quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Epopeia do Eterno Navegador (Maria Antonieta Costa)

Na sequência de um conflito nascido de uns versos dedicados à mulher errada, Luís Vaz de Camões é enviado à pressa para Lisboa, onde o seu protector espera que venha a ganhar juízo e a seguir as suas dignas pisadas. Mas de forte génio e temperamento conflituoso, o jovem poeta está longe de se sentir atraído pela vida de estudioso. Em Lisboa descobre a força dos seus primeiros amores, o mais intenso dos quais sentido pela mulher que vislumbrou ainda em Coimbra. Mas o mesmo génio que lhe atrai admiradores desperta conflitos e o seu temperamento apenas o alimenta. Começa assim uma vida de aventuras - mas também de desventuras.
História do poeta e do homem, este é um livro que, centrado essencialmente na figura de Camões, não se limita, ainda assim, ao seu percurso. Este é, aliás, um dos pontos mais interessantes deste livro, que, sem se resumir à história do seu protagonista, apresenta também um amplo desenvolvimento do contexto histórico e do percurso de alguns dos seus protagonistas. Através do percurso do poeta, a autora apresenta também alguns dos mais negros momentos da história do seu tempo, expandindo-se também a outras personalidades marcantes da época numa muito interessante mistura de realidade e ficção.
Também em termos de amores a história não se limita a Luís de Camões. Principalmente na primeira parte, que é também a mais extensa do livro, outros romances há de igual relevância, com todo um enredo de vinganças e rivalidades a servir de base aos episódios mais intrigantes do livro. Há também um toque de sobrenatural que, muito discreto, mas muito interessante, vem adensar a aura de mistério que se sente em algumas partes do enredo. 
Mas, se esta primeira parte é a mais densa, e, em certos momentos, a mais intensa, há também bons momentos nas partes que se seguem. Mais breves, um pouco apressadas nalguns momentos, surpreendem, ainda assim, pela força de algumas situações, sendo de destacar, como é inevitável, o impacto do final.
Em termos de escrita, a narrativa flui a um ritmo pausado, mas cativante e agradável quanto baste. Há, por vezes, pequenas passagens mais forçadas, principalmente as associadas aos versos do poeta que, ao longo do texto, são, por vezes, atribuídos à voz de outras personagens, o que cria uma sensação de estranheza. São, ainda assim, pequenos momentos de uma narrativa que raramente perde a envolvência e em que a história compensa amplamente esses pequenos episódios.
Trata-se, então, de um livro que, não sendo de leitura compulsiva, cativa principalmente pelo contexto histórico e pelos momentos especialmente marcantes que a autora constrói para a vida aventurosa do seu protagonista. Uma boa história, pois, e uma boa leitura.

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