segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sangue e Ouro (Anne Rice)

Nascido na Roma imperial e, contra a sua vontade, roubado ao mundo dos mortais, Marius cedo descobriu a missão da sua longa existência. Era ainda jovem quando o espírito de Akasha, primeira entre todos, o chamou ao Egipto e o tornou guardião de Aqueles que Devem ser Preservados. Mas, mesmo com a missão de guardar os imutáveis, a eternidade seria longa e solitária. Agora, passadas eras de existência, Marius recebe a visita de um como ele. E a ele contará a a sua história.
Para quem segue as Crónicas do Vampiro, Marius dificilmente será uma personagem desconhecida. Complexo e misterioso, desempenhou um papel fundamental em muitos dos volumes anteriores. Ainda assim, longas partes da sua história continuavam a ser um enigma. Sangue e Ouro traz a narração dessas partes em falta. E, contadas pela voz do próprio Marius, sempre intensa e sempre pessoal, também essas memórias exercem vasto fascínio.
Tal como os outros livros da série, também este surge com o mesmo ritmo pausado, descritivo, muitas vezes, introspectivo. Parece ser algo de característico nestes livros. Tal como Lestat, também Marius analisa e pondera, considera a sua história e o que viveu, mas também o que pensou e sentiu. Isto faz com que o enredo avance, de facto, a um ritmo mais lento, mas sem lhe retirar qualquer parte da intensidade. 
Também característico destes livros é a complexidade das personagens, tanto no que caracteriza os vampiros, como na sua personalidade individual. E, enquanto figura antiga e complexa, Marius é fascinante, tanto pela sua história, como pela forma como esta se reflecte em sentimentos. Carismático, de forças insondáveis, mas com traços de uma vulnerabilidade comovente, Marius protagoniza, através da sua longa vida, uma história que, sendo muito pessoal, se aproxima em muito das dos outros vampiros. Há, aliás, pontos em comum com o enredo de outros livros (sendo, é claro, de destacar a parte que diz respeito a Armand). Mas estes pontos, longe de tornarem a história repetitiva, acrescentam algo de novo, pois são vistos pela perspectiva de Marius, personagem que, até agora, misteriosa, é aqui apresentada em toda a sua complexidade.
Ainda um outro aspecto interessante é que, apesar de haver já muitos volumes prévios a este livro, a autora acrescenta sempre algo de novo ao seu sistema, seja nos pequenos detalhes de uma história pessoal, seja no que toca a poderes que só alguns vampiros conhecem. Há sempre algo de novo para descobrir e isto faz com que, além de cativante no geral, e comovente nos seus momentos mais fortes, haja também algo de surpreendente pronto a surgir em algum acontecimento.
Complexo e fascinante, quer pelo seu protagonista complexo, quer pela perspectiva mais ampla que surge das suas vicissitudes, Sangue e Ouro acrescenta a um mundo já vasto e interessante, ainda novos elementos de fascínio. E tudo - cenário, personagens, emoções - se equilibra da melhor forma, para moldar uma história sempre mais vasta e brilhante. Soberba, em suma.

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