segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um Comércio Respeitável (Philippa Gregory)

Bristol, 1787. A prosperidade da cidade e do país é sustentada, em grande medida, pelos lucros resultantes do comércio de escravos. E é deste comércio que vive Josiah Cole, pequeno comerciante que ambiciona enriquecer. É com esse futuro em vista que casa com Frances Scott, uma mulher com laços à nobreza, mas cuja situação é delicada. Ambos reconhecem vantagens num casamento de conveniência, mas o futuro que lhes está reservado trará grandes surpresas. É que o plano de Josiah de trazer escravos para Inglaterra para que a esposa os eduque para serem bons criados terá também consequências imprevistas. Com a chegada de Mehuru, nobre e culto no seu país de origem, mas reduzido ao nada da condição de escravo, Frances irá questionar tudo aquilo que a define. E enquanto os riscos ameaçam a prosperidade dos Cole, Frances irá descobrir um sentimento que nunca conheceu.
Envolvente desde as primeiras páginas, e apesar de um início um pouco apressado, Um Comércio Respeitável cativa, em primeiro lugar, pelas grandes questões que aborda. A principal é, sem dúvida, a escravatura, com as condições miseráveis do transporte e do tratamento dos escravos, bem como a própria perda da liberdade, a desempenharem um papel fundamental no rumo dos acontecimentos. Mas há mais. As consequências da ambição desmedida e do risco sem ponderação estão também muito presentes, bem como, ainda, as limitações impostas pelas normas sociais. Tudo isto é considerado ao longo desta história e surge tanto em reflexões como em acções, e isso é parte do que marca neste livro.
Outro ponto muito positivo é o desenvolvimento das personagens. Inicialmente algo distantes, devido à narração algo apressada dos primeiros acontecimentos, quer os protagonistas, quer algumas das personagens secundárias evoluem no sentido de um carácter complexo e interessante. Há uma empatia que cresce gradualmente, principalmente para com Mehuru, e que reforça quer o impacto das suas circunstâncias, quer os traços mais odiosos dos "vilões" - se vilões se lhes pode chamar - do livro.
Quanto à história propriamente dita, o enredo evolui a um ritmo relativamente pausado, mas cativante. Isto deve-se também à fluidez da escrita, mas principalmente ao muito bom equilíbrio emocional que se estabelece, conjugando momentos de uma quase rotina - com traços difíceis de entender, nalguns aspectos, mas adequados ao seu tempo - com situações que até podem ser simples, mas que têm um impacto emocional impressionante e que, de momento em momento, abrem caminho para um final muito forte.
Tendo por base um tema muito relevante, e moldando-o numa história cativante, Um Comércio Respeitável proporciona uma leitura envolvente e agradável, com grandes momentos de emoção e personagens que, pelo que são e pela forma como crescem, acabam por conquistar o leitor. Muito bom.

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