quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lawless (HelenKay Dimon)

Quando Hope Algier foi escolhida para liderar o retiro corporativo da Baxter, ela já contava que surgissem alguns problemas, sendo ela a mulher responsável pelo pequeno grupo de executivos. O que não esperava era o desaparecimento de um deles e a presença de um perseguidor decidido a espalhar morte no seu caminho. Felizmente, Hope tem um pai super-protector, que, como favor pessoal, pediu a Joel Kidd, homem da sua confiança e especialista em situações de perigo e resgate, para a proteger. O problema é que, por muito boas que sejam as capacidades de Joel, o seu passado com Hope é problemático. E, por isso, ao mesmo tempo que procuram uma forma de sobreviver ao retiro, Hope e Joel têm de encontrar uma forma de resolver os seus problemas pessoais. E, talvez, aceitar, finalmente, o amor que os une.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é que, apesar de ter um casal protagonista e uma relação romântica no centro do enredo, o romance nunca se sobrepõe ao restante da história. Há uma situação de perigo, com um mistério para resolver e a necessidade de encontrar uma qualquer escapatória. Há também algo de intriga na origem do retiro e dos ataques de que Hope e os que a acompanham estão a ser alvo. E há ainda atracção, romance e um passado difícil. O melhor de tudo isto é que toda esta multiplicidade de elementos parece conjugar-se da melhor forma, o que resulta numa história cheia de acção e de intriga, mas também com as medidas certas de romance e humor. Tudo somado, uma leitura compulsiva.
Outro ponto forte desta história está no desenvolvimento das personagens. Sendo um livro relativamente breve, não tem uma grande componente descritiva, mas, apesar disso, não há informação em falta. O que acontece é que as personagens, quer os protagonistas, quer os que têm uma presença mais discreta, mostram o que são pelo que fazem e sentem. Hope é uma mulher forte, mas com as vulnerabilidades expectáveis, enquanto Joel oscila entre as suas boas capacidades e os demónios de um passado atormentado. Quem são surge como razão para o que fizeram e para as escolhas que farão a cada momento. E, revelando-se através de acções, escolhas, pensamentos e emoções, as personagens tornam-se mais humanas.
Perigo e romance, numa história cheia de grandes momentos de acção e de emoção, fazem, pois, com que esta seja uma leitura envolvente e viciante. Bem escrito, com personagens memoráveis e uma boa história, pode ser um livro breve, mas vale muito a pena ler.

Novidade Porto Editora

Todos nós já sentimos, em algum momento, o desejo de desaparecer. De deixar tudo para trás. Para alguns, isso transforma-se numa obsessão que os consome e engole, até que acabam por desaparecer na escuridão. Todos se esquecem deles. Todos, menos Mila Vasquez, investigadora no Gabinete das Pessoas Desaparecidas. 
Sem que ninguém o conseguisse prever, indivíduos que se esfumaram no vazio há vários anos regressam com intenções obscuras. Uma série de crimes, sem relação aparente entre si, traz consigo uma descoberta surpreendente: os seus autores são pessoas que se pensava desaparecidas para sempre. Onde estiveram durante tanto tempo? E porque regressaram? Qual o plano maléfico a que obedecem? 
Mila percebe que para travar este exército das trevas não lhe bastam os indícios. Tem de dar à escuridão uma forma, um sentido, precisa de formular uma hipótese sólida, convincente, racional… A Hipótese do Mal.

Donato Carrisi nasceu em 1973 em Martina Franca (Itália). 
Licenciado em Direito, especializou-se em Criminologia e Ciências do Comportamento. Dedica-se, desde 1999, à carreira de argumentista de cinema e televisão, e escreve regularmente no Corriere della Sera. 
A Hipótese do Mal é o seu terceiro livro, depois do enorme sucesso de Sopro do Mal e O Tribunal das Almas, já publicados pela Porto Editora.

Novidade Marcador

Num momento de rivalidade infantil, William deixa-se levar pelo entusiasmo e não hesita em apontar a fisga a uma gralha-calva poisada num ramo, acabando por matá-la. 
Um acto que, apesar de cruel, não teve qualquer significado e depressa foi esquecido. Mas as gralhas-calvas não esquecem… 
Anos depois, na idade adulta, já com mulher e filhos, entra na sua vida um desconhecido misterioso e a sua sorte começa a mudar. Surgem então as consequências terríveis e imprevistas daquele incidente do passado. Numa tentativa desesperada de salvar o único bem precioso que lhe resta, William celebra um acordo deveras estranho, com um sócio ainda mais estranho. Juntos, fundam um negócio inquestionavelmente macabro.

Diane Setterfield é uma autora britânica que nasceu em Englefield, em 1964. Passou grande parte da infância na localidade vizinha Theale. A autora é, nas suas palavras, «em primeiro lugar, leitora, e em segundo, escritora». O primeiro livro da autora foi bestseller do The New York Times e está publicado em 30 países. Em Portugal chama-se O Décimo Terceiro Conto e é publicado pela Marcador.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Morte em Palco (Caroline Graham)

Na Causton Amateur Dramatic Society, os preparativos para a estreia de Amadeus não auguram nada de muito promissor. A figura principal não vê nada além dele e parece decidido a questionar as decisões ditatoriais do encenador. Também os adereços e a iluminação parecem despertar dúvidas no conjunto dos actores, criando ainda mais dúvidas e mais tensão. A juntar a tudo isto, o rumor de uma infidelidade corre entre todos - excepto, claro, o principal interessado. Nada disto promete harmonia, nem sequer uma boa representação. Mas o que ninguém espera é que o grande golpe dramático da estreia, seja uma morte... real. E, assim, o inspector-chefe Tom Barnaby passa de um simples espectador ao responsável por descobrir a verdade sobre o que aconteceu.
Uma das peculiaridades mais interessantes deste livro, tal como, de resto, do anterior Morte na Aldeia, é o facto de, apesar de ter como centro um crime, não haver grande ênfase no medo e na tensão, mas antes no mistério e na forma como este se enquadra no anterior ambiente de normalidade. O crime surge, aliás, numa fase já relativamente avançada do enredo, depois de todas as personagens e o contexto geral da história terem sido já bastante desenvolvidos.
O ritmo do enredo é, pois, bastante pausado. E para isso contribui também o facto de a autora percorrer as perspectivas e histórias individuais das diferentes personagens que integram o grupo de teatro. Este cruzamento de histórias acaba, por vezes, por colocar o mistério em segundo plano. Ainda assim, e também porque muitas delas vêm já a ser desenvolvidas desde antes do acontecimento central, estas histórias conferem ao enredo uma maior complexidade, já que, nalguns casos, dão aos suspeitos um possível motivo, enquanto que, noutros, chegam a complementar o mistério com uma certa medida de emoção. Neste último aspecto, a história de Dierdre é especialmente marcante, já que, paralelamente ao episódio do crime, também Dierdre vive uma situação de particular intensidade.
Ainda um outro aspecto interessante nesta história prende-se com a caracterização de algumas personagens. Muitas delas têm algo de caricato ou uma característica que as torna invulgares, o que, desde logo, serve de base a alguns momentos divertidos. Mas há também aquelas, e aqui sobressai claramente a figura de Troy, que, pelas ideias que defendem, e pela forma como as expõem, servem para considerar alguns preconceitos, revelando-os como são: ideias de uma mente fechada. Este é, claro, um elemento discreto no meio de uma história mais vasta. Ainda assim, acaba por ser, também, um ponto forte.
Envolvente e agradável, peculiar em muitos aspectos, mas, precisamente por isso, cativante, Morte em Palco pode não ser uma leitura compulsiva. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma boa história. Gostei.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Anjo Negro (Paul Hoffman)

Treinado para ser o braço da ira de Deus, Thomas Cale espalhou morte e destruição por todos os lugares por onde passou. Agora, contudo, a sua alma tem de pagar o preço. Doente, enfraquecido, Cale vê os seus dias de glória reduzidos a uma recuperação lenta, que parece nunca vir a ter fim. Mas, mesmo assim, a vida continua e o plano dos Redentores para limpar o mundo do maior erro de Deus - a humanidade - fazem com que novas batalhas sejam necessárias. E, para que haja a menor hipótese de vencer, é precisa, se já não a força, a mente brilhante do Braço Esquerdo de Deus. Mesmo que Cale não seja nem amado, nem admirado, os actos e a lenda tornaram-no temível. E, apesar das intrigas e dos planos cruzados, a sua presença continua a ser necessária.
Mais longo e mais intenso que os anteriores volumes da trilogia, este é o livro em que todas as revelações se concentram. E também aquele em que as melhores características das personagens - e, em particular, do protagonista - acabam por tomar forma. A evolução de Cale é, aliás, parte do que torna esta conclusão especialmente memorável, com a passagem de um historial de força e violência a uma situação fragilizada, mas em que outras características o tornam indispensável.
Cale sempre foi uma personagem moralmente ambígua, capaz da máxima crueldade, mas, pontualmente, movido pela emoção a gestos de generosidade e quase sacrifício. Essa sua ambiguidade permanece, mas com a alteração das suas circunstâncias e a aproximação de um fim inevitável, os contrastes tornam-se mais evidentes, esbatendo-se a distância para surgir, com maior intensidade, mas, sem anular a sua faceta, a faceta humana da alegada encarnação da ira divina.
Também nas outras personagens, tanto do lado dos aliados como dos inimigos de Cale, há desenvolvimentos interessantes. Claro que os que sobressaem são, em grande parte, os já conhecidos amigos - se de amigos se pode falar relativamente a Cale. Kleist e Henri Vago complementam a faceta mais impetuosa de Cale, equilibrando as suas acções, ao mesmo tempo que se posicionam para os seus próprios momentos de destaque. Por outro lado, os inimigos conquistados no passado assumem um papel mais relevante com o agravar do conflito, levantando obstáculos, ou removendo-os, e assim acrescentando novas surpresas ao decorrer da história.
E, quanto à história, sobressai um ritmo que, inicialmente pausado, cresce em intensidade com o avolumar dos conflitos, mas também um equilíbrio em que experiências individuais contrastam com uma intriga mais vasta e com o impacto global das grandes batalhas. No fim, é, talvez, o lado pessoal que mais cativa em termos de empatia. Mas os planos para as batalhas e a teia de interesses a colisão acrescentam complexidade ao cenário, reforçando o impacto de um final que, sem dar todas as respostas, fica na memória pelo que tem de inesperado... e de estranhamente adequado.
A soma de tudo isto é uma leitura envolvente, ainda que não compulsiva, com personagens fortes e surpreendentes e um enredo em que intriga, conflito e emoção se conjugam nas medidas certas. Recomendo.

Novidades Topseller

Há um serial killer à solta em Nova Iorque, perseguindo e assassinando criminosos que conseguiram escapar à Justiça. À medida que o número de vítimas deste justiceiro por conta própria aumenta, cada vez mais nova-iorquinos o apoiam.
O detective Zach Jordan e a sua parceira Kylie MacDonald são destacados para o caso quando mais uma pessoa, uma mulher ligada à campanha eleitoral de um dos candidatos à Câmara de Nova Iorque, é assassinada. Zach e Kylie têm de descobrir quais são as verdadeiras motivações deste assassino, uma vez que por detrás deste último crime se escondem segredos da ordem da vida pública e privada.
No entanto, Kylie tem agido de forma estranha, e Zach teme que o que quer que se esteja a passar com a sua parceira possa pôr em risco o maior caso das suas carreiras. 

James Patterson já criou mais personagens inesquecíveis do que qualquer outro escritor da actualidade. É o autor dos policiais Alex Cross, os mais populares dos últimos 25 anos dentro do seu género. Entre os seus maiores êxitos estão também as colecções bestsellers NYPD Red, Private: Agência Internacional de Investigação, The Women's Murder Club (O Clube das Investigadoras) e Michael Bennett. 
Patterson escreveu também diversos livros para jovens, entre os quais estão as séries Maximum Ride e Confissões de uma Suspeita de Assassínio (ed. Topseller) Escola e Eu Cómico (ed. Booksmile).
Ao gosto pela escrita e pela invenção de histórias, James Patterson junta uma outra paixão, a de ajudar o próximo. Em Fevereiro passado, o autor disponibilizou 1 milhão de euros para ajudar livrarias tradicionais a sobreviverem à crise. Notícia sobre a qual pode ler mais em The New York Times. 
Patterson oferece, ainda, através da sua fundação, dezenas de bolsas de estudo para jovens alunos e universitários, e ainda bolsas de estudo especiais para quem tenciona, terminado o curso universitário, abraçar a carreira de professor.

Annie Adams está a alguns dias de celebrar o seu 32.º aniversário e pensa que encontrou, finalmente, a felicidade. Jornalista, escreve uma coluna semanal sobre viagens e passa a vida a explorar os lugares mais exóticos e interessantes do mundo. Vive em Los Angeles com Nick, o namorado com quem já pensa casar, numa relação aparentemente feliz que já conta com cinco anos. Quando Nick chega um dia a casa e a informa de que, «segundo a terapeuta», talvez precisem de «um tempo», Annie fica destroçada.
Perdida num turbilhão de sentimentos, Annie acaba por conhecer Griffin, um charmoso chef, que de imediato a conquista. E em apenas três meses, Annie dá por si casada e a reconstruir a sua vida numa zona rural do Massachusetts. Mas quando Nick lhe pede uma segunda oportunidade, Annie fica dividida entre o seu marido e o homem com quem ela sente que deveria ter casado.

Laura Dave escreveu para o New YorkTimes, o New York Observer e o Huffington Post e participou em programas da Fox News e da National Public Radio. A sua escrita aborda, em especial, as relações amorosas, familiares, e os laços afectivos. Nascida em Nova Iorque, vive actualmente com o marido em Los Angeles.

Novidades Porto Editora

Para Harold Fry os dias são todos iguais. Nada acontece na pequena aldeia onde vive com a mulher Maureen, que se irrita com quase tudo o que ele faz. Até que uma carta vem mudar tudo: Queenie Hennessy, uma amiga de longa data que não vê há vinte anos, e que está agora doente numa casa de saúde, decide dar notícias. Harold responde-lhe rapidamente e sai para colocar a carta no marco do correio. No entanto, está longe de imaginar que este curto percurso terminará mil quilómetros e 87 dias depois.
E assim começa esta viagem improvável de Harold Fry. Uma viagem que vai alterar a sua vida, que o leva ao encontro de si mesmo, a descobrir os seus verdadeiros anseios há tanto adormecidos e sobretudo vai ajudá-lo a exorcizar os seus fantasmas. Com este primeiro romance sobre o amor, a amizade e o arrependimento, A improvável viagem de Harold Fry, que recebeu o National Book Ward, para primeira obra, Rachel Joyce revela-se uma irresistível contadora de histórias.

Rachel Joyce vive numa quinta do Gloucestershire, em Inglaterra. Durante vinte anos escreveu argumentos para rádio, televisão e teatro. Também passou pelo palco, experiência que lhe valeu alguns prémios. A improvável viagem de Harold Fry foi o seu primeiro romance. Este livro recebeu o National Book Award para primeira obra e foi considerado em vários meios de comunicação um dos melhores livros de 2012. Foi também finalista do Man Booker Prize desse ano.

Desde sempre, Rose, ao entardecer, olhava o céu em busca da estrelada tarde. Era aquela estrela, agora que a sua memória a estava a abandonar, que lhe permitia recordar-se de quem era e de onde vinha; que a transportava para os seus dezassete anos, para uma confeitaria nas margens do Sena. Ninguém conhecia a sua história, nem sequer a sua neta, Hope. Num dos seus raros momentos de lucidez sente que é importante falar-lhe de um passado longínquo, que manteve em segredo durante setenta anos e que em breve ficará perdido para sempre.
Munida de uma lista de nomes e de fragmentos de uma vida, Hope parte para Paris em busca de respostas.
Para Hope esta será também uma viagem de descoberta: de tradições religiosas há muito diluídas, de histórias vividas numa Paris ocupada onde o amor sobrevive e, sobretudo, da sua capacidade de recomeçar e acreditar em si mesma.

Kristin Harmel formou-se em Jornalismo e Comunicação na Universidade da Florida. Tem exercido a profissão de jornalista na televisão e em revistas como People, Ladie’s Home Journal e Woman’s Day entre outras. Os seus livros estão traduzidos em inúmeros países, onde alcançaram notável sucesso. Actualmente vive em Orlando, na Florida.

Novidade Bertrand

Madeline Hart é uma estrela ascendente no partido britânico no poder: bonita, inteligente, motivada para o sucesso por uma infância pobre. Mas Madeleine tem também um segredo sombrio: é amante do primeiro-ministro, Jonathan Lancaster. Os seus raptores descobriram o romance e decidiram que Lancaster deve pagar pelos seus pecados. Receoso de um escândalo que lhe destrua a carreira, ele decide lidar com o caso em privado, sem o envolvimento da polícia britânica. Trata-se de uma decisão arriscada, não só para si próprio, como para o agente que conduzirá as buscas. 
Entra em cena Gabriel Allon — assassino implacável, restaurador de arte e espião —, para quem as missões perigosas e a intriga política não são novidade. Com o relógio a contar, Gabriel tenta desesperadamente trazer Madeleine de volta a casa em segurança. A sua missão leva-o do mundo criminoso de Marselha a um vale isolado nas montanhas da Provença, depois aos bastidores do poder londrino e, finalmente, a um clímax em Moscovo, uma cidade de espiões e violência, onde há uma longa lista de homens que desejam ver Gabriel morto. 
Desde as páginas de abertura até ao chocante final, em que se revelam os verdadeiros motivos por detrás do desaparecimento de Madeleine, A Rapariga Inglesa irá deixar os leitores completamente mergulhados na história.

sábado, 26 de abril de 2014

A Informacionista (Taylor Stevens)

Altamente eficaz e com um conjunto de capacidades que lhe permite obter qualquer tipo de informação mesmo nos cenários mais complicados, Vanessa Michael Munroe tem como clientes várias entidades poderosas. Mas a missão que Richard Burbank lhe propõe, de descobrir o paradeiro da filha desaparecida, está bem longe do que considera ser a sua área de especialidade. Para descobrir o paradeiro de Emily, Munroe terá de regressar ao único lugar a que verdadeiramente chamou casa, origem também de todos os seus demónios, e seguir pistas que a encaminham para situações perigosas. Mas o pior é que não lhe contaram a história toda. E, à medida que se aproxima da verdade, fica mais perto também o risco de nunca regressar...
Uma das primeiras coisas a surpreender neste livro, e principalmente na fase inicial, é que o ritmo dos acontecimentos é bastante mais pausado do que se espera, à partida, de um livro deste género. Isto acontece, em primeiro lugar, porque a história se faz tanto do mistério do desaparecimento de Emily Burbank como do enigma que é a própria protagonista, com os acontecimentos do passado a definirem a sua forma de ser. Assim, há todo uma base de contextualização, principalmente do passado de Munroe, mas também do conhecimento que é necessário à aceitação da missão, que tem de ser apresentada, o que abranda um pouco o ritmo dos acontecimentos. Além disso, a especialidade de Munroe é a recolha de informação, e não propriamente o conflito, pelo que a definição da estratégia é tão relevante como a acção propriamente dita.
Ainda assim, e apesar do ritmo mais pausado, há sempre algo de intrigante ou de surpreendente a manter a envolvência do enredo. O passado de Munroe, associado às suas peculiaridades, revelam uma personagem complexa, com demónios interiores que facilmente despertam alguma empatia, mas em que a força se ergue acima das vulnerabilidades. Além disso, com a evolução dos acontecimentos no sentido da concretização dos planos, aumentam os perigos e, consequentemente, a intensidade da acção. E é a partir deste ponto que a história se torna realmente viciante.
Há ainda um outro ponto surpreendente, ainda que de presença discreta, tendo em conta tanto a personalidade da protagonista como as circunstâncias em que se encontra. É que, entre a fúria resultante dos demónios do passado (e de algumas situações presentes) e a concentração aparentemente inabalável que Munroe coloca na sua missão, surgem, pontualmente, momentos de humanidade, por vezes, nas circunstâncias mais inesperadas. Momentos esses que, além de acrescentarem um muito agradável toque de emoção, tornam mais completa a caracterização da protagonista, porque revelam a natureza do seu lado humano.
De ritmo relativamente pausado, mas com uma história sempre envolvente, este é, portanto, um livro que cativa tanto pela resolução do mistério e pelos momentos de acção como pela força e pelas sombras da protagonista. Muito bom.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Os Herdeiros de Septem (Carlos Silva)

Em tempos, uma linha de fogo que cruzou os céus deu origem a um conjunto de estranhos artefactos. Um deles foi guardado com todo o secretismo. Os outros chegaram às mãos de três mulheres e nelas se desvaneceram, deixando, contudo, a semente de uma descendência futura. Passou o tempo e os filhos dessas três mulheres cresceram juntos, com um segredo comum. Mas agora um deles têm aspirações mais altas e não olhará a meios para as atingir. E quando a mulher que deseja não corresponde às suas atenções, um novo motivo surge para eliminar os seus adversários...
Partindo do mistério de um fenómeno estranho e, a partir daí, avançando para um enredo que se divide entre a resolução de um crime e um elemento sobrenatural, este é um livro que cativa, principalmente, pela forma como conjuga os dois elementos, associando um plano que envolve mortes e vinganças a uma herança sobrenatural. É, aliás, no desenvolvimento deste aspecto que se encontra o mais interessante da história, já que, desde a linha de fogo nos céus às revelações finais sobre os três amigos, há toda uma base que, revelada de forma gradual, acaba por fazer, no fim, todo o sentido, e por ser uma parte particularmente interessante da história.
Esta tentativa de revelar as coisas aos poucos, de forma a manter o mistério, tem um lado bom e um lado mau. O lado bom é que consegue, efectivamente, prender a atenção, o que mantém sempre viva a vontade de saber mais. O lado mau é que, partindo de um ponto bastante atrás no tempo, e oscilando entre acontecimentos muito diferentes, o facto de todas as grandes revelações ficarem para o fim cria uma sensação de confusão que permanece ao longo de grande parte do enredo.
Fica também a impressão de que mais haveria a desenvolver sobre as personagens e aquilo que vivem. Há um romance a acontecer, há crimes, desaparecimentos e descobertas e há uma distância de anos entre o fenómeno inicial e o conflito entre os protagonistas. Mas tudo isto é percorrido de forma bastante sucinta, cingindo-se aos factos essenciais. Seria, por isso, interessante saber mais sobre os motivos e as personalidades das personagens, sobre o impacto emocional dos acontecimentos. Não ficam, é certo, perguntas sem resposta sobre o essencial da história. Mas, apesar disso, fica a sensação de que haveria mais a dizer.
Também a escrita é bastante simples, mas cativante e agradável, contribuindo também para manter a envolvência, mesmo nas fases em que são mais as perguntas que as respostas. Sem grandes elaborações, adapta-se ao que é, afinal, o ritmo da história e, assim, confere uma certa leveza a um enredo em que há muito a acontecer muito depressa.
A soma de tudo isto é a de uma história relativamente simples, ainda que com potencial para ser muito mais. Intrigante e envolvente, ainda que um pouco apressada, acaba por ser, apesar de alguns pontos menos bons, uma leitura cativante. Gostei.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Uma Noite no Expresso do Oriente (Veronica Henry)

Sonho, requinte e magia: assim se define o ambiente que o Expresso do Oriente oferece aos seus passageiros. Uma noite única e uma viagem capaz de mudar toda uma vida. Ou pelo menos a dos protagonistas desta história. Entre um casamento longamente adiado, uma família em construção, um encontro às cegas e um segredo com décadas da existência, a viagem até Veneza será cheia de emoções. E, independentemente das escolhas que venham a fazer, nenhum dos passageiros voltará à rotina igual ao que era dantes.
Uma das coisas que surpreende neste livro é que, apesar de não ser particularmente extenso, tem um conjunto relativamente vasto de personagens relevantes. Cada casal, ou possível casal, ou família, tem uma história essencialmente independente, sendo que, na maioria, o que têm em comum é simplesmente o facto de estarem a fazer a mesma viagem. O que acontece, portanto, é que cada uma das histórias acaba por ser relativamente simples, já que o enredo se dispersa entre as várias personagens.
Ainda assim, o todo é algo mais do que simplesmente o conjunto de todas as histórias. Primeiro, porque há uma base emocional e afectiva que é comum a todas e que, assente no potencial de mudança e crescimento das personagens, acaba por criar uma sensação de unidade, mais não seja porque todos encontram algo de bom na sua jornada. Além disso, há uma ligação ao passado, na viagem de Imogen e na história do quadro que ela vai buscar a Veneza. Ligação essa que abre, também ela, caminho a uma nova história que, também ela breve e aparentemente simples, acaba por ser a mais cativante de todas.
Apesar de ser, no geral, uma história leve, com alguns momentos divertidos e centrada, essencialmente, numa mensagem positiva, é também uma história de emoções fortes, seja em termos de tensão familiar ou de dúvidas relativas a uma relação, seja a nível da preservação de segredos e das suas consequências. São muitos, por isso, os momentos emotivos e, na história de cada personagens, havia ainda o potencial para muito mais. Qualquer uma dos caminhos que se cruzam neste enredo daria, por si só, uma história mais extensa. Ainda assim, a relativa brevidade confere uma certa leveza, que acaba por ser adequada ao ambiente mágico da viagem.
Simples, apesar das muitas personagens que a povoam, Uma Noite no Expresso do Oriente acaba, pois, por ser uma leitura leve e envolvente, com alguns surpresas e emoção quanto baste. Uma boa leitura, portanto.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Revelada (P.C. Cast e Kristin Cast)

Apesar do último confronto e de todas as mudanças que ocorreram na Casa da Noite, Neferet está longe de derrotada. Oculta nas sombras, revive o passado e recupera forças. E, quando regressar, estará mais forte que nunca. Cabe, por isso, a Zoey e ao seu grupo encontrar uma forma de impedir os seus planos, sejam eles quais forem. Mas também no seio da Casa da Noite há conflitos e a intervenção de Neferet colocou em causa a relação com os humanos. E há ainda um conflito interno mais grave, já que Zoey tem também uma batalha a travar consigo própria.
Décimo primeiro volume da série Casa da Noite, não há muito a dizer sobre este livro que não tenha sido, de alguma forma, referido relativamente aos anteriores. As características são, essencialmente, as mesmas, quer a nível de escrita, quer de desenvolvimento do enredo e das personagens. E, por isso mesmo, e apesar de algumas mudanças de rumo interessantes, também os pontos fortes e os pontos fracos seguem na mesma linha.
Começando pelos pontos fortes, mantém-se o mesmo estilo de escrita simples, mas cativante, que, sem grandes elaborações descritivas ou de linguagens, se centra na narração do enredo, o que dá à história um ritmo envolvente. Mantêm-se também os diálogos algo adolescentes de algumas personagens, mas de uma forma mais moderada, talvez devido às circunstâncias mais sombrias. O resultado disto é uma certa leveza, sempre presente, mesmo nos momentos mais negros e que cria um agradável contraste relativamente a esse lado sombrio.
Outro ponto interessante é a capacidade de redenção de algumas personagens, que, não sendo propriamente inesperada, proporciona vários bons momentos. Além disso, há um elemento novo neste livro. Ao percorrer partes do passado de Neferet, a sua faceta de vilã é colocada sob uma nova perspectiva, o que abre caminho a algumas possibilidades interessantes quanto ao que virá no volume final.
Quanto a Zoey e companhia, cativa, ainda, o equilíbrio entre os aspectos que unem o grupo e as diferenças que distanciam os seus elementos, bem como algumas ligações parecem mudar. Além disso, há um mistério em torno de Zoey, ou de uma visão a ela associada, que, mais uma vez, sem ser completamente surpreendente, cria algumas situações de tensão e contribui em muito para o impacto do final.
Ainda falando de Zoey, mas num aspecto menos conseguido, retoma-se neste volume a questão dos possíveis múltiplos namorados. Felizmente, não é algo que surja com tanto destaque como nos primeiros volumes, mas acaba, ainda assim, por parecer um pouco forçado, principalmente atendendo ao que se vive na Casa da Noite.
Trata-se, portanto, de um livro que mantém as mesmas características dos restantes volumes da série. E que, por isso, não sendo particularmente surpreendente, continua a proporcionar uma leitura agradável e cativante, tal como os anteriores.

Novidade Marcador

Londres, 1895. Duas raparigas empreendem uma viagem de barco rumo à Nova Zelândia e tornam-se amigas. Trata-se, para ambas, do início de uma nova vida como futuras esposas de dois homens que não conhecem. Gwyneira, de origem nobre, está prometida ao filho de um magnata da criação de ovelhas, enquanto Helen, uma jovem preceptora, parte para se casar com um fazendeiro. Procuram encontrar a felicidade num país que promete ser o paraíso. No entanto, as ilusões de ambas depressa se esfumam, principalmente quando descobrem que a sua amizade está em perigo porque os maridos são inimigos. 
Gwyneira e Helen são mais fortes do que acreditam ser e rompem com os preconceitos e as restrições da sociedade em que vivem, mas serão capazes de alcançar o amor e a felicidade do outro lado do mundo?

SARAH LARK é um pseudónimo de Christiane Gohl. Nascida na Alemanha, vive atualmente em Almería, Espanha. Formou-se em Educação e trabalhou como guia turística, redactora publicitária e jornalista. A inclinação para a escrita marcou todos os empregos por que passou. 
Com uma produção literária vastíssima, alcançou o sucesso de vendas e o reconhecimento literário graças à saga maori, cujo primeiro volume é o livro que agora publicamos: No País da Nuvem Branca. 
Com mais de dois milhões de leitores em todo o mundo, escreverromances não é, para ela, muito mais do que sonhar acordada.

Novidade Quetzal

Os «felizes» do romance de Yasmina Reza (o título é inspirado no Sermão da Montanha do Evangelho segundo São Mateus) são personagens de uma comédia humana que todos conhecemos: elas são atormentadas, cheias de raiva, histéricas, coladas a um quotidiano que já não controlam; eles, obcecados por um futuro que não conseguem imaginar, um futuro de desejos gorados, doenças e crises. 
Yasmina Reza retrata momentos fugidios do dia a dia das personagens, também elas narradoras da sua história, e da dos outros, em capítulo próprio: a amizade, a filiação, o amor, a realização, a dependência. Tudo numa escrita seca, divertida e lúcida – em que «as emoções são assassinas».  

Yasmina Reza nasceu em Paris, em 1959, filha de um judeu iraniano e de mãe húngara. É dramaturga, argumentista, atriz e romancista, e uma das figuras mais conhecidas das artes do palco em França. Felizes os Felizes é o seu primeiro livro de ficção publicado em Portugal. 
Yasmina Reza tem sido galardoada com as mais importantes distinções, como o Prémio Molière, que recebeu em 1987, 1988, 1990 e 1994 (para melhor autora, melhor tradução, melhor produção, e para melhor autora, peça e produção, respectivamente); ou o Prémio Laurence Olivier, em 1998 e em 2009, para melhor comédia; recebeu o Tony em 1998 e em 2009 – para melhor peça, a muito aclamada O Deus da Carnificina (interpretada, entre outros, por Jeff Daniels, James Gandolfini ou Ralph Fiennes),posteriormente também adaptada ao cinema (por Roman Polanski com interpretações de Jodie Foster, Christoph Waltz e Kate Winslet).

terça-feira, 22 de abril de 2014

A Beleza das Coisas Frágeis (Taiye Selasi)

Cirurgião de sucesso, mas um fracasso enquanto pai de família, Kweku Sai encontra a morte de forma inesperada, junto a casa, ao amanhecer. Em vida, dedicou-se inteiro ao exercício da sua profissão, para se ver consumido por ela e, assim, lançado num exílio auto-imposto. Agora, a sua partida chega ao conhecimento daqueles que abandonou. A primeira mulher e os quatro filhos recebem a notícia com um coração pesado de memórias dolorosas. E, por tudo o que atravessaram, com ele e, principalmente, depois dele, o regresso para o último adeus é doloroso. Ainda que possa ser, também, o encerrar de assuntos inacabados.
Contada da perspectiva dos diferentes elementos da família e oscilando entre diferentes pontos da linha temporal, esta é uma leitura que nunca será fácil. Ao percorrer diferentes pontos da vida das personagens, não numa linha definida, mas saltando entre diferentes momentos, a história global revela-se aos poucos, à medida que os grandes acontecimentos emergem das pequenas coisas. 
A primeira impressão é, inevitavelmente, de estranheza, com fragmentos de episódios a criarem alguma dispersão, como que semeando pistas para revelações que virão mais tarde. A história de Kweku, no momento da morte, do que viveu com a família, dos sonhos e do abandono, é feita de momentos, contados como que ao ritmo da memória, com avanços e recuos no tempo. Nesta fase, o que primeiro cativa é a fluidez da palavra, a forma como a autora molda impressões e emoções numa voz particular e cativante. Que basta para manter a vontade de saber o que se seguirá.
A partir da segunda parte, ultrapassa-se a estranheza e instala-se um equilíbrio de familiaridade e mistério. Familiaridade, porque o essencial de quem são as personagens já foi revelado, e mistério, porque abre-se o caminho para que as suas verdadeiras profundidades sejam exploradas. A história da família de Kweku, antes e depois da morte, torna-se agora o centro, com o passado a emergir com o conhecimento da morte. Revela-se assim toda uma teia de relações, de experiências marcantes, de uma ligação familiar com tanto de disfuncional como de comum.
E daqui emerge também a emoção, seja nos grandes momentos que definiram o rumo dos filhos de Kweku Sai, seja no que pensam e no que fazem para redimir ou ultrapassar o passado. Grandes momentos e pequenos gestos dão forma a um equilíbrio quase perfeito, em que marca tanto o episódio em si, como toda a base de causas e consequências que lhe estão associadas. E a escrita, ainda e sempre, bela, fluída e cativante, a tornar mais clara e mais completa a visão de uma vida com tanto de sombrio como de inocente.
Com uma escrita belíssima, personagens complexas e uma história que percorre todo um espectro de relações e de emoções, A Beleza das Coisas Frágeis pode não ser uma leitura fácil. Mas fica, sem dúvida, na memória. Muito bom.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O Ano do Cão (Roderick Nehone)

Reformado, esquecido pela filha que há muito lhe guardava ressentimentos e sem meios de sobreviver, Rivelino encontrou no asilo uma forma de viver o resto dos seus dias. Mas a sua tranquilidade é abalada no momento em que um cão o segue e se instala na sua vida. Começa assim uma batalha entre duas vontades, humana e canina. E, por entre o desvendar de um passado que, para ambos, foi cheio de mudanças, começa a afigurar-se inevitável uma única conclusão para o conflito.
Escrito em capítulos curtos e com uma voz aparentemente simples, ainda que com surpreendentes laivos de poesia, este é um livro que consegue apresentar, em simultâneo, um enredo de surpreendente profundidade e uma história de leitura leve. Oscilando entre o presente, da batalha entre cão e homem, e os acontecimentos do passado, quer de Rivelino, quer dos anteriores donos do cão, o autor apresenta uma história que não é, na verdade, de grandes momentos (exceptuando, talvez, o clímax da batalha) mas principalmente do percurso gradual das personagens e da forma como evoluem com o mundo que as rodeia. Rivelino segue do sucesso ao abandono. Cassundinho parece fazer o percurso contrário. Mas na estrada que ambos têm em comum, e que é a vida, afinal, une-os um percurso de crescimento e de reconhecimento. A humanidade das suas histórias e experiências torna-os humanos. E, por isso mesmo, tudo o que vivem é cativante.
A mudança de perspectivas entre as diferentes personagens, e entre quem são em cada momento, permite também observar a evolução do cenário em que se movem. Desde as mudanças resultantes da revolução e da chegada da independência à pobreza vivida pelas crianças de rua, este retrato de um lugar levanta questões pertinentes, ao mesmo tempo que torna mais reais as vidas das personagens. Também isso faz parte do que torna este livro memorável.
Falta ainda falar do cão, também ele personagem relevante e com direito ao seu próprio ponto de vista. Com vários capítulos escritos da sua perspectiva, enquanto adversário do velho Rivelino, também a sua natureza se revela inesperadamente complexa, com pensamentos e motivações particulares e um percurso de vida também difícil e repleto de mudanças. Também esta particularidade coloca o conflito sob uma perspectiva diferente, já que, do confronto entre humano e animal, a batalha passa a ser antes entre duas mentes, ambas próximas do fim da vida, mas ambas com vontades bem claras. Iguais, em suma, no essencial.
Cativante e de aparente leveza, mas com uma grande profundidade a revelar, O Ano do Cão é, pois, uma leitura envolvente e surpreendente, com uma perspectiva muito interessante sobre a vida e o que a define, desde os primeiros anos até aos últimos dias. Muito bom.

Novidade Porto Editora

Há segredos que não podem ficar enterrados para sempre… 
Numa encosta perto de Reiquejavique, algumas crianças brincam junto aos alicerces de uma nova casa em construção quando, de forma inesperada, encontram uma costela humana. 
A mórbida descoberta leva de imediato o inspector Erlendur e a sua equipa da polícia científica a instalarem-se no terreno, unindo esforços para desenterrar o resto do corpo secretamente sepultado e ao mesmo tempo investigar aquele estranho caso feito de contornos brutais, escondido debaixo da terra desde o período da II Guerra Mundial. 
À medida que cada osso vai sendo desvendado, também a história de violência doméstica e corrupção no seio de uma família vem ao de cima, oferecendo àquele mistério sinais cada vez mais tenebrosos de que o terror pode ser coisa de gente comum. 
O caso exige toda a coragem que o inspector Erlendur possa encontrar em si, ele que, assistindo à morte lenta da própria filha toxicodependente, que depois de abortar entra num coma profundo, não pode evitar confrontar-se com as responsabilidades de ter levado, também ele, a sua família a uma degradação quase completa.

Arnaldur Indriđason (Reiquejavique, 1961) é historiador, jornalista e crítico literário e de cinema. Durante vinte anos trabalhou para o Morgunbladid, o mais importante diário da Islândia, antes de se dedicar à escrita a tempo inteiro. Publicados em vinte e seis países, os seus romances rapidamente se tornaram bestsellers. A sua vasta obra tem recebido inúmeros prémios, entre os quais se destacam o Prémio Chave de Vidro (2002 e 2003), atribuído pela Associação Escandinava do Romance Policial, e o CWA Gold Dagger.

domingo, 20 de abril de 2014

Linhas Invisíveis (J. Pedro Baltasar)

O primeiro a morrer é um homem rico e, por isso, com muitos inimigos. A morte é rápida, consumada à distância. E, por isso, há poucas pistas. Mas a morte de Robert Brannagh é apenas o início de um plano elaborado, em que as vítimas e os movimentos estão escolhidos e tudo se planeia através de linhas invisíveis, como se num jogo de xadrez. É também esse plano que arrasta Michael Burnett para a investigação dos crimes, pois também ele tem uma ligação ao passado de um assassino que, bem diferente agora de quem foi, carrega, ainda, as mesmas mágoas e o mesmo ressentimento.
Tendo como linha central um plano de vingança e, de certa forma, o jogo que lhe está associado, um dos pontos fortes deste livro é o desenvolvimento de algumas partes do mistério. Nem todas surpreendentes, porque a oscilação entre presente e passado revela, bem antes do final e de forma muito clara, quem é o culpado, mas intrigantes, quer pela forma como são desenvolvidas, quer pelo caminho que, apesar de previsível em alguns aspectos, surpreende com alguns toques de inesperado.
Também muito interessante é o desenvolvimento das personagens no passado e no presente, com particular ênfase para a mudança operada sobre David, mas também relativamente às restantes figuras centrais do enredo. A isto, acrescenta-se um lado sombrio, associado principalmente aos crimes, mas também a algumas crueldades de juventude, que torna o enredo mais intenso, ao mesmo tempo que cria, apesar de tudo, uma certa empatia para com as circunstâncias passadas de quem virá a ser o assassino.
A nível de escrita, notam-se alguns lapsos a nível de revisão (principalmente no que diz respeito à pontuação) e uma ou outra incongruência de descrição. Ainda assim, são erros pontuais, pelo que não afectam em demasia o ritmo da leitura. Além disso, à medida que personagens e planos se tornam mais conhecidos, o ritmo intenso do enredo acaba por colocar em segundo plano estes pequenos lapsos.
A soma de tudo isto é um livro que se inicia de forma algo dispersa, mas que evolui, com o adensar do mistério e o crescimento da empatia, para uma história cativante e interessante. Gostei, portanto.

sábado, 19 de abril de 2014

A Guerra dos Tronos - vol. 3 (George R.R. Martin)

Adensam-se as intrigas e os planos traçados na sombra do trono de Robert Baratheon. Eddard Stark, Mão do Rei, encontra-se no centro da intriga dos seus vários inimigos, fragilizado, mas determinado a seguir pela via da honra que sempre o orientou. Mas, no jogo dos tronos, ou se ganha ou se morre. E há um segredo que, se revelado, poderá ser o início de uma vasta mudança. Entretanto, ao longe, outros inimigos se avultam. Mas esses ameaçam mais que um homem. Podem ser, talvez, o fim dos Sete Reinos.
Terceiro volume desta adaptação a banda desenhada, os pontos fortes deste livro são, essencialmente, os mesmos dos anteriores. Mais uma vez, as imagens vêm substituir a descrição, apresentando uma perspectiva diferente sobre cenário e personagens, ao mesmo tempo que, mais centrada nas cenas essenciais, sobressai a intensidade dos grandes momentos. Além disso, o rumo da história continua a manter-se fiel ao livro original, pelo que a sensação que fica é, acima de tudo, de reencontro com as personagens, o que, numa história como esta, é sempre algo de muito bom.
Também um ponto interessante é que, apesar de, em certa medida, este volume se centrar em acontecimentos preparatórios para as ditas grandes mudanças, há, ainda assim, na escolha do ponto onde termina, um ponto de tensão que, principalmente para quem apenas conheça esta adaptação, cria grandes expectativas quanto ao que se seguirá. Esta parte da história é feita, em grande medida, de planos e de intrigas, pelo que são muitas as possibilidades em aberto. Assim, o que fica é uma grande curiosidade em saber de que forma prosseguirão as coisas, ou, no caso de quem já conhece a história, como virão a ser representadas.
Mais uma vez, a imagem adapta-se na perfeição ao que define o mundo e as personagens, apresentando uma representação em tudo adequada da narrativa que serve de base. Neste aspecto, sobressai ainda um tom progressivamente mais sombrio, como que associado aos muitos presságios funestos associados à evolução do enredo.
Tudo isto faz deste terceiro volume uma leitura que não desilude. Fiel à história, mas traçando-a sob uma nova forma, é, sem dúvida, um bom regresso e um bom complemento. Muito bom.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Há flores de plástico e gravilha a enterrar a memória (Paulo Alexandre e Castro)

A morte enquanto passagem para a eternidade, aos olhos dos que ficam e numa perspectiva que se expande para além do ritual. Assim se poderia definir, em poucas palavras, o tema central deste livro, de título longo, mas relativamente breve e muitíssimo interessante. Composto por um conjunto de poemas também eles maioritariamente breves, o retrato final que sobressai desta leitura é o de uma ponderação sobre a morte e sobre a vastidão do que ela representa.
E é de todas as possibilidades e questões a considerar que sobressai o que primeiro cativa neste conjunto de poemas. É que, sempre presente, ainda que, nalguns casos, discretamente, há uma quase história que se insinua nas palavras e que confere ao livro uma impressão de unidade. Ao mesmo tempo, dessa unidade definida pelas impressões da perda, surge uma perspectiva que é próxima e pessoal e que, por isso mesmo, dá ao leitor algo com que se identificar. Afinal, a morte é, ainda e sempre, algo de universal, pelo que é fácil reconhecer na perspectiva do sujeito poético os traços de uma experiência, ou de um núcleo de sentimentos, que todos, de alguma forma, reconhecem.
Se o impacto global do conteúdo é forte, também a forma como é moldado tem a sua força. Ainda que muitos dos poemas sejam breves, todos eles são, em si mesmos, uma obra completa. E, de cada um deles, há versos que se entranham na memória, palavras que evocam algo de diferente e, ao mesmo tempo de familiar. Bastam alguns poemas para tornar esta leitura memorável. O conhecimento do todo apenas acentua essa impressão.
O que fica, portanto, deste conjunto é a impressão de uma leitura breve, mas de complexidades surpreendentes, e com um olhar muito próximo, mas muito preciso, sobre um tema que é, afinal de contas, universal. Vale, pois, muito a pena ler este livro. Muito bom.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Novidades Bizâncio

Título: O Futuro da Mente
Subtítulo: A Demanda Científica para compreender, aperfeiçoar e reforçar o poder da mente
Autor: Michio Kaku
ISBN: 978-972-53-0543-0 
Págs.: 464
Preço: Euros 16,04 / 17,00
Ciência/Divulgação Científica

O consagrado autor de A Física do Impossível, A Física do Futuro e Mundos Paralelos aborda neste livro o mais complexo objecto de todo o Universo conhecido: o Cérebro Humano. Os segredos de um cérebro activo começam a ser revelados graças aos computadores e aos novos métodos de ressonância magnética. Nas últimas duas décadas, o que antes era domínio apenas da ficção científica, tornou-se realidade. Tecnologias consideradas impossíveis, como a gravação de memórias, a comunicação telepática, o registo vídeo de sonhos e a telecinesia, foram demonstradas em laboratório. O Futuro da Mente traz-nos uma perspectiva conhecedora e detalhada da espantosa investigação que se faz em todo o mundo – baseada nos últimos progressos das neurociências e da física. Talvez um dia possamos tomar uma «pílula da inteligência», que aumente a nossa capacidade de conhecimento; fazer um upload do nosso cérebro para um computador, neurónio a neurónio; talvez possamos controlar computadores e robots com a mente; alargar os limites da mortalidade; e até enviar a nossa consciência para o Universo.
Michio Kaku leva-nos numa visita guiada ao que o futuro da mente nos reserva, do ponto de vista de um físico. Não só nos explica de forma consistente como funciona o cérebro, como também nos indica como as tecnologias de ponta poderão vir a alterar o nosso quotidiano permitindo-nos uma outra compreensão das doenças mentais e da inteligência artificial. Com o conhecimento que Michio Kaku tem da ciência moderna, e dada a sua capacidade de prever os desenvolvimentos futuros, O Futuro da Mente é uma obra imperdível sobre a expansão das fronteiras das neurociências.
  
Título: A Economia Desumana
Subtítulo: Porque mata a austeridade
Autor: David Stuckler e Sanjay Basu
ISBN: 978-972-53-0542-3 
Págs.: 304
Preço: Euros 15,09 / 16,00
Economia/Actualidade

«Neste livro, em vez de debitarmos opiniões ideológicas, apresentamos factos, explicações e provas.»
David Stuckler e Sanjay Basu

Este é o primeiro livro que aborda o debate político e económico sobre a crise com uma perspectiva nova e muito necessária: o seu custo humano. A recessão global teve um impacto brutal na riqueza das nações, porém, ignoramos de que modo afecta um aspecto fundamental: o bem-estar físico e mental dos cidadãos. Por que razão, perante crises idênticas, a saúde pública nalgumas nações (como na Grécia) se deteriora gravemente e noutras (como na Islândia) chega mesmo a melhorar? Após uma década de investigação, David Stuckler e Sanjay Basu demonstram-nos que, mesmo perante as piores catástrofes económicas, os efeitos devastadores na Saúde Pública não são inevitáveis. É a má gestão dos governos que pode conduzir a um saldo desastroso de tragédias humanas. A Economia Desumana apresenta uma conclusão demolidora: os cortes orçamentais prejudicam gravemente a saúde. São as receitas de austeridade que agravam fatalmente os efeitos da crise, mutilando programas de apoio social, fundamentais precisamente no momento em que são mais necessários, agravando as taxas de desemprego e impedindo a recuperação económica. Este livro defende que as decisões económicas não são apenas uma questão ideológica, de taxas de crescimento e de défices orçamentais, são também questões de vida ou de morte. Só um sistema mais justo e igualitário, acompanhado de políticas inteligentes, poderá garantir o bem-estar e o desenvolvimento económico das sociedades.

terça-feira, 15 de abril de 2014

O Bibliotecário (A.M. Dean)

Tudo começa com a descoberta de um crime, no dia em que, ao chegar ao trabalho, a doutora Emily Wess descobre que um dos grandes vultos da sua universidade foi assassinado. Mas mal tem tempo de assimilar o facto, antes de descobrir que os últimos passos do professor foram no sentido de lhe deixar algumas pistas e uma revelação. Aparentemente, a Biblioteca de Alexandria não foi destruída, mas apenas escondida, e prevaleceu, assim como a Sociedade responsável pela sua preservação. Mas há grandes motivos por detrás do secretismo. Uma outra sociedade secreta busca o conhecimento da Biblioteca como um meio de alcançar o poder e a descoberta de uma lista dos seus membros lançou o Conselho numa missão de remoção de pontas soltas. Emily recebe, por isso, uma missão que a colocará em perigo. Ainda assim, não consegue resistir à promessa de um conhecimento tão vasto. Resta-lhe, pois, seguir as pistas...
Conjugando elementos históricos, sociedades secretas e teorias da conspiração, este é um livro que, numa perspectiva global, segue as linhas básicas da fórmula do thriller histórico. Há pistas a seguir, viagens a lugares antigos, uma conspiração que ameaça a vida dos protagonistas e a estabilidade global do mundo e situações perigosas em abundância. Tendo em isto em consideração, não é difícil prever, em certa medida, o rumo geral dos acontecimentos. Ainda assim, esta relativa previsibilidade não retira envolvência ao enredo.
Parte do que torna esta história viciante é a forma como está escrita. Capítulos curtos e um ritmo de acção constante, associados a alguns desenvolvimentos interessantes a nível de mistério, mantêm viva a curiosidade em saber mais sobre o que está a acontecer. A forma como as pistas são seguidas tem, aliás, um ponto particularmente interessante na forma como a uma solução mais fácil se associa um segundo sentido mais difícil de alcançar. Isto contribui para que o que poderia ser uma forma demasiado fácil de dar seguimento ao enredo se torne um pouco mais complexa e, por isso, mais interessante.
Também interessante é uma certa ambiguidade de sentimentos, por parte da protagonista, relativamente ao secretismo da Sociedade. Sendo esta uma história que vive do conflito entre duas sociedades secretas, uma das quais pretende assumir o papel dos bons, é interessante notar que, apesar do papel para ela escolhido no seio da sociedade, Emily não deixa de questionar a validade da decisão de esconder ou manipular a informação. Esta capacidade de questionar acaba por ser, aliás, um dos melhores traços da protagonista, contrabalançando uma certa ingenuidade na forma como lida com algumas situações.
E depois há o final, não exactamente surpreendente na conclusão global, mas intenso quanto baste e com um toque de inesperado nos pequenos pormenores. Adequado ao rumo dos acontecimentos, acaba por encerrar da melhor forma o intenso percurso de Emily Wess.
A soma de tudo isto é, pois, uma história sem grandes surpresas, mas com um enredo cativante, vários momentos bons e uma perspectiva interessante sobre o valor do conhecimento. Gostei.

Novidade Marcador

Prometo Falhar é um livro de amor. 
O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e liberta. O amor. 
No seu estilo intimista, quase que sussurrado ao ouvido, Pedro Chagas Freitas leva o leitor aos estratos mais profundos do que sente. E promete não deixar pedra sobre pedra. 
Mergulhe de cabeça numa obra que mostra sem margem para equívocos porque é que é possível sair ileso de tudo. Menos do amor.

PEDRO CHAGAS FREITAS escreve. Publicou 22 das mais de 150 obras que já criou. Foi, ou ainda é, jornalista, redactor publicitário, guionista, operário fabril, barman, nadador salvador, jogador de futebol, e muitas outras coisas igualmente desinteressantes. Orienta desorientadas sessões de escrita criativa por todo o país e arredores. Gosta de gatos, de cães e de pessoas. Não gosta de eufemismos e de bacalhau assado.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Novidades Planeta

Tendo como pano de fundo uma corte exuberante e vibrante com personagens inesquecíveis e figuras históricas, a autora recria com rigor histórico o ambiente da Renascença italiana. 
Uma história de coragem e ambição sobre uma condessa cuja vontade e paixão não conheciam limites. Jeanne Kalogridis consegue de forma magistral mostrar-nos a história verdadeira da Itália renascentista, através da vida de uma mulher nascida na época errada que mostrou uma força surpreendente num mundo dominado pelos homens, na segunda metade do século XV. 
Filha do duque de Milão e mulher do conivente conde Girolamo Riario, Catarina Sforza foi a guerreira mais corajosa do Renascimento italiano. 
Governou os seus territórios, travou as suas lutas e teve sempre os amantes que lhe apeteceu, sem consequências até ter um caso com Rodrigo Bórgia. 
A sua história notável é contada pela dama de companhia, Dea, uma mulher conhecida por ler as cartas de sorte, as antecessoras do tarô dos nossos dias. 
Enquanto Dea tenta descobrir a verdade sobre o assassínio do marido, Catarina, sozinha, rechaça os invasores que tentarão roubar-lhe o título e as terras. 
No entanto, Dea lê as cartas e estas revelam que Catarina não pode fazer frente a um terceiro e último invasor: nada mais, nada menos do que César Bórgia, filho do corrupto papa Alexandre VI, que tem umas velhas contas a ajustar com Catarina. 
Encurralada na fortaleza de Ravaldino enquanto os canhões de Bórgia atingem as muralhas, Dea passa em revista o passado escandaloso e os combates de Catarina para compreender o destino de ambas, e Catarina tenta corajosamente aniquilar o exército inexpugnável de Bórgia. 

Chega agora mais um livro da aclamada série da adaptação em banda desenhada de A Guerra dos Tronos, a terceira parte da saga best-seller em todo o mundo, que conta com quatro volumes. 
George R. R. Martin junta-se ao conhecido romancista Daniel Abraham e ao ilustrador Tommy Patterson para dar uma nova vida à obra-prima da fantasia heróica A Guerra dos Tronos, como nunca foi visto em graphic novels a cores, dando uma visão única do mundo idealizado por Martin. 
George R. R. Martin trabalhou dez anos em Hollywood como escritor e produtor de diversas séries e filmes de grande sucesso. 
Autor de muitos best-sellers, foi em meados dos anos 90 que começou a sua mais famosa obra: A Guerra dos Tronos, que se tornou na saga de fantasia mais vendida dos últimos anos.

Um relato pormenorizado de todos os passos, reuniões, planos, êxitos e vicissitudes, até ao dia da operação que pôs fim ao Estado Novo e devolveu a liberdade aos portugueses. 
Este livro traça o roteiro da preparação da Revolução e a evolução política dos conspiradores: 

A contestação ao congresso dos combatentes, em Junho de 1973. 
O spinolismo e o Movimento na Guiné. 
Os passos do Movimento em Angola e Moçambique.
A reunião inaugural do Movimento dos Capitães em 9 de Setembro, no Alentejo. 
A influência do livro do general Spínola Portugal e o Futuro. 
As consequências do 16 de Março, em Caldas da Rainha. 
A aprovação do programa político elaborado pelo major Melo Antunes. 
O plano de operações e o desencadear da acção a 25 de Abril. 
O povo unido. 
A origem de classe dos capitães.

domingo, 13 de abril de 2014

O Pistoleiro (Stephen King)

Sozinho em perseguição do homem de negro, o pistoleiro avança na sua demanda. Quem é, ou de que forma o passado o moldou, não importa, não quando cada dia de viagem o aproxima mais do seu adversário. Mas o caminho é longo e difícil. Atravessando uma cidade, encontrará os braços abertos de uma mulher e uma armadilha mortal. No meio do nada, tem à espera um companheiro e um sacrifício. E, de olhos postos no futuro, o passado começa a insinuar-se no seu pensamento, com reminiscências de um mundo diferente e de uma outra jornada - a do crescimento - que ficou para trás.
Primeiro volume de uma saga bastante extensa, este é um livro que, a princípio, se caracteriza por dois elementos: mistério e ambiguidade. À partida, nada é claro. Nem as razões da perseguição, nem as identidades do pistoleiro e do homem de negro, nem mesmo o que aconteceu ao mundo que ambos percorrem. Em resultado disto, o que se cria é um ambiente que cativa pelo que insinua de uma intriga mais vasta e pelo mistério que lhe está associado, mas que começa por ser algo vago, já que o desconhecimento das motivações e da história do protagonista criam uma certa distância. Neste aspecto, ter lido antes A Lenda do Vento (que, apesar de se situar cronologicamente numa fase mais adiantada da demanda, funciona bem como introdução, já que facilita o conhecimento do mundo e das personagens) ajuda, de certa forma, a superar este início mais ambíguo.
Tudo muda a partir do momento em que o pistoleiro passa a ser identificado. No contacto com outras personagens, e devido, em parte, ao seu próprio percurso, a jornada de Roland deixa de ser apenas a perseguição e volta-se, também, por vezes, para o passado. É esse passado, aliás, que o humaniza e, por isso mesmo, a história torna-se bastante mais envolvente a partir daí. Continua a haver muito por esclarecer, tanto no contexto global da jornada como nas aparentes contradições e dilemas de Roland, mas a personalidade (e as razões que a moldaram) tornam-se agora mais claras. 
A isto associa-se ainda uma muito interessante mistura de estranheza e fascínio, resultante da caracterização de um mundo tão diferente, em certas coisas, mas tão próximo da realidade conhecida, e de um sistema (vindo, em grande medida, do passado de Roland) de vastíssimas possibilidades. Assim, do mistério à revelação, a história vai-se tornando progressivamente mais cativante, com alguns momentos de acção particularmente intensos e um toque de emoção que, apesar de discreto e, também ele, ambíguo, coloca as escolhas - e o carácter - de Roland sob uma nova perspectiva.
Cheio de enigmas, mas estranhamente cativante, este é, pois, um livro que deixa, ainda, muito por esclarecer. Mas que, com a evolução da jornada, apresenta já um protagonista forte para um percurso que promete grandes momentos. Intrigante e surpreendente, um belo ponto de partida para uma história de vasto potencial.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Uma Família Feliz (David Safier)

Paz e harmonia não fazem parte dos horizontes da família Von Kieren. Emma, a mãe, está em dificuldades com a sua livraria infantil, prestes a falir. Frank, o pai, não vê senão o trabalho e o cansaço que dele resulta. E quanto a Ada e Max, os filhos, têm os seus próprios problemas e a única coisa que querem é aturar os pais. Mas tudo muda no momento em que, depois do que devia ter sido uma saída em família e acabou em mais uma discussão, a bruxa Baba Yaga surge e, com uma maldição, os transforma em monstros. À falta de melhor, os Von Kieren parecem ter agora um objectivo em comum: encontrar a bruxa e obrigá-la a anular a maldição. Mas isso não será nada simples...
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é que, apesar de apresentar um enredo muitíssimo improvável, a conjugação de todos os elementos - bizarria, humor, estranheza e uma certa medida de emoção - tem tudo para resultar numa leitura viciante. Leve e descontraída, a história dos Von Kieren define-se pelos muitos momentos divertidos e caricatos que protagonizam, mas também, e acima de tudo, pelo que são enquanto família. E a fusão destes dois aspectos, o surreal e o universal, é, sem dúvida, um dos grandes pontos fortes deste Uma Família Feliz.
Parte do que torna esta história peculiar diz respeito também à sua base sobrenatural. Desde a maldição de Baba Yaga aos planos do príncipe Drácula, passando, é claro, pelas mudanças operadas nos próprios Von Kieren, há toda uma diversidade de elementos sobrenaturais que vão sendo desenvolvidos ao longo do enredo. Neste aspecto, é interessante notar que, apesar desta diversidade, que vai desde as múmias aos vampiros, passando pelos lobisomens e pelo próprio monstro de Frankestein, há uma certa harmonia entre os diferentes elementos, talvez porque não há uma necessidade de caracterizar ou justificar em detalhe o que define cada criatura, mas antes uma base de relações curiosas, que englobam tanto o lado sobrenatural como o simplesmente humano.
Mas o essencial é o humor. E é precisamente neste aspecto que as melhores qualidades da história sobressaem. Seja nos episódios caricatos, seja nos diálogos mais surpreendentes, seja ainda na forma como o lado sério da história se insinua através dos muitos momentos divertidos, há, ao longo de todo o enredo, um equilíbrio entre elementos - humor, emoção e acção quanto baste - que facilmente vicia. 
O resultado de tudo isto é uma história leve e divertida, com tanto de caricato como de cativante e com uma muito bem conseguida relação entre os elementos sérios  e o humor resultante das muitas peculiaridades do enredo e das personagens. Muito bom, em suma.

Novidade Bertrand

Depois de seu confronto com o homem de preto no final de O Pistoleiro, Roland acorda e encontra três portas na praia do mar Ocidental. Todas elas o conduzem a Nova Iorque, mas em três momentos distintos no tempo. Através destas portas, Roland vai ao encontro das três personagens cruciais para a sua busca da Torre Negra. 
Em 1987, ele encontra Eddie Dean, o Prisioneiro, um jovem viciado em heroína. Em 1964, conhece Odetta Holmes, a Senhora das Sombras, uma afro-americana que perdeu as pernas num acidente de metro e ganhou uma segunda personalidade. E em 1977, encontra Jack Mort, um homem responsável por crueldades inimagináveis. 
Será que Roland encontrou novos companheiros para a demanda? Ou terá ele desencadeado algo totalmente diferente? 
Passada num mundo de circunstância extraordinárias, com um imaginário visual espantoso e personagens inesquecíveis, a série A Torre Negra é ímpar. A obra mais visionária de Stephen King é um misto mágico de fantasia e horror. 

Stephen King, apelidado por muitos de «mestre do terror», escreveu mais de quarenta livros, incluindo Carrie, A História de Lisey e Cell, Chamada para a Morte. Vencedor do prestigiado National Book Award e nomeado Grande Mestre nos prémios Edgar Allan Poe de 2007, conta hoje com mais de trezentos milhões de exemplares vendidos em cerca de trinta e cinco países. Números e um currículo impressionantes a fazerem jus ao seu estatuto de escritor mais bem pago do mundo.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Ligeiramente Perverso (Mary Balogh)

Judith Law sabe que o seu futuro não é nada promissor. Enviada para casa de uma tia devido às dificuldades financeiras da família, tudo o que a espera é a vida de uma serviçal. O que não espera é que a diligência em que viaja sofra um acidente e que o homem a vir em seu socorro seja Rannulf Bedwyn. A caminho da casa da avó e do que sabe que será uma nova tentativa de lhe arranjar uma noiva, Rannulf vê na bela jovem que diz ser uma actriz uma muito bem-vinda distracção. Judith vê nele a possibilidade de, por algumas horas, viver o sonho de outra vida. Mas o que era para ser uma aventura sem consequências acaba por se revelar algo mais, quando, pouco tempo depois, os caminho de ambos voltam a cruzar-se.
Parte do que torna este livro - tal como o anterior da série - especialmente cativante é o facto de, apesar de se centrar no romance entre os protagonistas, haver outras figuras e acontecimentos envolventes a acrescentar algo mais ao enredo. Neste aspecto, sobressaem, desde logo, as estranhas relações e atitudes da família Bedwyn, com todas as peculiaridades a eles associadas. Já conhecidos de Ligeiramente Casados, as particularidades e formas de ser dos membros desta família fazem parte do que cativa para o enredo, tanto pelo inesperado de algumas circunstâncias pelo que nelas gera empatia.
E, falando em empatia, também a situação familiar de Judith contribui para criar uma impressão de proximidade. A vida familiar conturbada, os excessos repressivos dos pais e, particularmente, a sua situação de parente pobre tornam Judith numa figura com quem é fácil simpatizar. E a empatia cresce à medida que as qualidades escondidas sob a insegurança vão sendo reveladas, para mostrar a forma e as ideias de uma mulher forte e de coração aberto.
Desta personalidade carismática, mas vulnerável, e da forma como se conjuga com o crescimento de Rannulf, de nobre inconsequente a homem consciente, resulta um equilíbrio de personalidades muito bem conseguido. Judith e Rannulf completam-se, apesar de tudo o que os separa e é por isso que a evolução da relação entre ambos, apesar do ponto de partida inesperado, cresce de uma forma particularmente marcante.
Mas, claro, ainda que o romance entre os protagonistas seja um ponto muitíssimo interessante, não é o único a alimentar esta história. Há também uma certa medida de intriga, algum ciúme e uns quantos segredos para desvendar, que, associados ao dito romance e a um muito agradável toque de humor, conferem ao enredo uma maior intensidade.
A soma de tudo isto é uma história envolvente e emotiva, com vários momentos intensos e leveza e humor nas medidas certas. Ligeiramente Perverso está, assim, mais que à altura das expectativas criadas pelos anteriores livros da autora. Muito bom.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Corrida Perversa (Janet Evanovich)

Antes de conhecer Diesel, a vida de Lizzy Tucker decorria na mais absoluta normalidade. Agora, são muitos os encontros estranhos, as buscas perigosas e as situações caricatas em que se vê envolvida. Tudo por causa das famigeradas pedras SALIGIA, que parecem atrair o interesse de várias forças poderosas e que apenas Lizzy e um outro indivíduo são capazes de identificar. E a segunda pedra pode estar mais perto do que julgam. Tudo começa quando um professor universitário é atirado de uma janela por causa de um livro de sonetos. Daí surge a primeira pista para uma busca intensa e cheia de peripécias... Até porque a rivalidade já não se resume apenas a Wulf e Diesel. 
Caricato em muitos aspectos e cheio de situações inesperadas, este é um livro em que o essencial está no humor. Quer nas interacções entre as personagens, quer na evolução global da premissa, os elementos bizarros são dominantes, o que torna este livro numa fusão entre o insólito e o estranho.
Mas é precisamente desta peculiaridade, e de um sentido de humor um pouco inconsequente, mas cativante, que resulta uma história que, com tudo o que tem de peculiar, acaba por proporcionar uma leitura divertida e descontraída. Num cenário em que tudo é estranho, a ideia das pedras SALIGIA e os pequenas revelações que vão sendo feitas quanto ao que as caracteriza, apresentam uma base interessante para a busca dos protagonistas. E, quanto à interacção entre as personagens, pode parecer que algumas reacções são demasiado serenas, mas há, apesar disso, bastantes episódios bem conseguidos... e alguns desenvolvimentos intrigantes.
Ainda no que toca às personagens, sobressai um desenvolvimento interessante no que diz respeito aos (supostos) vilões. Tanto Wulf como Deirdre (e, em menor grau, Hatchet) são, à partida, poderes sombrios que é preciso combater. Mas, curiosamente, nem estes vilões são assim tão temíveis nem o conflito entre os dois lados é assim tão linear. Ora, este ponto, num enredo que é, na sua essência, bastante simples, acrescenta ainda um novo toque de peculiaridade que se torna particularmente interessante.
Leve e descontraído, cheio de estranheza, ainda que sem grandes surpresas, este é, em suma, um livro bastante simples, com uma história feita de pequenos momentos e de uma boa dose de peculiaridade. E, por isso, uma leitura agradável e divertida. Gostei.

Novidade Topseller

Quando Eden tinha dez anos, encontrou o pai, David, caído no chão da casa de banho. A tentativa de suicídio conduziu ao divórcio dos pais e David desapareceu quase por completo da sua vida. Vinte anos depois, Eden é uma chef bem-sucedida, mas após uma série de relacionamentos românticos falhados percebe que é tempo de procurar o pai, que se encontra a viver na rua, para poder perdoá-lo e seguir em frente.
A sua busca leva-a até um albergue para sem-abrigo e até Jack Baker, o director. Jack convence Eden a fazer trabalho de voluntariado no albergue e, em troca, ajuda-a na sua busca. À medida que Eden e Jack se apaixonam e a sua procura os aproxima de David, Eden vê-se obrigada a enfrentar as suas verdadeiras emoções e a dolorosa pergunta acerca do pai: será que depois de todos aqueles anos ele quer mesmo ser encontrado?

Escritora norte-americana formada em Sociologia, a experiência académica  de Amy Hatvany possibilitou-lhe um grande conhecimento da natureza humana. Nos seus livros aborda diversos temas controversos, incluindo doenças mentais, violência doméstica e alcoolismo.
É autora dos livros The Language of Sisters, Heart Like Mine, Safe With Me e de O Jardim das Memórias, o seu título de maior êxito, que a Topseller se orgulha de publicar. Os seus livros têm sido alvo de grandes elogios por parte da crítica. 

domingo, 6 de abril de 2014

Despedida de Casado (Virgílio Castelo)

Durante sete anos, João e Beatriz viveram um casamento intenso e atribulado. Agora, poucos meses depois do momento em que a ideia de divórcio surgiu pela primeira vez, vêem-se frente a frente, no que é suposto ser um pacto suicida, mas que João não consegue levar até ao fim. A iminência da morte, contudo, acaba por ser uma epifania - e o início do abismo da separação. Longe um do outro, João e Beatriz vivem novas experiências, conhecem novas paixões - e continuam a sentir-se puxados por uma atracção destrutiva. Pelo caminho, surgem as mudanças de vida e de sentimentos. Mas o fim... Esse, nem eles o conhecem.
Tendo em conta o facto de ter como premissa a história de uma relação, o que primeiro surpreende neste livro é o registo introspectivo e algo denso que domina a narrativa. A história do casal define-se por momentos intensos e por emoções contraditórias e, apesar disso, o que sobressai ao longo de todo o enredo é a reflexão, a ponderação sobre a vida dos protagonistas, o que têm em comum e o que são separados. E também uma análise mais vasta, considerando traços de personalidade e formas de estar perante o mundo. 
Disto resulta uma narrativa de ritmo pausado, com divagação quanto baste e algumas escolhas que, de tão analisadas e revistas, se tornam, elas próprias, um labirinto. Não será, por isso, uma leitura compulsiva, mas antes uma viagem gradual através das mentes e das vidas das personagens. Mas surge, ainda assim, desta teia de pensamentos, um conjunto de ideias surpreendentes e alguns pontos de vista com que é fácil criar ligações (ainda que também, é certo, outros em que sucede o contrário). Estes, associados aos ocasionais momentos de maior intensidade, mantêm viva a curiosidade em saber mais sobre o futuro e as consequências das decisões dos protagonistas.
Nem todas as perguntas são respondidas. Aspectos como a origem do pacto suicida ou as possibilidades que surgem das relações dos protagonistas são deixados numa relativa ambiguidade. E, ainda que nada de essencial seja deixado em suspenso, fica ainda assim insatisfeita a curiosidade que se cria relativamente a alguns desses elementos.
Considerando a totalidade, o que fica deste Despedida de Casado é a ideia de um livro introspectivo, de ritmo pausado e com momentos de inesperada peculiaridade. De forma alguma, uma leitura viciante, mas interessante, envolvente e, a espaços, surpreendente. Uma boa história, em suma.

Divulgação: Marta, de Paulo Fonseca

"Perante a inevitabilidade da conversa, o padre, limpando a boca ao guardanapo, quis saber o que os levara ali, naquela noite de má memória - o que os inquietaria?
Antunes, com ponderação, respondeu que fora a lágrima que ele derramara naquela tarde; justificando-se com o facto de ser raro um padre chorar no funeral de paroquianos.
Fora um cisco que lhe entrara nos olhos, disse o padre.
Os dois homens trocaram olhares. E o padre António engoliu em seco. Ele chorara. Chorara de arrependimento, porque lhe custava ter enterrado aquela rapariga, ter presidido ao funeral de uma moça ingénua, que morrera de forma tão inglória e desnecessária. Fora apenas uma lágrima de arrependimento por não ter tido a atitude certa…
Azeredo sublinhou a preocupação que o transtornara, a ele e a Antunes Alva. E inquietação deles fora tal que anunciaram ter pensado ir falar com o bispo.
O padre António interrompeu-os e recorreu à sua ironia, perguntando-lhes se iriam inquietar o Bispo por causa de um cisco lhe ter entrado na vista.
Azeredo acatou a resposta e, em jeito de conclusão, encaminhou-se para a saída. No entanto, o padre António fez-se ainda ouvir para lhes dizer que era um homem de palavra, mesmo que isso lhe manchasse a alma. Dito isto, levantou-se para proclamar que Deus seria o seu Juiz quando chegasse a sua hora - e que Ele conhecia-o bem.
Azeredo Albuquerque, admirado, admitiu que iria mais descansado depois de ouvir aquilo.
O padre não se fez rogado e desafiou-os, lançando para o ar a questão: seriam eles capazes de ter aquela paz de alma?
Os dois homens saíram cabisbaixos e o padre António voltou a sentar-se à mesa, pensativo e triste: Marta morrera, e com ela levara a sua paz e a paz daquelas duas famílias; paz de alma seria coisa que nunca mais ninguém teria. Que Deus valesse a todos."