segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O Calafrio (Henry James)

Enviada por um tio desinteressado para educar duas crianças aparentemente inocentes, uma jovem preceptora vê-se num ambiente que é, não só de solidão, mas também de mistério. Por mais adoráveis que os seus pupilos possam ser, há um ambiente sombrio na velha casa e, ao ver pela primeira vez um desconhecido - que cedo se descobre ser também um fantasma - a jovem compreende que algo de negro está para acontecer. Mas sabe também que o que se passa não é algo que possa partilhar, mas antes uma batalha que tem de travar sozinha. A questão é se será possível vencer, quando tudo são enigmas e pouco há para provar as suas convicções.
Sendo esta, essencialmente, uma história de fantasmas, é expectável, antes de mais, encontrar um bom ambiente de mistério e alguma tensão. Neste aspecto, este livro não desilude. Narrado maioritariamente na primeira pessoa pela jovem protagonista, há, desde o início, uma aura de mistério a ganhar forma na história, aura essa que acaba por ser o que de mais cativante há nesta leitura.
Desta aura de mistério, e da perspectiva relativamente limitada da protagonista, que, ao narrar a história, o faz segundo as suas graduais descobertas, resulta, contudo, também uma inevitável ambiguidade. E se há, de facto, vários enigmas a serem desvendados ao longo do enredo, muito há também que nunca é completamente explicado, aprofundado, descrito. Desde a influência dos fantasmas, ao que os levou até ali, e passando por questões como o papel do tio na vida das crianças e a presença ou não de uma vontade própria nos pensamentos delas, há muito que é apenas insinuado. E se isto contribui, de facto, para adensar o mistério, deixa também a impressão de algo por dizer.
Ainda dois outros pontos chamam a atenção. O primeiro é o capítulo introdutório à história, que, ao mesmo tempo que desperta a curiosidade para o enredo central, apresenta vários detalhes relevantes. O outro diz respeito à intensidade do final, que, em poucas linhas, consegue surpreender tanto ou mais que em tudo o resto do livro, tornando essa conclusão memorável. De entre todas as questões sem resposta, surge uma certeza brusca e forte, que, precisamente por ser inesperada no rumo - e no ritmo - da narrativa, acaba por surpreender.
Sombrio e cativante, ainda que sem todas as respostas, não se pode dizer que este seja um livro de leitura compulsiva. Mas, com um ambiente bem construído, uma intrigante aura de mistério e alguns momentos particularmente brilhantes, apresenta, ainda assim, mais que o suficiente de elementos interessantes. Vale a pena ler, portanto.

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