domingo, 31 de agosto de 2014

À Descoberta da sua Assinatura de Alma (Panache Desai)

Medos, tristezas, mágoas e preocupações são apenas algumas das emoções que definem a vida de cada um. Não necessariamente associadas às grandes coisas e, por vezes, vividas de forma inconsciente, podem ser, ainda assim, condicionantes na hora de escolher um rumo ou tomar uma decisão. O que Panache Desai apresenta neste livro é, essencialmente, um percurso de introspecção, considerando essas emoções negativas e lidando com elas de forma a construir uma nova perspectiva acerca da vida.
Apesar de ser construído como um método para 33 dias, este não é, propriamente, um guia do género que implica exercícios ou técnicas de meditação. Este é, aliás, um dos aspectos mais interessantes do livro. Grande parte do que o autor apresenta são reflexões sobre sentimentos e formas de estar na vida, sugestões sobe uma melhor forma de os encarar. E é desta introspecção que surgem umas quantas boas ideias, uma sensação de familiaridade com as tais emoções menos visíveis e, independentemente da percepção global que se ganha relativamente ao método, uma forma mais ampla de pensar em certas coisas.
Também um aspecto interessante, ainda que possa despertar sentimentos ambíguos, é a ligação a um sistema de crença. O Divino tem um papel essencial nas ideias que o autor pretende transmitir, o que pode criar alguma distância, pelo menos nos leitores mais cépticos. Ainda assim, a presença do Divino não está necessariamente associada a uma crença específica, o que acaba por tornar a ideia geral bastante mais abrangente.
Quanto ao potencial de mudança do método, fica, por vezes, a impressão de que algumas ideias não são tão simples como parecem. Ainda assim, e mesmo que nem todos os pontos sejam assim tão fáceis de pôr em prática, há, ao longo do livro, todo um conjunto de boas reflexões, que ficam na memória, não só pelo que têm de familiar, mas também pela forma cativante como o autor as apresenta.
Escrito de forma cativante e com algumas ideias surpreendentes, o que este livro apresenta é, acima de tudo, uma viagem através dos sentimentos, partindo dos mais negativos e enfrentando-os de uma forma diferente. O resultado é, pelo menos para alguns dos temas, uma nova perspectiva. E um percurso interessante.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Na Pele de Meryl Streep (Mia March)

Quando Isabel e June Nash são informadas pela tia que precisa que elas regressem à pousada onde cresceram porque tem um comunicado para lhes fazer, nenhuma delas fica muito entusiasmada. Foi ali que continuaram com as suas vidas depois da morte dos pais num acidente, mas a perda criou mais barreiras que união e a relação entre as irmãs e com a prima Kat nunca foi a mais sólida. Mas agora, de regresso à pousada, e com uma notícia capaz de lhes mudar as vidas à espera, Kat, Isabel e June vão descobrir a força de sentimentos que nunca expressaram e encontrar a força, depois de toda a dor que já sentiram, para travar ainda uma nova batalha. E descobrir quem realmente querem ser.
Tendo como ponto de partida um regresso às origens e um cenário de possíveis perdas, este é um livro que tem como grande ponto forte o impacto emocional. Tanto nos percursos pessoais das três protagonistas, como nos acontecimentos associados ao comunicado de Lolly, há todo um conjunto de pequenos - e não tão pequenos - dramas, com todo o sentimento que lhe está associado. Há, também, uma sucessão de perdas, vindas do passado ou previstas para um futuro próximo, e a forma de reagir (ou a necessidade de o fazer) implicam também uma forte carga emocional.
A este impacto emocional está associada toda uma grande reflexão sobre o que verdadeiramente importa na vida. Isabel, June, Kat e a própria Lolly são mulheres fortes moldadas pelas experiências que viveram, mas são também, ainda e sempre, almas em crescimento. Em cada novo acontecimento, ou no que está para vir, há sempre uma nova lição à espera, capaz de moldar escolhas para o futuro. Há uma evolução nas personagens, no que as define e nas percepções que têm do mundo e das relações. E este desenvolvimento, revelador de personalidades complexas e empáticas, é também parte do que torna esta história especialmente marcante.
Também cativante é a forma como a autora conjuga a história pessoal das personagens com os filmes que vêem juntas nas suas noites de cinema. Além de criar vários paralelismos interessantes entre as protagonistas e as personagens dos vários filmes, as sessões de cinema e as discussões sobre os filmes reforçam o impacto da união familiar que é, afinal de contas, um dos pontos centrais deste livro. União que é também, e acima de tudo, o mais constante dos afectos, numa história em que nem todas as possibilidades encontram uma resolução definitiva. Como na vida, de resto.
Feita de emoções fortes e de afectos duradouros, esta é, pois, uma história de perda e de superação, mas também de amor e de ternura. Cativante e comovente, fala com leveza e amor de como os grandes momentos e as pequenas escolhas definem a vida de cada um. E fica na memória, bem depois de terminada a leitura.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Novidades Topseller

Quando Sky conhece Dean Holder no liceu, um rapaz com uma reputação tão duvidosa quanto a dela, sente-se aterrorizada, mas também cativada. Há algo naquela figura que lhe traz memórias do seu passado mais profundo e perturbador. Um passado que ela tentou por tudo enterrar dentro da sua mente.
Ainda que Sky esteja determinada a afastar-se de Holder, a perseguição cerrada que ele lhe dedica, bem como o seu sorriso enigmático, fazem-na baixar as defesas, e a intensidade da relação entre os dois cresce a cada dia. Mas o misterioso Holder também guarda os seus segredos, e, quando os revela a Sky, ela vê-se confrontada com uma verdade tão terrível que pode mudá-la para sempre. Será Sky quem ela pensa que é? E será que os dois conseguirão sarar as suas feridas emocionais e encontrar um modo de viver e amar sem limites?

«Tenho andado a segui-la nos últimos dias. Sei onde faz as compras de supermercado, a que lavandaria vai, onde trabalha. Nunca falei com ela. Não lhe reconheceria o tom de voz. Não sei a cor dos olhos dela ou como eles ficam quando está assustada. Mas vou saber.»
Filha de um juiz de sucesso e de uma figura do jet set reprimida, Mia Dennett sempre lutou contra a vida privilegiada dos pais, e tem um trabalho simples como professora de artes visuais numa escola secundária. Certa noite, Mia decide, inadvertidamente, sair com um estranho que acabou de conhecer num bar. À primeira vista, Colin Thatcher parece ser um homem modesto e inofensivo. Mas acompanhá-lo acabará por se tornar o pior erro da vida de Mia.

Mary Kubica tem um Bacharelato em História e Literatura Americana pela Universidade de Miami (Ohio). Não Digas Nada é a estreia enérgica e vigorosa desta autora incrivelmente promissora, que a Topseller se orgulha de dar a conhecer aos seus leitores.

Novidade Porto Editora

Richard Cypher é um jovem guia em Hartland, à procura de respostas para o assassinato brutal do pai. Na floresta onde se refugia, encontra uma mulher misteriosa, Kahlan Amnell, que precisa da sua ajuda para fugir aos sequazes do temível Darken Rahl, governante de D'Hara, praticante da mais temível magia negra e um homem ávido por vingança. 
Num golpe de verdadeira magia, Richard passa a deter nas suas mãos o destino de três nações e, sobretudo, da própria humanidade. 
O seu mundo, as suas crenças e a sua própria essência serão abalados e testados, à medida que Richard lida com amigos e inimigos, com a crueldade extrema e a compaixão dedicada, experimentando a paixão, o amor e a raiva, e o seu impacto na missão que lhe é imposta: ser aquele que procura a verdade.

Terry Goodkind nasceu em 1948 em Omaha, no Nebrasca. Em 1994 publicou o primeiro livro da série de fantasia épica A Espada da Verdade, que viria a ter um sucesso retumbante, com mais de 26 milhões de exemplares vendidos e traduções em mais de 20 línguas.

Novidade Planeta

No ton, Lady Angelina DeBrooke não é só conhecida pela sua rara beleza, mas pelos seus casamentos. Com a alcunha Anjo Negro, apaixonou-se pela primeira vez e deseja casar, mas teme ficar viúva pela terceira vez. Com dois maridos envenenados e uma nuvem de suspeita a pairar sobre a cabeça, ela procura o único homem em Inglaterra que poderá ajudá-la... 
Benjamin Wallace, Lorde Heathton, não está interessado em 
fazer de novo o papel de detective, mas quando Lady DeBrooke o aborda para uma missão que envolve limpar-lhe o nome, ele considera o desafio irresistível. O segundo marido era um velho amigo, e quando começa a investigar, sente o odor de um inimigo que já perseguiu e sabe que esta é oportunidade de prender a esquiva personagem...

Emma Wildes estudou na Universidade de Illinois é e licenciada em Geologia. Vive em Indiana com o marido e três filhos. 
Foi a autora n.o 1 do Fictionwise, WisRWA Reader’s Choice Award, vencedora na categoria de Romance Histórico em 2006, do Lories Best Published, e em 2007 vencedora do Eppie para o melhor romance erótico.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Os Segredos do Clube Bilderberg (Vito Bruschini)

Ocultos por uma cortina de secretismo, o Clube Bilderberg construiu influências e conquistou o poder para moldar o rumo do mundo aos seus interesses. Através dos tempos, espalharam o caos, criaram crises e mudaram sistemas para construir um novo sistema orientado pelas suas regras. Mas basta uma falha e, de súbito, tudo pode estar comprometido. Quando um membro demasiado ambicioso começa a tomar medidas demasiado drásticas, comprometendo o segredo, o futuro longamente planeado passa a estar em risco. E talvez o mistério não seja suficiente para fugir às atenções dos que ainda estão dispostos a lutar pelos seus ideais.
Um dos aspectos que, desde cedo, sobressai neste livro é que, apesar de ser, acima de tudo, uma obra de ficção, escrita com o ritmo de acção de um thriller, há também uma mensagem que o autor pretende passar aos seus leitores. É por isso que o autor - ou melhor, as suas personagens - se demoram em explicações sobre a constituição e os planos do Bilderberg, bem como sobre as consequências dos planos que lhes são atribuídos. Ora, o resultado disto é uma história de ritmo mais pausado, que, talvez pelas extensas explicações e pela forma como contrastam com a rapidez de certas acções, passa, por vezes, a impressão de algum exagero, mas que toca, de facto, várias questões pertinentes.
É este, aliás, o ponto mais interessante do livro. Apesar do ambiente de teoria da conspiração que se sente ao longo de vários momentos do enredo, a forma como certas decisões são encaradas, principalmente no que diz respeito à área ambiental e à agricultura, consegue ter o seu quê de perturbador, principalmente no que diz respeito à sempre actual questão da importância das pessoas comparativamente aos números (económicos e não só). Surge daqui um bom ponto de partida para o contraste entre a frieza dos interesses de algumas das personagens e a força da convicção de outras.
Quanto às personagens, fica a impressão de alguns aspectos deixados por explorar, em grande parte por haver um foco mais nos acontecimentos do que propriamente no desenvolvimento das características dos intervenientes. Ainda assim, e apesar de uma decisão algo questionável na fase final do enredo, há nos principais intervenientes os traços necessários para despertar curiosidade e a história pessoal de Milla, ainda que abordada de forma muito simples, acrescenta um muito bem conseguido toque de emoção.
A impressão global que fica de tudo isto é a de uma história com algo de exagero, mas com bastante material para reflexão. Com um enredo interessante, de ritmo agradável e personagens cativantes, uma boa leitura.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Novidade Porto Editora

Ajatashatru Larash Patel, faquir de profissão, que vive de expedientes e truques de vão de escada, acorda certa manhã decidido a comprar uma nova cama de pregos. Abre o jornal e vê uma promoção aliciante: uma cama de pregos a 99,99€ na loja Ikea mais próxima, em Paris. Veste-se para a ocasião – fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante – e parte da Índia com destino ao aeroporto Charles de Gaulle. Uma vez chegado ao enorme edifício azul e maravilhado com a sapiência expositiva da megastore sueca, decide passar aí a noite a explorar o espaço. 
No entanto, um batalhão de funcionários da loja, a trabalhar fora de horas, obriga-o a esconder-se dentro de um armário, prestes a ser despachado para Inglaterra. Para o faquir, é o começo de uma aventura feita de encontros surreais, perseguições, fugas e aventuras inimagináveis, que o levam numa viagem por toda a Europa e Norte de África.

Romain Puértolas nasceu em Montpellier, em 1975. Quando era novo, queria ser cabeleireiro-trompetista, mas o destino trocou-lhe as voltas. Oscilando entre a França, a Espanha e a Inglaterra, foi sucessivamente DJ, compositor-intérprete, professor de línguas, tradutor-intérprete, comissário de bordo, mágico, antes de tentar a sua sorte como cortador de mulheres num circo austríaco.
Rapidamente despedido por ter mãos escorregadias, resolve dedicar-se à escrita compulsiva. Autor de 450 romances num ano, ou seja, 1,2328767123 romances por dia, consegue finalmente arrumar os seus próprios livros numa estante Ikea. Infelizmente, despojado de 442,65 dos seus romances por extraterrestres dotados de uma inteligência e um gosto bem acentuados, Romain Puértolas vê-se reduzido a uma estante estilo caixote de pêssegos periclitante e desesperadamente vazia. Segue actualmente uma carreira de agente da polícia em França e só tem uma coisa em mente: encontrar aqueles que perpetraram o golpe...
A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea será brevemente adaptado ao cinema.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Uma Espia na Casa do Amor (Anaïs Nin)

Dividida entre a necessidade de ser livre e o desejo de amar, Sabina foge a um casamento em que vê o marido mais como um pai bondoso do que como um amante e procura o fogo da paixão junto de outros homens que vai conhecendo. No seu percurso, constrói uma teia de mentiras, dando forma a uma mulher diferente, moldada em cada um dos múltiplos aspectos da sua personalidade. Mas para cada aventura há também algo que falta e o fardo cada vez mais pesado de uma culpa que, ao mesmo tempo, quer expiar e evitar. 
Conjugando sensualidade e introspecção numa narrativa que é, em simultâneo, um percurso através das múltiplas aventuras da protagonista e o caminho até à tomada de consciência e redenção, este é um livro em que, muitas vezes, o que é sentido e a análise desse sentimento se confundem. Sabina é uma mulher complexa, dividida nos seus múltiplos aspectos, quase como de cada um deles emergisse uma mulher diferente. É, por isso, uma mulher de emoções e posições ambíguas, o que se reflecte também nas suas relações e na forma como são narradas. A impressão que fica é, por isso, a de uma estranha dança, por vezes confusa, mas também intrigante, e de um caminho tortuoso em direcção à possível resposta.
Nem sempre é fácil acompanhar as escolhas e as motivações da protagonista. Além disso, as relações que estabelece têm sempre algo de efémero ou de incompleto, o que, apesar de adequado ao percurso de Sabina, cria também uma impressão de distância. Distância essa que é compensada pelo mistério, já que, acima de tudo, a imagem que fica é a de Sabina enquanto enigma, mas que, ainda assim, torna a sua personalidade menos empática.
Mas há um elemento que sobressai, acima de toda a ambiguidade e das complexidades da forma de vida da protagonista. É que, no registo introspectivo em que sentidos, reflexão e sentimento se confundem,a voz da autora surge com uma fluidez brilhante. Poética a espaços, directa quando necessário, mas sempre de uma profundidade que acompanha o enredo, a escrita da autora é bela e cativante, mesmo quando o que é narrado não é assim tão claro.
Mais que uma história de múltiplas relações, Uma Espia na Casa do Amor é, acima de tudo, um percurso de descoberta e, talvez, de uma possível redenção. Um caminho em que, sendo a reflexão tão ou mais importante que a experiência, a dispersão de pensamentos e de vivências acaba por fazer sentido, numa leitura que, entre a estranheza e o fascínio, acaba por ficar na memória.

domingo, 24 de agosto de 2014

Um Amor ao Luar (Emma Wildes)

O desaparecimento de Lady Elena Morrow causou preocupação entre a família... e rumores de escândalo na sociedade. É que, ao mesmo tempo, também Lorde Andrews, o infame libertino conhecido como O Corvo, parece ter desaparecido sem deixar rasto. E, enquanto muito se especula sem que nenhuma pista pareça trazer respostas, a verdade é que os dois desaparecidos estão mesmo juntos... ainda que contra vontade. A pedido do pai de Elena, cabe a Benjamin Wallace seguir as poucas pistas deixadas para descobrir o paradeiro dos dois desaparecidos. Mas, ao mesmo tempo, Ben enfrenta uma revolução no seu próprio casamento e a revelação de que a sua própria esposa poderá ser muito mais do que apenas uma escolha adequada para mãe dos seus filhos.
Dividido entre a história de Ran e Elena e a de Ben e Alicia, este é um livro que segue dois romances em pontos diferentes, ao mesmo tempo que os complementa com um toque de mistério. O equilíbrio entre estas partes é, aliás, um dos pontos fortes da história, já que as diferenças entre os dois casais e a situação de potencial perigo tornam mais interessante um enredo que, no essencial, acaba por ser relativamente simples.
À primeira vista, Ran e Elena têm muito pouco em comum, mas o cativeiro de ambos cria, desde logo, uma situação interessante. Por um lado, o pouco conhecimento que têm face às circunstâncias e a consequente desorientação cria uma certa empatia e, ao mesmo tempo, uma saudável medida de embaraço. Por outro lado, o confinamento associa-se à tentação. O resultado é uma cativante passagem do constrangimento à atracção e, depois, a algo mais, num percurso sem grandes surpresas, mas contado de forma envolvente, com um bom equilíbrio entre tensão, emoção e humor e em que, apesar de algumas incongruências (no que toca à história dos pais de Ran), acabam por ser os momentos bons a sobressair.
A história de Ben e Alicia é algo de diferente, o que acaba por criar um contraste interessante. Casados há seis meses, mas no que parece ser uma relação sem amor, ou com escassas demonstrações de afecto, este casal acaba por protagonizar alguns dos momentos mais divertidos e também alguns dos mais emotivos. Além disso, há uma aura de mistério em torno de Ben que o torna particularmente intrigante, tanto devido ao (ainda nebuloso) passado como à forma como procede à investigação do desaparecimento.
Quanto ao mistério, ficam ainda algumas questões em aberto e a impressão de algumas soluções algo apressadas. Ainda assim, acaba por ser um bom complemento para o desenvolvimento de uma das relações e um bom ponto de partida para a outra. Além disso, há ainda enigmas por resolver, o que cria uma certa expectativa para o próximo livro.
Envolvente e de leitura agradável, ainda que não completamente surpreendente, este é, portanto, um livro em que romance e mistério se conjugam numa história com protagonistas interessantes, muitos bons momentos e uma leveza que nunca deixa de cativar. Uma boa história, em suma.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

No País da Nuvem Branca (Sarah Lark)

Vindas de meios diferentes, mas tendo em comum a promessa de um futuro feliz do outro lado do mundo, duas jovens embarcam rumo à Nova Zelândia, sem saber que a viagem será o início de uma longa amizade e de uma vida cheia de tribulações. Gwyneira, de ascendência nobre e de temperamento fogoso, está prometida em casamento ao filho de um barão da lã. Helen, de origens mais modestas e temperamento mais sereno - mas também com grandes sonhos - espera encontrar também um marido, mas esse conheceu-o em resposta a um anúncio. Ambas partem com esperança na felicidade, mas o que têm à espera é bem diferente do que lhes foi prometido. Ainda assim, como mulheres fortes que são, terão de encontrar um caminho por entre as dificuldades e construir o melhor destino possível, independente dos conflitos que tiverem pela frente.
Com uma história que se prolonga através de um vasto período de tempo, partindo da juventude das protagonistas para as seguir até ao nascimento dos netos, este é um livro em que o ritmo do enredo terá de ser, necessariamente, algo pausado. Para isso contribui, além da vastidão de acontecimentos e mudanças que decorrem ao longo do tempo, a necessidade de uma boa medida de descrição, de forma a comparar os dois mundos das protagonistas. Da agitação de Londres à por vezes excessiva tranquilidade da Nova Zelândia e, mesmo dentro desta, com as mudanças ocorridas ao longo do tempo, há todo um contexto a explorar, além da descrição dos próprios cenários. E se isto faz com que os acontecimentos sejam narrados a um ritmo mais lento, também torna o cenário mais nítido e as complexidades do contexto mais fáceis de compreender.
Falando no contexto, o elemento que sobressai é, sem dúvida, a interacção entre os colonos e o povo maori, com todas as mudanças e potenciais conflitos que lhes estão associados. Mas este é apenas um dos elementos surpreendentes no desenvolvimento desta história. Desde o envio das órfãs para trabalhar na Nova Zelândia aos direitos de Helen e Gwyneira enquanto mulheres num mundo de homem, sem esquecer questões como a febre do ouro e as normas sociais estabelecidas, há todo um conjunto de questões relevantes a surgir ao longo desta história, o que também contribui para tornar a leitura mais interessante.
Mas, acima de tudo, estão a história e as personagens. E o mais impressionante neste aspecto é a forma como a autora consegue equilibrar o desenvolvimento de um contexto mais vasto com uma história que nunca deixa de ser, acima de tudo, a da vida das suas personagens. Helen e Gwyneira, diferentes em muito, mas ambas carismáticas e capazes de despertar empatia, são, no fim de tudo, o centro da história, bem como o ponto de partida para o percurso das gerações seguintes. E, entre inimizades e afectos, dificuldades e sucessos, perda e superação, há na história destas duas mulheres um equilíbrio perfeito entre todos os elementos. Mistério, um toque de intriga, perigo, emoção em abundância... Um pouco de tudo e tudo nas medidas certas, de tal forma que, mesmo quando a passagem do tempo deixa algumas questões em aberto, todas as resoluções parecem ser as mais adequadas.
Cativante desde as primeiras páginas, repleto de personagens carismáticas e com um equilíbrio perfeito entre os percursos pessoais e o vasto contexto em que estes decorrem, este é um livro igualmente capaz de surpreender e de emocionar, tanto nos grandes momentos como nas pequenas coisas. E, por tudo isto, um livro que fica na memória. Brilhante.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O Leitor (Bernhard Schlink)

Aos quinze anos, Michael Berg descobre o amor nos braços de uma mulher mais velha. Cruza-se com ela pela primeira vez num estado de fragilidade, que acaba por ser a desculpa para a voltar a encontrar. E assim, entre uma atracção desconhecida e um embaraço que o parece consumir, Michael descobre-se no centro de uma relação intensa, quase incompreensível, que se torna numa parte essencial da sua vida, para depois se diluir, tão inesperada e naturalmente como começou. Passarão anos até que os seus caminhos voltem a cruzar-se, ele agora um jovem estudante rumo a um grande futuro, ela perante um juiz devido a actos cometidos num campo de concentração. Então, tudo terá mudado, inclusive os sentimentos. Mas há, ainda assim, algo que os aproxima e um segredo que ninguém está disposto a desvendar.
Narrado pela primeira pessoa pela voz de Michael Berg, e percorrendo diferentes fases da sua vida, este é um livro em que o crescimento do protagonista é apenas um dos vários pontos fulcrais que o constituem, mas um dos mais cativantes. Quase ingénuo, no princípio, marcado pela verdade, no fim, mas sempre em busca das respostas certas naquilo que não as tem, Michael acaba por estar em conflito consigo próprio. Assim, a sua voz torna-se, muitas vezes, introspectiva, questionando tudo para encontrar ainda mais perguntas.
É da vastíssima abrangência dessas questões, que, partindo de um único indivíduo, se estendem sobre toda uma geração, que emerge o que este livro tem de mais marcante. Hanna enquanto guarda surge quase como um oposto de Hanna, a mulher que iniciou Michael no amor. Mas, com o evoluir da situação e com o aprofundar das questões na mente do narrador, as duas mulheres confundem-se, aproximam-se, tornam-se uma. E assim, surgem ainda mais questões, sobre como é possível questionar o inquestionável, sobre a humanidade dos que cometeram actos desumanos, dos que os viram, dos que nada fizeram. Na mente de Michael, tudo é analisado e, das suas muitas perguntas e das respostas possíveis, o que surge é um retrato preciso, ainda que nem sempre agradável, da complexidade da natureza humana.
Tudo isto é traçado num delicado equilíbrio entre a distância e emoção, com laivos de poesia nas palavras cruzados com a brutal simplicidade que define o horror. A história é tanto a de um estranho amor como a daquilo que pode ou não ser redimido. E, quanto ao segredo no centro de todas as coisas, acaba por ser quase um raio de luz num cenário sombrio, conferindo um impacto diferente a uma história que é, toda ela, impressionante.
A história de O Leitor acaba por ser, ao mesmo tempo, um caminho de crescimento e de descoberta e uma descida aos abismos da consciência. De amor e de redenção (ou, pelo menos, de reconhecimento), uma leitura complexa, perturbadora e muitíssimo bem escrita. Memorável, portanto.

domingo, 17 de agosto de 2014

Fumo na Noite (Nora Roberts)

Natalie Fletcher é uma mulher com objectivos claros e não está disposta a deixar que nada se meta no seu caminho. Mas quando um incêndio consome grande parte do seu armazém, Natalie tem de aceitar a convivência com Ry Piasecki, o inspector responsável pelo caso. À primeira vista, a impressão que o inspector lhe transmite é a de um homem autoritário e grosseiro, capaz de lhe mexer com os nervos. Mas a verdade é que Ry afecta-a também de uma maneira diferente e há algo de irresistível na força que a atrai para ele. E, por muito que nenhum deles o queira, a atracção parece ser recíproca...
Conjugando mistério e romance, perigo quanto baste e um toque de afecto familiar, este é um livro que tem todos os elementos para proporcionar uma leitura cativante. A escrita simples, mas envolvente, dá voz a uma história com momentos de grande intensidade e as relações familiares complementam o romance, acrescentando também um toque de humor. Além disso, o mistério, com o perigo que lhe está associado, contribui também para tornar as coisas mais interessantes. 
Mas há um aspecto que deixa sentimentos ambíguos e este prende-se com o desenvolvimento das personagens. Natalie e Ry vêm de mundos diferentes e, dessa diferença, surge um grande potencial, mas a passagem do conflito ao romance acontece de forma muito apressada. Disto resulta que, nos momentos de conflito, sobressaem apenas as piores características e que, com o evoluir do enredo, nem sempre os traços redentores chegam para compensar os defeitos. Isto aplica-se em particular a Ry que, apesar das virtudes que apresenta, fica na memória mais pelos comportamentos rudes e autoritários.
A história consegue ser cativante, apesar disso, principalmente porque, passada a fase inicial, começa a haver uma melhor interacção entre os protagonistas, para a qual contribui também o mistério em volta e a presença dos amigos e familiares. Este é, aliás, um dos pontos mais fortes do livro. Encontrar as personagens dos livros anteriores e ver, ainda que brevemente, a evolução do seu percurso depois do fim da história consegue ser particularmente refrescante.
Este é, portanto, um livro de impressões contraditórias. Por um lado, as características que mais se destacam de um dos protagonistas não são propriamente abonatórias, o que cria uma certa estranheza quanto ao desenvolvimento da relação. Por outro lado, o mistério que complementa o romance é bastante interessante e o toque de humor e de emoção introduzidos pela família cria alguns momentos especialmente bons. O resultado é uma história com algum potencial por explorar, mas, apesar disso, capaz de proporcionar uma leitura agradável. E, às vezes, isso chega.

sábado, 16 de agosto de 2014

Astrologia para os Dias de Hoje (Joanna Watters)

Ao pensar em astrologia, a primeira ideia que, muitas vezes, vem ao pensamento é a dos horóscopos dos jornais e similares, em que, de acordo com o signo solar, surge uma previsão, breve e ambígua quanto baste, do que estará para acontecer num futuro próximo. Mas, segundo a autora deste livro, essa é apenas uma parte muito pequena do que verdadeiramente define o estudo da astrologia. Neste livro, a autora centra-se menos na previsão (ainda que este elemento surja, também) e mais no simbolismo. O resultado é uma perspectiva mais ampla e mais fácil de compreender, independentemente do maior ou menor grau de cepticismo de quem lê.
Há dois elementos, na aproximação que a autora faz à explicação do seu método, que sobressaem. O primeiro é o simbolismo, com os elementos universais e a sua associação a casos particulares e a forma como os significados são aplicados. O outro é a construção do horóscopo, com todos os cálculos e aspectos a ela associados. Destes dois aspectos, o primeiro é facilmente assimilável, até porque alguns dos significados (para signos, planetas ou elementos de mitologia) são, à partida, do conhecimento geral. Já quanto aos cálculos, nota-se uma tentativa de simplificar o mais possível, de forma a facilitar a compreensão, mas a impressão que fica é, apesar disso, de algo bastante confuso.
Para atenuar as dificuldades contribui a organização do livro, partindo do mais simples para o mais complexo. Além disso, ao separar os diferentes elementos, a autora torna mais fácil a consulta, com os cálculos e os significados mais centrados em diferentes capítulos do livro.
Não é um livro pormenorizado e a própria autora refere que há outros aspectos mais elaborados que são deixados por explicar, por não ser esse o objectivo. Ainda assim, e independentemente da crença (ou falta de), é um livro que permite uma nova perspectiva sobre os simbolismos e os métodos inerentes à construção de um horóscopo. E, por isso, uma leitura interessante.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Sobremesa (José António Pinto)

Tiago vive numa relação estagnada, sem amor ou cumplicidade, ao mesmo tempo que procura encontrar um novo rumo para a sua vida profissional. Adélia procura a independência num caminho de oportunidades, mas também de dificuldades, em que muitos dos que encontra têm interesses escondidos. Ambos têm um futuro à espera, uma história repleta de mudanças, com elos que se cruzam de forma mais ou menos marginal. E, do que têm a descobrir e do futuro que lhes falta conhecer, vão encontrar o caminho para o que lhes falta.
Dividido entre dois protagonistas cujas histórias se cruzam de forma bastante discreta, este é, no fundo, um livro com duas histórias que, quase independentes no percurso global, têm ainda assim muito em comum. E o principal é que, no fundo, tanto Adélia como Tiago andam à procura da mudança, o que não só torna as suas motivações semelhantes como os leva a sucessos e desilusões comuns. Além disso, as diferenças de personalidade associadas a estes pontos em comum criam uma impressão de complementaridade entre as duas partes da história, o que torna mais forte o impacto das suas circunstâncias.
Outro ponto interessante prende-se com as questões relevantes que emergem do que parece ser um registo bastante introspectivo. Tanto Tiago como Adélia têm, devido às suas experiências, de tecer considerações sobre o que viveram - e, em consequência, sobre a sociedade que se movem. Dessas situações surgem várias questões relevantes que, mesmo que presentes de forma relativamente discreta, fluindo ao ritmo do desenvolvimento do enredo, não deixam de acrescentar interesse à leitura. E depois há as relações. Nem sempre fáceis de compreender, contraditórias em certos momentos, aproximam-se, a cada desenvolvimento, de uma maior imperfeição. E, por isso, tornam-se também mais reais. 
Fica, nalguns momentos, a ideia de que alguns pontos poderiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito a algumas situações mais dramáticas que acabam por ficar para trás de forma um pouco brusca. Nesse aspecto, teria sido interessante saber um pouco mais sobre as consequências desses acontecimentos. Apesar disso, no que toca ao que elementos essenciais da história, toda a informação necessária está lá.
A impressão que fica, portanto, é a de uma leitura envolvente, com um interessante equilíbrio entre as situações dramáticas e os momentos de leveza e um percurso de crescimento que não deixa nunca de cativar. Uma boa história, pois, e uma boa leitura.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Extermínio (Sebastian Rook)

Ainda na Polónia para assistir ao funeral do amigo que perderam no último confronto, Ben, Jack e Emily descobrem que a guerra contra os lampiros ainda não acabou. A estranha natureza de Roman Cinska protegeu-o do feitiço do sino Dhampir e os seus planos para libertar o Conde Casimir Lampirska, criador dos lampiros, poderão trazer uma nova era de terror. Mais uma vez, cabe a Ben, Jack e Emily seguir os passos de Roman até ao castelo Lampirska e impedir que os seus planos se concretizem. Se não for já demasiado tarde...
Último volume de uma longa aventura, e terceiro dedicado à praga dos lampiros, este livro cria, em primeiro lugar, uma impressão de confusão. Isto deve-se ao facto de - na tradução, pelo menos - as criaturas que até agora eram designadas como lampiros (por oposição aos vampiros de Camazotz) surgirem agora também como vampiros, o que cria uma certa estranheza. Ainda assim, esta diferença facilmente se assimila ao entrar no ritmo de acção constante que caracteriza o enredo.
Quanto ao enredo em si, depois de tantos confrontos com vampiros e lampiros, já não é difícil prever, em linhas gerais, o rumo dos acontecimentos. Mas é interessante notar que, ainda assim, a história não deixa de ser cativante, quer devido ao desenvolvimento de elementos novos relativamente aos vampiros, quer ao que a própria acção das personagens tem de interessante. Além disso, no que ao conde Lampirska diz respeito, notam-se uns certos paralelismos com Drácula, mas também algumas divergências, o que contribui também para tornar o enredo mais interessante.
Das personagens, sobressai o que prevalece como ainda uma certa inocência, mas moldada pelas experiências passadas, e algumas revelações sobre Jack que há muito vinham sendo insinuadas. Mas, acima de tudo, destaca-se a solidez da amizade entre os três protagonistas e a forma como esta os move perante o perigo.
A soma de tudo isto é a habitual leitura agradável, com muita acção e um toque de emoção e em que o desenvolvimento dos elementos sobrenaturais torna mais interessante o rumo de uma boa aventura. Uma boa leitura, portanto, e uma bela conclusão para a série.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Quem Matou o Almirante? (The Detection Club)

Quando o corpo do almirante Penistone é encontrado num barco à deriva, ninguém sabe muito bem o que pensar. Cabe ao inspector Rudge seguir as pistas e descobrir o culpado, mas ninguém parece disposto a facilitar-lhe a vida e prova disso são as várias possíveis testemunhas que, logo a seguir à descoberta do cadáver, partem apressadamente para alegados compromissos noutro lugar. Ainda assim, não basta o êxodo para deter a determinação do inspector em descobrir o que aconteceu. E, através de pistas e declarações aparentemente contraditórias, que apontam para um passado distante e para a cumplicidade de muitos, o caminho para as respostas pode ser longo e surpreendente, mas trará, seguramente, a verdade.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro não se prende nem com o enredo nem com a escrita, mas antes com a história que está na sua origem. A história da fundação do Detection Club, dos seus objectivos e da sua continuidade através dos tempos é, por si só, um ponto de partida interessante, principalmente tendo em conta a presença de autores que, ainda hoje, permanecem bem próximos da atenção do público. Além disso, o processo de escrita a várias mãos, quase como que num jogo com regras bem definidas, lança, desde logo, uma nova perspectiva sobre a leitura, já que cria expectativas quanto à forma como cada um dos autores seguintes irá moldar as pistas deixadas pelos anteriores.
Isto leva-nos à história propriamente dita. Nesta, há todos os elementos necessários para dar forma a um bom policial. Um crime de difícil resolução, suspeitos em abundância, um mistério vindo do passado e, com ele, vários possíveis motivos e uma sequência de pistas que abrem caminho a várias respostas possíveis. É a partir destes elementos, pois, que os autores vão desenvolvendo a sua história, sempre tendo em vista a necessária explicação para todos os elementos, mas, ao mesmo tempo, criando novas possibilidades e novas suspeitas. O resultado, claro, é que, com tantos possíveis motivos e tantas personagens com a oportunidade nas mãos, não é muito fácil adivinhar a identidade do responsável. (Ainda que haja, de facto, alguns sinais.
Ao ser o mistério o centro da narrativa, o desenvolvimento das personagens acaba por ficar para segundo plano. Rudge é um protagonista bem desenvolvido e a sua forma de lidar com algumas das personagens proporciona vários momentos interessantes, mas, quanto aos restantes intervenientes, fica a impressão de uma certa distância, talvez porque surgem principalmente enquanto intervenientes no caso, deixando de fora tudo o resto - ou grande parte.
Tudo somado, Quem Matou o Almirante? surge como uma história cativante, com um mistério cheio de surpresas e em que a ideia por detrás do enredo - e do que uniu os seus autores - tem tanto de cativante como o próprio livro. Uma leitura interessante, em suma.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A Escolha dos Três (Stephen King)

Depois do confronto e da longa conversa com o homem de negro, Roland desperta numa praia desconhecida. Aí, encontra perigo, em primeiro lugar. E, depois, três portas que o levarão a outro mundo. É desse mundo e de diferentes pontos no tempo que Roland precisará de trazer os três que moldarão os próximos passos na sua busca da Torre Negra. Mas nenhuma das escolhas será fácil. Eddie Dean é um viciado e encontra-se numa situação delicada. Odetta Holmes perdeu as pernas num acidente e, nesse mesmo episódio, ganhou uma segunda personalidade. E Jack Mort espalha morte pela cidade enquanto se esconde sob a fachada de um homem respeitável. A todos Roland terá de alcançar para trazer para o seu mundo aquilo de que precisa. Mas, fraco e ferido, precisará de toda a sua força de vontade para se manter vivo. E todas as escolhas que fizer terão consequências.
Seguindo na mesma senda do primeiro volume desta série, A Escolha dos Três tem muitos pontos em comum com o anterior O Pistoleiro. A mais evidente delas é a mistura de mistério e de ambiguidade, num enredo em que, para cada resposta, surgem várias perguntas e em que os diferentes mundos, com o que os diferencia e com os traços que têm em comum, se cruzam de uma forma nem sempre fácil de compreender. Disto resulta também a mesma mistura de estranheza e fascínio perante um cenário que é diferente em muitos aspectos, mas em que há muito de cativante - na história, nas personagens e nos próprios lugares.
A forma como a história é contada, em capítulos relativamente curtos e com vários momentos intensos a surgir ao longo do percurso, facilita a assimilação dos momentos de maior estranheza. Mas a verdadeira âncora de toda esta história é Roland. Carismático, com os valores certos e uma consciência bem presente, mas pragmático e capaz de elevar a sua demanda acima de tudo, incluindo as vidas de seja quem for, Roland surge, por vezes, como herói, mas também como anti-herói. E, por isso, a sua presença e as suas escolhas, complexas, como a sua própria personalidade, estão na base de alguns dos momentos mais surpreendentes do livro. E também dos mais emotivos.
Quanto à busca da Torre Negra e ao caminho a seguir, há ainda muitas perguntas sem resposta, quer quanto aos motivos, quer quanto ao que se seguirá. Ainda assim, fica a impressão, no final deste livro, do encerramento de uma fase e, ao mesmo tempo, do abrir de novas possibilidades. E, precisamente por isso, muita curiosidade quanto ao que se seguirá.
Estranho e fascinante, com personagens fortes e uma história cheia de surpresas, A Escolha dos Três conjuga mistério, fantasia, emoção e até mesmo um toque de humor. O resultado é um livro intenso e surpreendente, com vários momentos memoráveis e que promete muito de bom para o que virá depois. Recomendo.

sábado, 9 de agosto de 2014

Vestido para a Morte (Donna Leon)

A descoberta de um cadáver num baldio perto de um matadouro pode não motivar grandes preocupações na sociedade, mas basta para arruinar os planos de férias de Guido Brunetti. À primeira vista, a vítima é um travesti e tudo - ou pelo menos a mentalidade geral - parece apontar para que seja um prostituto que foi morto por um cliente. Mas há pequenas coisas que não batem certo e silêncios que alimentam a suspeita. Aos poucos, as investigações de Brunetti começam a apontar que não se trate de um crime de menor relevância, mas apenas de parte de uma situação bem mais vasta. Mas, à medida que o Commissario se aproxima das respostas, é também mais premente a vontade dos que o querem fazer parar.
Um dos aspectos que sobressai deste livro (como, de resto, de outros volumes desta série) é a caracterização de uma sociedade em que os aspectos menos nobres das mentalidades e das formas de estar na vida são especialmente vincados. Desde os esquemas e os desvios escondidos sob a aparência respeitável, a um preconceito socialmente aceite, o cenário em que a autora desenvolve as suas histórias define-se por características não muito positivas. Mas é precisamente ao destacar estas características e ao apresentá-las como normais aos olhos das personagens (ou, pelo menos, de uma vasta maioria delas) que a autora realça o que há de errado na situação. O efeito acaba o de ser, em certa medida, o de uma reflexão sobre o que não deveria ser.
Isto reflecte-se também na forma como o próprio mistério é gerido, com os interesses dos envolvidos a influenciar comportamentos ao longo de todo o enredo. Mas, para além disso, há também intriga e mistério em abundância, com umas quantas situações de verdadeiro perigo a contrastar com os ocasionais momentos caricatos. Disto resulta um interessante equilíbrio entre leveza e tensão, o que contribui em muito para manter a envolvência do enredo.
Quanto às personagens, fica, por vezes, a impressão de uma certa distância, ainda que atenuada pelo desenvolvimento de alguns aspectos da vida familiar de Brunetti. Em termos de emoções ou de impacto pessoal das coisas, fica a ideia de que uma maior proximidade poderia tornar o enredo mais intenso. Ainda assim, e apesar dessa distância, há nesse aspecto alguns momentos surpreendentes. E, quanto ao caso, a conclusão acaba por ser particularmente bem conseguida.
Trata-se, pois, de mais uma boa leitura, intrigante e agradável, com um cenário que marca pelo muito que tem de invulgar e uma história que, entre as grandes revelações e os momentos peculiares, consegue sempre surpreender. Gostei.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Deusa (Josephine Angelini)

Com os deuses livres para deixar o Olimpo e voltar a percorrer a terra e partes da profecia cada vez mais próximas da concretização, Helena sabe que a guerra com os deuses é inevitável. Mas a verdadeira dimensão dos seus poderes e o papel que lhe está destinado na batalha final são ainda elementos que escapam à sua compreensão. Fugir ao que lhe está destinado e encontrar uma solução que não seja o perpetuar da mesma história que, desde Tróia, foi várias vezes repetida, exigirá de Helena todas as suas forças e uma boa dose de astúcia. Mas, à medida que a sua verdadeira força se revela, há, entre os que considera amigos, quem comece a sentir medo do que ela pode fazer. E esse será apenas mais um dos duros golpes com que terá de lidar...
Volume final da trilogia e, por isso, conclusão de toda a história (ou pelo menos da sua linha essencial), este é o livro onde se encontram muitas das respostas para as perguntas deixadas pelos anteriores. Mas é também aqui que a teia se adensa e que a complexidade das relações, das profecias e dos planos se revela em todo o seu potencial. Assim sendo, o grande ponto forte deste livro não podia deixar de ser o desenvolvimento dos elementos mitológicos e a forma como estes se conjugam num enredo cheio de possibilidades inesperadas. 
Do conflito entre Deuses e Rebentos, e da sua repetição ao longo dos tempos, resultam algumas revelações particularmente interessantes. As memórias recentemente adquiridas de Helena, bem como as misteriosas explicações de Hades, apresentam uma versão alternativa para alguns mitos sobejamente conhecidos, o que acaba por ser um dos aspectos mais surpreendentes em todo o livro. Mas, além disso, as novas descobertas - em termos de capacidades, mas também de explicações para os acontecimentos - servem também para colocar as personagens perante decisões complicadas, o que dá origem a momentos de grande intensidade.
E, falando das personagens e da forma como as suas relações evoluem, há um crescimento bastante evidente nas escolhas que tomam e na forma como encaram o futuro, ainda que continuem a surgir algumas atitudes difíceis de compreender. Com a iminência do conflito e a necessidade de definir uma solução definitiva, os pequenos atritos e as indecisões românticas acabam por ficar para segundo plano. O que acontece, então, é que o romance, quando surge, parece agora bastante mais equilibrado. Além disso, as longamente adiadas revelações acabam por desempenhar um papel muito relevante para o que é, no fim de tudo, um final intenso e surpreendente.
A impressão que fica, pois, é a de uma conclusão adequada, com momentos intensos e respostas surpreendentes, numa história em que nem todas as personagens são perfeitas, mas em que, no fim, tudo se conjuga da melhor forma. Um bom final, portanto.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Arte de Pensar com Clareza (Rolf Dobelli)

Quando estamos perante uma grande decisão, seja ela profissional ou de âmbito pessoal, tentamos tomá-la da forma mais racional possível. Mas há casos em que os erros de raciocínio acabam por nos levar numa lógica que nem sempre é a que faz mais sentido. Neste livro, o autor apresenta os erros mais comuns e, de forma sucinta, explica as razões que os motivam e as formas de o contornar. O resultado é uma análise sintética, pouco exaustiva, mas que, na generalidade, faz todo o sentido.
O que autor apresenta neste livro é um conjunto de erros comuns e, para cada uns, uma explicação com alguns exemplos (e humor quanto baste) e o raciocínio subjacente. Tudo de forma muito breve, resumindo em poucas páginas o essencial de cada ideia. O que está errado, de que forma o erro se repercute nas decisões e de que forma pode, ou não, ser contornado. Ora, esta forma sucinta e directa de apresentar as coisas permite realçar os elementos essenciais, ao mesmo tempo que, com a brevidade do desenvolvimento e o humor que lhe está associado, transmite uma impressão de leveza no desenvolvimento das ideias. Assim, a leitura nunca deixa de ser cativante, mesmo nos elementos em que as ideias não são assim tão fáceis de assimilar.
O lado negativo da brevidade é que, por vezes, a explicação acaba por ser tão curta que fica a impressão de algo por desenvolver. Há elementos lógicos que são explicados de uma forma muito abreviada, e dos quais fica a ideia de que muito mais poderia ser dito. Claro que o objectivo não é uma explicação exaustiva. Ainda assim, há casos em que teria sido interessante saber mais.
Por último, ainda uma nota sobre a conjugação entre o texto e as ilustrações. Ainda que não sejam absolutamente necessárias à compreensão das ideias, as imagens acabam por funcionar como um complemento ao texto, acrescentando à ideia uma percepção visual. Isto acaba por contribuir, também, para a impressão de acessibilidade - e de quase leveza - que fica ao longo de toda a leitura.
Simples e sucinto, com ideias interessantes e de leitura agradável, este é, pois, um bom livro para considerar os erros mais comuns na tomada de algumas decisões relevantes. Uma leitura interessante, portanto.

domingo, 3 de agosto de 2014

A Lista da Morte (Frederick Forsyth)

O alvo é conhecido simplesmente como um Pregador e, através das ideias extremistas propagadas nos seus sermões, foi a causa de várias mortes, nos Estados Unidos e em solo Britânico. As suas acções fizeram dele um alvo a abater. Mas, sem conhecimento do seu rosto ou do nome verdadeiro, é preciso partir das muito escassas pistas que o Pregador deixou no seu rasto. A missão pode bem revelar-se impossível, mesmo que o responsável por ela tenha todos os melhores meios ao seu dispor. Mas o Batedor não desiste facilmente... e muito menos o fará a partir do momento em que a questão se torna pessoal.
De ritmo relativamente pausado e sem grande desenvolvimento emocional, este livro tem como grande ponto forte a forma como desenvolve o complexo plano de acção em torno da busca pelo Pregador. Envolvendo diferentes agências de informação e formas militares, o autor constrói uma teia em que cada pequeno desenvolvimento é relevante para a conclusão da missão. E isto é desenvolvido de forma gradual, como que ao ritmo da formação dos planos do próprio Batedor. Assim, o que começa por ser uma impressão de dispersão, percorrendo o passado dos protagonistas, mas também acontecimentos que, à primeira vista, parecem ter pouca relevância para o plano central, acaba por dar origem a uma rede de planos e de acontecimentos em que todos os elementos se cruzam para dar forma a uma conclusão em que tudo faz sentido.
Também interessante é que, apesar da distância emocional com que a maioria dos acontecimentos são narrados, o Batedor acaba por ser, ainda assim, um protagonista cativante, em grande medida devido ao carisma e determinação que transparecem das suas acções. Além disso, há um muito bem desenvolvido contraste de mentalidades, evidente no contexto geral, mas tornado mais claro nos traços que diferenciam o Batedor do Pregador. O extremismo de um põe em evidência a tolerância do outro, o que, associado a um acontecimento pessoal, acaba por tornar mais fortes as motivações do protagonista.
Também a forte componente descritiva acaba por reforçar a impressão de distância relativamente ao impacto dos acontecimentos. Ainda assim, a muita informação apresentada pelo autor torna mais fácil a compreensão das complexidades do enredo, ao mesmo tempo que levanta algumas questões relevantes, principalmente a partir do momento em que há elementos externos envolvidos no plano.
Sem nunca chegar a ser uma leitura compulsiva, mas também sem nunca perder a envolvência, este é, pois, um livro que, com um enredo interessante e um protagonista forte, proporciona uma interessante viagem aos meandros da espionagem internacional. Gostei.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Epidemia (Sebastian Rook)

Ainda mal recompostos do confronto com os lampiros, Ben, Jack e Emily pouco tempo têm de tranquilidade, antes da descoberta de uma notícia devastadora. Ben foi infectado com a praga e, dadas as circunstâncias invulgares, a expectável solução de eliminar a fonte da infecção não é suficiente para o curar. Resta-lhes, pois, a esperança de encontrar uma cura em Varsóvia, junto do irmão de Filip, o homem que já antes os ajudou no combate aos lampiros. O problema é que também na cidade os lampiros despertaram. E a cura de Ben pode significar também uma alteração drástica no rumo dos acontecimentos...
Dando continuidade aos acontecimentos narrados em A Praga, mas transpondo grande parte da aventura para um cenário diferente, este é um livro que tem, essencialmente, os mesmos pontos fortes dos anteriores. Cativante, com personagens empáticas, perigo e acção em abundância e os toques ideais de emoção e de humor, também esta é uma história que, sem ser particularmente complexa, consegue manter sempre viva a curiosidade em saber mais. E, ocasionalmente, de surpreender.
Ben, Jack e Emily são personagens que já estão habituados a enfrentar o sobrenatural e, por isso, é expectável uma certa capacidade de reacção. Mas, aqui, é introduzida uma nova circunstância que torna as coisas mais interessantes. O facto de Ben ser infectado com a praga dos lampiros, além de fragilizar os protagonistas, coloca-os numa corrida contra o tempo, o que confere ao enredo uma nova intensidade.
Ainda um outro ponto interessante diz respeito aos novos desenvolvimentos acerca dos lampiros, com as mudanças relativamente à praga a criarem situações cada vez mais difíceis, ao mesmo tempo que justificam uma leve, mas interessante, aproximação ao debate entre ciência e superstição.
Há alguns momentos em que fica a impressão de que mais poderia ser dito, principalmente no que toca aos episódios de maior intensidade emocional. Ainda assim, simples e sucintos no seu desenvolvimento, todos os momentos se conjugam numa história envolvente, com alguns momentos especialmente marcantes e que, ao deixar algumas perguntas sem resposta, cria boas expectativas para o volume final da história.
Leve quanto baste, mas com um surpreendente lado sombrio, este é, pois, um livro à medida das expectativas criadas pelos anteriores. Uma boa história, com personagens cativantes, um toque de humor e um bom equilíbrio entre acção, mistério e emoção. Tudo somado, uma boa leitura.