segunda-feira, 18 de março de 2013

Espiral (Koji Suzuki)

Mitsuo Ando perdeu a família e tudo o que o ligava à vida quando o filho se afogou. Apenas o trabalho lhe resta para ocupar o tempo e afastar os pensamentos sombrios. Mas a aparente tranquilidade que é a sua rotina é abalada no dia em que realiza a autópsia de um antigo colega. Ryuji Takayama morreu em circunstâncias misteriosas e o que Ando descobre na autópsia desperta novas suspeitas. E a situação torna-se ainda mais complicada com a revelação de outras mortes similares - e igualmente inexplicáveis. Na sua busca por respostas, Ando tenta seguir as pistas deixadas pelos últimos passos de Ryuji, quer no que disse à sua companheira, Mai Takano, quer nos sinais deixados pelo seu próprio corpo. Mas as respostas trazem consigo mais perguntas e Ando descobre-se, de súbito, no centro de uma descoberta inexplicável: um vírus que, conjugado, em tempos, com a força do ódio de uma jovem mulher, se encontra agora em mutação, pronto para tomar o seu lugar na evolução.
Com um novo protagonista, mas retomando os acontecimentos pouco depois do final do primeiro volume da trilogia, este é um livro que, apesar de poder ser lido autonomamente (até porque o autor resume os acontecimentos essenciais do primeiro livro), tem um maior impacto se lido depois de The Ring - O Aviso. Isto deve-se essencialmente a dois aspectos. Primeiro, pela a sensação de continuidade relativamente aos acontecimentos anteriores, em equilíbrio com um contraste entre os elementos de índole psíquica, mais presentes no primeiro livro, e, neste segundo volume, um maior desenvolvimento das questões genéticas (ainda que exploradas de forma algo peculiar). Depois, pela forma como, além de prosseguir com os acontecimentos anteriores, o autor questiona a interpretação desses mesmos acontecimentos. As percepções de Asakawa, as descobertas que fez e as conclusões a que chegou (para não falar dos aliados com que contava) são, em muitos aspectos, diferentes das de Ando. Assim, nem tudo o que era verdade no primeiro livro o é no segundo, o que não acontece devido a contradições, mas antes às mudanças causadas por uma evolução nos conhecimentos, evocando também um certo paralelismo com a evolução do próprio vírus.
Não se pode dizer que seja uma leitura compulsiva. Vários momentos descritivos, principalmente nas explicações de alguns conceitos de genética, e a recapitulação de partes da história já conhecidas para quem leu o primeiro livro fazem com que o enredo evolua a um ritmo relativamente pausado.  Há, ainda assim, uma intrigante aura de mistério na forma como as pistas vão sendo desvendadas, à medida que Ando chega a novas conclusões. E se as primeiras pistas são relativamente fáceis de decifrar, sendo fácil prever o que acontecerá a seguir, isso muda com o evoluir dos acontecimentos, que culminam num final surpreendente e que abre possibilidades muitíssimo interessantes para o que virá a seguir.
Um pouco menos sombrio que o primeiro volume, mas igualmente intrigante, Espiral responde a várias das questões deixadas em The Ring - O Aviso, ao mesmo tempo que apresenta novos problemas e novas perguntas para o que poderá acontecer no livro que se segue. E é também isto, em conjunto com o enredo cativante, o final surpreendente e uma bem conseguida mudança de perspectiva relativamente aos acontecimentos, que torna a leitura tão interessante. Muito bom.

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