sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Filha do Conspirador (Philippa Gregory)

Ana Neville é a mais nova das filhas do Conde de Warwick, conhecido como o Fazedor de Reis. Warwick venceu Margarida de Anjou e depôs o seu marido, colocando Eduardo IV no trono de Inglaterra. Mas Eduardo frustrou todos os seus planos, casando em segredo e deixando que a família da sua nova esposa adquirisse uma influência inigualável. Warwick fez um rei. E pode desfazê-lo. No centro da sua trama, estão as suas duas filhas e as ligações influentes que através delas pode fazer. Ana, jovem e inocente, acredita que todas as vontades do pai são justas e devidas e, por isso, acredita no sonho dele de ver uma das suas filhas como rainha de Inglaterra. Mas são tais as vicissitudes da guerra que, entre mudanças de partido e batalhas perdidas, Ana se verá a um passo do sucesso ou ante a derrota total, temendo sempre a vingança da fria e bela Isabel Woodville.
Um dos aspectos mais interessantes desta série é que, apesar das sobreposições na linha temporal, a autora consegue sempre acrescentar uma nova perspectiva para os acontecimentos. Grande parte dos acontecimentos essenciais deste livro foram referidos nos volumes anteriores. Ainda assim, a leitura nunca se torna repetitiva ou demasiado familiar. E por várias razões.
Ainda que a vasta maioria do enredo se passe no reinado de Eduardo IV (e, portanto, num tempo que foi explorado em A Rainha Branca, dedicado a Isabel Woodville), há partes do enredo que são desenvolvidos de forma bastante mais detalhada que quando foram apresentados do ponto de vista de Isabel. Além disso, o ponto de vista de Isabel é em tudo diferente do de Ana, o que cria, desde logo, uma outra situação curiosa. A heroína de A Rainha Branca surge aqui como quase uma vilã e, como tal, as acções e atitudes que lhe são atribuídas são totalmente diferentes. Apesar disso, é possível reconhecer a Isabel (e o Eduardo) de A Rainha Branca, ainda que num retrato deturpado pelos medos e pelas circunstâncias de Ana. Os pontos de vista são diferentes e, como tal, as percepções de cada acontecimento, também o são. Mas as histórias complementam-se mais do que se contradizem, e isto faz deste novo livro um acréscimo valioso para a história já contada.
Outro ponto forte deste livro diz respeito à construção de uma perspectiva pessoal para os acontecimentos. Toda a história é narrada do ponto de vista de Ana, sendo, por isso, as suas percepções que são transmitidas ao leitor. Isto cria, desde logo, uma situação de proximidade, especialmente tendo em conta o cenário em que Ana se move. Desde o percurso feito em nome dos interesses do pai à sua vida como esposa de Ricardo, o caminho de Ana é de interesses e de intrigas, o que, muitas vezes, a coloca em circunstâncias difíceis. Ao narrar tudo isto na primeira pessoa, a autora dá voz às suas esperanças e aos seus medos e, ao longo de cada mudança, de condição ou de forma de pensar, constrói para a história um ambiente de empatia e de emoção.
Não é difícil, por isso, entrar no ritmo do enredo, até porque este lado emotivo é apenas um dos elementos de um equilíbrio muito bem conseguido entre contexto, acção e caracterização das personagens. Tudo é desenvolvido nas medidas certas, havendo tanto de cativante numa tragédia pessoal como num acontecimento capaz de mudar os rumos do reino. E tudo é narrado num tom pessoal, por vezes introspectivo, e com uma fluidez de escrita que torna difícil interromper a leitura.
Com um equilíbrio impressionante entre o contexto e os acontecimentos históricos e a construção de um percurso pessoal para a protagonista, A Filha do Conspirador apresenta uma história envolvente, rica em intriga e conflito, mas também com momentos de enorme força emotiva. Uma história fascinante, em suma, e muitíssimo bem escrita. Recomendo.

1 comentário:

  1. Tenho "The White Queen" para ler e agora que descobri que há filme tenho mesmo de me pôr a lê-lo antes de cair na tentação de ver o filme primeiro :)

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