sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Primeiro Amor (James Patterson e Emily Raymond)

Axi Moore sempre foi a menina certinha, incapaz de faltar às aulas, sempre com uma citação na cabeça e pouco disposta a acções drásticas ou arriscadas. Por isso, nem ela sabe ao certo o que está a fazer quando decide desafiar o seu melhor amigo e convencê-lo a fugir com ela. Não que Robinson precise de muita persuasão. O plano é deixar as regras para trás e partir à aventura. Ver todos os sítios que sempre quiseram conhecer, correr riscos - planeados ou não - e viver, simplesmente. Mas nada é simples nesta aventura. Nem os sentimentos escondidos, nem a certeza de que o que estão a fazer é certo e muito menos a sensação de liberdade e de vida que a viagem lhes desperta. É que há um fim à espreita. E, por mais que Axi e Robinson o tentem ignorar, tudo na vida se esgota. Até a sorte.
Apesar de contar uma história muito diferente das da maioria das séries de James Patterson, este livro tem com elas alguns pontos em comum. A mais evidente é a escrita relativamente simples, sem grandes elaborações descritivas e com uma história que vai sendo contada em capítulos curtos. Ora, sendo este um livro que vive, em grande parte, dos sentimentos, esta forma de contar a história poderia não resultar e, de facto, a princípio, fica a sensação de uma certa ambiguidade. Ainda assim, e tendo em conta que a história é narrada pela voz de Axi, à medida que a vamos conhecendo, o tom da narrativa acaba por se revelar adequado à forma de se expressar da protagonista.
Um outro aspecto que se revela de forma gradual é a capacidade de gerar empatia dos protagonistas. Inicialmente, o que sobressai são as diferenças e o temperamento algo irresponsável de Robinson, bem como a facilidade com que Axi aceita as decisões mais perigosas, cria uma certa estranheza. A primeira parte deixa, por isso, sentimentos ambíguos, já que a aventura nunca deixa de ser cativante, mas é difícil compreender as escolhas das personagens.
Mas há uma revelação que muda tudo. A partir desse ponto, a história torna-se mais intensa, mais dramática. Mais emotiva. E é a partir desse ponto que o enredo se torna realmente cativante. Se, antes, os melhores momentos se definiam por pequenas coisas - a despedida silenciosa, o encontro com um cão na rua - , agora os limites revelados colocam tudo sob uma nova perspectiva. O impacto da segunda parte compensa amplamente a estranheza do segundo, abrindo caminho para um final que, contado com a habitual simplicidade, fica, ainda assim, gravado na memória.
O que fica, então, deste Primeiro Amor é a impressão de uma história que, apesar de um início algo ambíguo, cresce em emotividade e em envolvência, para culminar numa conclusão tocante e numa boa reflexão sobre a mortalidade... e a necessidade de viver. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Jogo (Anders de la Motte)

Henrik Petersson, ou HP, sempre se sentiu subestimado e maltratado pela vida, que nunca lhe deu o reconhecimento que sempre julgou merecer. Mas tudo muda no momento em que encontra um estranho telemóvel, através do qual é convidado a participar num jogo que promete abalar a sua realidade. O seu papel é cumprir as missões que lhe são enviadas e que depois chegam ao que ele julga ser um público fiel. A regra fundamental é nunca falar do Jogo. Mas, à medida que as missões se tornam mais perigosas, e os seus contornos mais difíceis de compreender, HP descobre que o Jogo não é apenas uma brincadeira e que o que está em causa pode ser um sistema muito mais vasto... e de intenções obscuras. 
Tendo como ponto de partida um jogo em que muito pouco é explicado ao protagonista, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela aura de mistério que, desde logo, se cria. Nunca chega a ser uma leitura compulsiva, já que a intensidade das missões alterna com momentos de ritmo mais pausado, mas também nunca deixa de ser envolvente. O mistério em torno do que é o Jogo e a forma como a perspectiva de HP muda a cada nova revelação mantém sempre viva a curiosidade em saber mais. E se, para cada resposta dada, surge sempre uma nova pergunta, também a forma como as respostas são obtidas - envolvendo sempre o perigo e uma certa dose de loucura - contribui para tornar a história mais interessante.
Também o desenvolvimento do protagonista consegue ser surpreendente. Algo irresponsável, sem perspectivas, focado na necessidade de ganhar e de alcançar reconhecimento, HP não é, à partida, o tipo de personagem que desperta empatia. Ainda assim, com o evoluir da história e com as escolhas que se vê forçado a tomar, há uma faceta desconhecida do seu carácter que vai sendo revelada. HP torna-se uma personagem mais complexa, com um passado que o torna mais facilmente compreensível. E, com as suas escolhas e memórias a justificarem um certo percurso de crescimento, a sua personalidade consegue tornar-se cada vez mais cativante, sem por isso perder o que o define.
Mas nem só de HP vive esta história. Aliás, parte da sua evolução também se deve em muito à outra personagem central deste livro. Com os seus próprios fantasmas e um envolvimento crescente na linha principal do enredo, Rebecca Nórmen dá à história uma nova complexidade, quer pela sua personalidade carismática e pela complexidade da sua história pessoal, quer pela forma como as suas acções - e memórias - se cruzam com as de HP. Juntas, as histórias de ambos equilibram-se mutuamente, tornando a história mais intensa e servindo de base a alguns momentos especialmente bons.
Sendo este o primeiro livro de uma trilogia, ficam, naturalmente, muitas questões em aberto. Ainda assim, também neste aspecto sobressai um bom equilíbrio. As perguntas sem resposta despertam curiosidade para o que se seguirá no livro seguinte, mas não retiram impacto ao final intenso que, de certa forma, fecha uma fase do percurso, para abrir caminho ao nível seguinte.
Com uma boa história, personagens carismáticas e um cenário global deveras interessante, O Jogo equilibra as medidas certas de tensão e mistério, e até um toque de emoção, num enredo que surpreende em muitos aspectos. Intenso e intrigante, um início muito bom.

Novidade Quetzal

Phoebe vive obcecada com a memória e a morte da irmã, Faith, uma bonita e idealista hippie morta em Itália em 1970. Para descobrir a verdade sobre a vida e a morte desta, Phoebe refaz, passo a passo, a viagem que antecedeu o trágico e misterioso fim de Faith, partindo de São Francisco e atravessando a Europa – demanda que irá produzir revelações complexas e perturbantes sobre a família, o amor e uma geração perdida. Com o drama político e as tensões familiares como pano de fundo, este Circo Invisível é também uma viagem iniciática, a busca pela verdade de uma série de acontecimentos passados, e a busca do indivíduo, no início da idade adulta, pelo sentido da sua própria existência. Do declínio da revolução hippie na América, ao calor da revolução estudantil na Europa, passando pelos movimentos radicais de esquerda da Alemanha, este envolvente primeiro romance de Jennifer Egan é um portentoso exemplo da sua invulgar mestria em criar suspense, personagens de grande profundidade e diversíssimos matizes de emoção.

Jennifer Egan é autora de vários romances e volumes de contos publicados regularmente nas revistas The New Yorker, Harper’s Magazine e GQ, entre outras. O seu mais recente romance, A Visita do Brutamontes, publicado pela Quetzal em 2012, mereceu a aclamação da generalidade da crítica anglo-saxónica, elevando-se ao estatuto de «o novo clássico da ficção americana».

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Novidade 5 Sentidos

Candidatar-se a uma faculdade a centenas de quilómetros de casa foi a única forma que Avery Morgansten, de dezanove anos, encontrou para fugir ao acontecimento fatídico que, cinco anos antes, mudara a sua vida para sempre. No entanto, quando se cruza com Cameron Hamilton, um colega mais velho, com um metro e oitenta de altura e uns olhos capazes de derreter qualquer uma, o seu mundo estilhaça-se por completo. Envolver-se com ele é perigoso, mas ignorar a tensão entre os dois parece impossível. Até onde estará Avery disposta a ir e o que fará para esquecer o passado e viver aquela relação intensa e apaixonada, que ameaça ruir todas as suas certezas e dar-lhe a conhecer um mundo de sensações que julgava estarem-lhe negadas para sempre?

Jennifer Armentrout, autora bestseller do New York Times e do USA Today, vive em Martinsburg, na Virgínia Ocidental. Para além de literatura romântica, escreve livros de ficção científica e fantasia. Espero por ti, inicialmente publicado em edição de autor no formato eletrónico, alcançou um feito inédito ao obter o 1.º lugar dos tops norte-americanos de livros digitais, superando as vendas de e-books de autores conhecidos e consagrados.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A Rainha dos Sipaios (Catherine Clément)

Quando nasceu, o astrólogo que lhe traçou o horóscopo disse que seria rainha. Mas Lakshmi Bai seria muito mais que isso. Contra a acção cada vez mais dura da Companhia das Índias Orientais, a jovem rapariga cresceria para se tornar rainha, guerreira e mãe. E para defender os seus, mesmo se as hipóteses fossem escassas. Esta é a história da rani de Jhansi, guerreira e resistente. E, acima de tudo, mulher num mundo que, relutante em receber a sua coragem, não poderia deixar de a admirar.
Uma das coisas que sempre cativam nos livros desta autora, e neste em particular, é a forma como personagens, acontecimentos e até emoções se tornam tão nítidos e próximos. Não se pode dizer que a escrita seja especialmente elaborada, mas a autora constrói um equilíbrio muito próprio entre momentos de quase simplicidade e outros de surpreendente poesia. Cria-se assim, desde logo, uma envolvência que atrai para a história que está a ser contada.
Outro aspecto que sobressai e a caracterização das personagens, com destaque, naturalmente, para a protagonista, mas também para os que a rodeiam. Lakshmi Bai, como a autora apresenta, é uma mulher completa e complexa, com uma personalidade carismática e grande profundidade emocional. Nota-se, aliás, o cuidado em mostrar tanto a rainha como a mulher, revelando igualmente as forças e as vulnerabilidades. O resultado é uma personagem que facilmente se torna próxima, que cativa e surpreende. E que, por isso, fica na memória. 
Esta proximidade resulta também da interacção com as restantes personagens e das relações estabelecidas. Quer no que toca à gestão do conflito, no seu papel de rainha, quer nas relações familiares, enquanto filha, esposa, amiga e mãe, a história da protagonista - e os seus gestos, escolhas e tribulações - vivem de quem é e do que descobre nos outros. Acompanhar o seu percurso é seguir tanto a sua luta pela liberdade como a jornada de um crescimento pessoal. E é fácil, muito fácil entrar na sua pele e compreender as suas decisões.
E, claro, importa ainda referir o contexto histórico. Neste aspecto, sobressai também o equilíbrio, na forma como a autora apresenta toda a informação essencial, quer do conflito, quer de como certos aspectos dele eram contemplados pelo mundo exterior, sem que nada se perca da intensidade do enredo. A informação é apresentada na medida em que é necessária à compreensão do enredo, sem deixar nada de fora, mas sem elaborações excessivas, o que também contribui em muito para a envolvência da narrativa.
Muito interessante a nível de contexto, A Rainha dos Sipaios apresenta uma protagonista complexa e carismática e um conjunto de personagens e momentos marcantes, como base para uma história sempre envolvente e muitíssimo bem escrita. É, por isso, um livro que fica na memória. E que recomendo, claro.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Inferno no Vaticano (Flávio Capuleto)

A descoberta de um morto na Sala das Relíquias, em pleno coração do Vaticano, lança o mistério sobre a cidade eterna. Para o resolver, Luís Borges, detective privado do Papa, é chamado a intervir. Mas a situação é muito mais que um crime isolado. Há um segredo escondido debaixo da terra, algo tão vasto que é capaz de elevar o conflito entre conservadores e reformistas a um nível completamente novo. Diferentes facções - e as respectivas sociedades secretas - opõem argumentos e acções. E, entretanto, novos crimes vão sendo cometidos. Mas novas pistas vão também surgindo...
Com uns quantos pontos fortes e algumas fragilidades, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos, principalmente porque os aspectos bons bastam para tornar a história interessante, mas é, ainda assim, difícil ignorar o restante. Mas começando pelos pontos fortes, sobressaem dois aspectos.
Sendo um livro relativamente breve, e escrito em capítulos curtos, a leitura nunca se torna penosa. Além disso, ao seguir diferentes personagens e as suas respectivas acções, cria-se uma certa medida de mistério que mantém viva a curiosidade em saber mais. Este é, definitivamente, um dos pontos mais positivos. O outro diz respeito a um conjunto de história e de mensagem que, no geral, são bastante positivos. Toda a questão da intervenção ou não da Igreja em aspectos financeiros, ainda que abordada com relativa brevidade, abre portas a algo de reflexão, e a mensagem subjacente é claramente positiva. E quanto à história propriamente dita, há uma linha geral que, com uma certa leveza e um ou outro momento surpreendente, não deixa de ser cativante e agradável.
Também as fragilidades se prendem essencialmente com dois pontos. O primeiro é um estranho contraste a nível de escrita, em que a narração é bastante simples e os diálogos algo mais elaborados, servindo até de forma dominante de transmitir informação.. Esta conjugação causa alguma estranheza, pois - e tendo em conta que há muito diálogo no desenvolvimento da narrativa - várias das conversações acabam por soar forçadas.
O outro ponto fraco é uma conclusão que deixa muitas questões em aberto. O mistério e a tensão das grandes revelações - dos crimes, mas também das resoluções relativas ao tesouro - acabam por culminar num final um pouco abrupto e em que muito fica sem resposta. Fica, pois, a impressão de que mais haveria para dizer sobre esta história - e, principalmente, sobre as questões que lhe servem de base.
A impressão que fica é, por isso, a de uma história que poderia ter sido bastante mais complexa, mas que tem, apesar disso, os seus momentos interessantes. Por isso, e apesar dos aspectos menos bons, não deixa de ser uma leitura envolvente, leve e agradável quanto baste.

Novidade Bertrand

Aclamado imediatamente na Europa como sendo um clássico, Nós, os Afogados narra a história da cidade portuária de Marstal, cujos habitantes se fizeram ao mar e navegaram pelo mundo inteiro a partir de meados do século XIX até ao final da Segunda Guerra Mundial. Aqui contam-se as histórias de navios afundados e destruídos em guerras, de lugares de horror e violência que continuam a fascinar todas as gerações; aqui encontramos canibais, sonhos proféticos e sobrevivências miraculosas. O resultado é uma saga apaixonante, repleta de sabedoria e humor, de pais e filhos, das mulheres que eles amam e deixam para trás e da promessa assassina dos mares.
Em 1848, um grupo de navegadores dinamarqueses deixa a ilha de Marstal para lutar contra os alemães. Nem todos regressam, e os que regressam nunca mais serão os mesmos. Entre eles, encontra-se Laurids Madsen, que não tarda a escapar de novo para o anonimato do mar alto. Quando o seu filho Albert atinge a maioridade, parte à procura do pai desaparecido numa viagem que o levará por todo o globo.
Da Terra Nova às plantações da Samoa, da Tasmânia às costas geladas do norte da Rússia, esta história estende-se por quatro gerações, atravessando duas guerras mundiais e um século de história.

Carsten Jensen é um escritor dinamarquês nascido em 1952. Recebeu vários prémios pelos seus ensaios e artigos, bem como pelos livros de viagens que escreveu. É considerado uma das vozes mais frontais e críticas da Dinamarca. O seu livro Nós, os Afogados venceu em 2007 o mais importante dos prémios literários da Dinamarca, o Danske Banks Litteraturpris.

Passatempo Hotelle - Quarto 2

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Suma de Letras, tem para oferecer um exemplar do livro Hotelle - Quarto 2, de Emma Mars. Para participar basta fazer Like na página de Facebook da Suma de Letras e responder às seguintes questões:

1. Quanto tempo passou desde que Elle abandonou a vida de acompanhante de luxo?
2. Como se chama o irmão de David, ex-noivo de Elle?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 3 de Fevereiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O Manipulador (John Grisham)

Malcolm Bannister foi preso por um crime que não cometeu. Talvez por excessiva ingenuidade, viu-se envolvido num esquema de lavagem de dinheiro e acabou por cair juntamente com os que o meteram naquela situação. Mas, cinco anos passados e perdido muito do que tinha, Mal tem pela frente a sua única hipótese de sair. E, pelo caminho, de se vingar das autoridades que o enganaram. Um juiz federal é assassinado e Malcolm diz conhecer o assassino e os seus motivos. Em troca da liberdade e de uma nova identidade, está disposto a contar o que sabe. Mas é possível que essa revelação seja apenas o início do caminho que Malcolm escolheu.
Narrado, em grande parte, na primeira pessoa, a história deste livro é contada de uma perspectiva muito próxima do protagonista. É possível acompanhar os pensamentos e as razões de Malcolm à medida que as coisas vão acontecendo. Contudo, nem tudo é o que parece no que o protagonista conta, e esta capacidade de adaptar ideias e memórias à imagem que Malcolm está a tentar passar em cada momento do enredo é um dos aspectos mais interessantes da história. Claro que nem todas são absolutamente convincentes - o próprio título denuncia que Malcolm não é apenas o que diz ser no início do livro - , mas, salvo algumas pistas e revelações mais fáceis de prever, a impressão geral é de tensão e mistério quanto baste, o que desperta a curiosidade em saber mais. Além disso, mesmo sabendo da existência de intenções ocultas, os motivos e as formas de acção nem sempre são claras, o que contribui também para manter a envolvência do enredo.
Uma outra consequência da forma de narrar a história, mas também da própria concretização dos planos, é a necessidade de uma certa medida de descrição. Assim, a leitura não é propriamente compulsiva, já que o ritmo dos acontecimentos é algo pausado, e as próprias mudanças começam em pequenas coisas, mas nunca deixa de ser envolvente. Além disso, pode sentir-se, a partir de certo ponto, alguma distância do protagonista, à medida que a sua faceta de manipulador vai sendo desenvolvida, mas o impacto dos acontecimentos e as circunstâncias de outras personagens compensam esse afastamento. Além disso, a linha base da história pode não ser totalmente surpreendente, mas há vários momentos que o são, ainda assim.
Não sendo exactamente uma leitura viciante, O Manipulador apresenta, ainda assim, uma boa história, cativante e agradável, com um protagonista intrigante e vários momentos e ideias surpreendentes. A soma de tudo é uma história interessante... e uma boa leitura.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Judeus Ilustres de Portugal (Miriam Assor)

Alguns são figuras cujo nome, pelo menos, é já do conhecimento geral, enquanto que, com outros, isso não acontece. Mas todos tiveram um papel relevante na ciência, na cultura e nas vida pública do tempo em que viveram. O que este livro apresenta são as breves biografias de catorze figuras que, em tempos de perseguição, ou de relativa paz, tiveram um papel fulcral a desempenhar no rumo da História. E que, por isso, merecem ser lembradas.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é o facto de a autora ter escolhido figuras de diferentes épocas históricas e, consequentemente, cujos percursos se situam em diferentes contextos. Assim, e apesar da relativa brevidade, é possível captar certos elementos da época em que viveram os biografados, o que permite ficar com uma ideia clara de alguns elementos essenciais. Claro que haveria muito mais a dizer sobre o contexto, principalmente em temas como a conversão forçada e as acções da Inquisição ou a posição de Portugal ante as acções do regime nazi. Nestas questões em particular, e por serem especialmente relevantes, seria interessante ver um pouco mais de desenvolvimento sobre a perspectiva global. Ainda assim, é de biografias que se trata e, no que respeita aos protagonistas, a informação essencial está lá.
Apesar de muito interessante, não se trata de uma leitura fácil. Primeiro porque, ao resumir o contexto e ao centrar-se nos protagonistas, surge uma vastidão de nomes, datas e acontecimentos a assimilar, e nem sempre por uma ordem específica. Por outro lado, e, mais uma vez, apesar da brevidade, o estilo de escrita surpreende por ser inesperadamente elaborado, com alguns laivos de poesia, até, o que torna a exposição dos factos um pouco mais densa.
Há, ainda assim, muita informação a retirar deste livro que, para as figuras mais conhecidas, abre portas a um aprofundar de conhecimentos, enquanto que, para as restantes, surge como uma descoberta. E por isso, pelo muito de interessante que oferece ao leitor, compensa amplamente o esforço que exige em tempo e em concentração. Trata-se, pois, de uma boa leitura. E muito interessante.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Paixão Proibida em Summerset Abbey (T.J. Brown)

O casamento e a partida apressada de Prudence deixaram um vazio em Summerset Abbey e, principalmente, nos corações das irmãs Buxton. Para lidar com essa nova perda, Rowena refugia-se na apatia, ainda que haja um amor à espera de ser descoberto. Victoria, por outro lado, procura desesperadamente sentir-se útil e tornar-se na mulher independentemente que deseja ser, mesmo que os tempos não lhe sejam propícios. Mas nem tudo corre como planeado. O peso dos conflitos familiares e a conjugação de precipitação e ansiedade trarão consequências difíceis de suportar para as duas irmãs. E também Prudence, apesar de mais sensata, terá de olhar para a vida que escolheu e avaliar se a sua decisão foi, afinal, a certa.
Dando continuidade ao enredo contado no volume anterior, este é um livro que apresente muitas características em comum. A escrita mantém a mesma simplicidade, conferindo à narrativa um agradável tom de leveza e o mesmo acontece com a forma como os acontecimentos são narrados, sem grandes elaborações ou pormenores, mas sem deixar de fora nada de essencial. O mais marcante prende-se, portanto, com dois aspectos. Primeiro, uma forma de contar as coisas que, associada à fácil empatia gerada pelas personagens, que mantém sempre viva a curiosidade em saber mais. E, além disso, uma interessante abordagem - ainda que não muito profunda - a alguns dos problemas da época em que a história decorre, sobressaindo, é claro, a acção das sufragistas.
No que diz respeito ao percurso das personagens, sobressai alguma ingenuidade, que leva a que alguns dos momentos do enredo se tornem um pouco previsíveis, mas também uma jornada de crescimento que, sempre narrada com relativa simplicidade, acrescenta ainda assim um conjunto de circunstâncias marcantes ao caminho das protagonistas. É talvez pelo que vivem, mais que pelo que são, que Prudence, Rowena e Victoria cativam o leitor, mas o certo é que os momentos mais marcantes compensam amplamente as pontuais situações mais forçadas.
E como a história ainda não termina aqui, continuam a ficar perguntas sem resposta. Ainda assim, a forma como se conclui este segundo volume consegue ser bastante mais equilibrada, com menos momentos por desenvolver e uma conclusão que dá algumas pistas interessantes para o que poderá vir a acontecer no último livro.
Simples, na essência, mas envolvente e com alguns momentos especialmente marcantes, este é, pois, um livro que, não sendo especialmente surpreendente, cativa pelo bom equilíbrio entre leveza e emoção, numa história sempre interessante e que promete ainda muito de bom para o que falta contar. Uma boa leitura, em suma.

Novidade Porto Editora

Correm tranquilamente os primeiros dias de Junho de 1832 quando um casal desconhecido vem alojar-se numa estalagem da Foz do Douro. Ele é um homem de meia-idade e porte altivo, chamado Sebastião Moncada, e ela, uma mulher mais nova, de olhar assustado e gestos inquietos.
O casal chega rodeado de uma atmosfera de mistério, cuja persistência vai exigir a intervenção da Polícia. Mateus Vilaverde é o oficial da Guarda Real que fica encarregado do caso, mas a sua investigação complica-se extraordinariamente com a chegada do exército liberal de D. Pedro, que, desembarcado nas praias do Mindelo, ocupa a cidade do Porto. É, então, num cenário de guerra que Mateus vai descobrindo a história de Sebastião Moncada. Mas à medida que o vai fazendo vê-se impelido a investigar-se a si próprio e a confrontar-se com os seus afectos, desejos e fantasmas.
Tendo como pano de fundo o Portugal das Guerras Liberais e o estoicismo das gentes do Porto, cercadas durante mais de um ano pelo enorme e impiedoso exército miguelista, O Estranho Caso de Sebastião Moncada é um romance sobre a importância do acaso e das coincidências na vida humana e sobre a coragem necessária para enfrentar e viver as consequências de um grande amor.

João Pedro Marques nasceu em Lisboa, em 1949. É desde 1987 investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e foi Presidente do Conselho Científico desse Instituto em 2007-2008. 
Doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde leccionou a cadeira de História de África durante a década de 1990, é autor de dezenas de artigos sobre temas de história colonial, e de vários livros, dois dos quais publicados em Nova Iorque e Oxford (The Sounds of Silence, 2006, e Who Abolished Slavery? A debate with João Pedro Marques, 2010). 
Em 2010 lançou o seu primeiro romance histórico, Os Dias da Febre, e em 2012 publicou Uma Fazenda em África, ambos pela Porto Editora.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Segredos do teu Olhar (Patricia Scanlan)

A ideia de um casamento feliz e de uma vida estável parece cada vez mais distante para Debbie e Bryan e os obstáculos que já antes provocavam caos e desarmonia tornam-se ainda mais evidentes com a chegada da recessão. Bryan não está disposto a fazer sacrifícios e Debbie cansou-se de assentir a tudo o que ele quer. Entretanto, também nos que os rodeiam há mudanças. A irmã de Debbie tem de lidar com um distúrbio alimentar e uma nova criança pode estar para vir ao mundo. A mãe de Debbie encontrou um novo amor - mas também atribulado. E até a sua chefe parece ter renascido para a vida após o grave acidente que sofreu. Talvez não exista, na realidade, um felizes para sempre. Mas, por entre os dramas e os desgostos de cada dia, é possível que haja alguma felicidade à espreita.
Tal como já vinha acontecendo no livro anterior, Segredos do teu Olhar é um livro que, mais que centrar-se na história de um casal protagonista, acompanha as histórias de um conjunto mais alargado de personagens. A história é tanto a de Debbie e de Bryan como a de muitos dos que os rodeiam e, com o evoluir do enredo, os seus percursos pessoais tornaram-se igualmente relevantes. Assim, o que acontece é que a narrativa se dispersa um pouco entre as suas muitas histórias, tornando-se mais pausada, mas também mais interessante, porque o que acaba por apresentar são percursos de crescimento diferentes para personalidades e vivências também diferentes.
Também não é uma história que se define por grandes acontecimentos, mas antes pela capacidade de aprender e reagir aos dramas e tribulações quotidianas. Claro que também há grandes mudanças na vida das personagens, mas é interessante notar que os momentos de maior impacto não se prendem com grandes revelações, mas antes com os pequenos gestos de cumplicidade e com a descoberta do afecto e da generosidade.
Outra consequência da diversidade de personagens - e de perspectivas - é que ficam algumas situações em aberto. Para as personagens mais relevantes, há um final efectivo. Ainda assim, há aspectos que poderiam ter sido mais aprofundados e há certas questões - principalmente no que diz respeito a Bryan e a Marianna - que acabam por não atingir uma conclusão completa. Não são elementos indispensáveis à história, já que as personagens mais interessantes atingem o seu final adequado, mas fica, ainda assim, uma curiosidade por satisfazer.
Feito da soma de muitos pequenos momentos e de alguns pontos de viragem decisivos, este não é um livro que se defina por uma história especialmente complexa. Mas, escrito de forma envolvente, com vários momentos marcantes e uma abordagem muito positiva aos conflitos e problemas do quotidiano, facilmente cativa para a história das personagens e para aquilo que dela há a retirar. Gostei, portanto.

Novidade Esfera dos Livros

Nas ruas de Lisboa respira-se medo. A cidade não é segura e dentro de portas há um nome que atormenta os homens e mulheres da capital: Diogo Alves, de alcunha o Pancada. Poucos lhe conhecem o rosto, mas todos temem cair nas suas mãos. Lá do alto dos arcos do imponente Aqueduto das Águas Livres, sem dó nem piedade, Diogo Alves atira as suas vítimas num voo trágico de mais de 60 metros de altura. O grito, que faz estremecer tudo e todos, dá lugar ao silêncio da morte. A jornalista Anabela Natário, no seu primeiro romance, traz-nos a arrepiante história deste homem que aterrorizou Lisboa da primeira metade do século XIX. Nascido na Galiza, aos dez anos vem para Lisboa onde de criado nas casas mais abastadas da capital passou a ladrão e de ladrão a assassino cruel. Unido pelo coração à taberneira Parreirinha, com estabelecimento em Palhavã, Diogo Alves torna-se numa verdadeira lenda. Através da consulta dos jornais da época e de peças do processo, Anabela Natário recria o processo
judicial de Diogo Alves, num romance recheado de mistério e intriga. É ao juiz Bacelar que cabe a difícil tarefa de descobrir e capturar Diogo Alves e o seu bando de malfeitores. Diogo Alves, embora deixe um rasto de violência e morte, consegue sempre escapar-se às mãos da justiça. É preciso detê-lo. O juiz não desiste e aos poucos, mergulhado no ambiente de violência e miséria que se vive na capital do reino, vai juntando as peças deste complicado puzzle de crimes e assaltos.

Anabela Natário nasceu em Lisboa, em 1960, na única freguesia com o nome de dois santos, São Cristóvão e São Lourenço. Fez o liceu em Sintra e o curso de jornalismo na capital. É jornalista desde 1981. Começou no Correio da Manhã, passou pela Agência Lusa, foi fundadora e grande-repórter do Público, fundadora e editora de Política do 24Horas, adjunta do Supremo Tribunal de Justiça e diretora do Courrier Internacional, depois de ter criado uma empresa inovadora de venda de prosa à medida, a Énetextos, Caracteres Efervescentes, cujo slogan era «Da Carta de Amor ao Jornalismo». Ao longo dos anos, colaborou com muitos outros órgãos de Comunicação Social, incluindo a televisão. Neste momento, é editora do Online do jornal Expresso. Publicou a primeira ficção A Cueca Bibelô, pela Sinapses que apenas se dedicava ao circuito da internet, em 2007, e, no ano seguinte, uma coleção de seis livros com 177 biografias de mulheres, denominada «Portuguesas com História» (Círculo de Leitores/Temas & Debates). Em 2012, a Temas & Debates lançou 100 Portuguesas com História.

Novidades Planeta

Enquanto adolescente na Irlanda de 1952, Philomena Lee engravidou e foi enviada para um convento – uma «mulher perdida, caída em desgraça». 
Durante três anos depois do nascimento do filho, cuidou dele naquele lugar. Depois a Igreja levou-o de si e vendeu-o, a exemplo de inúmeras outras crianças, para a América, onde foi adoptado. 
Durante cinquenta anos Philomena procurou encontrar o filho mas nunca soube para onde foi. Sem saber que ele também a procurou toda a vida. O filho, Michael Hess, nome dado pela família adoptiva, tentou procurar a mãe, mas a Igreja negou-lhe informações, pois receava a descoberta do macabro negócio de venda de crianças. Michael foi um advogado de renome, conselheiro jurídico do presidente Bush, que acabou por morrer vítima de sida. 
Este escândalo, quando foi descoberto, abanou os alicerces da Igreja Católica e embora, tenham pedido publicamente perdão às mães a quem venderam os seus bebés, sofreram a vergonha também pública de não serem perdoados.
Soberbamente contada por Martin Sixsmith, esta é uma história de que irá tocar o coração dos leitores, pois confirma que, mesmo na tragédia, o laço entre uma mãe e um filho nunca pode ser quebrado e o amor encontrará sempre um caminho.

Flavia de Luce é brilhante, aos 11 anos esta heroína é apaixonada por química e tem como hobby pesquisar venenos e atormentar as duas irmãs mais velhas. Tem um laboratório muito bem equipado. Talvez por tudo isso, ou devido a uma curiosidade acima do normal adora desvendar crimes.
Vive com o pai e as irmãs na antiga mansão Buckshaw, e apesar da personalidade forte e solitária (a única amiga é a bicicleta, Glayds), é no fundo, uma jovem solitária que nunca se conformou com a morte da mãe que mal conheceu, e que não se consegue interessar-se pelas mesmas coisas que as irmãs – que só querem saber de roupas, maquilhagens e namorados. O pai é um viúvo que ainda sofre com a perda da mulher, e que se isola no escritório com sua preciosa colecção de selos, sem dar importância com o que se passa à sua volta. 
A história deste terceiro livro começa com um crime antigo, que nunca foi considerado como tal e um novo, o que leva Flavia a conseguir interligar os dois. 
Durante a quermesse de Bishop’s Lacey, Flavia pediu a uma cigana que lhe lesse a sina, mas não estava à espera de, horas mais tarde, já de madrugada, ir encontrar a pobre mulher mergulhada numa poça de sangue no interior da sua caravana. Teria sido um acto de vingança, perpetrado por algum habitante da terra, convencido de que, anos antes, a cigana raptara e levara consigo uma criança da aldeia? 
Flavia é menina para compreender bem o doce sabor da retaliação; com efeito, a vingança é um passatempo com que não pode deixar de se deliciar quem tem duas irmãs mais velhas, ambas odiosas. Mas qual será a relação entre este crime e a criança desaparecida? 
À medida que as pistas se vão acumulando, Flavia terá de as analisar com todo o cuidado, a fim de desembaraçar uns dos outros os fios negros de actos e segredos do passado.

Cidade Proibida é o retrato de uma certa Lisboa, na actualidade. Uma cidade onde Rupert e Martim decidem viver juntos, mesmo que o tenham de fazer num meio tradicional, endinheirado e snob que poderá vir a cavar um fosso irremediável entre ambos. Mas o encontro que mudou a vida dos dois justifica esse desafio. Rupert é inglês e está em Lisboa como professor. 
Martim nasceu e estudou no Estoril, doutorou-se em Oxford e mantém uma assessoria régia numa holding de comunicação. 
É em Londres, que Rupert conhece Martim. De regresso a Portugal, Rupert troca o seu modo de vida pelo de Martim. 
Por seu intermédio, acede a um meio que lhe é completamente estranho, o das famílias tradicionais com casa no Estoril e assento em poderosos conselhos de administração.
Contrariado, vê-se obrigado a privar com homens arrogantes com quem Martim estava habituado a programar temporadas de ópera em Nova Iorque e Salzburgo, carnavais em Veneza e compras em Milão. 
Rupert sabe que não faz parte desse mundo. Tudo visto, a única cedência de Martim foi ter concordado em deixar o gato em casa da mãe para irem viver juntos. No resto, manteve-se inflexível. E um certo alheamento da realidade fez com que levasse tempo a perceber que a história de ambos era atravessada por zonas de sombra...

domingo, 19 de janeiro de 2014

Pela Mão dos Anjos (María Elvira Pombo Marchand)

Será verdade que os anjos estão sempre presentes e que basta chamá-los para obter a sua intervenção? E, se sim, será possível comunicar com eles? Para a autora deste livro, sim. E é dessa convicção que resulta este livro, que pretende ser um guia para estabelecer essa comunicação e, através dela, para viver em harmonia com as leis essenciais do energia e, assim, conseguir uma vida mais feliz. Mas, se a parte do livro que funciona como guia se dirige, à partida, a leitores com alguma medida de fé, as explicações sobre conceitos e leis, dadas de forma muito acessível e clara, bem como a atitude de responder a diferentes necessidades de diferentes leitores, torna este livro interessante e agradável de ler, independentemente dos sistemas de crença de cada um.
Contrariamente a outros livros deste género, este recorre a muitos poucos testemunhos, sendo muitos dos exemplos retirados da experiência pessoal da autora. Assim sendo, este é um livro que vive menos de histórias e de casos e mais da explicação do contexto e da descrição de alguns exercícios. A componente de orientação acaba por ser, por isso, a dominante. Ainda assim, e mesmo que lida apenas por curiosidade, sobressai desta componente um elemento interessante. É que, necessariamente associada a uma certa medida de espiritualidade, não se restringe a nenhuma crença específica, sendo, por isso, o mais abrangente possível. Neste aspecto, destaca-se também uma atitude de abertura em que a própria autora aconselha quem lê a retirar aquilo com que se identifica e a pôr de parte o restante.
Mas, mais até que as orientações e os exercícios, cativa também a forma clara e sempre simples como a autora apresenta os conceitos associados à sua exposição. Elementos referentes a karma e a vidas passadas, ou os factores e âmbitos de protecção associados a diferentes anjos, ou ainda os diferentes centros de energia são apenas alguns dos elos associados à apresentação que a autora faz da sua relação com a espiritualidade. E apresenta-os de forma muito sucinta, mas facilmente compreensível, o que torna a leitura bastante cativante.
O resultado de tudo isto é um livro que, orientado principalmente para leitores com alguma ligação a esta base de espiritualidade, com a sua faceta de guia, acrescenta também algo mais, na explicação dos conceitos e do contexto dessa vivência espiritual. E é isso também que torna a leitura interessante, independentemente de se acreditar ou não.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Bom Caminho (Fausta Cardoso Pereira)

Não tem de ser por razões de fé nem para pagar uma promessa: fazer o Caminho de Santiago pode ser um desafio e uma experiência de vida. É isso que Fausta Cardoso Pereira conta neste livro em que a sua experiência de duas jornadas, uma vez a pé, outra de bicicleta, serve não só de base para o que se deve fazer antes e durante essa aventura, mas, principalmente, como um olhar sucinto e muito pessoal sobre motivações e vivências.
Sobre este livro, importa dizer, antes de mais, que não é propriamente um guia, pelo menos se a ideia for o habitual guia de viagem. Não é um registo completo de itinerários nem de lugares onde ir, nem é esse o objectivo. O que este livro apresenta é, antes de mais, o percurso pessoal da autora e, nessa perspectiva, é essa experiência o que mais sobressai do livro. Mas acaba por funcionar, apesar disso, como uma orientação básica, quer porque é possível tirar lições das pisadas da autora, quer porque há um trabalho em abordar questões essenciais de preparação e de viagem, bem como uma explicação sucinta do contexto histórico.
Esta informação simples, mas esclarecedora, bastaria para despertar o interesse. Mas o que mais cativa nesta leitura acaba por ser o já referido percurso pessoal, com a forma como a autora se lhe refere, um pouco introspectiva, abrindo portas ao que a chamou ao caminho, ao mesmo tempo que completa a sua experiência com breves relatos de outras vivências, a transmitir uma perspectiva muito interessante do que será fazer o Caminho - e de que razões e pensamentos estarão na mente do peregrino, antes, durante e depois.
Muito breve, mas cativante, este é, pois, um livro que, não sendo um guia exaustivo, nem sendo esse o seu objectivo, desperta curiosidade para a experiência da jornada, relatando, sem esquecer as orientações essenciais, uma vivência pessoal do percurso. Interessante, facilmente desperta curiosidade... para a leitura e para o Caminho. Gostei de ler.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Guerreiros Medievais Portugueses (Miguel Gomes Martins)

Parte essencial na formação e um nobre, o conhecimento das artes da guerra foi um elemento crucial no decorrer da Idade Média, tempo em que tanto a luta contra os infiéis como as guerras internas justificavam a existência de frequentes confrontos. E, como cada batalha requer líderes e estrategas, surgiram, inevitavelmente, aqueles que, no seu tempo, se destacaram pelos feitos bélicos. É de alguns deles - de quem foram e do que fizeram - que trata este livro.
Sendo esta uma obra que se centra essencialmente nos percursos individuais de um conjunto de figuras, é inevitável que o desenvolvimento do contexto seja relativamente sucinto, ou cada um deles daria um livro, por si só. Isto implica, por um lado, uma enumeração de nomes e datas cujo contexto é explicado essencialmente em relação aos protagonistas. Assim, fica, naturalmente, a vontade de saber mais, mas, ao mesmo tempo, uma certa exigência, quer de tempo, quer de concentração, para assimilar todos os factos.
Por outro lado, mesmo tendo por base os ditos protagonistas, há contextualização mais que suficiente para abranger o todo dos seus percursos individuais. Assim sendo, podem ficar questões em aberto quanto ao contexto global, mas quanto à história das suas figuras centrais - que são, afinal, o cerne deste livro - o texto é, em tudo, esclarecedor.
Nesta perspectiva, é também interessante notar que, apesar do destaque dado aos conflitos e à estratégia - porque é de guerra que se trata - , sobressai também, em certa medida, algo do que caracteriza outro tipo de conflitos (e a base de algumas guerras): os interesses em colisão de nobres, príncipes e clérigos, bem como as acções resultantes dessa divergência.
O que fica, então, desta leitura, é a impressão de uma obra que, apesar de exigente, apresenta uma visão muito esclarecedora e interessante dos principais conflitos medievais - e de algumas das suas figuras mais relevantes. Muito interessante, portanto.

Novidade Quetzal

Vidas Perdidas é uma obra-prima feita de bondade, raiva, graça e solidão, um livro que cativou o imaginário de todas as gerações desde que foi publicado, em 1956, e que evoca um mundo mais tarde imortalizado no clássico de Lou Reed, A Walk on the Wild Side. Esta primeira publicação da obra em Portugal é uma homenagem ao génio de Algren e um convite para que os leitores portugueses acedam ao universo singular de vidas perdidas retratado pelo escritor.
Esta é a história de um ingénuo rapaz do campo que foge de Hicksville, no Texas, para procurar uma vida melhor em Nova Orleães. Como pano de fundo, um país devastado pelo desemprego e pela pobreza da Grande Depressão. São os anos em que «o número de desempregados ascendeu a oito milhões, duzentos mil operários siderúrgicos tiveram um corte de quinze por cento nos salários, e isso levou um cardeal a perceber que o colapso económico do país era efetivamente um maravilhoso golpe de sorte, pois aproximava milhares de pessoas da pobreza de Cristo; em que foi pedido que se deportassem os desempregados de origem estrangeira; uma multidão linchou um homem em Atwood, no Kansas; uma crise no fundo de desemprego estava iminente; o preço do algodão subiu ligeiramente, acompanhando o do trigo; e o governador Huey Long disse que tinha chegado a hora de redistribuir a riqueza. Al Capone estava a caminho de Atlanta, e o preço do algodão voltou a cair, acompanhando o do trigo, mas o Congresso decidiu que não havia qualquer justificação para redistribuir a riqueza.»

Nelson Algren nasceu em 1909 em Detroit e viveu quase toda a vida em Chicago. Escreveu nove romances, entre os mais conhecidos The Man with the Golden Arm (o primeiro National Book Award americano, a publicar em breve pela Quetzal), Never Come Morning e A Walk on the Wild Side, que agora apresentamos em Portugal com o título Vidas Perdidas. Além disso, Algren foi igualmente um prolífico autor de contos, ensaios, livros de viagem e poemas. A sua vida foi uma sucessão de problemas com o jogo, casamentos desastrosos, intensos extremos que o levaram das prisões do Texas e das sopas dos pobres às festas e celebrações literárias de Hollywood. Nelson Algren teve também um longo e passional envolvimento amoroso com a escritora francesa Simone de Beauvoir. Nelson Algren morreu em 1981, pouco depois de ter sido nomeado membro da Academia Americana e Instituto das Artes e Letras.

Novidade Porto Editora

Frank Machianno deve a alcunha – Frankie Machine – ao seu talento de atirador de elite: no tempo em que trabalhou para a Máfia era uma verdadeira máquina de matar. Hoje, reformado, passa as manhãs a surfar nas praias de San Diego, na companhia de alguns amigos; durante o resto do tempo, trata da sua loja de apetrechos de pesca e vela para que tudo corra bem com os restaurantes a que fornece peixe fresco e toalhas de mesa. Até ao dia em que, aceitando prestar serviço ao filho de um boss local, é apanhado numa armadilha. O passado regressa então a galope e Frankie não consegue compreender a razão por que todos desejam a sua morte…

Don Winslow, nascido em Nova Iorque e ex-detetive privado, é autor de quinze romances policiais, de entre os quais destacamos The Power of the Dog, California Fire and Life, The Death and Life of Bobby Z, The Kings of Cool e as séries Neal Carey e Boone Daniels.
Do mesmo autor, a Porto Editora publicou Selvagens, considerado um dos melhores livros de 2010 e adaptado ao cinema por Oliver Stone.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A Praga (Sebastian Rook)

Depois da destruição definitiva de Camazotz, Ben, Jack e Emily esperam retomar uma vida normal, como a família que agora são. Mas um novo perigo está prestes a surgir. Tudo começa com a conferência em que um historiador toca o Sino Dhampir, um artefacto do qual se diz ser capaz de levantar os mortos das tumbas. Mais especificamente, as vítimas da praga dos lampiros. Ora, acontece que estes lampiros têm algumas semelhanças com os vampiros que o grupo tão bem conhece. Mas são também diferentes nos aspectos mais importantes. E, por isso, cabe aos três jovens descobrir uma forma de acabar com as criaturas que invadiram Londres... antes que seja demasiado tarde.
Apesar de ser o início de uma nova aventura, os protagonistas deste livro são os mesmos dos anteriores, ainda que agora com novos inimigos e aliados. Assim, o que primeiro cativa para este novo percurso é a quase imediata sensação de proximidade para com as personagens. Ben, Jack e Emily surgem exactamente como se deram a conhecer nos livros anteriores, com as mesmas personalidades cativantes, um sentido de humor refrescante e uma postura face o perigo que desperta empatia. 
Isto basta para querer saber mais sobre a nova batalha que os espera, mas as novas personagens vêm acrescentar também algo mais. Henry, em particular, apesar de ter um papel secundário nos grandes momentos, protagoniza um momento particularmente emotivo. E as personalidades quase opostas de Filip e Sir Peter introduzem um muito cativante equilíbrio entre sobriedade e humor.
Também cativante é o desenvolvimento do conceito de lampiro, das características que os definem e do que pode ser usado contra eles. Claro que, sendo um livro relativamente breve, ficam, inevitavelmente, aspectos por explorar. Mas a história não acaba neste volume, daí que essas questões deixadas em aberto contribuam também para despertar curiosidade para os livros seguintes.
Quanto ao ritmo do enredo, há sempre algo a acontecer, seja no grande confronto, seja nos pequenos planos a fazer, pelo que a leitura facilmente se torna viciante. Além disso, nota-se uma rápida evolução da quase leveza inicial para um panorama bastante mais sombrio, o que confere à situação uma maior intensidade. Sem, contudo, perder o toque de descontracção que acaba por ser característico da forma de estar dos protagonistas.
Trata-se, pois, de uma história envolvente, com personagens fortes, um enredo cheio de momentos intensos e um bom desenvolvimento dos novos elementos sobrenaturais. Uma boa leitura, portanto, interessante e viciante. Gostei.

Novidade Topseller

Axi Moore era uma aluna aplicada. Mas não gostava de dar nas vistas e não contava a ninguém que o que realmente desejava era fugir de tudo. A única pessoa no mundo em quem confiava era Robinson, o seu melhor amigo, por quem estava secretamente apaixonada. 
Quando finalmente decide seguir os seus impulsos e quebrar as regras, Axi convida Robinson para a acompanhar na sua longa viagem. Uma jornada intempestiva, marcada pela paixão oculta e pelo desejo de descobrir o mundo. Mas o que no início era apenas uma aventura livre e despreocupada em breve vai tomar um rumo perigoso e incontrolável. Envolvidos numa sucessão de acontecimentos violentos e dramáticos, os protagonistas são colocados à prova das mais variadas formas. Poderá a primeira grande paixão das suas vidas sobreviver a tudo, até que a morte os separe?

James Patterson já criou mais personagens inesquecíveis do que qualquer outro escritor da atualidade. É o autor dos policiais Alex Cross, os mais populares dos últimos 25 anos.
Entre os seus maiores bestsellers estão também as coleções Private: Agência Internacional de Investigação, The Women’s Murder Club (O Clube das Investigadoras) e Michael Bennett. Patterson é também o autor que teve mais livros até hoje no topo da lista de bestseller e bestsellers do New York Times, segundo o Guinness World Records. Desde que o seu primeiro romance venceu o Edgar Award, em 1977, os seus livros já venderam mais de 295 milhões de exemplares. 
Patterson escreveu também diversos livros de grande êxito para jovens, entre os quais estão as séries Confissões, Maximum Ride, Escola e Eu Cómico. Em Portugal, James Patterson é publicado pela Topseller (Alex Cross, Private, NYPD Red,Confissões,Maximum Ride e Primeiro Amor) e pela Booksmile (séries juvenis Escola e Eu Cómico). 

Novidades SELF para Janeiro e Fevereiro

A influência aprende-se. Este livro explica as técnicas mais poderosas, no âmbito pessoal e profissional, para conseguir alcançar os seus objectivos através da utilização de uma ferramenta poderosa chamada comunicação. A reflexão a que esta obra nos convida ajuda-nos a ser mais influentes no nosso meio mais próximo e a analisar porque é que os bons líderes, as pessoas poderosas e os ícones mediáticos conseguem alcançar os seus objectivos. 
A influência forja-se com rigor, método e uma estratégia em que planeamos previamente os objectivos que pretendemos alcançar através da linguagem, dos nossos actos, das atitudes e de qualidades pessoais e profissionais que vão da sedução à imagem de marca, pelas técnicas de motivação, pela inteligência emocional, pelas capacidades de comunicação e pela capacidade de superação.
A influência não se improvisa. Pelo contrário, a capacidade de influenciar os outros prepara-se, e este livro ajudá-lo-á a aprofundar a difícil arte de persuadir, que é muito mais do que convencer, e a familiarizar-se com os segredos para utilizar a comunicação de forma a conseguir alcançar os objectivos que pretende na sua vida pessoal e profissional. O êxito depende de muitos factores, apesar de a capacidade de influenciar ser a ferramenta mais poderosa para alcançar qualquer objectivo.

DATA DE LANÇAMENTO: 2 de Janeiro

A consultora SAT não funciona bem: os funcionários estão descontentes, o chefe trata mal os seus subordinados, reinam o mal-estar e a desconfiança... Até que chega Pablo Príncipe, personagem optimista e entusiasta, baseada no Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry. Pablo é o novo gestor de pessoas e valores e revoluciona a empresa e a vida dos empregados com as suas inovadoras concepções sobre o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e a inteligência emocional, ensinando-os a apreciar a mudança profunda que podem sentir os seres humanos e, por acréscimo, as organizações de que fazem parte, quando tomam consciência do seu verdadeiro potencial, colocando-o ao serviço de uma função necessária, criativa, sustentável e com sentido.
Em tom de fábula, Borja Vilaseca transforma um livro sobre liderança num relato inspirador que pretende divulgar valores de crescimento pessoal através de uma história exemplar. 
A finalidade deste livro é explicar os acontecimentos que 
levaram este herói anónimo a fazer o que fez e transmitir aos leitores uma mensagem importante: se estivermos realmente empenhados no nosso próprio desenvolvimento pessoal, é imprescindível que aprendamos a conhecer-nos melhor.

DATA DE LANÇAMENTO: 06 de Fevereiro 

Novidade Casa das Letras

Desde a morte da shellan que Tohrment é uma sombra do líder vampiro de outrora. Fisicamente debilitado e profundamente destroçado, foi levado de volta à Irmandade por um anjo caído egocêntrico. De regresso à guerra com um desejo de vingança implacável, não está preparado para enfrentar um novo tipo de tragédia. Quando Tohr começa a ver a sua amada em sonhos – presa num mundo frio e isolado, longe da paz e da tranquilidade do Vápido – aceita a ajuda do anjo, na esperança de salvar quem perdeu. No entanto, como Lassiter lhe diz que tem de aprender a amar outra vez para libertar a sua antiga companheira, Tohr apercebe-se de que estão todos condenados...
É nessa altura que uma fêmea com uma história obscura começa a aproximar- -se dele. No cenário da guerra com os minguantes e com um novo clã de vampiros a almejar o trono do Rei Cego, Tohr debate-se entre o passado enterrado e um futuro escaldante e cheio de paixão... mas será capaz de libertar o coração, e a todos eles?

J. R. Ward vive no Sul dos Estados Unidos, com o seu marido incrivelmente generoso e o seu amado golden retriever. Depois de se ter formado em Direito, começou a sua vida profissional na área da saúde, em Boston, tendo passado muitos anos como chefe de equipa de um dos centros clínicos do país. A escrita foi sempre a sua paixão, e a sua ideia de Céu é um dia inteiro com mais nada além do seu computador, o seu cão e a caneca de café. Este é o décimo volume da saga «Irmandade da Adaga Negra», a continuação de Na Sombra da Noite, Na Sombra do Dragão, Na Sombra do Pecado, Na Sombra do Desejo, Na Sombra do Sonho, Na Sombra do Amor, Na Sombra da Vingança, Na Sombra do Destino e Na Sombra do Perigo.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Invernos Dourados (Andrea Higgs)

Eowyn, princesa do deserto, cresceu a ouvir histórias de um lugar bem longe do seu mundo, de uma terra repleta de magia, onde a natureza e as gentes são completamente diferentes de tudo quanto conhece. Mas, enquanto filha do sultão, sabe que a sua realidade está no oásis onde vive e, mesmo que o pai se tenha mostrado tolerante relativamente às suas escolhas, a pressão para que aceite um pretendente tem vindo a crescer. Antes, contudo, Eowyn quer conhecer aquele mundo diferente, onde o irmão já foi e onde encontrou o amor. Parte, pois, para Erin, sem saber que, depois das dificuldades, também ela está destinada a encontrar um afecto sem limites... e novas batalhas para travar.
Sendo essencialmente uma história de amor nascido entre mundos diferentes, este é um livro que tem nas emoções o seu grande ponto forte. Narrado na primeira pessoa, cativa principalmente nos momentos em que a protagonista desperta empatia, sobressaindo, neste aspecto, a fase final, em que os acontecimentos atingem um pico de intensidade. Mas há também pequenos momentos de emoção e também eles contribuem para que se sinta uma certa proximidade com a protagonista.
Também no contexto há alguns elementos interessantes. As diferenças entre o mundo de Eowyn e o de Howan colocam em destaque algumas diferenças culturais que, ainda que abordadas de forma muito sucinta, não deixam de ser pertinentes. Além disso, há uma considerável componente descritiva na forma como o enredo é desenvolvido, o que, apesar de tornar o ritmo da história bastante mais pausado, surpreende também pela beleza de alguns dos cenários descritos. Cenários estes que, conjugados com os elementos mágicos, conferem à história uma nova envolvência.
Ao ser Eowyn a narrar a sua história, ficam, inevitavelmente, aspectos por explorar, já que há um conjunto de circunstâncias, principalmente relativamente à família de Eowyn, que ficam em suspenso com a sua partida. Haveria, talvez, mais a dizer sobre estes aspectos, ainda que não sejam essenciais à história da protagonista.
E, por último, importa referir, como ponto fraco, algum descuido a nível de revisão, já que, não sendo frequentes ao ponto de tornar a leitura penosa, surgem alguns erros ao longo do texto, o que, inevitavelmente, e por mais interessante que seja a história, acaba por quebrar o ritmo da leitura.
Envolvente e emotivo, este é, pois, um livro que, podendo ser mais desenvolvido nalguns aspectos, apresenta, apesar de tudo, uma história cativante, com bons momentos que compensam as fragilidades. Uma leitura agradável e com um final interessante. Gostei.

Novidade Porto Editora

Ela era a rainha de Jhansi, um reino livre do centro da Índia. Uma jovem viúva de trinta anos, impetuosa e altiva. Morreu na guerra, vestida de homem, as rédeas do cavalo entre os dentes, uma espada em cada mão e um colar de pérolas ao pescoço.
Este movimento de libertação nacional, conhecido por «revolta dos sipaios», dilacerou o ventre da Índia em meados do século XIX, quando os soldados indígenas de pele escura, conhecidos como «sipaios», se sublevaram contra os amos brancos, ou os «John Company», em referência à Companhia das Índias Orientais.
Muitas humilhações, muitos rajás destronados, muitas explorações… Certo dia, tudo explodiu. Nasceu a insurreição. A guerra de independência indiana durou dois anos, dois terríveis anos de vitórias e massacres, largamente comentados a partir de Londres por dois correspondentes de imprensa, Karl Marx e Friedrich Engels.
Quando a guerreira morreu, a Índia deixou de ser livre. Mas, ainda hoje, as crianças indianas aprendem na escola a canção que celebra a sua glória. Um destino fulgurante, cantado por todo um povo e contado com energia por Catherine Clément, que aqui reencontra a Índia que tão bem conhece.

Filósofa e romancista, Catherine Clément nasceu em 1939, em Paris. Depois de ter publicado obras de filosofia, antropologia e psicanálise, converteu-se, com sucesso, à ficção. Entre os seus romances mais populares, contam-se A Senhora, Por Amor da Índia, A Valsa Inacabada, A Rameira do Diabo, A Viagem de Théo e O Último Encontro.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O Juramento da Rainha (C.W. Gortner)

Enquanto terceira filha do rei, ninguém acreditava que Isabel estivesse destinada à glória. Mas a morte do rei e a sua fuga apressada, planeada pela mãe e com o auxílio de aliados insuspeitos, viriam a mudar o rumo das coisas. Pouco mais que uma criança, Isabel cresceria habituada à frugalidade da sua condição, para depois ser chamada à corte e descobrir um mundo de intrigas e de jogadores ocultos. E aí, entre conspiradores e interesses contraditórios, ela aprenderia a ser forte e a defender-se quando ninguém mais ficasse do seu lado. Afinal, estava destinada a grandes honras... mas também a difíceis responsabilidades.
Uma das coisas que primeiro impressionam neste livro é a forma como o autor consegue, a partir de uma figura cujas acções mais conhecidas são, provavelmente, as mais cruéis, criar para essa mesma figura um retrato bem mais humano, colocando até essas decisões mais duras sob uma nova perspectiva. O retrato que o autor traça de Isabel, a Católica, é a de uma rainha, e de uma rainha disposta ao que for preciso pelo bem do seu reino, mas também, e principalmente, o de uma mulher, forte e determinada, mas com as vulnerabilidades que a tornam humana e uma vasta complexidade de pensamento e de sensibilidade. A protagonista deste livro é, pois, uma personagem complexa e, ao narrar a sua história na primeira pessoa, torna-se também mais carismática, pois é possível conhecer uma imagem da sua mente e do seu coração.
Este tipo de narração torna a leitura mais envolvente. Nunca será uma leitura compulsiva, já que o desenvolvimento do contexto histórico - e da inevitável teia de intrigas que rodeia a corte - exige uma considerável componente descritiva. O ritmo do enredo é, por isso, pausado, mas nunca deixa de ser envolvente, quer pela fluidez da escrita, quer pela forma como o autor equilibra o desenvolvimento do contexto e dos cenários com as percepções da protagonista e as suas vivências.
Tudo é interessante, pois, a nível de contexto. Além disso, há um muito bom equilíbrio entre os momentos mais descritivos e as situações mais intensas. Ao longo do enredo, surgem situações de grande intensidade, seja devido a uma circunstância de perigo, seja pelo impacto emocional que representam. Também isto contribui para manter a envolvência da leitura, já que, seja no âmbito mais pessoal, seja nas questões que envolvem todo o reino, há sempre algo de relevante a acontecer.
Conjugando as complexidades da história de Castela com as complexidades da vida da própria Isabel, este é, pois, um livro em que o contexto mais vasto e a história pessoal se fundem numa história equilibrada e envolvente. Com personagens carismáticas, uma escrita fluída e momentos verdadeiramente impressionantes, O Juramento da Rainha traça para a sua protagonista um retrato fascinante. O conjunto de tudo é, claro, muito bom.

Novidade Guerra e Paz

Há um morto nas catacumbas do Vaticano. Francesco Barocci, curador do Tesouro, é encontrado sem vida na Sala das Relíquias. Foi assassinado: chuparam-lhe o sangue. Há bispos e cardeais em pânico. Um português, o inspector Luís Borges, e uma simbologista, a escaldante Valeria Del Bosque, encarregam-se da investigação.
Um tesouro que todos conhecem e todos querem esconder, uma conspiração que ameaça o Papa, uma sociedade secreta que semeia as igrejas de cadáveres. São estes os mistérios que o inspector e a simbologista têm de decifrar. Uma batalha cruel, florentina, com mais ouro e sexo do que incenso e mirra.

Sobre o autor: É o mais novo romancista português: tem 71 anos e este Inferno no Vaticano é o seu grande romance, a aposta da sua vida. Estudante vagabundo, autodidacta convicto, leu Romeu e Julieta aos 11 anos, o que explica a mudança do apelido para Capuleto.
Leu muito, viveu mais: de um escritório de advogados a soldado em Angola, passando por uma fábrica de malas de viagem, fez tudo até ser dono de um aviário de frangos. Fartou-se. Não queria frangos, queria livros. Começou por vendê-los, como distribuidor, às livrarias. 
Decidiu, agora, escrevê-los e é como se a sua vida começasse de novo. Inferno no Vaticano é o romance atrevido, chocante e erótico do mais jovem romancista português, Flávio Capuleto, adolescente aos 71 anos.

Novidade Alfaguara

A Invenção do Amor passa-se em Madrid, nos dias de hoje, e narra a história de Samuel, que se apaixona por uma mulher que já morreu e que ele nem sequer conhecia. A partir daí, decide-se a reinventar-lhe uma vida, fazendo do leitor cúmplice na capacidade do ser humano para se enganar a si mesmo.
Do seu terraço, Samuel observa a agitação quotidiana de Madrid, repetindo para si próprio que tudo está bem. Sobreviveu aos quarenta, a "idade maldita", não tem filhos, e as mulheres entram e saem da sua vida sem nunca pronunciarem as palavras "para sempre".
Uma madrugada, alguém lhe comunica por telefone que Clara, sua ex-namorada, morreu num acidente. De ressaca, Samuel é incapaz de explicar que não conhece nenhuma Clara. Impelido por um misto de curiosidade e enfado, decide ir ao velório. É então que, fascinado pela possibilidade de usurpar a identidade da pessoa com quem o confundem, Samuel ficciona uma história de amor com Clara, que vai partilhando com Carina, a irmã desta. Samuel vê nesse jogo de ilusões a possibilidade de reinventar a sua existência e de, por fim, se sentir vivo. À medida que a memória de Clara vai ganhando verdadeira forma na sua cabeça, vai crescendo também a atracção que sente por Carina - e Samuel começa a perder o controlo do jogo que criou. Irá o amor que inventou ser a sua salvação ou a sua perdição?

José Ovejero nasceu em Madrid em 1958. A sua paixão pela literatura e pelo jornalismo leva-o a dividir a sua vida entre a cidade-natal e Bruxelas. Romancista, contista, ensaísta, dramaturgo e poeta, por todos estes géneros recebeu diversos prémios literários. Pelo último romance, A Invenção do Amor, foi destacado com o Prémio Alfaguara de Romance em 2013.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Princesa de Limaland e o Mistério da Profecia (Cláudia Ferreira)

Mais perto, agora, de conhecer a verdade sobre si mesma, Jade começa a habituar-se a viver numa cidade mágica e ao seu papel de filha da rainha, mas continua a sofrer por Santiago, o rapaz que ama e que desapareceu sem deixar rasto. Ainda assim, a vida continua e Jade tem de aprender a viver com os seus problemas, ao mesmo tempo que se adapta a uma nova vida com novas regras. Mas há outros problema a surgir. Sonhos sombrios são o primeiro sinal de que Limaland poderá estar em perigo. E, quando esses sonhos se tornam em realidade, Jade começa a temer a chegada das trevas, sem suspeitar, contudo, de que com a escuridão venha também uma revelação perturbadora.
Mais extenso que o livro anterior e, portanto, com um maior desenvolvimento, quer a nível de acontecimentos, quer de personagens, este livro tem como principal ponto forte o facto de acrescentar novas ideias e novas situações, e várias delas bastante interessantes. Elementos como a vida na nova escola de Jade, ou grandes revelações, como as associadas às capacidades de Jade e aos novos perigos que surgem ao longo do enredo, contribuem em muito para manter viva a curiosidade em saber o que vai acontecer a seguir. Para isso contribui também a escrita bastante simples, mas cativante quanto baste, e o ocasional momento mais emotivo que vai surgindo ao longo do enredo.
Mas continuam presentes algumas fragilidades. Mais uma vez, nota-se algum descuido na revisão, com pontuais erros ortográficos e algumas frases estranhas a surgirem ao longo do texto. E, quanto ao desenvolvimento do enredo, o ritmo continua algo errático, com quase todas as situações a serem descritas de forma bastante apressada e, contudo, com algumas delas que não parecem ser especialmente relevantes para o rumo dos acontecimentos. A sensação que fica, por vezes, é a de momentos em que mais haveria a dizer sobre o sucedido e de outros que talvez não fossem realmente necessários. Esta sensação de uma abordagem algo apressada nota-se também nas tentativas de abordar questões mais profundas, fazendo com que se perca parte do impacto, pois certas decisões e julgamentos parecem também demasiado bruscos.
Também há bons momentos, apesar disso, e o percurso de Jade é interessante o suficiente para manter viva a curiosidade em saber mais, seguindo a sua história até um final que surpreende por ser particularmente interessante. E que, claro, deixa em aberto muitas perguntas para o terceiro livro, mas também o interesse em saber como terminará a aventura.
A impressão que fica é, em suma, muito semelhante à do primeiro volume. Uma história interessante, com alguns momentos especialmente bons e cativante quanto baste, mas onde continua a haver bastante por explorar. Deixa curiosidade em saber mais, e lê-se bem. Mas haveria possivelmente mais a contar relativamente a esta parte da história.

Novidade Esfera dos Livros

Numa extraordinária viagem do século XV ao século XX, as vidas destes 14 homens e mulheres ilustres da nossa História renascem pela mão da jornalista Miriam Assor, que nos conta como de formas variadas, cada um deles contribuiu, enriqueceu, dignificou e honrou o país, marcando terminantemente o universo histórico-nacional e além-fronteiras. Da Medicina à Filosofia, da Ciência ao sector pioneiro empresarial, da Poesia litúrgica a autoridades rabínicas, da Música à Matemática, da Literatura à liderança comunitária. Foram humanistas, homens e mulheres corajosos que optaram por actuar ao serviço do próximo, colocando, muitas vezes, as suas próprias vidas em risco ou num último plano. O célebre médico Amato Lusitano, a empresária destemida Dona Grácia Naci, o famoso naturalista Garcia de Orta, o cientista Pedro Nunes, o pensador Isaac Cardoso, o rabino Isaac Aboab da Fonseca, que, fugido da perseguição que alastrava em Portugal incendiada pelos fogos da Inquisição, encontrou na Holanda a paz para fundar a sinagoga portuguesa em Amesterdão. A extinção formal da Inquisição em 1821 trouxe de volta ao país estes homens e mulheres perseguidos, que dominando várias línguas e em contacto permanente com a Europa e o mundo - quer por razões comerciais quer por razões pessoais - trazem uma lufada de ar fresco ao nosso país. Alfredo Bensaúde, fundador e o primeiro director do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. A sua filha, Matilde, pioneira da investigação biológica, única mulher entre os criadores da Sociedade Portuguesa de Biologia. Alain Oulman, o compositor que revolucionou o fado e que teve como principal divulgadora desse seu infindo talento a voz de Amália. O catedrático Moses Amzalak, líder da Comunidade Israelita de Lisboa, que aproveitou a sua proximidade com o ditador Salazar para realizar as operações de socorro aos refugiados do Holocausto. Também os irmãos Samuel Sequerra e Joel Sequerra, a viver em Barcelona, salvaram cerca de mil compatriotas das mãos nazis. Já Abraham Assor chega a Portugal pouco tempo antes de acabar a Segunda Guerra Mundial e seria, por meio século, o rabino da Comunidade Israelita de Lisboa.
                                                                                        
Miriam Assor nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1966, no seio de uma família judaica ortodoxa. Uma visita aos campos de concentração nazis, em 1985, fá‐la trocar o curso de Psicologia Aplicada e a cidade pela vida comunitária dos kibbutz e pelo voluntariado, em Israel. Regressa após dois anos e meio e licencia‐se. Simultaneamente cursa Comunicação no Instituto de Aperfeiçoamento Acelerado. Prefere não exercer nenhum dos diplomas e ingressa na companhia aérea El Al, onde trabalha durante uma década. Enquanto a rotina assentava no verbo viajar, publica, em 1997, Libi, um livro de poemas. Doze meses volvidos, a escrita voa muito mais alto que os aviões. Torna‐se cronista da grande escola de humanismo que foi o semanário O Independente. Desde esse passo, a escrita teima e insiste, e, em 1999, edita Sentidos. Coordena, em 2001, Luz, em homenagem póstuma ao seu pai, Abraham Assor, rabino da Comunidade Israelita de Lisboa durante cinquenta anos. Em 2003 coordena a obra Gueto de Varsóvia e na sequência deste tema é comissária de duas exposições, coincidindo a última, em 2005, com a exposição documental alusiva à vida de Aristides de Sousa Mendes, Registos para a Liberdade, na Casa do Registo, em Lisboa. Crónicas de Táxis (2008) é uma compilação de crónicas publicadas na revista Domingo, publicada pela CSantos VP (concessionário Mercedes). Em Abril de 2009 publica Aristides de Sousa Mendes, Um Justo Contra a Corrente, Guerra e Paz Editores, que marcou indelevelmente a investigação sobre uma das mais generosas personalidades do século XX português. Para a Presselivre escreveu, entre outras obras, Sá Carneiro (2010) e Viagem aos Segredos da Maçonaria (2012) - obras distribuídas pelo jornal Correio da Manhã. Em Julho de 2013, editado pelos Livros d'Hoje, saiu de sua autoria Jorge Jesus, o Treinador que Mantém a Chama Acesa. Actualmente é jornalista freelancer.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Escravos do Desejo (Kate Pearce)

A caminho de Londres e em fuga de um passado conturbado, Helene Delornay viu-se presa, durante um fim-de-semana, na companhia de um homem sedutor e impetuoso, mas com inesperados laivos de cavalheirismo. Partilhou essa noite com Philip Ross e foi quanto bastou para descobrirem a paixão. Mas não o suficiente para ficarem juntos. Helene tinha nos ombros o peso do passado e Philip o das exigências paternas. Agora, dezoito anos mais tarde, Helene é a dona da casa de prazer mais exclusiva de Londres e um dos seus sócios acaba de morrer, deixando a sua parte do negócio... a Philip. Mais uma vez, os caminhos de ambos voltam a cruzar-se. E, mais diferentes ainda do que quando se conheceram, têm ainda em comum uma paixão devastadora. Mas poderá sobreviver a tudo o que os separa?
Situado no mesmo cenário do livro anterior, e com personagens em comum, este livro surpreende, em primeiro lugar, por um inesperado equilíbrio entre a componente erótica e os restantes elementos do enredo. Se em Escravos da Paixão o erotismo era o aspecto dominante, com o restante da história a surgir como complemento, neste livro tudo é desenvolvido de uma forma mais equilibrada, com a história e a caracterização das personagens a desempenharem um papel tão relevante como as cenas sensuais que, ao longo do enredo, vão surgindo.
Nada se perde, a nível de desenvolvimento do lado erótico da história, devido a este cruzar de novos elementos. Muito pelo contrário. Ao desenvolver mais o passado dos protagonistas, a autora torna-os mais interessantes e mais próximos - até porque esses passados conturbados dão, por si próprios, uma bela história. E ao acrescentar ao enredo uns quantos elementos de intriga e de perigo, tudo se torna muito mais intenso, já que a relação dos protagonistas se forma com base não apenas na atracção e no contacto físico, mas também no que cedo se revela como um genuíno afecto.
Tudo isto é narrado de uma forma relativamente simples, sem elaborações desnecessárias, mas com todos os elementos essenciais à caracterização - seja de ambiente ou de personagens. Além disso, há uma curiosa evolução nas interacções entre os protagonistas, já que as suas diferenças de temperamento ocasionam quer momentos de tensão, quer situações curiosamente divertidas. Também isto contribui para uma impressão de leveza, o que torna a leitura especialmente agradável. E, mesmo que, na questão da intriga, seja relativamente fácil reconhecer o responsável, a forma como tudo acontece não deixa de ser interessante.
Envolvente e equilibrado, Escravos do Desejo apresenta um cenário intrigante e personagens interessantes. E, com eles, constrói uma história cativante, com muito de erotismo, mas também com muito de interessante para lá do erotismo. O resultado é uma leitura leve e sempre agradável. E uma boa história, em suma.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A Chama de Sevenwaters (Juliet Marillier)

Passaram dez anos desde o incêndio que a deixou marcada para sempre, e Maeve cresceu para aceitar o que a vida lhe deu. Mas nem só marcas físicas ficaram do fogo e, agora que a necessidade a obriga a regressar a Sevenwaters, todos os medos e inseguranças voltam a afluir-lhe ao pensamento. Ainda assim, o regresso não é algo a que se possa recusar, não quando as acções de Mac Dara ameaçam lançar a desgraça sobre Sevenwaters. E muito menos quando, ainda que não o saiba, a própria Maeve tem um papel fundamental a desempenhar no combate ao príncipe do Outro Mundo.
Último volume do regresso a Sevenwaters, este é um livro que une muitos pontos, dando respostas ao que tinha ficado em aberto e terminando, enfim, a longa estrada de algumas das personagens. Não surpreende, por isso, que este seja um livro particularmente emotivo. E essa emotividade nasce, desde logo, com a forma como Maeve começa a contar a sua história, com uma vaga melancolia que se insinua através da sua força e que, em poucas páginas, basta para gerar empatia. Além disso, se a voz de Maeve abre aos leitores o coração da sua protagonista, a sua forma de ver o mundo e as pessoas revela também as histórias e o coração dos outros. Com o evoluir do enredo e os muitos momentos intensos que vão surgindo, outras personagens se revelam no que fala ao coração, desde Finbar, sério para lá dos seus parcos anos, ao sempre misterioso e sempre impressionante Ciarán, cujo papel neste livro acaba por ser a mais impressionante e adequada conclusão para o seu longo percurso.
Da história propriamente dita, sobressaem a força dos momentos e a envolvência com que é contada. Não se pode dizer que sejam especialmente surpreendentes a identidade dos antagonistas ou a intervenção de algumas das personagens, mas a forma como a história é construída, sempre com uma impressão de proximidade às personagens, uma força emotiva em grandes e pequenos momentos e uma escrita sempre maravilhosa, compensa em muito esses momentos mais previsíveis, o que permite que a envolvência se mantenha, mesmo quando é fácil adivinhar o que vai acontecer.
E depois há a sensação de um fim atingido e de uma porta que se fecha - ainda que, talvez, não completamente. Não só para Maeve, com a sua luta e a sua superação, mas para todo um conjunto de conflitos - interiores ou entre mundos - que abrem caminho, em fim, para a paz possível. Mais uma vez, aqui é Ciarán que sobressai, Ciarán e a sua difícil escolha, mas há para todos - e para Sevenwaters em geral - uma conclusão adequada. E essa impressão acaba por ser estranhamente reconfortante.
Maravilhosamente escrito e repleto de momentos emotivos, eis, pois, um livro que, não sendo completamente surpreendente, cativa, ainda assim, quer pelas personagens, quer pelo enredo, quer pela beleza da escrita que molda esta história. Sempre envolvente e, por vezes, comovente, um final à altura para uma história fascinante. Muito bom.