sábado, 3 de agosto de 2013

O Perfeito Cavalheiro (Imran Ahmad)

Imran ainda era um bebé quando os pais deixaram o Paquistão para viver em Londres. O seu crescimento foi, por isso, uma adaptação progressiva a um ambiente diferente daquele em que nasceu. Cresceu com a luta contra as dificuldades e a persistência do sonho, a sombra do racismo e a descoberta de alguns bons companheiros, os dilemas religiosos e a tentativa de definir um percurso pessoal. Este livro contém as memórias dessa infância e juventude, num conjunto de episódios e pensamentos que ora são peculiares, ora estranhos, ora comoventes.
Sendo um livro autobiográfico, é natural que sobressaia deste livro a sua perspectiva pessoal. Mas há, nesta, um detalhe particular que se destaca. É que o autor recua à infância e juventude não só nas memórias, mas também nos pontos de vista. Em muitos aspectos, mas em particular no que diz respeito à religião, o autor consegue retratar a inocência da infância, a excessiva convicção da juventude - e, por outro lado, a possibilidade de se deixar influenciar e até um relativo dramatismo de um tempo em que as certezas são tudo e duvidar é insuportável.
Deste ponto de vista pessoal, resulta, ainda assim, uma perspectiva mais global. O fascínio de Imran com a religião e a sua incessante necessidade de a questionar - ainda que de uma forma muito própria - apelam a alguma reflexão sobre essas mesmas questões. Além disso, as memórias permitem vislumbrar os grandes problemas da vida nessa época, as demonstrações de racismo, os conflitos daquele tempo, as principais ideologias religiosas e a forma como entravam em conflito. Tudo de uma perspectiva pessoal, mas questionando o âmbito global.
O retrato do crescimento de Imran, com todas as ilusões e descobertas do percurso, é feito de forma muito clara, e a escrita sucinta, directa - evocando, também, em certo grau, a idade que o autor teria nos episódios que narra - contribui também para que a leitura seja cativante. Há, ainda assim, perguntas sem resposta, já que, entre o grosso das memórias e os epílogos há um hiato de tempo e, sendo evidentes as mudanças - de vida e de mentalidade - do autor nesse intervalo, fica daí a impressão de algo deixado por contar. É dessa parte da história que se sente a falta ao concluir a leitura, sendo ela algo que poderia, talvez, tornar o relato mais completo.
Cativante e interessante, ainda que com algumas questões sem resposta, este é, portanto, um livro que cativa tanto pela história pessoal do autor, quer pelas grandes questões que lhe estão associadas. Um livro interessante, em suma. Gostei.

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