sábado, 31 de maio de 2014

No Coração da Tempestade (Jesmyn Ward)

A época dos furacões está a chegar e sobram apenas poucos dias para terminar os preparativos. Pelo menos, é esse o único pensamento do pai de Esch. Para ela e para os irmãos, contudo, o mundo está feito de outras preocupações, que vão desde os planos para fazer dinheiro com uma ninhada de cachorros a um estágio longamente desejado, e sem esquecer a descoberta de um amor de duras consequências. Pouco mais que crianças, sem mãe e com um pai perdido nos seus próprios planos, Esch, Randall, Skeetah e Júnior vivem no limiar dos seus sonhos e ambições. Mas é do que querem e do que são uns para os outros que lhes virão as forças para enfrentar a mais terrível tempestade do seu tempo.
Retrato de uma família disfuncional e de um modo de vida, que apesar de retratado em poucos dias, tem bastante de perturbador, este é um livro que, apesar de uma escrita relativamente acessível, dificilmente será uma leitura fácil. Não por causa das palavras, que a autora molda com fluidez e laivos de poesia para dar forma à história que tem para contar, mas precisamente por essa mesma história. E dessa, entre as circunstâncias difíceis da história pessoal dos protagonistas e a dura experiência de sobreviver ao Katrina, há muito de sombrio e de perturbador.
Sendo a história narrada pela voz de Esch, são principalmente os seus sentimentos e pontos de vista que passam para o leitor, ainda que haja também muito a ter em conta na vida e na forma de ser dos restantes irmãos. Sendo a única rapariga na família, Esch acaba por ser o elo divergente e, por isso, a que melhor compreende o que tem em redor. Mas, por outro lado, é ainda demasiado jovem para lidar não só com a gravidez, mas também com os problemas que a família lhe coloca nas mãos. Desta posição delicada resulta um conjunto de conflitos interiores e uma forma muito própria de olhar a vida. E, através dela, a autora consegue caracterizar com toda a clareza as disfuncionalidades - mas também os afectos - desta família invulgar.
Apesar de ter como ponto de máxima tensão a chegada do Katrina, esta é uma história que acaba por ser tanto a da vida normal - se normal se lhe pode chamar - dos personagens como a dos preparativos para a chegada do furacão. Na verdade, os grandes momentos da fase final acabam por reforçar o impacto de todas as pequenas coisas que aconteceram antes. Ainda assim, o que estas personagens são enquanto família (e, em menor grau, na relação com os que os rodeiam) acaba por ser tão importante como a experiência da luta pela sobrevivência.
Não é, de forma alguma, uma leitura fácil e também não dá respostas a todas as perguntas que desperta ao longo da narrativa. Ainda assim, com o seu lado sombrio pontuado por laivos de inocência e uma relação familiar em que, apesar de tudo o que tem de disfuncional, sobressai o que realmente interessa, No Coração da Tempestade acaba por ficar na memória como um bom livro, que vale a pena ler. Gostei.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Revelação (Lissa Price)

Callie só queria uma vida normal para si e para o irmão. E julgava que a demolição da Destinos Primordiais lhe garantiria isso. Mas bastou um momento para lhe provar que estava errada. A voz do Velho na sua cabeça voltou a surgir para lhe mostrar que o fim da Primordiais não representou o fim do seu controlo. Agora, Callie sabe que o chip que tem na cabeça pode ser usado para a controlar... ou para provocar uma explosão. A única forma de conseguir alguma paz, ainda que a normalidade que deseja possa estar fora do seu alcance, é enfrentar o Velho e impedi-lo de concretizar os seus planos. Mas os aliados que encontra não são bem quem dizer ser. E as descobertas no seu caminho podem colocar Callie e aqueles com quem se preocupa em circunstâncias ainda mais difíceis.
Dando continuidade à história iniciada em Destinos Interrompidos, este é um livro que cativa principalmente pelo ritmo intenso de acção e pela forma como, através do ponto de vista da protagonista, os pontos mais interessantes do sistema e dos planos a ele associados vão sendo revelados. Com a destruição da Primordiais, é inevitável que os planos do Velho tenham mudado e, por isso, há novos e interessantes elementos a surgir ao longo do enredo e algumas grandes perguntas a manter viva a curiosidade em saber mais.
Também interessante é que, apesar de a escrita ser bastante simples, parece adequar-se bastante bem à voz da protagonista. Sem grandes descrições, acompanha o ritmo das percepções de Callie, centrando-se na acção, por um lado, mas também nos sentimentos e apreensões da protagonista. Neste aspecto, importa também referir que, ainda que a acção seja o centro de tudo, há, ainda assim, alguns momentos emotivos e uma insinuação de romance, que, de forma discreta, aproxima um pouco mais as personagens. Isto acaba por ser particularmente relevante, tendo em conta que há algumas figuras novas a surgir e que a sua caracterização é feita na medida em que é relevante para o enredo.
O que me leva ao que será, talvez, o ponto fraco deste livro. É que, com muito a acontecer, novas personagens a intervir e muitas revelações importantes, fica a impressão de que certos aspectos poderiam ter sido mais explorados. Alguns dos acontecimentos, com particular ênfase na entrada em cena de Hyden e na parte final, surgem de forma algo apressada, o que acaba por deixar a sensação de algo em falta. Além disso, no caso de Hyden, a aparição algo intempestiva acaba por tornar previsível uma das principais revelações.
Intenso e viciante, ainda que com alguns elementos pouco explorados, A Revelação apresenta, para as suas personagens, uma conclusão adequada, numa história repleta de acção e com emoção quanto baste. Haveria, talvez, mais a desenvolver, nalguns aspectos. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma boa leitura.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Entre Dois Séculos (Amadeu Lopes Sabino)

Num breve olhar aos grandes acontecimentos do século XX, através do percurso de vida do autor, mas principalmente das circunstâncias que motivaram as grandes mudanças e que nos trouxeram a um presente de "tempos interessantes" este livro breve, mas de vasto conteúdo, não é nem autobiografia, nem dissertação, mas a fusão de ambos numa perspectiva pessoal e ponderada sobre o tempo que vivemos. E, sendo um relato que tem tanto o olhar pessoal como uma noção da perspectiva global, é também vasto no conhecimento que tem a transmitir.
Composto por quatro partes, nas suas pouco mais de cento e cinquenta páginas, Entre Dois Séculos contempla o século XX desde os grandes acontecimentos históricos à experiência e às correntes literárias que surgiram e desapareceram (ou não?) ao longo desse tempo. Ora, tendo isto como ponto de partida, há todo um conjunto de considerações e de factos que bastam, por si só, para tornar a leitura interessante. Bastante breve, e focado, em grande medida, nas ideias e mudanças por detrás dos acontecimentos, o conhecimento é de fácil compreensão, sem por isso ser demasiado simplificado. E isto basta para tornar a leitura cativante.
Outro elemento que sobressai é a forma de expressão, com traços de introspecção, por vezes, enquanto que noutras recorre a outras referências para uma mais vasta compreensão das ideias. E, numa ou noutra opção, a escrita é sempre envolvente, com uma fluidez que facilmente cativa e que cria uma boa ligação entre a distância dos factos e o ponto de vista pessoal.
Falando do lado pessoal, importa referir dois efeitos aparentemente contraditórios. Por um lado, cria proximidade, tornando mais fácil a compreensão da vivência dos acontecimentos e até as próprias ideias. Por outro lado, há pontos de vista bastante vincados, que podem despertar naturais pontos de discordância. Porque é, afinal, da perspectiva do autor que se trata, e nem se esperaria que fosse de outra forma.
O que fica, então, deste Entre Dois Séculos, é a ideia de um livro que, num olhar pessoal, mas cuidadosamente fundamentado, apresenta ideias e conhecimento relevantes de uma forma acessível e cativante. Uma boa leitura, portanto.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Só em Sonhos (Sherrilyn Kenyon)

Condenado ao tormento eterno no Tártaro, Xypher conquistou um mês de liberdade para obter a sua vingança daquela que a colocou nessa situação. Em tempos, acreditou no amor de Satara e o que isso lhe valeu foi uma eternidade de tortura em troca da sua prova de devoção. Agora, Xypher precisa de encontrar uma entrada para o refúgio de Satara, mas ela não está disposta a deixar-se alcançar tão facilmente. E é por isso que, no centro de uma luta para salvar uma humana, Xypher se descobre vinculado a Simone, a mulher que estava a tentar salvar, mas à qual não pretendia ficar preso mais que o tempo necessário. Ainda assim, o vínculo indesejado acaba por se revelar apenas o princípio de uma descoberta. A de que há vida para lá do engano e da traição... e de que há coisas mais importantes que a vingança.
Um dos pontos comuns a todos os livros desta série, e um dos seus maiores pontos fortes, é a capacidade de gerar empatia que surge associada a quase todos os protagonistas. Passados conturbados, que levaram a uma forma algo sombria ou fechada de ver o mundo, mas que abrem caminho à descoberta e à redenção parecem ser algo comum a muitas das personagens que povoam este livro. Xypher e Simone não são excepção e, tanto pelos segredos que lhe estão associados como pelas experiências traumáticas que viveram, a empatia que ambos despertam e o forte impacto dessas revelações são dos elementos mais cativantes deste livro.
Do passado das personagens e das situações difíceis do presente resultam momentos de grande emotividade. Mas há muito mais para além da emoção. Acção em abundância, romance e sensualidade, conferem intensidade ao enredo, mantendo a curiosidade em saber o que acontecerá a seguir, ao mesmo tempo que criam expectativa quanto a possíveis grandes revelações. Junte-se a isto um humor agradável e surpreendente e o resultado é uma leitura compulsiva.
Ainda um outro ponto interessante nesta série é a forma como o elemento sobrenatural se vai expandindo. Novas personagens, de presença mais ou menos discreta, surgem a abrir novas possibilidades, mas, ao mesmo tempo, algumas presenças já conhecidas mantêm o equilíbrio, estabelecendo relações com os acontecimentos anteriores e criando uma maior proximidade. Além disso, é sempre agradável reencontrar algumas das personagens mais marcantes deste mundo, pelo que a sua simples presença é, por si só, um ponto positivo.
Acção e emoção, romance e humor, perigo e sensualidade. Tudo isto, equilibrado nas medidas certas, dá forma a mais um livro intenso e viciante, com personagens fortes e empáticas e uma história cheia de momentos bons. Mais uma vez, um livro que corresponde inteiramente às expectativas. Muito bom.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Pecado (Sylvia Day)

Na véspera do seu casamento, Lady Jessica Sheffield apanhou Alistair Caulfield numa situação comprometedora... e o que viu despertou-lhe um lado desconhecido de si, que acabou por contribuir para a felicidade no seu casamento. Mas nunca esqueceu o que viu e, aparentemente, Alistair também não. Agora, passados sete anos, Jessica é uma viúva a tentar lidar com a perda sem comprometer a sua independência. E na viagem para a Jamaica, onde deve resolver a questão da herança que o marido lhe deixou, espera-a também a resolução do seu passado. É que Alistair Cauldfield, além de dono do navio, é também um dos passageiros. E as suas memórias são tão nítidas como as de Jessica...
Centrado, em grande parte no romance entre o casal protagonista, este é um livro que tem como elementos principais a sensualidade e a emoção. O que define o enredo é, portanto, em grande parte a evolução da relação entre os protagonistas, uma relação feita tanto dos grandes momentos de emoção como de uma boa medida de erotismo. E, assim sendo, um dos grandes pontos fortes está precisamente na forma como a autora equilibra estes elementos.
O ponto de partida para a relação dos protagonistas surge como uma experiência passada em comum, experiência essa que não levou imediatamente ao encontro, mas que serve de base para tudo o que acontecerá sete anos depois. Este espaço de tempo cria para os protagonistas uma maior maturidade, o que acaba por ser especialmente interessante tendo em conta o percurso algo atribulado de Alistair. Além disso, ambas as personagens têm passados conturbados, o que, criando pontos em comum, torna a interacção mais natural, também, por vezes, no aspecto físico, mas principalmente na emotividade. As personalidades e experiências de Alistair e Jessica completam-se e, ainda que essa percepção aconteça a um ritmo relativamente pausado, já que há também diferenças a considerar, a evolução do enredo nunca deixa de ser cativante.
Ainda que o foco deste livro esteja em Jessica e Alistair, há também uma história secundária que contribui em muito para tornar a leitura mais interessante. A história de Hester e dos problemas da sua relação conjugal, às quais se acrescenta também um segredo longamente guardado, introduz um elemento de perigo (que podia, talvez, ter sido mais explorado, mas que não deixa de criar tensão) além de evocar a sempre relevante questão da violência doméstica. Além disso, se considerarmos esta parte da história em ligação com o passado das duas irmãs, o percurso de ambas ganha um impacto maior.
Envolvente e pontuado por algumas surpresas, Pecado equilibra as medidas certas de romance e sensualidade, numa história com protagonistas fortes e alguns momentos realmente marcantes. Uma boa história, em suma, e uma boa leitura.

Novidade Suma de Letras

Laurel, actriz de sucesso, regressa à casa da família para celebrar o nonagésimo aniversário da mãe, Dorothy, que sofre de Alzheimer.
Esse dia recorda-lhe um outro, há muito esquecido. Naquele fatídico aniversário do seu irmão, Laurel estava escondida na casa da árvore, a fantasiar com um amor adolescente e um futuro grandioso em Londres, quando assistiu a um crime terrível, que mudaria a sua vida para sempre. Foi com terror que Laurel viu a mãe cravar a faca do bolo de aniversário no peito de um desconhecido. O regresso ao local onde tudo aconteceu é a última oportunidade para Laurel descobrir o temível segredo daquele dia e encontrar as respostas que só o passado da sua mãe lhe pode dar. Pista após pista, Laurel irá desvendar a história secreta de três desconhecidos que a Segunda Guerra Mundial uniu em Londres — Dorothy, Vivien e Jimmy — e cujos destinos ficaram para sempre ligados.

Uma fascinante história de segredos e mistérios, de um crime obscuro e de um amor eterno. Mais um livro inesquecível de uma das autoras de maior sucesso dos nossos tempos.

Kate Morton, a mais velha de três irmãs, cresceu nas montanhas do Nordeste da Austrália, em Queensland. Formou-se em Arte Dramática e Literatura Inglesa e está a fazer o doutoramento na Universidade de Queensland. Vive entre Londres e Brisbane com a família.
É uma das autoras mais reconhecidas mundialmente: todos os seus romances alcançaram as listas de livros mais vendidos, estão publicados em 38 países e já venderam mais de 8 milhões de exemplares.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Novidade Topseller

Há exactamente seis dias, o astronauta Mark Watney tornou-se uma das primeiras pessoas a caminhar em Marte. Agora, ele tem a certeza de que vai ser a primeira pessoa a morrer ali. Depois de uma tempestade de areia ter obrigado a sua tripulação a evacuar o planeta, e de esta o ter deixado para trás por julgá-lo morto, Mark encontra-se preso em Marte, completamente sozinho, sem perspectivas de conseguir comunicar com a Terra para dizer que está vivo.
E mesmo que o conseguisse fazer, os seus mantimentos esgotar-se-iam muito antes de uma equipa de salvamento o encontrar. De qualquer modo, Mark não terá tempo para morrer de fome. A maquinaria danificada, o meio ambiente implacável e o simples «erro humano» irão, muito provavelmente, matá-lo primeiro.
Apoiando-se nas suas enormes capacidades técnicas, no domínio da engenharia e na determinada recusa em desistir — e num surpreendente sentido de humor a que vai buscar a força para sobreviver —, ele embarca numa missão obstinada para se manter vivo. Será que a sua mestria vai ser suficiente para superar todas as adversidades impossíveis que se erguem contra si?

domingo, 25 de maio de 2014

Tenho o teu Número (Sophie Kinsella)

Poucos dias antes do casamento, Poppy Wyatt está em pânico. Acaba de perder o anel de noivado, uma herança de família do noivo e uma jóia de considerável valor. E, como se não bastasse, em pleno momento de crise, o seu telemóvel é roubado. Por isso, quando encontra um telemóvel esquecido no caixote do lixo do hotel, Poppy pensa que está perante um golpe de sorte. O problema é que o telemóvel tem dono. Pertence à empresa de Sam Roxton e foi abandonado pela sua assistente, que se despediu à pressa. Agora, a única forma de Poppy preservar o telemóvel - que parece ser a única salvação possível na tentativa de encontrar o anel - e estabelecer contacto com Sam e tratar de lhe reencaminhar os assuntos que lhe chegarem ao telemóvel. Mas, entre os preparativos para o casamento, alguma intervenção bem-intencionada na vida de Sam e uma outra crise prestes a rebentar, Poppy está prestes a descobrir que a perda do anel é apenas uma pequena parte dos seus problemas.
Leve e descontraído e com um enredo repleto de situações caricatas, este é um livro que tem no humor o seu grande ponto forte. Numa história que é feita, em grande medida, de mal-entendidos e das inevitáveis consequências, a história de Poppy está cheia de incidentes peculiares. E estes incidentes, narrados com leveza e relativa simplicidade, proporcionam uma leitura divertida, à qual o ocasional momento emotivo acrescenta também um agradável toque de empatia para com as personagens.
Também interessante neste livro é que, para além do romance improvável, há um elemento intrigante no desenvolvimento da vida profissional de Sam. As intrigas a decorrer na sua empresa, com a forma como se Poppy se vê envolvida, acrescentam um pouco mais de intensidade ao enredo, ao mesmo tempo que, de forma discreta, introduzem um lado sério (mas não demasiado) que torna a história mais equilibrada. Claro que este acaba por ser um elemento relativamente secundário, o que deixa a impressão de que mais poderia ser dito sobre o assunto. Ainda assim, acaba estar na base de uma das melhores partes da história.
Quanto aos episódios caricatos, surgem em abundância. E, se a vasta maioria deles faz sentido, há alguns que parecem ser algo exagerados. Não deixam de ser divertidos quanto baste, mas acabam por parecer um pouco forçados, o que prejudica um pouco a caracterização das personagens - de Poppy, em particular.
Por último, falando das personagens, há, nalguns aspectos, um pouco de exagero, mas há também um lado positivo que sobressai. É que, entre Sam, o homem de poucas palavras e aparentemente indiferente, e Poppy, efusiva e ansiosa por agradar, surgem duas personalidades que se completam à medida que aprendem um com o outro. E isto acaba por ser particularmente interessante tendo em conta a forma como as coisas acabam para ambos.
Cativante e divertido, Tenho o teu Número pode ter, por vezes, os seus momentos de exagero, mas não deixa de proporcionar uma leitura leve e agradável. E, com alguns episódios inesperados e um toque de sentimento a surgir por entre a estranheza, acaba por ter também as suas boas surpresas. Tudo somado, a impressão que fica é a de uma boa leitura para descontrair. Gostei, portanto.

sábado, 24 de maio de 2014

Do Paraíso (Ivo Lima Carmo)

Da origem etimológica do termo à evolução da noção de paraíso enquanto espaço terrestre e daí ao ponto onde se focam os destinos de uma sociedade fundamentada no trabalho e no consumo. Assim se define o percurso traçado neste livro para o seu tema fundamental. Da antiga ideia de paraíso e da sua evolução, da antiguidade à actualidade, o tema é vasto, como o são as possibilidades exploradas. E é por isso que, apesar da relativa brevidade, este é um livro que exige bastante concentração.
Relativamente denso, apesar da brevidade de cada uma das partes que o constituem, há, neste livro, toda uma vastidão de referências, a autores, teorias e ideologias, o que leva a que ter à partida, algum conhecimento prévio sobre o assunto, possa tornar a leitura mais acessível. Ainda assim, e mesmo sem esse conhecimento, os conceitos essenciais e as ideias fundamentais (desde a origem do paraíso às aplicações ao turismo e ao próprio turismo enquanto conceito) acabam por se tornar assimiláveis ao alcançar a perspectiva global. 
Assim, um aspecto que acaba por sobressair é o facto de cada uma das partes valer por si mesma, apresentando ideias e informações mais que suficientes, mas o conjunto de todas resultar num cenário mais vasto que a simples soma dos elementos. O conjunto das ideias, quer pela forma como se completam, quer pelo próprio percurso evolutivo que traçam, abre caminho a uma perspectiva mais vasta. E, por isso, a uma reflexão mais completa.
É por isso, aliás, que, apesar da brevidade, este é um livro com muito que considerar. Partindo do que é, afinal, o centro de uma busca eterna, e considerando a evolução das percepções subjacentes, acaba por ser todo um reflexo do tempo, das gerações e da sociedade. E é isso, precisamente, que o torna interessante.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Os Aromas do Amor (Dorothy Koomson)

Há dezoito meses que Saffron está a tentar lidar com a morte do marido... e com o segredo que carrega. Mas, enquanto luta, todos os dias, para viver com a perda e manter algum controlo sobre a sua vida, novos choques vêm abalar o seu mundo. Phoebe, a filha de catorze anos, está grávida e recusa-se a falar com ela sobre o que devem fazer. E, a juntar à culpa e à revolta que a consomem, a máxima causa da sua dor prepara-se para invadir a vida de Saffron. A primeira carta é quase como uma estranha confissão. Mas, mais do que isso, vinda de quem tem o sangue de Joel nas mãos, é o início do fim de uma obsessão perigosa. Depois de dezoito meses a sofrer com a perda do marido, Saffron tem de regressar à vida... por ela e para proteger aqueles que mais ama.
Tendo em conta a premissa deste livro, era de esperar, à partida, uma boa dose de emoção e, dada a existência de um crime, algum elemento de mistério. O que talvez não fosse tão expectável é a forma como esses dois elemento se cruzam, numa história que tem tanto de emotividade como de tensão e que, por isso, facilmente se torna viciante. Do lado emotivo, pelo muito marcante retrato da perda e de toda uma série de escolhas difíceis que surgem em consequência dela. Do mistério, pela forma impressionante e perturbadora como o autor das cartas invade a vida e a possível paz de Saffron.
O que mais surpreende, por isso, neste livro é precisamente este equilíbrio entre um lado mais sentimental, com possibilidades românticas e dramas familiares, com uma bastante impressionante situação de perigo. Ambos são, por si só, partes muito interessantes que, conjugadas, resultam num enredo ainda mais cativante. Para isto contribui também a escrita da autora, descritiva quanto baste, mas sem nunca se tornar demasiado elaborada, e especialmente expressiva nas reflexões e sentimentos das personagens. Sendo de destacar, aliás, neste aspecto a capacidade de, em cartas breves, transmitir na perfeição a personalidade perturbada da personagem que as escreve.
Ainda um outro ponto marcante em tudo isto é que, entre as questões familiares, a perda e o perigo, a história acaba também de ser a da jornada de superação de Saffron relativamente aos seus problemas e dificuldades. Há, na verdade, um percurso de crescimento que não é apenas o de viver para além da dor, mas o de superar velhos traumas e distúrbios secretos. E tudo isto vai sendo revelado de forma gradual, levantando questões pertinentes (sobre as escolhas de Saffron, mas também sobre o comportamento e as lições dos que a rodeiam) e deixando que seja a história a levar à ponderação. Porque, no fundo, é da história que se trata e é a partir dos acontecimentos (e não de discursos) que se retiram as melhores mensagens.
Comovente nos grandes momentos e sempre cativante, Os Aromas do Amor apresenta uma história que é tanto a de uma perda e das suas consequências como a de uma ameaça escondida nos segredos do passado. Emotivo e intrigante, um livro que fica na memória. Muito bom.

Novidade Bertrand

No mês de Janeiro de 1748, uma mulher negra deambula pelas ruas de Sevilha. Atrás de si deixou um passado de escravatura em Cuba, um filho que nunca mais tornará a ver e uma grande viagem de barco até à costa de Espanha. Caridad já não tem um dono que lhe dê ordens, mas também não tem onde dormir quando se cruza com Milagros Carmona, uma jovem cigana de Triana por cujas veias corre o sangue da rebeldia e a arte dos da sua raça. 
As duas mulheres tornam-se inseparáveis e, entre sarabandas e fandangos, a cigana confessa à sua nova amiga o amor que sente pelo arrogante Pedro García, de quem a separam antigos ódios familiares. Pela sua parte, Caridad esforça-se por calar o sentimento que brota em seu coração por Melchor Vega, o avô de Milagros. 
Quando um mandato real converte todos os ciganos em proscritos, a vida de Milagros e Caridad sofre uma trágica reviravolta. Embora os seus caminhos se separem, o destino voltará a uni-las numa Madrid onde confluem contrabandistas e cómicos, nobres e vilões; uma Madrid que se rende à paixão que emana das vozes e dos bailes dessa raça de príncipes descalços. 
Ildefonso Falcones propõe-nos uma viagem a uma época apaixonante, marcada pelo preconceito e pela intolerância. De Sevilha a Madrid, desde o tumultuoso bulício dos ciganos até aos teatros senhoriais da capital, os leitores desfrutarão de um fresco histórico povoado de personagens que vivem, amam, sofrem e lutam por aquilo que acreditam ser justo.

Casado e pai de quatro filhos, é advogado e exerce em Barcelona. A Catedral do Mar, o seu primeiro romance, transformou-se num estrondoso êxito mundial sem precedentes e foi publicado em mais de 40 países. 
Recebeu vários prémios, entre eles o Euskadi de Plata 2006 para melhor romance em língua castelhana, o prémio Qué Leer para melhor livro espanhol de 2006, o prémio Fundación José Manuel Lara para o romance mais vendido de 2006, o prestigiado galardão italiano Giovanni Boccacio 2007 para melhor autor estrangeiro e o prémio Fulbert de Chartres 2009. O seu segundo romance, A Mão de Fátima, recebeu o prémio Roma 2010. 
Com mais de sete milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Ildefonso Falcones consagrou-se como um dos autores espanhóis mais difundido internacionalmente.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Ocaso dos Pirilampos (Adriano Mixinge)

Às vezes um deus com o poder da criação, às vezes um homem olhando a desolada normalidade, quase sempre uma entidade ambígua aberta ao mundo. Assim é o protagonista cuja voz define este livro. Uma história feita de fragmentos improváveis, rasgados, por vezes, por episódios quase banais, numa fusão que resulta num muito delicado equilíbrio entre estranheza e fascínio. Que deixa também, e um pouco à semelhança dos do próprio narrador, sentimentos ambíguos.
De todos os elementos mais ou menos estranhos que dão forma a este livro, o que mais impressiona é a forma de escrita, muito próxima aos pensamentos e ao caos da mente do narrador e, por isso, também pautada pela estranheza, mas em que o ritmo acaba por se tornar fascinante, ao mesmo tempo que certos trechos, pela força do que transmitem ou pela simples harmonia das palavras, acabam por se gravar na mente. A grande maioria dos capítulos são breves, sendo cada um um fragmento, ou do imaginário do narrador, ou da sua contemplação da realidade, ou ainda de alguma ponderação sobre os rumos do mundo. O que têm em comum é uma cativante fluidez, que se torna ainda mais interessante nos capítulos mais peculiares.
Mas, falando da tal estranheza, que é, sem dúvida, o elemento dominante. Muito do que o protagonista compreende ou daquilo que vê como a sua existência é surreal. Por isso, e sendo a sua voz a que narra a história, o cenário mental que transmite voga, durante grande parte da narrativa, pelo âmbito do improvável. Ora, o que resulta de todas estas peculiaridades é, por um lado, alguma impressão de confusão, mas, por outro, a percepção de um olhar sobre o mundo, que se perde, por vezes, no caos, mas que, quando sobressai, toca alguns pontos bastante interessantes.
Ainda um outro ponto interessante é que, a acompanhar a peculiaridade do texto, surgem imagens com as mesmas características: estranhas, mas estranhamente apelativas. O equilíbrio entre ambas reforça, é certo, a impressão de um cenário invulgar, mas, ao associar um elemento visual, facilita um pouco a entrada no estranho mundo interior do protagonista.
Bastante surreal, mas estranhamente cativante, este é, portanto, um livro que acaba por cativar, acima de tudo, pela escrita, na qual surgem alguns momentos especialmente brilhantes, e pela forma como, do caos, acabam por emergir fragmentos de uma certa lucidez perante a vida. Um livro estranho, em suma, mas interessante, ainda assim. 

Novidade 5 Sentidos

Após descobrir que o namorado a estava a trair, Elizabeth Villiers aceita com entusiasmo o súbito convite de uma familiar para passar umas semanas na sua casa, em Londres. Nada melhor do que uma mudança para curar males de amor. 
O que Beth não esperava era conhecer Dominic – um homem elegante e atraente que lhe provoca sensações novas. Só que nem tudo é perfeito e este magnífico homem rapidamente revela um lado inesperado: adepto do mundo da dominação e submissão, Dominic não se recorda de como é amar; até que a atracção o conduz a Beth. 
Uma saga romântica e provocadora que explora o lado mais íntimo e intenso da vida e das relações amorosas, e onde o amor e o sexo brincam livremente, alheios a qualquer limite. Uma trilogia erótica que desafia os preconceitos.

Sadie Matthews já escreveu, sob vários pseudónimos, seis romances de literatura feminina. Esta trilogia foi considerada pela revista Cosmopolitan uma das dez leituras obrigatórias para todos os fãs de As Cinquenta Sombras de Grey.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

The Palace Job (Patrick Weekes)

Loch tem como máxima ambição vingar-se do homem que matou a sua família. Mas isso não é propriamente um objectivo fácil, principalmente estando presa. Ainda assim, Loch é uma mulher de recursos e, com a ajuda de Kail, o único a quem confiaria a vida sem hesitar, ela define um plano de evasão. Mas fugir é apenas o primeiro passo. O plano é regressar ao centro da República, o mesmo lugar de onde fugiu, e recuperar um objecto que é, por direito, parte da sua herança. E, para fazer isso, Loch precisa de uma boa equipa. Então, com os seus diversos talentos e personalidades invulgares, o grupo poderá entrar em Heaven’s Spire, não apenas para recuperar o manuscrito, mas também para se encontrar no centro de uma profecia que lhes exige que intervenham no destino da República.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é o facto de ser bastante intenso, com muita acção e sempre muita coisa a acontecer, mas sem nunca perder a leveza. A diversidade de elementos na equipa é, por si só, razão para muitos momentos divertidos. E, à medida que a relação - e o conhecimento que têm uns dos outros - evolui do ligeiro desconforto ao verdadeiro companheirismo, as coisas tornam-se sempre mais e mais divertidas. Ainda que também mais perigosas para os protagonistas.
Também interessante é o desenvolvimento a nível de contexto e caracterização. Este está muito longe de ser um livro descritivo e, por isso, os elementos de contextualização – quer do mundo quer das personagens – surgem explicados gradualmente e ao ritmo do decorrer da acção. Disto resulta um ritmo mais rápido e, ao mesmo tempo, uma impressão de mistério relativamente a Loch e aos restantes membros da equipa, bem como à forma como se enquadram no sistema.
Apesar de ser, no essencial, uma leitura leve, há, neste livro, algumas questões relevantes. A primeira é, claro, a do racismo, com os Urujar e os Imperiais a serem olhados de cima pelos elementos da República.  Ainda assim, a forma como Loch – e, em menor grau, outras personagens – lidam com isso tem um encanto especial. Além disso, o resultado das suas acções para com a República acabam por resultar na resposta perfeita.
A outra questão prende-se com as consequências de ter um líder disposto a tudo para preservar ou aumentar o seu poder. Silestin é um muito bom exemplo das consequências de cruzar certos limites, com o acordo que estabelece a provar bem esse facto. Por outro lado, a inocência de Dairy mostra o outro lado dessa forma de estar. Este equilíbrio de opostos acaba por contribuir em muito para que o final se torne mais impressionante.
Somados todos estes elementos, o que fica deste livro é, essencialmente, a impressão de uma leitura leve e envolvente, repleta de acção e com a medida certa de humor. E também a de uma história de inocência e de coragem, de poder e justiça, de ambição e de sacrifício. Muito bom, em suma.


Tive a oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

terça-feira, 20 de maio de 2014

Novidade Quetzal

Dois casais de forasteiros travam conhecimento na lisboeta e cosmopolita pastelaria Suíça. Estamos no ano de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, e Lisboa fervilha com milhares de refugiados – que esperam pelo visto e pela possibilidade de viagem para a América –, espiões e membros da realeza europeia. 
Pete e Julia Winters são expatriados americanos burgueses que viviam em Paris; Edward e Iris Freleng são americanos também, mas mais ricos, sofisticados e boémios. Por coincidência, estão todos hospedados no Hotel Francfort, em Lisboa, mas não no mesmo. 
É num ambiente de tensão e de total insegurança em relação a tudo, e em especial ao futuro, que a ligação entre os dois homens se desenvolve, acabando por se tornar num arrebatado relacionamento amoroso. 
Um romance maravilhosamente escrito, com um forte pendor sexual e político.

David Leavitt é um dos mais aclamados escritores americanos da actualidade. Foi professor em Yale e leciona na Universidade da Florida. Os seus romances têm sido adaptados ao cinema com muito sucesso. Dois Hotéis em Lisboa é o seu mais recente romance e o primeiro a ser publicado pela Quetzal.

Novidade Marcador

Mar Humano parte da ligação turbulenta entre duas pessoas e penetra em temas como a longevidade da vida humana, a responsabilidade que os sentimentos acarretam, a luta pela liberdade de expressão e o impacto da ciência na evolução da consciência. É um brinde à coragem de cada indivíduo em ser autor da sua própria vida.
Uma história de amor vivida nos bastidores da imprensa portuguesa e que atravessa o século XX. A improvável longevidade dos sentimentos e um final surpreendente, conjugados num romance histórico que vai encantar o leitor por razões que não está à espera.
SE O AMOR EXISTE, PORQUE ESPERAR UMA VIDA INTEIRA PARA O ENCONTRAR? 
Portugal, meados do Estado Novo. No caminho para a liberdade, o destino cruza escrita e ciência. Dois jornalistas escrevem e investigam e, sem suspeitar, vão encontrar um sentido para a vida. 
Apesar das grandes transformações que Portugal vive durante o século XX, constata-se que a mentalidade de uma sociedade pouco habituada a questionar. Reflecte-se no dia-a-dia, sobretudo na monotonia das relações. 
«Depois de dois encontros na praia em pleno Verão de 1935, encontros que os sossegaram mutuamente e, inédito, em que conversaram sobre eles mesmo, sondando sentimentos e revelando com relativa sinceridade o impacto que exerciam um no outro, [...]. O jogo continuava. Desta fábula inesgotável, ao contrário do que Ema pensava enquanto apertava o seu melhor vestido, ainda não era possível ver o fim. Grandes amores e grandes negócios comportam grandes riscos, diz-se. Por vezes o preço é a saúde mental.» 
TODO O AMOR SÓ O É SE HOUVER A POSSIBILIDADE DA SUA IMPOSSIBILIDADE.

RAQUEL OCHOA viaja mais do que escreve, mas as viagens têm-lhe dado muito que escrever, ou não tivesse começado a sua trajectória literária com O Vento dos Outros,o retrato de uma longa deambulação pela América do Sul, também publicado pela Marcador. De seguida publicou Bana – Uma Vida a Cantar Cabo Verde,a biografa de um dos mais importantes intérpretes lusófonos. A Casa-Comboio, a saga de uma família indo-portuguesa, reconheceu-o como revelação com o Prémio Agustina Bessa-Luís. Em 2010 publicou a biografa de D. Maria Adelaide de Bragança, a quem chamou A Infanta Rebelde. Misturando ficção e literatura de viagens, publicou Sem Fim à Vista, um périplo pelo Oriente e Oceânia centrado na debilidade do ser humano quando perde a saúde perante um mundo inteiro ainda por explorar.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Morte nas Trevas (Pedro Garcia Rosado)

A gozar a sua reforma antecipada e, por isso, sem muito que fazer, Gabriel Ponte dedica-se a tomar conta de Luisinha, a sua nova companheira canina, e a tentar estabelecer alguma paz entre os ramos da sua família, separados por erros do passado. Mas a tranquilidade cedo encontra um fim, com a visita de dois romenos, um dos quais em busca da sua filha desaparecida. O que lhe oferecem pode ser a oportunidade de se dedicar à investigação privada, uma ideia que lhe tem cruzado o pensamento. Mas o que Gabriel está prestes a descobrir é que nem os que o contrataram lhe disseram toda a verdade nem a situação é tão simples como parece. O que devia ser apenas um conjunto de diligências cedo evolui para algo de mais complexo. E muito, muito mais perigoso...
Quem, como eu, já teve a oportunidade de ler outros livros deste autor, sabe, em grande medida, aquilo que pode esperar. E o que pode esperar é um enredo cheio de reviravoltas, em que acção e mistério se conjugam nas medidas certas e em que a sempre algum perigo oculto à espreita. Uma leitura viciante, em suma. E diga-se, desde já, que Morte nas Trevas não é excepção. Entre os planos intrincados das várias partes envolvidas (e que são acompanhados de diferentes perspectivas), os segredos que são revelados para abrir caminho a novos perigos e um enredo em que há sempre algo de surpreendente, intrigante ou perturbador a acontecer, este é um livro que facilmente cativa e que é impossível largar antes do fim.
Mas, se todas as qualidades globais que este livro tem em comum com os anteriores bastariam para fazer com que a leitura valesse a pena, há ainda alguns elementos novos que importa particularmente referir. E o primeiro diz respeito a uns quantos desenvolvimentos pessoais relativos à figura de Gabriel Ponte. Ora, Gabriel é uma personagem feita de complicações, com uns quantos erros no passado e uma moralidade algo ambígua. Não será, por isso, propriamente um protagonista heróico. Isto torna-se particularmente relevante neste livro, primeiro pela forma como as suas relações pessoais se desenvolvem e depois pelo impacto que estas têm quando acabam por ser envolvidas no mistério central. Tudo isto, além de criar uma natural empatia para com o protagonista, aumenta em muito o impacto de um final que é, por si só, fortíssimo.
Ainda um outro ponto especialmente marcante, e também no âmbito pessoal, diz respeito à que acaba por ser a personagem mais deliciosa deste livro. Falo de Luisinha, claro, a fiel companheira canina de Gabriel e a personagem que, de presença relativamente discreta, mas imprescindível, introduz num enredo que tem bastante de sombrio um muito cativante elemento de leveza e ternura.
E, falando de elementos sombrios, importa ainda referir duas outras coisas. Primeiro, a capacidade de desenvolver um caso com muito de macabro e de perturbador sem se tornar nem demasiado descritivo, nem demasiado ambíguo. E depois a ligação a personagens de outros livros, particularmente pertinente no caso de Joel Franco, tendo em conta o cerne deste caso e a história passada do inspector.
Somados todos estes elementos, o resultado é, como não podia deixar de ser, uma leitura compulsiva. Intrigante e surpreendente, viciante desde o início e cheio de intrigas e revelações, Morte nas Trevas atinge e supera, mais uma vez, as expectativas. Muito bom, pois, como já se esperava.

Novidade Oficina do Livro

Quantas vezes acordamos com vontade de mudar de vida? Deixar para trás os mesmos lugares, as mesmas pessoas, a relação que não vai a lado nenhum?
 Alex, uma nova-iorquina, vive uma vida perfeita: acabou o curso e tem um emprego garantido. Está prestes a cumprir os sonhos que desenharam para ela. Mas um desgosto de amor leva-a a viajar pelo mundo. Precisa de se conhecer melhor e ultrapassar os seus medos.
Da Tailândia ao Brasil, da Austrália a Marrocos, faz Couchsurfing dormindo em colchões, beliches, camas limpas, camas sujas, parques públicos – até em casa de Francisco Salgueiro dormiu , em Lisboa.
Nudismo, algum sexo, ilhas paradisíacas, jantares românticos, protestos de rua, festivais no deserto, um encontro com Nelson Mandela, mulheres que disparam bolas de ping pong das suas zonas íntimas – tudo isto faz parte desta história real passada nos sete continentes, ao longo de um ano, que representa tudo aquilo que gostaríamos de fazer.
Há pessoas que cometem erros por se acomodarem e outras que cometem erros por tentarem. A Alex preferiu errar tentando. E vocês?
Um convite aos adolescentes e jovens adultos a tomarem as rédeas da sua vida e a partirem à descoberta do mundo!

Francisco Salgueiro. Sócio da primeira empresa portuguesa de assessoria mediática e digital de celebridades, Naughty Boys. Fotógrafo premiado internacionalmente. Autor de doze livros publicados pela LeYa/Oficina do Livro, incluindo os bestsellers Homens Há Muitos e O Fim da Inocência.

Vencedor do passatempo A 5ª Vaga

Terminado mais um passatempo, com um total de 81 participações, é altura de anunciar quem vai receber um exemplar do livro A 5ª Vaga.

E o vencedor é...

36. Liliana Fernandes (Alcoitão)

Parabéns e boas leituras!

sábado, 17 de maio de 2014

A 5ª Vaga (Rick Yancey)

Quando os Outros chegaram, com a sua grande nave no céu, todos se perguntaram porque teriam vindo e o que se seguiria: se alguma espécie de contacto, se uma investida sem tréguas. O que ninguém quis imaginar foi uma detalhada e faseada estratégia de extermínio. Mas, depois de Quatro Vagas e da morte de uma vasta maioria da população humana, torna-se difícil negar os factos. Para os que restam, cada dia é uma luta pela sobrevivência, sem saber se ainda há outros humanos na Terra ou se aqueles que encontram são realmente humanos. Mas o plano dos Outros ainda está longe de terminado. E a Quinta Vaga, quando começar, poderá destruir ainda mais da confiança que resta.
De ritmo intenso, com acção constante e um grande mistério construído em torno dos Outros, de quem são e dos seus planos, este é um livro que facilmente se torna viciante. Ao abrir a história depois da Quarta Vaga, recuando, depois, através das memórias das personagens, para dar a conhecer o caminho até esse ponto, cria-se, desde logo, uma sensação de tensão e de perigo, o que de imediato desperta a curiosidade em saber mais. Além disso, o facto de a história ser narrada na primeira pessoa (por diferentes personagens) cria uma maior proximidade, já que os medos e pensamentos das personagens estão em evidência, bem como aquilo que viveram.
Daqui surge, aliás, um elemento surpreendente. É que, sendo, no fundo, uma batalha pela sobrevivência da humanidade (ou do que dela for possível salvar), o conflito torna-se, em certa medida, algo de pessoal para os protagonistas. As perdas passadas, as mortes inevitáveis ou aqueles que precisam de encontrar funcionam, muitas vezes, como o verdadeiro motivador dos protagonistas. Isto é, também, algo que os aproxima, que desperta uma maior empatia. E é também algo que os humaniza, o que se torna particularmente relevante, dada a forma como certos acontecimentos evoluem.
Em termos de caracterização, também acaba por ser este lado pessoal a sobressair. Há também uma boa base de desenvolvimento no que diz respeito aos Outros, ainda que fiquem também bastantes perguntas sem resposta. Mas também destes, e mais ainda que a capacidade de manipulação na construção do seu plano, as principais revelações surgem de um elemento individual, elemento este que, com o seu posicionamento ambíguo em toda a situação, acaba por criar uma nova perspectiva para o que acaba por ser uma guerra com dois lados (aparentemente) bem definidos.
Intenso e repleto de acção, mas intrigante e emotivo em igual medida, este é, pois, um livro que surpreende desde o início, para logo em seguida se tornar numa leitura compulsiva. Personagens fortes, uma boa história e muitas possibilidades interessantes para o que se seguirá fazem, por isso, de A 5ª Vaga um início muitíssimo promissor. Muito bom.

Para mais informações sobre o livro A 5ª Vaga, clique aqui.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Hegarty on Creativity (John Hegarty)

Criatividade: o que é, de que forma faz surgir as ideias e que caminho representa para quem tem uma (ou mais) boas ideias a desenvolver. É este o tema central deste pequeno, mas muito interessante livro. Através de breves e divertidas sínteses dos elementos essenciais da criatividade - desde como funciona a como gerir uma possível carreira criativa - o autor introduz uma forma de estar e de pensar muito positiva. E com vários conselhos especialmente relevantes.
Sendo este um livro baseado, em grande medida, na experiência profissional do autor, acaba por ser também um reflexo muito preciso das suas ideias. Assim sendo, haverá inevitavelmente pontos com que é fácil concordar e outros que nem tanto. Mas o facto é que, considerando a perspectiva global, desde o surgir da ideia (e o que a fez surgir) ao que pode ou não ser feito com ela, passando ainda à reacção dos outros e aos diferentes meios de aplicação da criatividade, há toda uma boa base de conselhos e ideias úteis. Nem demasiado condescendente, nem demasiado optimista, este é um livro que transmite boas orientações (porque não há regras), mas, principalmente, um boa forma de encarar e enfrentar os obstáculos.
Ora, se a mensagem é, por si própria muito boa, a forma como é transmitida facilita em muito a assimilação. Primeiro, a leveza do registo, com um muito agradável toque de humor, cria uma sensação de quase confiança, o que torna mais fácil a aproximação às ideias (e isto aplica-se mesmo àquelas com que não é tão fácil simpatizar). Depois, as ilustrações e a própria organização do livro orientam a mensagem de forma a que esteja focada no essencial - o que reflecte, aliás, uma das muitas ideias deste livro.
Ainda um outro ponto interessante é o facto de o autor direccionar as suas ideias e conselhos para diversas vertentes criativas. A publicidade é o elemento dominante, mas, ao referir também outras possibilidades, da escrita à música e passando pelo cinema, transmite-se também uma noção da verdadeira abrangência da criatividade, quer a nível de possibilidades, quer de critérios mais ou menos objectivos de avaliação.
Breve, mas muito útil, divertido, mas assertivo na transmissão da sua mensagem, este é, pois, um bom guia para avançar no desenvolvimento das ideias criativas. Vale a pena ler, portanto.

Blog Tour: Operation Sheba, de Misty Evans

Título: Operation Sheba
Série: Super Agents, Book 1
Autora: Misty Evans

Julia Torrison - nome de código Sheba - anda a guardar segredos.
Dezassete meses antes, ela era uma das melhores agentes da CIA, enfrentando perigosos terroristas na companhia do seu parceiro e amante, Conrad Flynn. Depois de uma missão que correu mal e da morte de Connor, Julia foi convocada de volta a Langley, onde recebeu uma nova identidade. Agora, ela é a principal analista do Centro de Contraterrorismo e passa os seus dias no quartel general da CIA e as noites na cama do chefe. A sua antiga vida como agente secreta foi selada com o seu coração.
O ex-SEAL Conrad Flynn - nome de código Solomon - tem os seus próprios segredos.
Para começar, não está morto. Infiltrado ao mais profundo nível possível, fingiu a própria morte para salvar a vida de Sheba. Mas agora ele tem de romper com a sua nova vida e pedir a ajuda dela na caça a um traidor que se esconde dentro da Agência.
Será Conrad um operacional rebelde ou um ex-amante ciumento à procura de vingança?
Para decidir, Julia terá de arriscar tudo pelo homem que ainda detém o seu coração. Puxada para uma teia de sedução e traição, ela é forçada a entrar no jogo de espiões da sua vida, desmascarar um traidor na Agência e neutralizar um problema de reféns, usando apenas um iPod e a sua intuição.

Excerto do livro: 
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The man sat perfectly still in the semidarkness watching the woman sleep. Only a sheet covered the slender body on the queen-size bed. Long hair stretched out in waves on her pillow, and he tamped down the urge to reach out and touch it. He watched the rhythmic rise and fall of her chest and slowed his own breathing to match. Resting his gun, a suppressed Heckler & Koch, on his right thigh, he wished he had a cigarette to calm his nerves.

Cigarettes, like his true identity, had been given up years ago, but every once in awhile he caught himself craving the feel of the stick between his lips, the smoke curling around his face. At thirty-two, he’d lost track of all the things he’d given up to become the man he was at this moment. He’d played too many roles, led too many lives, losing his sense of duty and fairness only to find himself becoming the enemy he was supposed to search out and destroy.

But he’d never lost track of her.

She continued to sleep deeply, a sight he had rarely witnessed in their five-plus years together. Her demeanor when awake was calm and unshakable. She was analytical and calculating, sizing up any given situation and devising two or three options to keep herself, and him, alive. But in sleep, nightmares tormented her. Nightmares that gripped her so hard she would cry out, making his blood run cold. He would pull her close and murmur reassurances in her ear, stroke her face and rock her in his arms. Anything to scatter the demons that terrorized her mind and raped her soul.

Seeing her at peace here in the early morning hours gave him comfort. I shouldn’t have come. I should have stayed dead to her, left her in whatever conciliation she has found. But he needed her and the hand was already dealt. If he failed he would be dead, for real this time, and someone else would come for her. He couldn’t fail. Her life depended on it as much as his did.

A memory of their escape from Berlin the first time he’d used her knowledge of explosives surfaced in his mind. After he had detonated the bomb and eliminated the warehouse, he had pulled her into a hotel in the Mitte District and paid for a shabby room. There they had spent those first few hours after the explosion making love under the goose-down quilt, needing the affirmation they both still lived to wipe out the pain they shared. Hours later, after he had slept and she had stared out the window at the stagnant Spree River, they wired a car and drove to Tegel Airport. Both had changed their appearance and, traveling together, never raised a single eyebrow as they passed the airport’s security and boarded a plane to Venice. Only then in the safety of the sky did exhaustion take over and afford her sleep.

The woman stirred, bringing her legs up into a fetal position. The room was starting to gray with the approaching sunrise. Her hand slipped under her absent lover’s pillow and he smiled, the familiarity of her movement sending ripples of anticipation rushing through his veins. He struggled to keep himself from whispering her name in the silent room. Pulling himself back a step from the edge, he took a deep breath, slid his gun into the waistband at the small of his back and willed himself to be patient and savor the moment. After all, he had waited seventeen months for this.

Julia Torrison sensed two things upon wakening. Michael was gone and there was another unidentifiable human presence in her room.

Maintaining her deep, even breathing, she kept her body motionless as if still in sleep to give her mind a few more precious minutes to filter through the probable identity of her visitor.

The options were cataloged in her brain. Enemies of her country and of her own making were widespread. But who these days cared whether she lived or died? She was simply an analyst now, lost in the windowless, cubicle-induced maze of the CIA’s Counterterrorism Center. From her four-by-six bunker of space, she did what they asked her to—analyze terrorists. Fieldwork was behind her now. Years of training and self-discipline, invisible orders and covert operations lost in the blink of an eye, in the explosion of a bomb, in the abrupt and complete silence of her partner.

No enemy could have found her easily. The CIA had created a new identity for her, Abigail Quinn, and plunked her in their ultimate safe house at Langley. She had thought she would go mad from the sterile confinement of the CTC office, but filtering through the endless pools of information about the disciplined madmen trying to bring America to its knees had actually pacified her. It had become meditation, freeing her brain from the racing thoughts about him. About what she could have, should have done to save him. The guilt for still being alive while he was dead gnawed at her, especially in the dark hours of the night when Michael’s hands reached for her instead of his. But through the work, and because of Michael’s constant reinforcement, she was finally becoming Abigail Quinn. Her past self was doggedly being sealed off, layer of brick over layer of brick, never to be seen again.

Perhaps her visitor was simply a thief who had watched Michael leave with Pongo, his Rottweiler, for their daily run to the lake. However, no casual burglar could have made it past the posted guard at the gate or the home’s eleven-thousand-dollar security system.

Michael’s pillow was still warm where his head had been minutes earlier. Her hand wrapped slowly around the hidden Beretta 92F 9-mm stored there and she felt the thrill of the hunted turned hunter. People underestimated her because she was a woman and because her characteristic quietness was often taken for ignorance.

It was always their mistake.

Julia willed her heart not to pump out of her chest as she eased the safety off the gun. It really didn’t matter who the intruder was…he was in for a big surprise.
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Links:
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Twitter: https://twitter.com/readmistyevans
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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Doze Contos Peregrinos (Gabriel García Márquez)

Histórias de lugares e de momentos vividos nesses lugares, de almas estranhas e de sentimentos universais. Assim são os contos de Doze Contos Peregrinos, projecto que várias vezes percorreu o caminho entre a mente e o caixote do lixo, para depois ser reaproveitado e abandonado e aproveitado ainda uma outra vez. É isso, aliás, o que é contado na introdução Porquê Doze, Porquê Contos e Porquê Peregrinos, um breve olhar sobre a história das ideias e do processo de escrita deste livro, e um prelúdio que abre uma perspectiva pessoal para o trabalho do autor, ao mesmo tempo que desperta curiosidade e cria uma agradável sensação de proximidade. 
Mas falando dos contos propriamente ditos. Em Boa Viagem, Senhor Presidente, um homem, na iminência de uma operação arriscada, cruza-se com um antigo compatriota. E o que devia ser a exploração de uma oportunidade transforma-se num gesto de coração. Magnificamente escrito, com a poesia e, ao mesmo tempo, a simplicidade que a história exige, este é um conto que, num registo algures entre o nostálgico e o melancólico, cativa também pelos elementos improváveis. E surpreende, acima de tudo, pela emoção.
Segue-se A Santa, história do percurso de um homem disposto a conseguir a canonização da filha. Cativante, ainda que um pouco disperso em divagações, sobressai deste conto uma marcante aura de tristeza, mais que adequada a esta ambígua, mas bela, história de persistência.
Amor à primeira vista numa viagem de avião: assim se faz a história de O Avião da Bela Adormecida, um conto relativamente breve e muito introspectivo, e que cativa principalmente pela forma quase impalpável de transmitir as esperanças do narrador para o leitor.
Segue-se, depois, Alugo-me para Sonhar, história de uma mulher que interpretava sonhos. Impressionante acima de tudo pelo toque de magia e pela naturalidade com que esta surge, um conto envolvente, bem escrito e também pautado por uma certa melancolia.
Em "Só Vim Fazer um Telefonema", uma avaria leva a protagonista a aceitar uma boleia que termina com ela presa num asilo e a tentar sobreviver. Cativante em primeiro lugar pela situação delicada da protagonista, cujas razões que ninguém quer ouvir despertam empatia, surpreende tanto pelas mudanças no final como pela conjugação de passado e presente num mesmo equilíbrio de abandono. Sem dúvida alguma, o melhor conto do livro.
Também breve, Surpresas de Agosto é essencialmente a história de uma assombração, um conto que surpreende pela leveza como aborda a lenda do lugar, para depois se transformar, no final. Sucinto, mas equilibrado, um conto muito bom.
De uma mulher que espera a morte, mas recebe algo diferente, fala Maria dos Prazeres, um conto de ritmo pausado, que, num registo algo disperso, reflecte o ritmo das memórias da protagonista. Envolvente, pontuado por alguns momentos especialmente fortes, culmina num belo final.
Em Dezassete Ingleses Envenenados, uma mulher viaja para Roma com o objectivo e realizar o seu sonho de ver o papa. Bastante descritivo e disperso, também, como o pensamento da protagonista, cativa pela escrita, ainda que a história deixe mais perguntas que respostas.
Segue-se Tramontana, sobre um vento temível e as suas consequências sobre as almas. Também pausado e bastante descritivo, um conto de tom algo distante, que acaba por surpreender, tendo em conta alguns dos acontecimentos que narra. Mas interessante, ainda assim.
O Feliz Verão da Senhora Forbes conta a história de uma perceptora infernal. Cativante em primeiro lugar pela inocência e pela situação dos protagonistas, surpreende também pelo toque de mistério. Peculiar e intrigante, apesar das questões que são deixadas em aberto, um bom conto.
A Luz É Como a Água fala dos pedidos invulgares de dois irmãos e da arte de navegar na luz. Breve e peculiar, este é um conto que surpreende, acima de tudo, pela ideia, explorada sem grandes momentos ou grandes surpresas, mas com algo de cativante no muito que tem de improvável.
Por último, em O Rasto do Teu Sangue na Neve, dois jovens recém-casados fazem uma longa viagem, quase ignorando uma pequena ferida que insiste em sangrar. Belíssimo, a nível de escrita, o que mais marca neste conto é o perfeito equilíbrio entre as percepções da viagem, o passado dos protagonistas e o mistério da ferida que sangra. História de encontros e desencontros, no fundo, surpreende também por um belo, mas triste, final.
Histórias de lugares, de momentos e de almas que passam, o que fica, então, destes Doze Contos Peregrinos, é a impressão de um conjunto interessante, em que alguns contos são particularmente memoráveis, mas todos têm algo de cativante. Vale, pois, a pena ler este livro. Sem dúvida alguma.

Novidades Planeta

Com o fim da Destinos Primordiais, Callie já não tem de alugar o seu corpo a sinistros Terminantes. Mas o neurochip que lhe implantaram no cérebro torna-a vulnerável a todos os que quiserem entrar dentro da sua cabeça e obrigá-la a fazer coisas contra a sua vontade. 
Os Iniciantes que contêm este chip tornam-se cobaias nas mãos dos mais poderosos Terminantes, e alguém anda a fazer explodir os dispositivos, transformando-os em bombas humanas. 
Callie continua a ser perseguida pela voz do Velho, bem como pelas memórias da sua ex-locatária, Helena. Determinada a vencer o medo e dar uma vida normal ao irmão, Callie decide ripostar. 
Um aliado improvável associa-se à sua busca. Encontrar o Velho e travá-lo talvez seja uma sentença de morte, mas ela está disposta a tudo para descobrir a verdade.

Como reagirá a sociedade quando os seus diamantes de primeira água são apanhados em situações comprometedoras, uma após outra? 
Conseguirão as jovens senhoras sobreviver à temporada com a reputação intacta ou… causarão os mexericos escandalosos que as rodeiam a sua derradeira desgraça? 
Quando Lady Elena Morrow, a beldade reinante do ton, de súbito desaparece, a família está desesperada para a encontrar e, para impedir que a história alastre pela sociedade londrina como um rastilho, antes que a sua reputação seja destruída. 
Infelizmente, pode ser impossível evitar um escândalo. 
O visconde Andrews, mais conhecido como o Corvo, o libertino mais célebre de Londres, desapareceu no mesmo momento. 
Benjamin Wallace, lorde Heathton, está mais habituado a resolver problemas políticos do que os do coração. Mas quando é pressionado para ajudar a encontrar Lady Elena, não pode recusar - o pai desvairado também é tio da sua esposa. 
Agora tem de encontrar a bela debutante antes que a associação com o desaparecimento de Andrews lhe ponha fim à inocência –presumindo que a jovem e vulnerável senhora queira ser encontrada…

Novidades Bizâncio para Maio

Título: Hoje Sonhei que Voava
Subtítulo: Manual de Interpretação de Sonhos
Autor: J. M. DeBord
ISBN: 978-972-53-0545-4 
Págs.: 240
Preço: Euros 13,68 / 14,50
Interpretação de Sonhos

«O trabalho de interpretação de sonhos é um processo muito pessoal. Não há uma Pedra de Roseta que nos ajude a fazê-lo, nem um significado universal para cada símbolo que neles ocorre», afirma o moderador do fórum de interpretação de sonhos J. M. DeBord. Mas não se assuste. Graças a umas quantas ferramentas simples, em breve poderá começar a descobrir a sabedoria e as orientações de vida específicas que cada um dos seus sonhos contém. Este livro revolucionário conduz-nos passo a passo ao longo do processo de aprendizagem do significado dos sonhos, que constituem uma linguagem como qualquer outra. A princípio, é possível que só compreenda as palavras e frases mais simples, mas em breve começará a saber ler nas entrelinhas, descodificando todo o humor, ironia e significado dos seus sonhos. Verá que sonhamos para nos reconciliarmos com o passado, lidarmos com o presente e orientarmos o futuro. Três passos: recordar, interpretar e viver os seus sonhos. É muito mais fácil do que possa pensar.

Título: Entre Dois Séculos
Subtítulo: Viagem ao Passado Próximo
Autor: Amadeu Lopes Sabino
ISBN: 978-972-53-0541-6 
Págs.: 160
Preço: Euros 11,32 / 12,00
Actualidade

«Como na época de Camões, o nosso mundo toma constantemente novas qualidades. Os textos reunidos neste livro falam dos dois séculos tumultuosos em que me tem sido dado viver...
Os protagonistas são o século XX — o Breve Século de que fala Hobsbawm — e os anos iniciais da nova centúria e do novo milénio. De um e outros tenho sido testemunha, às vezes um modesto participante.
Recusando as artimanhas de Cassandra, interrogo as marcas do humano nos sucessos da história e os signos do absoluto na literatura. Posso assim fazer minhas as sábias palavras de
Alberto Caeiro: ‘Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande, fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.’»
 Amadeu Lopes Sabino

A muitos de nós é dado o privilégio único de cruzar dois séculos, mas poucos saberão relatar a fascinante riqueza dessa experiência de vida como o autor.

Título: Brasil
Autor: Michael Palin
ISBN: 978-972-53-0544-7
Págs.: 320
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Viagens

Brasil — uma nova e emergente potência mundial, do tamanho de meio continente, com uma poderosa mistura de culturas, religiões e raças. Da vastidão quase selvagem, às grandes cidades, dos muito ricos aos abjectamente pobres, o Brasil é um país de fascinantes extremos. Com a aproximação do Campeonato do Mundo de Futebol, e dos Jogos Olímpicos em 2016, nunca o Brasil teve os olhos do mundo tão virados para si.
Michael Palin, o auto-confessado fanático das viagens, explora esta vasta e díspar nação viajando de barco, a pé e de planador, bem fundo na Amazónia, experimentando a modernidade de Brasília, a dança e a arte urbana do Rio de Janeiro.
Visita as favelas e as praias de Copacabana. Viaja pelo Nordeste, onde as raízes africanas das gentes proporcionam uma cultura apaixonante, e, caminhando para Sul, prova cerveja alemã, servida num sidecar, acabando nas espectaculares Cataratas de Iguaçu.
Este é o Brasil que nos revela: vibrante, intoxicante, pleno de energia.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Homem que Perseguia o Tempo (Diane Setterfield)

Nos seus tempos de rapaz, William Bellman lançou a pedra que matou uma gralha-calva. Foi um momento que se tornou quase uma lenda no círculo dos seus amigos de então, mas que, ao mesmo tempo, caiu num quase esquecimento. William cresceu e, com a idade, veio a determinação. Primeiro sob a orientação do tio e depois pelos seus próprios meios, a dedicação e o raciocínio arguto destinam William a grandes coisas. Mas há uma presença ao longo do seu percurso, uma que se torna mais visível no caminho de cada perda. E quando um acordo feito nas sombras de um cemitério lhe lança uma nova oportunidade, William sabe que tem um novo desafio à espera. Um que talvez não tenha interpretado correctamente.
Diferente, em muitos aspectos, de O Décimo Terceiro Conto, este é um livro que tem em comum com ele apenas a sempre presente aura de mistério e uma escrita envolvente e com momentos de rara beleza. Em tudo o mais, o que sobressai são as diferenças, com a emoção e a empatia a dar lugar a uma maior distância, em que é o o que predomina é o pressentimento de algo ominoso e uma muito particular visão do tempo - e do que se escolhe fazer com ele.
William Bellman está muito longe de ser o que se consideraria uma personagem capaz de gerar empatia, apesar de o fazer, nos seus melhores momentos. Centrado numa necessidade o mais racional possível (do seu ponto de vista) de tentar encontrar soluções para tudo, William é, durante a maior parte do tempo, uma personagem distante, com rasgos pontuais de emotividade, é certo, mas centrado, acima de tudo, no trabalho. É, aliás, a esta forma de ser que se deve a sensação de distância que se percebe durante grande parte do enredo.
Mas é também devido a esta forma de ser que a lição de Bellman sobressai. Confrontado com sucessivas perdas e sucessivas obsessões, o protagonista é a base de toda uma reflexão sobre o que realmente importa na vida. Nesta perspectiva, o principal papel do elemento (quase) sobrenatural acaba por ser também o de um meio para moldar a mensagem, além do de fonte principal da tal aura de mistério que, mesmo nos momentos mais descritivos, mantém a envolvência da narrativa.
E depois há a escrita, fluída e cativante, ajustada em ritmo e em tom ao fluir do enredo. Acaba por ser fácil imaginar William Bellman debruçado sobre o seu trabalho incessante ou atormentado pelas coisas que não consegue assimilar, porque, mesmo numa história narrada na terceira pessoa, a autora dá voz à sua personalidade.
Dificilmente poderia ser um livro mais diferente de O Décimo Terceiro Conto. Mas, com uma grande mensagem e um bom protagonista no centro de uma história intrigante, este é também, na sua própria forma, um livro memorável. E que não posso deixar de recomendar.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Novidade Porto Editora

Procuro a combinação perfeita de aromas; o sabor que eras tu. Se o encontrar, sei que voltarás para mim.
Há 18 meses atrás, Joel, o marido de Saffron, foi assassinado, e o culpado nunca foi descoberto. Agora, fazendo os possíveis para lidar com a perda, Saffron decide terminar Os aromas do amor, o livro de receitas que Joel tinha começado a escrever antes da sua trágica morte.
Quando, finalmente, tudo parece ter voltado à normalidade, a filha de 14 anos de Saffron faz uma revelação chocante que abala a relação entre ambas. E, ao mesmo tempo, o assassino de Joel começa a enviar cartas afirmando a sua inocência.
Será um grande amor capaz de sobreviver à maior das perdas?

Apaixonada desde sempre pela palavra escrita, Dorothy Koomson escreveu o seu primeiro romance aos 13 anos. A filha da minha melhor amiga foi o seu primeiro livro editado em Portugal. A história comovente de duas amigas separadas pela mentira e unidas por uma criança encantou as leitoras portugueas. Pedaços de ternura, Bons sonhos, meu amor, O amor está no ar e Um erro inocente, O outro amor da vida dela e A praia das pétalas de rosa foram igualmente bem-sucedidos, consagrando a autora como uma referência para as leitoras portuguesas.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Lágrima (Lauren Kate)

A morte da mãe deixou no coração de Eureka Boudreaux uma tristeza profunda, contida e silenciada por uma única instrução: Nunca, nunca mais chores. Mas, passados meses desde o acidente e de uma tentativa de suicídio que a isolou ainda mais, Eureka descobre que a vastidão das sombras da sua vida apenas começou a revelar-se. A herança da mãe, composta por um medalhão, um fragmento de meteorito e um livro que ninguém consegue ler, lança Eureka numa busca por respostas. Mas a sua procura coloca-a também em perigo. E entre o amigo de sempre que se tornou estranho e o estranho que lhe inspira uma confiança sem explicação racional, Eureka tem de enfrentar, ao mesmo tempo, os seus próprios dramas e o perigo de um legado familiar capaz de preservar o mundo. Ou de o destruir.
Apesar de uma base sobrenatural diferente e de uma interessante evolução em termos de caracterização de personagens, este livro tem, sem dúvida, uns quantos aspectos em comum com a série Anjo Caído. A escrita continua a ser relativamente simples, ainda que com alguns momentos particularmente bem conseguidos na forma de caracterizar certos elementos, e a história da protagonista divide-se entre dramas e dificuldades de adolescente e um papel determinante num contexto de base sobrenatural. Nestes aspectos comuns, o que sobressai é a evolução, com um melhor equilíbrio entre os conflitos e amores de adolescência (ainda que continuem a surgir em abundância) e o desenvolvimento do aspecto sobrenatural do enredo.
Falando do sobrenatural, que é, aliás, o grande ponto forte deste livro, há dois aspectos que se destacam. Primeiro, o contexto construído em torno da Atlântida, com a associação à história do livro de Eureka, abre vastas possibilidades para o que poderá acontecer às personagens e ao mundo em geral. Além disso, e apesar do muito que é ainda deixado em aberto, as capacidades das personagens mais relevantes, bem como, de resto, o que a sua acção transpõe para o mundo em redor, proporcionam um bom ritmo de acção, principalmente a partir do momento em que as revelações ganham destaque relativamente aos problemas pessoais.
Relativamente às personagens, Eureka não é a protagonista forte e infalível, mas antes uma figura cheia de vulnerabilidades silenciadas. Isto torna-a empática e, em certa medida, transparente, o que contrasta com o mistério em torno de Ander. Quanto aos que os rodeiam, há um pouco de tudo, desde os carismáticos e interessantes aos simplesmente detestáveis. Mas, mesmo quando um ou outro momento parece um pouco mais forçado (como é o caso de algumas situações com Brooks) essa opção acaba por ser justificada pelo rumo da história.
Envolvente e intrigante, com uma ideia cheia de potencial e alguns momentos especialmente bons, Lágrima abre de forma muito promissora uma série que promete muito de bom. Leve, por vezes, mas com a medida certa de sombras, um belo início.

Novidade Esfera dos Livros

A 4 de Abril de 1819 nascia no Brasil a princesa D. Maria da Glória, filha de D. Pedro de Bragança herdeiro do trono de Portugal e de D. Leopoldina de Áustria. Com apenas 7 anos foi declarada rainha de Portugal, mas somente aos 15 anos conheceu o país que iria governar. Um reino, bem diferente das terras de Vera Cruz, marcado pela Guerra Peninsular a que se seguiu a guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel - liberais contra absolutistas. O seu reinado foi marcado por transformações sociais e económicas e por uma forte instabilidade política, com constantes mudanças de ministros, intensa actividade parlamentar contra ou a favor da Carta Constitucional ou desta ou daquela Constituição e constantes revoltas populares que atingiam a figura da própria rainha. A tudo isto, D. Maria, marcada por uma forte personalidade, respondeu com coragem e determinação. Depois de um casamento não consumado com o seu tio D. Miguel, de ter ficado viúva do seu segundo marido, pouco tempo depois do matrimónio, é nos braços de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha que encontra a felicidade e a alegria da maternidade. Dos ministros confiou no muito contestado Bernardo da Costa Cabral que acabou por afastar da governação. Os seus momentos mais felizes passa-os na troca de correspondência com a prima e rainha Vitória de Inglaterra, onde lhe descrevia a felicidade da vida de casada e a maternidade e alguns, poucos, problemas políticos do país. A historiadora Luísa V. de Paiva Boléo, autora de D. Maria I, a Rainha Louca, leva-nos ao conturbado século XIX português para ficarmos a conhecer a biografia da primeira rainha constitucional, que, apesar da sua inexperiência, enfrentou as contrariedades políticas, marcando a história do país, nomeadamente ao criar o ensino primário gratuito, ao desenvolver vias de comunicação terrestres e fluviais e fundando a Academia de Belas-Artes e o teatro com o seu nome, em Lisboa. No dia 15 de Novembro de 1853, ao dar à luz o seu décimo primeiro filho, faleceu, sem sequer ter tempo de se despedir dos filhos e marido. Para trás deixou uma família e um povo consternados e uma estabilidade política que tinha sabido conquistar a pulso.

Maria Luísa Viana de Paiva Boléo nasceu em Coimbra, e licenciou-se em História (UAL); frequência dos dois anos de Mestrado em História e Culturas do Brasil, Universidade de Lisboa (1991-1993). É jornalista freelancer. Publicou os livros A Raposa Vegetariana, Lisboa, Plátano, 1976 (infantil); Casa Havaneza – 140 anos à esquina do Chiado, Lisboa Dom Quixote, il., 2004 e D. Maria I. A Rainha Louca, Lisboa, Esfera dos Livros, 2009, 3ª ed. 2011. Colabora no site www.leme.pt com dezenas de curtas biografias publicadas em diversos jornais e revistas, É sócia Correspondente do Instituto Histórico-Geográfico de São Paulo. Recebeu, em Março de 2011, a Medalha Cultural Imperatriz Leopoldina, concedida pelo IHGSP. Está referenciada em publicações estrangeiras de que destaca International directory of eighteenth-century studies, 2000, Fondation Voltaine, p. 30 e Um Século de Literatura de Cordel, de Joseph M. Luyten, São Paulo, 2001, p. 51. Directora da Revista Cofre do Cofre de Previdência dos Funcionários do Estado desde 2011.