quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Antes que Chova (João Nunes)

De amor e de saudade, e todas as experiências e emoções entre ambos. Desta matéria são feitos os poemas deste pequeno, mas muito interessante livro. E interessante, acima de tudo, por apresentar uma voz muito própria, definida por um contraste peculiar entre o que é a narração pura e dura das coisas e a complexidade das ideias e sentimentos que lhes estão subjacentes.
Esta particularidade é algo constante em todos os poemas do livro, sejam os mais extensos, sejam os que não passam da devidamente realçada terceira linha. É uma impressão peculiar, feita de frases directas, de exposições claras, que criam uma impressão de aparente simplicidade, mas que, ao conjugar-se num todo, acabam por revelar uma mais vasta complexidade. As emoções por detrás das palavras simples, as ideias, as próprias imagens, são algo de muito maior do que o que é contido numa frase. E assim, de uma forma de escrita que, à primeira vista, nada tem de elaborado e rebuscado, surgem poemas verdadeiramente memoráveis.
Um outro aspecto que sobressai deste livro é um muito bom equilíbrio a nível de unidade temática. Cada um dos poemas é um todo em si mesmo, e, tendo isto em vista, a diversidade de perspectivas - do amor, do quotidiano, da partida, da morte - torna o conjunto abrangente o suficiente para que a leitura nunca se torne repetitiva. Mas, desta multiplicidade de questões, surge também um sentido de unidade, concretizada num registo muito pessoal, definindo a identidade do sujeito poético através das emoções e da voz com que as explora. Há uma perspectiva global a retirar da totalidade do livro, que é, no fundo, a soma do que se retira de cada poema, e daquilo que os une na forma de um todo maior. Um equilíbrio delicado, em suma, mas muito bem constituído.
É um livro breve, este Antes que Chova. Mas é também, com uma identidade bem definida e uma forma muito própria de moldar imagens e afectos num registo que facilmente fica na memória, um conjunto de surpreendente complexidade, equilibrado e completo, em cada poema e no todo. Muito bom, em suma.

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