante.
Considerando a totalidade do livro, a repetição frequente de alguns elementos faz com que, se lido de seguida, se fique com a sensação de um conjunto de ideias que periodicamente ressurgem. Ainda assim, estes pontos comuns têm também um lado muito positivo. É que reforçam a coesão entre todos os poemas, conferindo ao livro uma impressão de unidade, de um ambiente global que transcende cada um dos poemas enquanto unidade.
Relativamente breve, leve quanto baste e com uma poesia pessoal e optimista, o que fica, pois, deste Com Ar de Primavera é a ideia de uma leitura cativante, com alguns poemas particularmente surpreendentes num conjunto que é, no seu todo, coeso e de leitura agradável. Gostei.

sábado, 11 de outubro de 2014

A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário (Denis Thériault)

A vida de Bilodo é feita de uma rotina simples, que passa do centro de distribuição às rondas da entrega do correio, sem esquecer a hora do almoço, durante a qual se dedica aos seus exercícios de caligrafia, e o regresso, ao fim do dia, à sua casa solitária. Mas Bilodo tem um prazer secreto. À noite, sozinho no seu apartamento, dedica-se a ler as cartas que devia entregar. E foi assim que se deparou com os haikus de Ségolène. Sem nunca a ter visto, Bilodo sente-se fascinado por ela, simplesmente pela leitura das suas palavras. E, quando o seu correspondente morre num trágico acidente, Bilodo encontra a sua oportunidade de se aproximar da mulher que, sem conhecer, já ama. Mas como poderá ele tomar a identidade de Grandpré sem que Ségolène suspeite de nada?
Relativamente breve e com uma história com tanto de simples como de peculiar, este é um livro que, entre a estranheza e a leveza, cativa principalmente por dois motivos. O primeiro é a quase inocência com que Bilodo vive a sua situação, ciente de que nem todas as suas escolhas são correctas, mas, ainda assim, inteiramente devoto na sua ligação à mulher amada. O outro vem da série de momentos peculiares, mas narrados com uma naturalidade que os torna facilmente assimiláveis, que abrem caminho da inevitável estranheza a uma certa empatia para com o amor inocente do protagonista.
Não se trata de uma história particularmente complexa e a própria escrita, bastante acessível, adequa-se na perfeição à narrativa. E, ainda assim, a poesia está sempre presente, seja na criação dos poemas que são, afinal, o centro da relação entre Bilodo e Ségolène, seja nos pensamentos que são associados a esse acto de criação. Não deixa de ser interessante ver como a vida simples de Bilodo se transforma na sua ânsia de responder a Ségolène, e a sua descoberta da poesia e da cultura japonesas, ainda que também ela narrada com a expectável simplicidade, tem muito de cativante.
Ficam várias perguntas sem resposta e, por isso, a impressão de algumas possibilidades por explorar. De Ségolène, nunca se chega a saber grande coisa, para além da perspectiva que Bilodo tem dela e do que os poemas revelam. Ainda assim, esta ambiguidade relativamente ao outro lado da relação torna mais marcante a devoção de Bilodo e as perguntas sobre o que poderá ter sido conferem, apesar de tudo, uma estranha intensidade à construção do final.
Breve e aparentemente simples, este é, portanto, um livro em que nem todas as possibilidades são desenvolvidas, mas em que inocência e amor se fundem numa história que, cativante pelas suas peculiaridades, enternece e surpreende. Uma boa leitura, em suma.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Uma Escolha Imperfeita (Louise Doughty)

Yvonne Carmichael tem uma vida estável, um marido que a ama e uma carreira invejável. Mas basta uma escolha errada para que tudo seja posto em causa. Tudo começa no primeiro encontro com um homem enigmático, um pouco brusco mas rodeado de uma aura de mistério, que, após uma conversa quase acidental, coloca Yvonne numa posição em que nunca se imaginou. Desse encontro resulta a descoberta de um lado de si que, apesar de diferente de tudo o que normalmente a caracteriza, lhe agrada e a realiza. E assim, de conversa em conversa, e de aventura em aventura, Yvonne envolve-se num caso amoroso cujas consequências serão imprevisíveis. Principalmente, porque, se ela pouco sabe do seu misterioso Mr. X, como pode ter a certeza de que pode confiar nele?
Um dos principais pontos fortes deste livro é também aquele que o torna algo perturbador. A história de Yvonne, mulher de sucesso com uma vida perfeitamente normal, começa com o que parece ser apenas uma aventura amorosa, como tantas outras. Mas, com o evoluir dos acontecimentos, e isso implica tanto as experiências traumáticas como o passado que a elas conduziu e o futuro que delas deriva, há um resvalar para o caos que é simplesmente assustador. E é-o precisamente por mostrar de que forma uma simples escolha errada pode deitar tudo a perder.
O outro grande ponto forte prende-se com a escrita da autora e com o registo em que a narrativa é construída. Ao contar a história pela voz de Yvonne, e dirigindo-a ao seu misterioso amante, a autora torna mais próximas as circunstâncias da protagonista e, ao desenvolver os seus pensamentos e emoções, mais fácil a empatia. Além disso, há, neste registo introspectivo, uma série de frases impressionantes, que, ao longo de toda a leitura, sobressaem como detalhes brilhantes numa narrativa toda ela muito bem escrita.
Ora, se Yvonne consegue gerar bastante empatia, apesar das suas escolhas erradas (ou até mesmo por causa delas), o mesmo não acontece com o seu Mr. X. Por um lado, o facto de ser apenas Yvonne a narrar a história, sem que os verdadeiros pensamentos ou razões da outra parte sejam apresentadas pela sua própria voz, cria uma certa distância. Mas principalmente porque os comportamentos que essas razões poderiam justificar falam bastante claramente por si mesmos. Parte das acções de Yvonne são justificáveis, mas não se pode dizer o mesmo das de Mr. X. E, assim, o que acontece é que se torna, por vezes, difícil compreender a forma como, depois de tudo o que é narrado ao longo da história, os sentimentos de Yvonne seguem o rumo que seguem.
O que fica, no fim de tudo, é a impressão de uma história onde nem todas as respostas são agradáveis e nem todas as personagens têm algo de bom. Mas, muitíssimo bem escrito, com um registo cativante e um lado perturbador que apela à reflexão, acaba por ser, ainda assim, um livro que fica na memória. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Divulgação: Estranhas Coincidências, de José Vieira

Título: Estranhas Coincidências
Autor: José Vieira
Editora: Chiado Editora 

Sinopse: "Estranhas Coincidências" mostra como a existência de cada ser humano neste nosso mundo é semelhante aos seus pares. A nossa essência é fruto da mesma matéria, os nossos caminhos estão enrodilhados e no final de cada percurso somos absorvidos por sensações e sentimentos idênticos. Se pensarmos sobre aquilo que diverge a vida de cada um de nós chegamos à conclusão que em tudo somos semelhantes. Nada diverge a vida de Judite e Isaac, Samuel, Salomé, João e Dalila e Pedro e Simão. Todos sem excepção amam, sonham, entristecem e sentem dor. Todos vivem sabendo que a qualquer momento as suas vidas podem mudar. Todos sem excepção sabem que a vida é volúvel e que por vezes pequenos nadas alteram para todo o sempre o rumo da existência de cada um. As nossas vidas não são tão diferentes de Judite e Isaac, Samuel, Salomé, João e Dalila e Pedro e Simão. Cada estória contada poderia ser a minha existência retratada ou até mesmo a sua caro leitor.

Biografia: «José Vieira é o pseudónimo de uma jovem nascida no Portugal rural no final da década de 80. Sempre foi uma entusiasta das letras e alimentou o hábito da leitura durante anos. "Estranhas Coincidências", seu primeiro livro, é o fruto de um sonho que acalentava há algum tempo... ser escritora.»

Novidades Topseller

Um crime macabro. Alex Cross acaba de prometer à família que irá estar mais presente nas suas vidas quando recebe a notícia chocante de que a sua sobrinha foi barbaramente assassinada. Determinado a descobrir o criminoso, depressa percebe que ela estava envolvida num esquema de acompanhantes de luxo que concretizavam as fantasias dos homens mais poderosos de Washington, DC. E ela não foi a única vítima.
Um assassino infiltrado no poder. A caça ao assassino leva o detective e a sua companheira, a detective Bree Stone, a entrarem num mundo a que só os mais ricos e poderosos têm acesso. À medida que se aproxima da verdade, Alex Cross descobre segredos que poderão fazer tremer o mundo inteiro. Uma coisa é certa: quem está nesse círculo restrito tudo fará para manter os seus segredos bem guardados.
Conseguirá Alex Cross sobreviver ao seu mais arrepiante e pessoal caso de sempre? Com uma acção alucinante e reviravoltas imprevisíveis, o novo caso do detective mais admirado em todo o mundo traz-nos momentos de suspense que só James Patterson consegue proporcionar.

James Patterson já criou mais personagens inesquecíveis do que qualquer outro escritor da actualidade. É o autor dos policiais Alex Cross, os mais populares dos últimos vinte e cinco anos dentro do seu género. Entre os seus maiores bestsellers estão também as colecções Private: Agência Internacional de Investigação, The Women's Murder Club (O Clube das Investigadoras) e Michael Bennett.
James Patterson é o autor que mais livros teve até hoje no topo da lista de bestsellers do New York Times, segundo o Guinness World Records. Desde que o seu primeiro romance venceu o Edgar Award, em 1977, os seus livros já venderam mais de 300 milhões de exemplares.
Patterson escreveu também diversos livros para leitores jovens e jovens adultos, de grande êxito, entre os quais estão as séries Confissões, Maximum Ride, Escola e Eu Cómico. Em Portugal, James Patterson é publicado pela Topseller (adulto e jovem adulto) e pela Booksmile (juvenil).

Herdeira de um vasto império, Freya Hammond é uma jovem rica e mimada. Passa a maior parte do tempo em festas com amigos pelos quatro cantos do mundo, fazendo o deleite dos paparazzi.
Num dia de nevão, Freya insiste em apanhar um avião, contra o conselho do seu novo guarda-costas, Miles Murray, ex-agente dos serviços secretos. Apesar de ser um condutor exemplar, Miles não consegue evitar um acidente terrível nas estradas geladas dos Alpes, mas graças ao seu conhecimento sobre técnicas de sobrevivência consegue salvar a vida de Freya.
Enquanto aguardam pelo resgate numa cabana, a tensão entre Freya e Miles cresce cada vez mais, acabando ambos por se envolver numa teia de sedução e desejo que os vai ligar irremediavelmente.

Sadie Matthews é autora de vários romances, e escreve sob diferentes pseudónimos. Casada e a viver em Londres, tornou-se muito conhecida depois da sua trilogia After Dark, da qual em Portugal já foram publicados O Abraço da Noite e Os Segredos da Noite (ed. Porto Editora).

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Divertimento em Ene Maior (Fernando Manuel Noivo)

Percepções de uma natureza diferente, vista pelos olhos do poeta que, através de uma quase viagem interior, imagina espaços diferentes e elementos alterados, moldados na forma de um mesmo mundo. Por vezes pessoal, quase intimista, outras vezes afastando-se do eu para olhar o espaço, este livro é feito de poemas de um cenário estranho e familiar, povoado de gente improvável e de coisas também invulgares. E, no seu todo, em que cada poema representa um instante, este livro é também quase uma história: a história das coisas diferentes e daquele que as observa.
Um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste livro diz respeito à estrutura de alguns poemas, bem como à forma como esta se adapta aos temas. O assunto que domina é a natureza, na vastidão de tudo o que compõe e ainda dos atributos imaginários que lhe são atribuídos. Por isso, não deixa de ser especialmente cativante a forma como alguns dos poemas, com as suas inesperadas alíneas e pontos de ordem, façam lembrar a classificação das espécies. Além disto, esta peculiaridade parece ser um único ponto definido numa estrutura que é, de resto, bastante livre, o que cria um contraste entre fluidez e organização.
Ainda falando de organização, importa referir a perspectiva de conjunto com que se fica após a leitura. Ainda que cada um dos poemas represente um todo por si só, a totalidade, com o seu tema comum e os elementos que se repetem nos diferentes poemas, passa a impressão de uma unidade maior. É como se houvesse uma espécie de narrativa subjacente ao conjunto. Fica, por isso, a impressão de uma unidade coesa, reflexo de um todo maior. Ainda que, por vezes, o sucessivo ressurgir de temas e elementos se torne um pouco repetitivo.
Por último, de notar que, apesar de um registo aparentemente simples, há, no conjunto do livro, vários poemas que sobressaem, quer devido a alguns versos particularmente marcantes, quer por um registo mais pessoal, que, no meio de tudo o que há de invulgar, evoca uma familiaridade reconfortante. Também este equilíbrio entre o conhecido e o improvável contribui para tornar a leitura interessante.
Tudo somado, fica na memória uma poesia diferente, em cenários e em estrutura. Mas que, na sua muito própria visão da natureza, evoca algo de único e de universal, na perspectiva do poeta unido ao mundo em volta. Vale a pena ler.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Mulher Louca (Juan José Millás)

Julia é uma mulher estranha, visitada por frases e por seres imaginários e com uma vida que se divide entre uma relação amorosa com um homem casado e o lugar que ganhou numa família sem laços de sangue, criada em redor de uma doente terminal. É nesse cenário que o seu caminho se cruza com o de Millás, autor e personagem - mas não narrador. E, através dos últimos dias de Emérita, Julia descobre novos factos sobre a linguagem que tão bem conhece. Millás descobre, talvez, uma forma de, dissociando-se de si mesmo, ultrapassar o bloqueio criativo. E Emérita exerce o seu direito a morrer com dignidade, independentemente da vontade dos outros.
Peculiar e repleto de surpresas, este é um livro que, apesar da relativa brevidade e da abundante estranheza, facilmente se torna memorável. E um dos aspectos que mais marcam nesta leitura é precisamente o equilíbrio entre a tal estranheza e o fascínio que os acontecimentos e os pensamentos em torno dela acabam por exercer. A relação de Julia com a linguagem, em primeiro lugar, e depois a entrada em cena de Millás, também ele ligado às questões da linguagem, mas numa perspectiva diferente, criam uma série de situações e pensamentos surpreendentes, que, associados à questão mais ampla do que é a tão falada linguagem - e como se define, de onde veio, que sentidos tem - se tornam particularmente interessantes.
Também interessante é o papel de Millás em toda a história, surgindo primeiro como uma figura vagamente mencionada pelo narrador, para depois se tornar quase protagonista, sem nunca deixar de ser autor. Neste aspecto, o que sobressai é a forma como, apesar da brevidade e da aparente simplicidade que domina a história, há todo um conjunto de ideias complexas a surgir ao longo da narrativa. Temas fortes, como a questão da eutanásia, mas também questões interiores, como o dilema do autor perante si próprio, à procura de uma forma de reencontrar a voz.
E, depois, há uma evolução emocional ao longo da leitura que acaba por ter, também, um grande impacto. Da curiosidade inicial perante as muitas peculiaridades de enredo e personagem, a história evolui para um registo mais introspectivo e, com a entrada em cena de Emérita, para a ponderação das grandes questões. Não se perde nunca a estranheza que tanto cativa nesta história, mas com a aproximação dos últimos dias de Emérita, a narrativa torna-se mais séria, mais nostálgica e, por isso, também mais emotiva. 
No final, ficam na memória dois aspectos principais: a estranheza que abre caminho ao fascínio e a leveza simples sob a qual se esconde a complexidade das coisas sérias. E é o equilíbrio de tudo isto, num registo leve e agradável, mas sempre surpreendente, que faz, enfim, com que esta leitura valha a pena. Porque vale, de facto.