segunda-feira, 14 de julho de 2014

Até que Sejas Minha (Samantha Hayes)

Claudia parece ser uma mulher realizada. Tem uma boa relação com o marido e amor mais que suficiente, apesar das longas ausências. Dá-se bem com os enteados e está prestes a trazer ao mundo a sua própria bebé. Mas, apesar de tudo o que tem de bom na sua vida, Claudia não pode deixar de se sentir apreensiva com a contratação de uma ama. Zoe tem as melhores referências, dá-se bem com as crianças e parece simpática e atenciosa. Mas há algo nela que lhe desperta suspeitas...
Dividido entre três diferentes pontos de vista, dois deles narrados na primeira pessoa, este é um livro em que os pensamentos e comportamentos suspeitos dos protagonistas são o centro do que pretende ser uma história em que nada é o que parece. Tudo aponta, à partida, para uma suspeita evidente e a forma como a história alterna entre a vida na casa de Claudia e a investigação da morte de uma mulher grávida contribui em muito para alimentar essa suspeita. O resultado é um ambiente em que se cria uma boa medida de tensão e de mistério, ainda que, por vezes, as revelações não sejam tão surpreendentes como o rumo dos acontecimentos parecia prometer.
Quanto ao mistério propriamente dito, tudo parece direccionado para essa surpresa final, o que leva a que algumas das pistas acabem por ser um pouco óbvias. Ainda assim, a história não vive apenas do mistério e há experiências pessoais mais ou menos complexas associadas a todos os protagonistas. O que acontece, portanto, é que todos estes elos formam uma narrativa que é mais que a da descoberta do culpado, tornando a história um pouco mais complexa e, por isso, mais interessante.
Ao seguir a perspectiva de diferentes personagens, conjugando os seus dramas pessoais com o mistério central, a autora cria uma história em que há muito a acontecer. Talvez por isso, ficam algumas perguntas sem resposta relativamente aos planos e motivações das personagens. Mas respostas essenciais estão lá e, mesmo que mais houvesse a dizer sobre certos aspectos, o ritmo do enredo nunca deixa de ser cativante, com a grande maioria dos momentos mais intensos a obter o impacto desejado.
Em termos de escrita, sobressaem como particularmente interessantes as diferenças de registo entre as duas partes narradas na primeira pessoa, por Claudia e Zoe, e a perspectiva do casal de inspectores. Esta forma de construir a história permite acompanhar com particular proximidade os pensamentos das personagens principais, o que, apesar de algumas pequenas incongruências, torna mais fácil compreender alguns dos seus comportamentos.
A soma de tudo isto é um livro com uma premissa interessante e um enredo envolvente. Cativante e surpreendente quanto baste, apesar do que deixa em aberto, uma boa leitura.

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