quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Peripécias do Coração (Julia Quinn)

Kate Sheffield está habituada a ser comparada à meia-irmã... e a sair a perder. Mas o afecto que lhe tem é mais forte e, por isso, o seu plano essencial resume-se a arranjar-lhe um bom marido. E um potencial bom marido é tudo o que, aos olhos dela, Anthony Bridgerton não é. Reputado pela sociedade como um incurável mulherengo, pode ser um dos solteiros mais cobiçados, mas não é seguramente a escolha de Kate para a irmã. Mas Anthony está determinado a casar e a sua escolha recai precisamente sobre a bela Edwina. Serena e encantadora, ela tem todas as características que o visconde procura. Principalmente, a de ser uma mulher por quem nunca se apaixonará. Mas o coração fala mais alto até que os medos... E, quando os caminhos de Kate e Anthony se cruzarem, todas as certezas e decisões vão mudar...
Um dos aspectos mais cativantes deste Peripécias do Coração, como, aliás, também do livro anterior, é a forma como a autora constrói um equilíbrio perfeito entre romance e humor. A história centra-se num casal de protagonistas, mas a relação entre ambos nunca evolui da forma esperada, oscilando entre picardias e tribulações e evoluindo depois no sentido de um afecto mais forte, sempre com a leveza envolvente que, desde o início, caracteriza o enredo. Há, por isso, momentos caricatos e situações embaraçosas em abundância, circunstâncias que contribuem em muito para que a história nunca deixe de ser divertida e viciante. Mas há também episódios de grande emotividade, gradualmente mais intensos à medida que a relação entre as personagens se torna mais profunda. O equilíbrio entre as duas partes - o divertido e o comovente - torna difícil largar o livro antes do fim.
Outro ponto forte é o desenvolvimento das personagens. Apesar da leveza geral, tanto Kate como Anthony têm os seus demónios e as sombras de um passado a condicionar as suas escolhas. Este é um factor que define, em muito, o rumo dos acontecimentos, estando na base de alguns dos momentos mais marcantes. É também algo que humaniza as personagens e que, por isso, as torna muito mais interessantes.
Mas nem só do romance atribulado entre os protagonistas vive esta história. Também algo que caracteriza Kate e Anthony é a devoção à família. E, no caso particular dos Bridgertons, família implica um conjunto considerável de personagens, todas elas cativantes na sua muito peculiar natureza. A presença destas figuras, mais ou menos discreta, mas sempre relevante, contribui muito para a caracterização dos afectos do protagonistas, mas é também um ponto forte, por si só. É que as relações entre os Bridgertons são riquíssimas em momentos peculiares, mas também em afecto. E ver essa ligação, seja num jogo sem regras, seja num conselho oportuno, é também algo de muito cativante.
Romance e humor nas medidas certas, personagens fortes, afecto, emoção e uma história cheia de episódios intrigantes, são pois os ingredientes que fazem deste Peripécias do Coração uma leitura viciante, leve e divertida, mas com vários momentos especialmente intensos. Brilhante, em suma.

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