sábado, 4 de maio de 2013

O Fogo (Katherine Neville)

Desde que a morte do pai pôs fim a qualquer possibilidade de um futuro como jogadora de xadrez, Alexandra Solarin deixou, progressivamente, de ter contacto com a mãe. Ainda assim, quando, pela primeira vez, a mãe decide organizar uma festa de aniversário, Alexandra faz o longo percurso até à casa, nas Montanhas Rochosas, onde a festa deverá ter lugar. Mas o que a espera é completamente inesperado. Não só a mãe não está lá, como lhe deixou uma série de enigmas e um grupo de convidados indesejados com que lidar. As pistas deixadas por Cat são intrigantes, mas são apenas o início de um jogo antigo e que está prestes a recomeçar. Mais uma vez, duas equipas medem forças na busca pelo enigma do Xadrez de Montglane. E Alexandra está no centro da nova partida...
Com uma estrutura semelhante a O Oito e um enredo que lhe dá continuidade, não se pode dizer que haja grandes surpresas relativamente a este livro. A história segue o mesmo rumo da do livro anterior, com as expectáveis revelações relativamente aos papéis de cada personagem nas equipas e os elementos de intriga e de acção a complementarem as teorias sobre o papel e a história do segredo contido no Xadrez de Montglane. As mudanças, essas, dizem respeito principalmente a novas personagens e a um aprofundar do contexto já conhecido.
O ritmo da história é, no geral, bastante agradável, ainda que, nalguns aspectos, os acontecimentos sejam relativamente fáceis de prever. Ainda assim, há novos elementos e alguns acontecimentos inesperados, principalmente no que diz respeito ao papel de Solarin na história. Por outro lado, é curioso que, apesar de ser Alexandra a protagonista, todos os que a rodeia parecem saber mais que ela sobre aquilo que procuram o que, por um lado, faz da protagonista uma figura mais fraca, mas fortalece os pontos fortes das outras personagens.
Quanto ao contexto e às motivações, tanto do jogo como das personagens, há desenvolvimentos interessantes. Nas partes relativas ao passado, a presença de Byron e a evolução do dom de Charlot acrescentam momentos particularmente interessantes ao enredo. Já nas descobertas de Alexandra, os novos intervenientes e as novas descobertas quando à origem do Xadrez de Montglane acrescentam uma nova perspectiva para os acontecimentos. Há, também, uma certa ambiguidade nas movimentações dos intervenientes, gestos aparentemente contraditórios que criam alguma confusão. Confusão essa que parece ser premeditada e que tem o efeito de adensar o mistério, pondo em causa as verdadeiras intenções de cada personagem, mas que, por outro lado, parece, por vezes, um pouco forçada.
Há, ainda, alguma distância do ponto de vista emocional, o que surpreende um pouco, principalmente tendo em conta as circunstâncias de Solarin. As ligações afectivas parecem ter um papel relativamente discreto no enredo, pelo que esta distância não prejudica a envolvência da história, mas fica a impressão de que a empatia e a proximidade entre personagens poderiam ter sido mais desenvolvidas.
Este é, no essencial, um livro centrado no mistério e nos passos dados para a sua resolução. Fica, por isso, a impressão de que mais haveria a explorar relativamente às motivações das personagens e às questões emocionais do enredo. Ainda assim, o mistério é cativante e também o são as aventuras vividas pelas personagens em busca de cada revelação. A história nunca deixa, por isso, de ser agradável e interessante. E uma boa leitura, portanto.

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