sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ínclita Geração (Isabel Stilwell)

Única mulher entre a chamada Ínclita Geração, a Isabel foi profetizado que seria a Estrela do Norte, a que levaria Portugal ao mundo. A forma de o fazer seria um casamento com o duque de Borgonha, tornando-a numa figura influente e abrindo a Portugal as portas de uma aliança poderosa. Mas ser a duquesa de Philippe de Borgonha está longe de ser um sonho de harmonia. Lidar com as infidelidades do marido, com a morte dos primeiros filhos e gerir os conflitos do ducado, ao mesmo tempo que intervêm e influencia as acções dos irmãos são actos que exigirão de Isabel todas as suas forças. Dama influente e mulher do mundo, esta história é, acima de tudo, o retrato de uma mulher que nunca esqueceu o legado que lhe foi transmitido. E o relato de um percurso fascinante.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como a autora consegue traçar um retrato para a sua protagonista que reflecte tanto a duquesa como a mulher. As acções de Isabel prendem-se tanto com os interesses e influências nos conflitos em curso como com a sua história pessoal, da sua relação com o marido, os filhos e os irmãos. Assim, o que se cria neste livro é um muito bom equilíbrio entre o desenvolvimento dos conflitos globais, com guerras e intrigas de corte mais que suficientes, e a história individual e familiar de Isabel.
Deste equilíbrio resulta também um retrato especialmente cativante do lado humano da duquesa, para o qual contribuem também os fragmentos narrados na primeira pessoa. Se é verdade que tudo na história de Isabel é interessante, também o é que são os momentos mais intensos, de maior impacto emocional, os que mais marcam ao longo da leitura. Momentos que são sempre contados com a medida adequada de emoção, sem excessos dramáticos, mas sem esquecer a faceta de vulnerabilidade que gera empatia.
Porque é também a empatia um dos grandes pontos fortes deste livro. O contexto histórico é, naturalmente, um ponto importante, já que, ao longo do enredo, há muito para descobrir, quer sobre a história de Portugal, quer sobre os conflitos que, de uma forma ou de outra, envolveram a Borgonha. Também a escrita, fluída, apesar de algumas gralhas, contribui para a envolvência do enredo. Mas é, acima de tudo, o facto de Isabel surgir como uma personagem forte e carismática, mas com todas as vulnerabilidades que a humanizam, que torna a sua história tão cativante, tornando memoráveis os momentos de maior impacto.
Retrato de uma protagonista forte, mas humana, este é um livro que conjuga uma boa base histórica com uma história pessoal marcante, numa leitura sempre envolvente e com vários momentos especialmente impressionantes. Recomendo, pois.

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