quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Funeral, do Ponto de Vista do Morto (José Alberto Silva)

Durante um encontro com a amante num hotel em Lisboa, Artur Varela sofre um enfarte e morre. Mas a morte não chega para o fazer desaparecer. O seu espírito permanece por perto, acompanhando o que acontece a seguir, desde a fuga da amante, determinada a que ninguém saiba da sua presença ali, aos preparativos do seu funeral. Ao mesmo tempo, Artur recorda o seu percurso de vida, desde o momento em que conheceu a sua esposa às relações e conflitos no seio da família a que passa a pertencer. E, sem o saber, começa a desvendar relações e acontecimentos que talvez sejam razões para a sua morte. Talvez não tenha sido apenas o seu coração a falhar...
O que primeiro cativa neste livro é a escolha do narrador. Grande parte da história é narrada por Artur, o que, tendo em conta a sua condição de morto, introduz, logo, algo de diferente na forma como a sua história será contada. Cria, também, uma interessante dualidade, já que, no que diz respeito ao sucedido após a sua morte, ele é apenas um observador, enquanto que, no desenvolvimento das suas memórias, é uma figura bastante mais próxima aos acontecimentos, com motivações e planos próprios.
Outro aspecto interessante é a ambiguidade moral de várias das personagens. Artur está longe de ser um santo, principalmente na vida matrimonial, e toda a sua história o afirma. Mas não é o único. Há outras personagens com atitudes questionáveis, algumas delas sendo até relevantes para o mistério da sua morte. Além disso, se é certo que alguns dos "pecados" das personagens são devidamente punidos, pela justiça humana ou por momentos em que se insinua uma certa justiça poética, isso não se aplica a todas as acções. Cria-se, assim, um interessante paralelismo com a realidade, já que nem sempre a inocência é reconhecida nem as culpas castigadas. 
A nível de escrita, o enredo evolui a um ritmo pausado, com uma forte componente descritiva e alguma divagação acerca de planos profissionais que, não sendo assim tão relevantes para a história, permitem uma melhor caracterização do contexto da época. Fica, nalguns momentos, a impressão de uma certa distância, já que os momentos mais emotivos são escassos e, nalguns casos, descritos de forma muito sucinta. Ainda assim, e apesar de algumas falhas de formatação (faltam espaços entre algumas palavras), a leitura nunca deixa de ser envolvente e a história tem bastante de interessante.
O mistério da morte de Artur acaba por ser apenas uma parte, e não a mais importante, da história da sua vida. Talvez por o narrador estar presente junto ao seu corpo - e não a acompanhar o sempre misterioso inspector Coimbra - pouco é revelado da investigação, antes dos momentos finais. Fica, pois, a ideia de que mais poderia ter sido desenvolvido neste aspecto, mas também a impressão de que essa ausência aumenta um pouco o impacto das revelações finais.
Tendo em conta tudo isto, fica a impressão global de um livro cativante, em que tanto a história como as personagens são interessantes e que, apesar do ritmo pausado e de algumas questões por explorar, proporciona bons momentos de leitura. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável. 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Confissões de um Jovem Escritor (Umberto Eco)

Dos métodos e das ideias criativas, da eterna capacidade de emocionar das personagens ficcionais, do que separa ou aproxima o autor do leitor e, por fim, da construção de listas enquanto imagem do interminável. São estes os principais temas das quatro palestras que constituem este livro em que, juntando o pessoal ao académico, o autor percorre a sua forma de criar e recorda o seu trabalho, ao mesmo tempo que analisa alguns aspectos essenciais da criação literária. O assunto é, pois, bastante interessante e também o são muitas das ideias do autor. 
Se cada palestra se debruça sobre diferentes aspectos da produção literária, também o tom é diferente em cada um deles. As primeiras, mais referentes ao método criativo e ao papel do autor, têm mais de pessoal, e, por isso, o tom é bastante mais descontraído, havendo um toque de humor a conferir uma certa leveza aos pontos de vista apresentados. Há algumas ideias, por vezes, que parecem um pouco mais extremas (como quando o autor descarta certas posições como desculpas de autor sem talento), mas a ideia geral é muito interessante e é fácil reconhecer a paixão do autor pela obra, bem como admirar a forma meticulosa como esta é construída.
Nas outras duas palestras, o tom predominante é mais académico. Surgem mais termos que são menos familiares ao leitor comum e uma multitude de referências pouco familiares ao leitor comum. O artigo das listas é particularmente extenso neste livro e os exemplos citados pelo autor são longos, o que torna o texto um pouco cansativo. Ainda assim, também neste artigo mais pausado e mais denso é possível vislumbrar algo de paixão - a paixão do próprio autor pelas listas - o que acaba por cativar um pouco. Além do tema, claro, que não deixa de ser interessante.
Em todos os textos, o autor recorre a exemplos dos seus próprios livros para contextualizar a sua abordagem. Isto leva a que, mesmo quando o tom é mais académico e distante, haja um lado pessoal a surgir, o que torna mais fácil acompanhar os pontos de vista do autor. Há, ainda, um interessante "efeito secundário", já que esta breve retrospectiva a alguns aspectos dos seus romances, desperta também a curiosidade em ler ou reler esses mesmos livros.
Há, portanto, uma abordagem diferente consoante os diferentes temas escolhidos para estas palestras. E, quer na bem-humorada e pessoal aproximação aos temas que dizem respeito ao seu próprio método, quer no tom mais denso dos temas mais académicos, os pontos de vista do autor nunca deixam de ser interessantes. Uma boa leitura, pois, para quem aprecia a obra de Umberto Eco, e um livro que vale a pena ler.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mariana (Susanna Kearsley)

Julia soube que aquela casa lhe pertencia no primeiro dia em que a viu, tinha então cinco anos. Desde esse dia, como se o destino a empurrasse para aquele lugar, acabou por, quase involuntariamente, passar por ali mais duas vezes. Na última, comprou, finalmente, a casa e Greywethers tornou-se sua. Mas o destino tem mais para lhe mostrar que apenas uma casa onde se sentir bem. Julia acaba de se mudar para Greywethers e começa apenas a conhecer os habitantes da aldeia quando a mente lhe começa a pregar partidas. Quando menos espera, perde total consciência da realidade em que se encontra e vê-se transportada para o passado de outra mulher. De Mariana, uma jovem que, séculos antes, chegou a Greywethers, depois de perder a mãe, para encontrar um tio autoritário e violento... e, no solar Crofton, o amor da sua vida. A história de Mariana começa a confundir-se com a de Julia e, enquanto mergulha mais profundamente nas memórias desse passado que não é seu - ou que talvez lhe pertença de outra vida - , Julia julga, também, reconhecer no actual senhor do solar o apaixonado da vida de Mariana. Mas será o destino assim tão fácil de compreender?
Tal como em O Segredo de Sophia, a ideia de uma memória partilhada com alguém do passado é um dos elementos centrais desta narrativa. Em comum entre os dois livros, há também um romance, tanto no passado como no presente, mas com uma maior intensidade no passado. Ainda assim, o tempo de Mariana é um tempo diferente e o mesmo acontece com a sua história. O romance de Richard e Mariana é bastante mais simples, e desde cedo é fácil deduzir que o desfecho para que se encaminha é em tudo diferente. Ainda assim, os grandes pontos fortes são os mesmos: empatia para com as personagens e as suas circunstâncias; forças em conflito, na vida pessoal dos protagonistas e no contexto histórico em que se enquadram; e a ideia de uma ligação tão forte que perdura através do tempo.
Muitos dos acontecimentos mais marcantes acontecem, de facto, na história de Mariana, sendo ela a protagonista de vários dos momentos mais intensos e mais emotivos. Mas também Julia tem uma história cativante, quer na sua relação familiar e na ligação que tem a Geoff, mas também, e principalmente, na forma como lida com a descoberta do passado, partindo do receio da loucura e evoluindo, com cada descoberta, para uma atitude bem diferente. Este crescimento gradual, mais suave, contrasta com a intensidade das memórias, criando um ritmo fluído e envolvente para uma leitura em que a força do enredo e a beleza da escrita se harmonizam num equilíbrio quase perfeito.
Se é certo que até as questões mais complicadas fazem sentido no fim, também é verdade que nem tudo termina com o último capítulo. Há, no percurso de Julia, descobertas que a colocam perante novas escolhas e novos inícios, o mesmo acontecendo com aqueles que a rodeiam (mesmo os que têm um papel mais discreto na história). Isto leva a que o final, ou parte do final, tenha algo de ambíguo, deixando ao leitor a missão de imaginar o que acontece depois da história. Fica, assim, alguma curiosidade no ar, mas também a impressão de que, tendo em conta as revelações, essa acaba por ser a conclusão mais adequada.
História de destinos cruzados e de vidas reencontradas, este é um livro em que dois tempos se cruzam, num enredo que, equilibrado entre o desenvolvimento do contexto histórico e o percurso pessoal das personagens, cativa desde as primeiras páginas e emociona a cada novo momento marcante. Belo, comovente e com uma história fascinante, Mariana é um livro que fica na memória. E é tudo isto que o torna tão impressionante.

Novidade Matéria-Prima


O amor é um dos temas que mais tem inspirado a humanidade. Diz-se que as mulheres teorizam demasiado sobre as relações amorosas e que,por isso, complicam o que é simples. Giorgio Nardone, um dos mais conceituados psicoterapeutas italianos, defende que, nas relações amorosas, e principalmente nas que fracassam, as mulheres têm tendência para interpretar sempre o mesmo papel, persistindo, assim, no mesmo erro.
Inspirado pela literatura e pelos mitos históricos, Nardone apresenta guiões nos quais podemos encaixar o comportamento das mulheres com o sexo oposto. Da camaleónica à fada, passando pela executiva, pela enfermeira ou pela beijadora de sapos, o autor identifica as principais personagens que as mulheres interpretam no amor e de que modo conduzem ao fracasso das relações.
Escrito de forma divertida e bem-humorada - já que aqui o psicoterapeuta é, sobretudo um homem, marido, amigo, confidente -, este livro apresenta-nos ainda soluções muito simples para que possamos viver um amor pleno. Com autoconhecimento e pequenas mudanças, as relações felizes são mesmo uma possibilidade.

Giorgio Nardone , fundou em Itália, com Paul Watzlawick, o Centro de Terapia Estratégica de Arezzo, onde trabalha como psicólogopsicoterapeuta, coach e professor. Considerado um dos mais proeminentes expoentes da Escola de Palo Alto, na Califórnia, Nardone é conhecido pela sua criatividade e pelo seu rigor metodológico. Criou várias técnicas inovadoras e protocolos específicos de tratamento de diversos tipos de distúrbios psicológicos. Tem vários livros publicados e traduzidos em diversas línguas. Esta é a sua primeira obra publicada em Portugal, tendo deixado um rasto de sucesso em Itália e em Espanha.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Diário Secreto de Vítor Gaspar (António Ribeiro)

Independentemente do maior ou menor interesse que se tenha pela política, há, nas circunstâncias actuais, situações e figuras que é impossível não conhecer. E, se é um facto que a conjuntura actual parece mais propícia a tristezas que à diversão, também é verdade que as já referidas figuras e situações apresentam muito material passível de ser satirizado. É o que acontece neste livro, em que, com cativante descontracção e umas quantas observações certeiras, o autor consegue criar, num diário fictício, mas com alguns pontos em comum com a realidade, uma sátira interessante, divertida e de leitura agradável.
Se o protagonista deste diário secreto é facilmente reconhecível, também o são algumas frases e episódios nele abordados. Claro que a forma como são desenvolvidos tem, inevitavelmente, algo de exagerado, o mesmo acontecendo com muitos dos pontos de vista apresentados. Ainda assim, se considerarmos a realidade, este relativo exagero, bem como o tipo de análises e observações que fazem parte do diário - digam elas respeito aos colegas "doutores", ao mundo isolado dos gabinetes em oposição à realidade, ou até a aparentes elogios entendidos de forma errada - acabam por tocar vários pontos interessantes do contexto real em que se baseiam. É isso que torna esta leitura tão interessante: é fácil reconhecer o lado satírico, mas também a realidade que lhe serve de base.
Um outro aspecto interessante é a tentativa de aproximação à forma de expressão do suposto autor do diário, com as peculiares escolhas de adjectivos e algumas frases mais ou menos crípticas a fazer lembrar o ritmo pausado das tantas vezes referidas conferências de imprensa. O que me leva a outra questão. O livro não é muito extenso, mas - e tal como na realidade - há questões que se repetem. Isto leva também, inevitavelmente, a alguma repetição de ideias e de expressões em diferentes partes do diário, deixando, por vezes, uma ocasional impressão de déjà vu. 
Não é propriamente uma obra complexa, este livro, nem algo de especialmente elaborado. É, ainda assim, uma sátira interessante e divertida, abordando de forma certeira várias questões importantes, ao mesmo tempo que proporciona uma leitura leve e descontraída. Uma boa ideia, portanto, e uma leitura interessante, para ver a crise de uma forma mais divertida... mesmo que apenas por algumas horas.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

As Histórias de Terror da Entrada do Túnel (Chris Priestley)

Robert mal pode esperar para entrar no comboio que o levará rumo ao seu novo colégio - e para longe da madrasta, que acha extremamente irritante. Mas a viagem, que começa por ser completamente normal, muda, repentinamente, após alguns momentos de sono. Ao despertar, Robert apercebe-se de que o comboio parou à entrada de um túnel e que há uma nova ocupante no seu compartimento: uma mulher vestida de branco, que se recusa a dizer-lhe o seu nome, por mais vezes que pergunte, e que parece ter um gosto especial em contar histórias assustadoras... 
Um dos muitos pontos fortes deste livro é a estrutura, comum, aliás, a outros livros deste autor. Constituído por várias histórias, a maioria delas perfeitamente independentes, há, ainda assim, neste livro, uma unidade, estabelecida tanto pela história de Robert e da sua contadora de histórias, quer pelo elemento misterioso que parece insinuar-se em todas as histórias, sendo completamente definido apenas na conclusão da última. É fácil, por isso, captar plenamente a envolvência de cada conto, enquanto história individual, mas também reconhecê-lo como parte de um todo maior, em que todas as histórias têm algo que as liga, de forma mais ou menos evidente, ao acontecimento principal que é a viagem de Robert. E há ainda uma outra ligação, breve e discreta, a evocar o misterioso Tio Montague (de As Histórias de Terror do Tio Montague, claro), criando um sentido de união que não surge apenas entre as histórias deste livro, mas entre os vários livros.
Mas esta ligação entre as histórias não é a única qualidade deste muito interessante livro. Há também a escrita, directa e relativamente simples, mas que transmite na perfeição o ambiente sombrio - e, por vezes, um pouco melancólico - das diferentes histórias. E o enredo propriamente dito, já que cada conto reúne todas as características necessárias a uma leitura cativante: personagens interessantes, com traços de personalidade - e formas de agir - bastante adequadas ao contexto em que se encontram, e um bom desenvolvimento dos elementos de mistério e de horror, resultando, muitas vezes, numa conclusão surpreendente.
Ainda que não seja tão evidente como noutros livros do autor, também aqui surge, em contraste com os elementos mais sombrios das histórias, o inevitável toque de nostalgia, presente principalmente na história de Robert. Nostalgia que, aliada a algum conhecimento adquirido ao longo da sua viagem, torna o final dessa história um pouco mais marcante, já que além das necessárias revelações, surge também uma certa - e, de certa forma, inevitável - mudança nas percepções de Robert, mudança que contrasta com as menos virtuosas características das personagens apresentadas pela Mulher de Branco.
Trata-se, pois, de mais um livro viciante, com um conjunto de histórias cativantes em que o misterioso e o macabro se conjugam com algo de mágico e um toque de melancolia. Surpreendente, intrigante e estranhamente fascinante, corresponde em pleno às expectativas de quem leu os outros livros do autor. Uma delícia de livro, portanto. Recomendo sem reservas.

A Fábrica do Tempo (Sílvia Alves e Pierre Pratt)

A Fábrica do Tempo é o lugar onde os anos se sucedem: onde se guardam os anos que passaram, onde os futuros esperam a sua vez e onde o presente garante que tudo funciona como deve. Mas há um Ano que tem uma ideia: e se, em vez de deixar ao acaso a escolha do seu sucessor, este fosse escolhido pelas suas melhores características? Talvez o futuro fosse melhor assim... Mas o que podem os candidatos prometer, para que sejam escolhidos?
Uma história cativante e didáctica, numa edição cuidada e bonita, fazem deste livro uma leitura cativante. Destinado, naturalmente, aos mais novos, apresenta, numa história simples, um interessante mecanismo para explicar as mudanças de ano. E explica-a de uma forma muito interessante, com o cenário da Fábrica do Tempo a evocar um ambiente envolvente e mágico, e uma história leve e imaginativa.
O texto é bastante simples, mas não demasiado, sendo de fácil compreensão, mas com uma boa base de vocabulário. As ilustrações adequam-se na perfeição à história, representando os seus melhores momentos em belas imagens. E a história, com toda a sua simplicidade, consegue até ser enternecedora, além de divertida e agradável, na forma como o Ano presente concretiza a sua ideia, através dos recursos e habitantes da Fábrica do Tempo.
Trata-se, portanto, de um livro que, além de visualmente apelativo, apresenta uma boa história, cativante e fácil de compreender, com o elemento didáctico a associar-se, da melhor forma, a um ambiente mágico, para proporcionar uma leitura divertida. Parece-me ter tudo para agradar aos mais novos. Recomendo, pois.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Letal (Sandra Brown)

Honor Gillette é a viúva de um agente da polícia. Vive sozinha com a filha de quatro anos e, com a ajuda do sogro e de alguns amigos, tentou continuar com a sua vida da melhor forma possível. Mas tudo muda quando um homem ferido aparece no seu jardim, revelando-se, quando Honor acorre em seu auxílio, como o responsável por um assassínio em massa ocorrido na véspera. Agora, a vida de Honor pode estar em perigo, a não ser que faça tudo o que esse homem lhe pedir. Ainda assim, é possível que não seja o perigoso Lee Coburn a verdadeira ameaça. E que aquilo que procura, e que julga estar na posse de Honor, seja a resposta para travar uma poderosa rede criminosa, cuja liderança tudo fará para ocultar a sua existência.
Acção e tensão desde as primeiras páginas, despertando, desde logo, a vontade em saber o que está a acontecer e que consequências terá, são, sem dúvida, o que torna este livro tão envolvente. Sendo, desde o início, uma missão de vida ou morte, a história de Coburn e, devido às suas acções, de Honor, é, ao mesmo tempo, o desvendar de um mistério e uma corrida contra o tempo, o que define, para todo o enredo, um ritmo intenso e rico em momentos fortes. E surpreendentes, por vezes. Este ritmo compulsivo, em que há sempre algo a acontecer, e em que todos os erros têm consequências, faz com que a história nunca deixe de ser empolgante. Além disso, ao apresentar alguns capítulos em que desenvolve a perspectiva e os planos dos vilões, a autora reforça a difícil situação dos seus protagonistas, reforçando um pouco mais o impacto dos momentos mais delicados.
A este ritmo de intensa acção junta-se ainda um toque de emoção. Principalmente na forma como a relação entre Honor e Coburn evolui, mas também no que diz respeito a alguns dos actos dos vilões, há, ao longo da história, momentos mais ou menos claros de emoção que revelam a humanidade das personagens. E isto não se aplica só aos protagonistas nem aos pequenos momentos de romance que vão surgindo. A relação de Honor com o sogro, a preocupação com a filha, e, por outro lado, o pequeno grande segredo de Diego e o amor ilimitado de VanAllen pelo filho surgem como momentos que, mesmo não parecendo essenciais ao enredo, o tornam um pouco mais complexo, realçando a humanidade das personagens e os afectos e valores que as movem.
Nem tudo é surpreendente. Há, ao longo do enredo, acontecimentos e decisões que não são propriamente difíceis de prever. Mas esta previsibilidade nas pequenas coisas é amplamente compensada pela revelação final, que, mesmo sem responder a todas as questões, surpreende pelo inesperado das pessoas envolvidas. De todos os suspeitos possíveis, o Guarda-Livros acaba por ser o mais inesperado entre as personagens. E a conclusão da história, para lá da identificação do culpado, tem também algo de surpreendente, na forma como deixa em aberto tantas possibilidades.
Mistério, acção e emoção nas medidas certas são, portanto, os elementos que tornam este livro tão cativante. Nem tudo é surpreendente, mas as surpresas são particularmente bem conseguidas, o mesmo acontecendo com o equilíbrio estabelecido entre a frieza da necessidade de agir instantaneamente e os traços e memórias que humanizam as personagens. Uma boa história, pois, e uma leitura empolgante.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

As Estátuas (Mosath)

Cenários sombrios - e, por vezes, evocando cataclismos - em contraste com uma realidade boémia e decadente: são estes os traços gerais do ambiente em que se constroem os poemas deste livro. Poemas que têm em comum um estilo de escrita elaborado e feito de imagens complexas, que contrastam com a simplicidade quase crua de ocasionais episódios que pretendem evocar. O resultado é um conjunto que, não sendo propriamente uma leitura fácil, exerce ainda assim um estranho fascínio.
Considerando os poemas deste livro como um todo, há dois estilos e dois temas que se distinguem. de um lado, estão os mais elaborados, mais longos, tendo por base temas de uma índole mais sombria e uma evocação de cenários e imagens mais completas. Destes, destaca-se o impacto dessas imagens, sobressaindo o ambiente quase apocalíptico dos poemas reunidos sob o título A Alma da Tempestade.  Do outro, estão poemas mais breves, de linguagem mais directa e com uma temática mais associada à tal vida boémia, com laivos de erotismo e uma crueza que parece pretender chocar. Distinguem-se, portanto, dois rumos diferentes, nos quais é possível reconhecer os traços de um mesmo estilo de escrita - com imagens inesperadas e uma estrutura relativamente livre, apesar do frequente recurso à rima - , mas cujo impacto é completamente diferente. 
Destes dois rumos divergentes, mas que se complementam, fica também a impressão de constituírem duas faces de uma mesma moeda. Assim, e se os poemas mais longos e mais sombrios parecem ter um fascínio diferente, também o choque e a crueza dos mais simples acaba por exercer um estranho fascínio, complementando com a sua brevidade o tom mais divagativo dos primeiros.
Vários dos poemas são relativamente longos, o que, associado ao estilo algo elaborado, exige atenção constante para não perder de vista o encadeamento de algumas das ideias, bem como os detalhes que as completam. É, ainda assim, nestes poemas - com a excepção, talvez, dos constituintes de A Alma da Tempestade, que, considerados como poemas individuais, são relativamente curtos - que se encontram algumas das imagens mais interessantes, sendo que é nestes que o equilíbrio entre a sensibilidade individual e a percepção do mundo é mais aprofundado.
Tendo em conta tudo isto, a impressão que fica deste livro é a de uma obra que, apesar da relativa brevidade, tem muito de bom para revelar. Sombrio, por vezes inesperado, e, com todas as suas elaborações, estranhamente fascinante, trata-se, pois, de um livro muito interessante. Gostei.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Dois Anos e Uma Eternidade (Karen Kingsbury)

Durante dois anos, Molly e Ryan viveram em perfeita cumplicidade, com uma amizade sólida a abrir caminho para um afecto maior. Mas algo aconteceu, no fim desse tempo, que levou a que se separassem. Ambos seguiram em frente, conquistando, na medida do possível, o equilíbrio entre os seus grandes sonhos e a vida real. Mas ambos sentem a falta daquela relação perfeita, cujo refúgio era a livraria A Ponte. E, com o passar do tempo, nem esta permanece intacta. Uma grande cheia destruiu todo o conteúdo da livraria e Charlie, o dono, não consegue ver uma forma de reabrir. Mas, ciente de que a livraria é a sua vida e fechar é admitir o fracasso, baixar os braços e desistir parece a única decisão capaz de retirar sentido à vida. Talvez a única forma de salvar A Ponte - e Charlie - seja unir todos aqueles que a tiveram como refúgio. Mas quem o fará?
Sendo essencialmente uma história de amores e amizades, este é um livro que tem como grande ponto forte o impacto emocional. A história das principais personagens é, no essencial, bastante simples, com os desencontros, os mal-entendidos e as decisões difíceis da vida e das relações a surgir como pontos centrais para todo o enredo. Nada de particularmente novo, isto é. Mas o facto é que a autora consegue desenvolver o tema de uma forma enternecedora, emocionando o leitor com as grandes tragédias e os pequenos sucessos, numa leitura comovente e reconfortante.
Esta é, no fundo, uma história de amor e de segundas oportunidades. Mas o amor que domina toda esta história não se aplica apenas às pessoas. Se o reencontro de Molly e Ryan (e as suas memórias do passado) têm muito de emotivo, o mesmo acontecendo com a vida partilhada de Charlie e Donna, há ainda um outro amor sempre presente, e um que, por ser familiar a muitos leitores, se torna também particularmente cativante. Falo do amor aos livros, claro. Através de Charlie e da sua dedicação à livraria, da forma como o seu trabalho é capaz de tocar tantas pessoas, a autora evoca sentimentos que serão, seguramente, familiares a muitos bibliófilos. É também isso que torna a história em torno da livraria tão marcante, porque as memórias partilhadas de um espaço e de uns quantos livros evocam, na perfeição, a boa companhia - e, por vezes, a tábua de salvação - que um livro e uma história conseguem ser.
Um outro aspecto que importa referir é a questão da fé. A crença em Deus é uma característica comum a várias das personagens e essa fé é constantemente lembrada. Não há, ainda assim, grandes exageros neste aspecto, sendo a fé abordada de uma forma simples, sem ligações a um sistema de crenças demasiado específico, o que torna fácil compreender o apego das personagens a Deus, independentemente da crença de quem lê.
Esta é, portanto, uma história que, na sua relativa simplicidade, marca principalmente pela força das emoções e por uma mensagem muito positiva. Uma história cativante, em suma, com personagens interessantes e vários momentos comoventes, a evocar o poder dos afectos e das segundas oportunidades. Recomendo.

Novidade 5 Sentidos


Neste tão esperado segundo livro da série Crossfire continuamos a acompanhar a escaldante relação de Eva e Gideon que iniciou em Rendida, romance bestseller do New York Times .

"Gideon Cross: tão bonito e perfeito por fora como atormentado e complicado por dentro. Ele enfeitiçou-me com uma paixão que me arrebatou e me despertou os prazeres mais secretos. Eu não conseguia, nem queria, ficar longe dele. Ele era o meu vício... o meu desejo... era meu.
A minha história era tão violenta como a dele, e eu estava igualmente marcada pela vida. Nunca conseguiríamos ficar juntos porque era demasiado doloroso... exceto quando era inacreditavelmente perfeito. Nesses momentos, o desejo e o amor desesperado conduziam-nos a um estado de sublime insanidade.
Gideon e eu estávamos a ultrapassar todas as fronteiras e a nossa paixão levar-nos-ia aos limites da doce e arriscada obsessão."

Sylvia Day é autora bestseller internacional de mais de uma dezena de romances premiados e traduzidos para 38 línguas. Nomeada para Goodreads Choice Award for Best Author, o seu trabalho foi também distinguido como Amazon’s Best of the Year Romance. Sylvia Day foi ainda galardoada com prémios prestigiantes como  RT Book Reviews Reviewer’s Choice Award, além de ter sido duas vezes finalista do prestigiado Romance Writers of America.

Novidades Bizâncio para Fevereiro


Título: Descubra a Cabra Secreta que há em Si
Autor: Elizabeth Hilts
Colecção: Pequenos Livros
ISBN: 978-972-53-0521-8 
Págs.: 240
Preço: Euros 11,79 / 12,50
Humor

Há uma parte de cada uma de nós, uma parte bem importante, que muitas vezes não deixamos transparecer. É a cabra secreta. A cabra secreta diz o que pensa e pensa o que diz. É um ponto final definitivo no vício de sermos «boazinhas». Acabou-se o dizer sim quando se quer dizer não. Acabaram-se os becos sem saída sentimentais. A Cabra Secreta que há em Si é aquela parte integral e poderosa que impede que se esqueça de si nas suas relações profissionais, familiares, de amizade e especialmente quando se apaixona. Precisa de mudar o rumo da sua vida? Deixe A Cabra Secreta que há em Si guiá-la!

Título: O Que É a Arte?
Autor: Nigel Warburton
Colecção: Filosoficamente
ISBN: 978-972-53-0355-9 
Págs.: 188
Preço: Euros 12,86 / 13,63
Filosofia/Arte

Quando um artista manda para uma exposição um pavão vivo isso é Arte? O que é a Arte? Eis uma pergunta que muitos de nós gostaríamos de ver respondida. É esta questão que Nigel Warburton desmistifica neste livro. Com a sua habitual clareza, explica-nos teorias da arte — muito faladas e pouco entendidas — de autores como Clive Bell, Colingwood e Wittgenstein. E aborda ainda outras importantes questões como a intenção do artista, representação e emoção.
Um guia, estimulante e acessível, para o imenso puzzle da Arte. Gosta de Filosofia? Interessa-se pela Arte? Gosta apenas de observar quadros? Então este livro é para si.

Título: A Física do Futuro
Subtítulo: Como a Ciência Moldará o Mundo nos Próximos Cem Anos
Autor: Michio Kaku
Colecção: Máquina do Mundo
ISBN: 978-972-53-0480-8 
Págs.: 464
Preço: Euros 15,09 / 16,00
Ciência

Em A Física do Futuro, Michio Kaku apresenta-nos uma esmagadora, apaixonante e provocadora visão do século que aí vem, com base nas entrevistas feitas a mais de trezentos cientistas que, neste momento, já estão a inventar o futuro nos seus laboratórios. O resultado é uma descrição plena de rigor científico sobre os desenvolvimentos que poderemos esperar na medicina, na informática, na inteligência artificial, na nanotecnologia, na produção de energia, etc. Em 2100, possivelmente, controlaremos os computadores com pequenos sensores no nosso cérebro e, como os mágicos, deslocaremos os objectos à nossa volta com o poder da mente. As nossas casas inundadas de inteligência artificial e as nossas lentes de contacto com Internet permitir-nos-ão aceder a toda a informação que queiramos, à escala mundial, e ficar na presença de quem desejarmos num piscar de olhos. Os automóveis conduzir-se-ão sozinhos, com GPS, deslocando-se em almofadas de ar, sobre campos magnéticos. Através da medicina molecular os cientistas poderão criar qualquer órgão do corpo humano e curar doenças genéticas. Milhões de pequenos sensores de ADN, e nanopartículas, patrulharão as nossas células sanguíneas procurando detectar os primeiros sinais de doença, e os avanços genéticos permitir-nos-ão abrandar ou mesmo reverter o processo de envelhecimento. A esperança média de vida alargar-se-á espantosamente. Naves espaciais usarão a propulsão a laser, e talvez seja até possível apanhar o elevador espacial, carregar no botão «para cima» e fazer uma visita ao espaço, depois de, em minutos, percorrer milhares de quilómetros. Porém, estas espantosas revelações são apenas a ponta do iceberg. Kaku fala-nos dos robôs que exprimem emoções, de visão de raio X, de foguetões de antimatéria e da capacidade de criarmos novas formas de vida. Aborda também o desenvolvimento da economia mundial e coloca algumas questões: quem serão, no futuro, os vencedores e os derrotados? Quem terá emprego? Que nações prosperarão? Simultaneamente, Michio Kaku explica-nos os rigorosos princípios científicos que estão subjacentes a estes progressos, qual a taxa provável a que progredirá esta ou aquela tecnologia, quão longe chegará, quais as limitações e obstáculos que terá de ultrapassar. Uma visão apaixonante, devidamente fundamentada, dos anos que nos esperam até 2100. A Física do Futuro é uma odisseia plena de desafios sobre os próximos cem anos e a sua emocionante revolução científica.

Título: Não me F**** o Juízo
Subtítulo: Crítica da Manipulação Mental
Autor: Colin McGinn
Colecção: Filosoficamente
ISBN: 978-972-53-0413-6 Código de Barras: 9 789 725 304 136
Págs.: 192
Preço: Euros 7,14 / 7,57
Filosofia

Uma coisa é estar rodeado de tretas. Outra completamente diferente é que nos f**** o juízo. A primeira é irritante, mas a segunda é violenta e invasiva (excepto quando consentida). Se alguém lhe manipular os pensamentos e as emoções, lixando-lhe a cabeça, é natural que fique ressentido: o indivíduo em questão distorceu as suas percepções, perturbou os seus sentimentos, talvez até lhe tenha usurpado o Eu. A psicofoda é um aspecto predominante da cultura contemporânea e o agente que a pratica tanto pode ser um indivíduo como todo um Estado, dos jogos de manipulação pessoais até à propaganda em grande escala. Em Não me F**** o Juízo, Colin McGinn investiga e clarifica este fenómeno. Da antiga Grécia a Shakespeare e às técnicas modernas de controlo de pensamento, McGinn reúne os componentes deste complexo conceito — confiança, logro, emoção, manipulação, crença falsa, vulnerabilidade — e explora a sua natureza.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Lenda de Sapphique (Catherine Fisher)

O objectivo era sair de Incarceron. Mas a fuga foi apenas o início e o Exterior está longe de corresponder às expectativas. Ainda sem memórias da vida antes da Prisão e perdido no centro de uma intriga em que nem os seus aliados parecem estar completamente do seu lado, Finn começa a sentir que o Reino é, para si, apenas outra prisão. Mas deixar de agir é impossível. A rainha Sia parece ter planos para o descredibilizar e, no fundo, Finn sabe que a sua história poderá ser questionada, até pelos que lhe são mais próximos. E os seus problemas não estão totalmente dissociados de Incarceron. No interior, os companheiros que teve de deixar para trás tentam também encontrar uma forma de sair e a recuperação da Luva de Sapphique parece ser o meio mais provável. O problema é que também a Prisão sonha e anseia. E a sua ira será terrível, se o seu sonho for recusado...
Dando continuidade à história iniciada em Incarceron, e respondendo a muitas das perguntas anteriormente deixadas sem resposta, A Lenda de Sapphique apresenta todas as qualidades do volume anterior e mais algumas. Todas as complexidades do sistema, com as diferenças e semelhanças entre a Prisão e o Reino, bem como os mecanismos e tecnologias que os fazem funcionar, são agora desenvolvidas de uma forma mais completa, com novas revelações a serem apresentadas à medida que o enredo evolui. Além disso, a estranheza inicial face a este tão estranho mundo já não existe. Conhecido, no essencial, desde o primeiro livro, é agora mais familiar. E, por isso, é mais fácil acompanhar o desenrolar da aventura, com os novos desenvolvimentos do sistema a surgirem com naturalidade e acompanhado o papel das personagens.
Personagens que são, também, um dos pontos fortes deste livro. Se já no primeiro volume quase nenhuma das personagens era exactamente o que dela se esperava, esta ambiguidade torna-se ainda mais notória neste livro. Não há, propriamente, um herói que se destaque, já que até o papel de Finn parece alterar-se um pouco. Há intenções e o que cada personagem está disposta a fazer em nome dessas intenções, e é isso essencialmente que gera o conflito. Não há heróis nem vilões. Nem mesmo a própria Incarceron se pode considerar como tal. E a forma como o enredo evolui, quer nos planos e objectivos de cada personagem, quer na forma como Finn surge, no centro de tudo, mais como figura solitária, instrumentalizada pelas intenções dos seus aliados, e menos como líder e herói, cria vários momentos de força emocional e também bons momentos de reflexão.
De referir, por último, as várias surpresas que surgem ao longo do enredo, quer a nível do rumo global dos acontecimentos, quer das escolhas particulares de cada personagem. As motivações continuam a ser bastante claras para quase todos os intervenientes da história, mas a forma de agir muda em muitos aspectos, o que contribui em muito para que cada nova revelação tenha algo de surpreendente, culminando num final intenso, inesperado e que, tendo em conta todos os passos da história, acaba por ser o mais adequado.
Envolvente, com um mundo complexo e personagens interessantes no centro de uma história com as medidas certas de intriga, acção e emoção, A Lenda de Sapphique encerra da melhor forma a história iniciada em Incarceron. E, considerando tudo isto, a impressão global dificilmente poderia ser melhor. Recomendo.

Novidade Topseller


Nas traseiras de uma moradia isolada nas Caldas da Rainha, um professor de Direito reformado aparece morto à machadada. Patrícia, inspetora-coordenadora da Polícia Judiciária, pede ajuda ao ex-marido Gabriel Ponte, antigo inspector da PJ, que assim regressa ao mundo da investigação criminal. Meses antes, o professor tinha contactado Patrícia, sua antiga aluna e amante, para denunciar a existência de um esquema de corrupção e de lavagem de dinheiro em torno do projecto de um empreendimento turístico gigantesco nas falésias da costa atlântica.
As primeiras provas apontam para que este homicídio seja resultado de um affaire com uma mulher casada, mas poderá o professor ter sido assassinado por saber demais?»

Escritor e tradutor profissional, Pedro Garcia Rosado elegeu o policial como o seu género de eleição, sendo o único autor português de thrillers a publicar um livro por ano na área da literatura policial. As suas narrativas vibrantes e contemporâneas têm conquistado os leitores portugueses que gostam de adrenalina e de enredos repletos de mistério e suspense.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Lenda (Inês Cardoso)

Quando o pai desapareceu, Alice viu-se forçada a conter a sua própria tristeza para minimizar o sofrimento da mãe. Isso fez dela uma rapariga distante, céptica, com dificuldades em confiar. Mas o isolamento está prestes a deixar de ser alternativa. Depois de ver, novamente, a mesma coruja que encontrou no dia do desaparecimento do pai - uma coruja que mais ninguém consegue ver - a atenção de Alice é atraída por uma pedra estranhamente brilhante. E, ao tocar-lhe, Alice é transportada para um mundo diferente, onde os viajantes de outro mundo têm dons particulares e ela não é apenas uma rapariga. É a heroína da Lenda que promete ser ela a libertar aquele mundo da tirania da rainha.
Escrito por uma autora jovem e para um público jovem, este é um livro relativamente simples. A história não tem nada de muito complexo e o mesmo acontece a nível de escrita, bastante simples, mas cativante e agradável. É, ainda assim, uma história interessante, com um enredo envolvente e alguns momentos bastante bons.
Um dos detalhes mais interessantes é o inevitável paralelismo entre esta história e a de Alice no País das Maravilhas. Os pontos em comum não são muitos, mas esses pequenos pormenores, desde a viagem de Alice a um mundo diferente à descoberta de um aliado (ou algo mais) chamado Hatter acabam por evocar essa associação, o que torna a história um pouco mais intrigante. Além disso, se o enredo não é particularmente surpreendente, tem, ainda assim, vários momentos bons e a forma como a história evolui, quer no inevitável conflito entre Alice e a rainha (e respectivos aliados), quer na relação com o misterioso Hatter nunca deixa de ser cativante e agradável.
Há alguns aspectos que poderiam, talvez, ter sido mais explorados, principalmente nas diferenças e semelhanças entre os dois mundos. Por um lado, há dons mágicos, uma rainha e um castelo a separar o novo mundo da realidade "normal" de Alice, mas, por outro, parecem, por vezes, haver demasiadas coisas em comum. A tecnologia e os objectos do quotidiano são bastante semelhantes, mas o porquê dessas semelhanças nunca é explicado, o que acaba por deixar uma certa sensação de estranheza. Isto ocorre em momentos pontuais, ainda assim, pelo que não prejudica demasiado o ritmo de leitura.
Trata-se, pois, de uma história que não sendo particularmente inovadora, consegue cativar pelo ritmo envolvente e pela forma como as personagens, na sua relativa inocência, acabam por despertar empatia, bem como pela escrita cativante, ainda que simples, e pelos momentos mais emotivos. Uma história simples, portanto, mas uma leitura agradável. Gostei.

Novidade Esfera dos Livros


Sinopse: «Caro Diário, ao contrário do que se diz de mim na imprensa e nas redes sociais, eu não sou indiferente ao sofrimento dos portugueses por causa da minha austeridade. E para provar isso, estou disposto a criar um blogue – sob um nome fictício - para ajudar os contribuintes portugueses a poupar para terem dinheiro para pagar os meus impostos, taxas e outras alterações de última hora que eu tiver que fazer para arranjar os milhões que a Troika exige. Serão conselhos simples, de fácil execução e ao alcance de todos:
- Não atire ovos a ministros deste Governo; utilize-os no pequeno-almoço;
- Nos saldos compre a roupa para a sua família para os próximos 10 anos;
- Nunca utilize transportes públicos para destinos a menos de 5 quilómetros; saia de casa mais cedo e vai ver que chega a horas;
- Não saia de casa para participar numa manifestação contra este Governo; fique em casa a ler um livro ou a ouvir o relato de futebol, agora que já não tem dinheiro para renovar a assinatura da Sport Tv;
- Não assobie sempre que passar perto do Senhor Primeiro-Ministro Passos Coelho; poupa as custas de um processo por difamação;
- Não ponha todos os seus filhos na escola ao mesmo tempo; pratique a rotatividade: enquanto uns andam na escola, os outros trabalham para ajudar a pagar as propinas;
- Não compre nada a alguém com o nome terminado em Vale e Azevedo; se o fizer, vai comprar algo que nunca será seu;
- Sempre que tiver saudades de comer um bife, contenha-se e peça salsichas que são muito mais baratas;
- Para gastar menos solas dos sapatos não dê passos curtinhos, salte;
- Se um estranho lhe der conselhos e se esse estranho for o ministro Miguel Relvas, compre.»

Novidade Porto Editora


Na antiga China, só os juízes mais sagazes atingiam o cobiçado título de «leitores de cadáveres», uma elite de legistas encarregados de punir todos os crimes, por mais irresolúveis que parecessem. Cí Song foi o primeiro.
Inspirado numa personagem real,  O Leitor de Cadáveres conta a história fascinante de um jovem de origem humilde que, com paixão e determinação, passa de coveiro nos Campos da Morte de Lin’an a discípulo da prestigiada Academia Ming. Aí, invejado pelos seus métodos pioneiros e perseguido pela justiça, desperta a curiosidade do próprio imperador, que o convoca para investigar os crimes atrozes que ameaçam aniquilar a corte imperial.
Um thriller histórico absorvente, minuciosamente documentado, onde a ambição e o ódio andam de mãos dadas com o amor e a morte, na exótica e faustosa China medieval.

Antonio Garrido, nascido em Linares em 1963, estudou Engenharia Industrial e lecciona na Universidade Politécnica e na Universidade CEU Cardenal Herrera, ambas em Valência. 
O Leitor de Cadáveres  foi muito bem acolhido pela crítica, tendo recebido o Prémio Internacional de Romance Histórico ‘Ciudad de Zaragoza’, um dos mais importantes galardões do género. O seu primeiro romance, A Escriba, figura já no catálogo da Porto Editora e obteve um enorme sucesso em Espanha, tendo sido traduzido para treze idiomas.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Céu e o Inferno (Sérgio Branco)

Sérgio considera-se apenas um rapaz normal. Mas tudo muda quando a sua escola é atacada por um grupo de demónios cuja missão parece ser a de o eliminar. A sorte de Sérgio é a chegada de alguns amigos da família, que ajudam no combate e o ensinam como lidar com as criaturas. Mas esses visitantes são também um sinal de que a normalidade acabou. É que Sérgio descende de uma ilustre linhagem de caçadores, dedicada, durante séculos, a proteger a humanidade das criaturas sobrenaturais. E nem só a sua família é lendária. Sérgio e os seus novos amigos parecem ter um papel a desempenhar na derradeira batalha entre o bem e o mal. O fim dos tempos pode estar próximo... e afastar-se do conflito já não é uma opção.
Este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. Por um lado, há na história várias ideias interessantes, alguns momentos particularmente bons e um ocasional toque de humor particularmente cativante. Por outro, há também evidentes fragilidades, principalmente a nível de escrita. O resultado é uma leitura que oscila entre o cativante e o confuso, capaz de despertar curiosidade, nos melhores momentos, para o que irá acontecer a seguir, mas em que, por vezes, é difícil compreender os comportamentos e motivações das personagens. Mas vamos por parte.
A ideia do fim dos tempos e da inevitável batalha final entre anjos e demónios não é propriamente nova. Ainda assim, o autor consegue apresentar algumas ideias interessantes, quer nos símbolos e nos poderes associados aos dois lados do conflito, quer nos planos que opõem Sérgio e os seus aliados a um núcleo de demónios com um líder bastante interessante. Este contexto serve de base para algumas situações bastante cativantes, principalmente na evolução da relação de Sérgio com os amigos, mas também nalguns dos desenvolvimentos do conflito, com especial destaque para um final particularmente bom.
Há, contudo, alguns aspectos confusos a nível da caracterização das personagens, principalmente pelo enquadramento da idade dos protagonistas no contexto da história. Por vezes, o papel que desempenham parece ser mais apropriado a alguém bastante mais velho, sendo pouco convicentes algumas das posições das personagens. Além disso, há conflitos que parecem demorar demasiado a resolver-se, quando outros bastante mais complexos se concluem de forma um pouco abrupta, o que prejudica um pouco o ritmo do enredo.
Ainda assim, o principal problema está mesmo na escrita. Frases confusas, frequentes erros ortográficos e alguma confusão no significado de certas palavras prejudicam bastante o ritmo da leitura, já que, mesmo nos momentos em que a história é mais envolvente, torna-se difícil esquecer esses lapsos e entrar, simplesmente, na história. O que é pena, pois bastaria uma revisão atenta para resolver muitos destes problemas.
Terminada a leitura, a impressão que fica é a de uma história que, apesar de ter algum potencial, com vários momentos cativantes e divertidos e um final particularmente bom, perde bastante por algumas falhas na escrita e na caracterização das personagens. Fica, apesar disso, uma certa curiosidade em saber o que acontecerá a seguir.

Novidade Quetzal


Enquanto narra e documenta a vida e as vicissitudes de quatro judeus expulsos das suas terras  – e  num tempo em que se cultiva o esquecimento  –, W.G. Sebald reaviva a memória de um período da História recente europeia, cujos acontecimentos determinaram dramaticamente o destino individual. Mas, se por um lado Os Emigrantesé uma evocação do exílio e da perda, por outro é também a de um tempo reencontrado, nas viagens que esses homens empreenderam em busca de si próprios e de um lugar para viver, e o seu triunfo sobre a dor da separação e da morte.  Deambulando  entre a realidade e a fantasia, a investigação e a ficção, W. G. Sebald segue e relata o caminho destas figuras numa prosa atmosférica, evanescente, magnífica.

W.G. Sebald nasceu em 1944 em Wertach, na Alemanha, e viveu desde 1970 em Norwich, no Reino Unido, onde foi docente universitário de Literatura Alemã. Prosador e ensaísta,  é autor de grandes marcos da literatura contemporânea como  Os Anéis de Saturno,  Austerlitz,  Os Emigrantes ou História Natural da Destruição. Sebald foi galardoado com os prémios literários Mörike, Heinrich-Böll, Heinrich-Heine e Joseph Breitbach.
W.G. Sebald morreu em 2001.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Direitos de Sangue (Kristen Painter)

Chrysabelle é uma comarré, parte de uma raça de humanos criada para servir os vampiros com o seu sangue de inigualável pureza. Mas, agora, Chrysabelle é também uma mulher em fuga. O seu patrono foi assassinado e é ela a principal suspeita da sua morte, bem como do roubo de um anel. Anel esse que, pelas piores razões, a cruel e ambiciosa Tatiana está disposta a obter, custe o que custar. As piores criaturas do mundo vampírico estão no encalço de Chrysabelle e a única pessoa com quem ela pode contar tem recursos limitados. Mas também a sua tia Maris tem alguns contactos. E esses levarão Chrysabelle a encontrar-se com Malkolm, o mais improvável dos aliados, mas o único que a pode ajudar a provar a sua inocência... e a travar os planos de Tatiana.
Um sistema interessante, escrita envolvente e um enredo rico em acção e intriga são os grandes pontos fortes deste livro. O sistema, com as diferentes castas de vampiros, a existência e os segredos das comarré e as outras criaturas sobrenaturais, com as suas diferentes origens e modos de vida têm bastante potencial e criam um cenário interessante para a narrativa. A história desperta curiosidade desde as primeiras páginas, com a morte do patrono de Chrysabelle e a sua necessidade de provar a sua inocência a definir motivações e rumos de acção para as diferentes personagens. E o estilo de escrita, directo, sem grandes elaborações e equilibrando um ritmo intenso de acção com uma caracterização que é feita de forma gradual, mantém a envolvência da narrativa das primeiras à última página.
Há vários acontecimentos interessantes ao longo do enredo, tanto a nível das acções de Chrysabelle como das de Tatiana. E, ao acompanhar os passos das duas, a autora reforça as diferenças entre ambas, tornando mais forte o impacto das acções uma da outra e enfatizando, progressivamente, as consequências de um sucesso nos planos de Tatiana. Além disso, também a caracterização das personagens tem muito de interessante para descobrir, desde a maldição de Malkolm aos simples factos do seu passado, passando pela história de Maris e Dominic e das relações entre os improváveis companheiros de Malkolm. Há pequenas coisas e momentos mais emotivos a complementar os momentos mais tensos, revelando um lado mais próximo e mais empático das personagens. É isso, principalmente, que os torna cativantes, apesar de algumas pequenas incongruências.
Sendo o primeiro volume de uma série, é inevitável que este livro deixe várias perguntas sem resposta, mas também muitas possibilidades a explorar. Fica, por isso, muita curiosidade em explorar a evolução deste muito interessante mundo e de personagens que, cativantes como são, parecem ter ainda muito para revelar. Deste primeiro volume, fica a impressão de um início muito promissor e de uma história envolvente, com um bom sistema e personagens cativantes. Muito bom, em suma.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Morte em Veneza (Thomas Mann)

Gustav von Aschenbach é um escritor conceituado, a quem o seu país dedica o maior reconhecimento, mas que se sente inquieto. Decide, por isso, partir numa viagem, na esperança de aquietar o desassossego e retomar a dedicação à sua obra. O seu caminho leva-o a Veneza. E, no hotel onde se instala, os seus olhos pousam pela primeira vez no adolescente que se tornará a sua obsessão. Contemplando à distância o jovem Tadzio, Aschenbach sente-se instado a permanecer. Mesmo quando todos os turistas começam a partir e as medidas de prevenção da saúde pública insinuam a existência de um perigo que ninguém quer assumir.
Sendo este um livro tão curto, algo que, desde logo, surpreende, ao iniciar a leitura, é a forte componente descritiva. Na verdade, a descrição - dos cenários, do mundo observado por Aschenbach, das suas meditações - é o elemento essencial do livro. A viagem decorre com poucos incidentes, ainda que os que ocorrem sejam bastante interessantes, e o mesmo se aplica à estadia. Há pequenos mistérios a surgir, mas que rapidamente - e, por vezes, sem respostas - desaparecem. E o próprio Aschenbach é, quase sempre, apenas um observador, meditando sobre a sua vida, sobre o que contempla, e, depois, sobre o jovem Tadzio, mas sem grandes gestos ou acções marcantes. Não há propriamente grandes momentos na narrativa, mas antes um rumo de lenta degradação que, aliada à aparente passividade do protagonista, define, inevitavelmente, um tom lento e introspectivo, que permanece ao longo de todo o livro.
O que mais cativa, no fim de contas, é mesmo a escrita. Se é verdade que os acontecimentos essenciais do enredo perdem destaque ante as muitas reflexões e divagações, também é certo que a forma como estas são escritas é brilhante. A forma como Aschenbach encara a sua vida e a sua obra apresenta muita matéria para reflexão, e o autor desenvolve-a numa escrita bela e fluída que, mesmo nos momentos mais densos, acaba por dar algo de cativante à leitura. Além disso, e tendo em conta a forma como tudo termina para Aschenbach, a sua inquietude, prévia à viagem ou resultante aos acontecimentos a ela associados, acaba por se reflectir de forma particularmente precisa nesse tom introspectivo e, por vezes, um pouco confuso com que o autor desenvolve as suas meditações.
Não é, portanto, uma leitura fácil. As longas descrições e reflexões, ainda que construídas com mestria, aliadas a um enredo onde as paragens são tão importantes como os acontecimentos, definem para este livro um ritmo lento e um tom divagativo. Há, ainda assim, bastante de bom para descobrir, quer na beleza da escrita, quer na expressão de alguns pontos de vista particularmente interessantes. E isso basta para que valha a pena ler este livro.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Morte do Rei de Espanha (Carlos Daniel)

Aos dez anos, Juan Muriel viu o pai ser preso, acusado de um homicídio de contornos macabros. Por vontade do pai, assistiu a todos os passos do julgamento e, do que viu, retirou duas certezas: a garantia da inocência do pai, vítima de uma conspiração que acabaria por levar à condenação a uma longa pena de prisão; e a identificação de um responsável, na forma de um retrato e de um nome invocado por todos para justificar as suas acções. Construiu também um objectivo de vingança contra esse único culpado e verdadeiro alvo do seu ódio: o rei de Espanha. Mas vingança é algo de demasiado complexo para uma criança de dez anos. Juan sabe que tem de esperar. E, com o passar dos anos, o objectivo transforma-se cada vez mais em obsessão, à medida que planos e mais planos se formam na sua cabeça. Só lhe falta controlar um acaso e esperar que o rei se desloque a Portugal...
Um dos traços mais curiosos deste livro é o facto de, apesar de ter na base um crime e um enigma relativamente à identidade do culpado, o mistério estar longe de ser o centro da narrativa. Desde a acusação à condenação, e mesmo depois disso, não há grandes desenvolvimentos acerca do crime ou da investigação realizada, limitando-se a informação apresentada ao essencial para compreender as dúvidas e certezas de Juan e do resto da família. Não está no crime, nem na identificação do culpado,  nem sequer na demonstração da possível inocência do pai de Juan a essência da história, mas antes no crescimento do protagonista, na sua mudança através do tempo e na sua forma de lidar com as marcas do que aconteceu e que definiram a sua presente obsessão. É, por isso, a história de Juan o que realmente importa, mais que o mistério ou as tensões familiares. Ainda que estes venham tornar o enredo mais interessante.
A forma como a história é narrada tem também algumas peculiaridades interessantes. Parte do enredo é apresentado do ponto de vista de Juan, revelando alguns elementos mais pessoais e um certo tom introspectivo. O restante cabe a um narrador não identificado, que se apresenta como amigo de Juan e que pretende ser mais objectivo na narração. O que, curiosamente, não acontece, já que este narrador é tudo menos distante e faz questão de deixar bem claros os seus pontos de vista. Também isto contribui para que a história avance a um ritmo mais pausado, já que também o narrador tem as suas divagações, mas acaba por compensar pela diferença, já que a muito própria forma de expressão do narrador o torna também uma figura interessante na sua perspectiva dos acontecimentos.
Fica a impressão de que algumas partes do enredo poderiam ter sido mais desenvolvidas, principalmente relativamente às tais questões do crime e das relações familiares. As respostas essenciais são dadas, no final, mas seria interessante ter visto um pouco mais das outras personagens e do sucedido relativamente ao crime e às acções dos culpados.
Envolvente e interessante, ainda que um pouco confuso nos seus momentos mais divagativos, trata-se, portanto, de uma leitura agradável, ainda que de ritmo pausado, com personagens interessantes e alguns momentos particularmente bons. Gostei.

Novidade Porto Editora


Durante os anos sombrios do nazismo, desaparece da prisão de Spandau um valiosíssimo conjunto de moedas de ouro. Quase cinquenta anos depois, caído o muro de Berlim, dois personagens obscuros mas poderosos, com um passado político duvidoso, contratam, cada um por seu lado, dois «antigos combatentes», desempregados profissional e ideologicamente, para que partam em busca do tesouro roubado. Um, Belmonte, o que tem nome de toureiro, aceita o encargo por amor a Verónica; o outro, Frank Galinsky, aceita-o por um velho hábito de obediência militante cujo ideal é agora o de enriquecer «como todos os outros».
Mas o tesouro ainda existe? Belmonte e Galinsky chegarão a enfrentar-se? Nos tempos implacáveis que são os nossos, vencerá o amor ou a cobiça?
Com Nome de Toureiro, Luis Sepúlveda confirmou-se como um admirável «contador de histórias», oferecendo-nos um inesperado «romance negro» que tem como pano de fundo uma profunda reflexão sobre as ideologias autoritárias.

Luis Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, em 1949. Da sua vasta obra (toda ela traduzida em Portugal), destacam-se os romances O Velho que Lia Romances de Amor e História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar. Mas Mundo do Fim do Mundo, Patagónia Express, Encontros de Amor num País em Guerra, Diário de um Killer Sentimental ou A Sombra do que Fomos (Prémio Primavera de Romance em 2009), por exemplo, conquistaram também, em todo o mundo, a admiração de milhões de leitores.
No catálogo da Porto Editora (que publicará toda a sua obra) figuram já A Lâmpada de Aladino, O Velho que Lia Romances de Amor, História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, A Sombra do que Fomos, Histórias Daqui e Dali, Patagónia Express, As Rosas de Atacama e Últimas Notícias do Sul.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Inferno de Gabriel (Sylvain Reynard)

Gabriel Owen Emerson, também referido como O Professor, é um especialista em Dante e um homem de temperamento difícil. Arrogante, exigente, dominador, fácil de encolerizar e capaz de submeter às maiores humilhações quem o contraria, é tudo menos um indivíduo agradável. Mas tudo muda quando encontra Julia Mitchell. Frágil e insegura, a sua jovem aluna parece ter sido capaz de o irritar ao primeiro contacto, mas a verdade é que ela lhe recorda alguém. Como a imagem de luz que foi no seu passado negro, Julia parece despertar todos os instintos protectores - e uma irresistível atracção - n'O Professor. E, ainda que só ela o recorde, a verdade é que ambos têm um passado em comum e este não diz respeito apenas às cicatrizes com que ambos têm de viver...
Apesar de classificado como um romance erótico, este é um livro em que há muito mais para descobrir para lá das partes sensuais. Partes que, na verdade, não são assim tão frequentes ao longo do enredo, surgindo antes de forma gradual, acompanhando a evolução da história. O que mais sobressai é, de facto, o romance entre os protagonistas e a forma cativante como este é desenvolvido, partindo de uma quase aversão à primeira vista (principalmente da parte de Gabriel) e evoluindo no sentido de um sentimento forte e sólido, mais lúcido que idealizado, mas que se espera capaz de ultrapassar todas as barreiras.
Sendo o romance a parte central do enredo, é inevitável considerar a forma como os protagonistas são caracterizados e a capacidade de construir empatia, entre personagens e com o leitor. Este é outro dos pontos fortes deste livro. À primeira vista, Gabriel e Julia não podiam ser tão diferentes e é verdade que as primeiras características a surgir de ambos não são propriamente as qualidades. Mas é a forma como estas fragilidades se vão apresentando como base para uma natureza mais completa, construída sobre as marcas do passado mas também sobre as qualidades ocultas, o que torna a evolução do enredo tão cativante. Julia, a jovem insegura e vulnerável, compreensivelmente assustada ante as suas circunstâncias, floresce com as demonstrações de afecto e bondade, revelando as suas forças na forma como lidar com os fantasmas do passado - do seu e do de Gabriel. Já deste a primeira impressão constrói-se sobre os seus maiores defeitos, mas o enigma que, desde cedo, o torna fascinante revela a sua verdadeira natureza, à medida que os fantasmas da culpa e do remorso (e, sim, a história de pecados antigos) justificam a sua personalidade atormentada e defensiva.
Ainda um outro aspecto a referir é a criação de um paralelismo entre a relação de Gabriel e Julia com Dante e Beatriz, sendo a história destes últimos desenvolvida de forma cativante - nas palestras de Gabriel e na sua própria história - de modo a tornar mais forte o impacto do percurso dos protagonistas. Impacto que, nos momentos mais emotivos, é fortíssimo e que, segredos e indecisões à parte, cria uma relação riquíssima e comovente.
De referir, por último, que, ainda que o romance entre os protagonistas seja o enredo central, há também outras personagens e histórias a complementar essa parte do enredo. A vida de Gabriel e Julia não se resume à relação entre ambos e elementos como a vida familiar de Gabriel e Julia, com todos os afectos e fantasmas relativos a esses laços, completam uma história em que o amor é o centro, mas em que também a família e as verdadeiras amizades surgem como tesouros a preservar.
Cativante e comovente, este é, pois, um livro onde romance e sensualidade se conjugam com uma história de superação de culpas passadas, num enredo cheio de momentos emotivos e em que os protagonistas se revelam tão cativantes nas suas forças como nos defeitos e nas vulnerabilidades. Um romance intenso (e, por vezes, enternecedor) que não posso deixar de recomendar. Fantástico.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Estorvo (Chico Buarque)

Um desconhecido a tocar à campainha despoleta a fuga do protagonista. Do que foge e porquê nem ele sabe bem. Mas inicia, dessa forma, um percurso através das suas memórias e da vida de todos aqueles que conheceu - e para os quais é apenas um fardo a suportar. Um estorvo. Este livro é a sua narração dessa jornada, perdida, por vezes, entre recordações e imagens sonhadas, num enredo com tanto de surreal como de cativante, difícil de acompanhar, por vezes, mas também com vários momentos marcantes.
O grande ponto forte deste livro está, sem dúvida, na escrita. Num estilo muito próprio, com algo de divagação (reflectindo, um pouco, o percurso do narrador), a narração funde as diferentes imagens e acontecimentos num todo envolvente e fluído. Mesmo quando o rumo da história parece mais difícil de seguir, confundindo o presente com os sonhos e memórias do protagonista, a escrita nunca deixa de ser cativante na sua identidade própria e no seu estilo particular.
Da história propriamente dita, sobressai inicialmente alguma estranheza, principalmente quanto às razões que justificam algumas das escolhas do protagonista, mas também, nos melhores momentos, um toque de emoção e de empatia face ao homem solitário que, pouco mais que um obstáculo para todas as pessoas da sua vida, não tem outro caminho que não a fuga. Há várias situações confusas ao longo do enredo, principalmente no que diz respeito à interacção do protagonista com a família e na questão das jóias da irmã. Mas há também momentos que despertam a curiosidade em conhecer o seu destino e algo de triste e enternecedor na forma como o autor conclui a história.
Ficam algumas questões em aberto, já que a história do protagonista se resume aos poucos dias em que decorre o enredo. Não há grande desenvolvimento do seu passado nem das personagens com as quais interage, ficando, quer sobre as relações familiares, quer de alguns crimes e outras ilegalidades ocorridas ao longo da história, a sensação de que muito é deixado por explicar. Haveria, por isso, talvez muito mais a desenvolver, numa história que não fosse tão centrada no protagonista e no seu único e constante acto de fuga.
Esta é, assim, uma história bem escrita e com alguns momentos particularmente fortes, ainda que também um pouco confusa e que deixa bastante por dizer. Tudo somado, fica a sensação de que mais poderia ter sido explorado, nalguns aspectos, mas a impressão final de uma leitura cativante e agradável. Gostei de ler, portanto.

Novidade Asa


Sophie Morgan é uma jovem jornalista de sucesso.
Divertida, inteligente, atraente e generosa, ela podia ser uma das suas amigas. A sua vida é absolutamente banal… com excepção de um “pormenor”: na cama, ela gosta de se entregar a um homem dominador. Sophie é uma submissa. E é também suficientemente ousada para revelar a sua arrojada vida íntima: das primeiras experiências eróticas à recém-descoberta sexualidade, na qual James, um “Christian Grey” da vida real, teve um papel fundamental. É só quando o conhece que ultrapassa verdadeiramente os seus limites. À medida que a paixão entre ambos se intensifica, a questão que coloca a si própria é: até onde será capaz de ir?
Poderá o homem perfeito ser também perfeitamente cruel?

Na senda de 50 Sombras de Grey, este ousado relato pessoal desvenda os segredos e desconstrói os mitos do que realmente significa ser submissa.
Arrojado, controverso e sensual, este Diário está recheado de uma honestidade tão surpreendente que ninguém – homem ou mulher – será capaz de o pousar. E quando terminar, o leitor vai perceber por que razão “Sophie” é um pseudónimo.

Iniciativa "Unidos pelo Livro"

Entre os dias 13 e 19 de Fevereiro, o blogue As Leituras do Corvo une-se à Editorial Presença para apresentar uma oferta aos seus leitores. O que temos para oferecer?  Um desconto de 5€ em compras iguais ou superiores a 15€  feitas em www.presenca.pt e o marcador Unidos Pelo Livro (ver imagem abaixo).


Para ter acesso a esta oferta, basta utilizar o código UNIDOSPELOLIVROTW5KK na encomenda a efectuar no site da Presença. Este código poderá ser utilizado apenas entre os dias 13 e 19 de Fevereiro. Todas as tentativas de utilização do código fora deste período de tempo não darão acesso a nenhuma oferta.

Podem ver as instruções passo-a-passo de como utilizar o código no final deste post. 

Boas compras... e, claro, boas leituras!

Instruções de utilização do código: 

1. Vá a www.presenca.pt e escolha os seus livros;
2. Clique em «Comprar»(junto às capas dos livros); 

3. Clique em «Carrinho de compras» (no canto superior direito do site);

4. Identifique-se ou registe-se (no carrinho de compras);

5. Introduza o código no campo «Possui algum código-oferta? Introduza o seu código aqui» e clique em "Aplicar";
7. Clique em «Prosseguir a encomenda» e siga os restantes passos até finalizar a encomenda
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Na Cama dos Reis (Juliette Benzoni)

Usados como forma de estabelecer ou solidificar uma aliança, ou então para adquirir prestígio ou poder, os casamentos reais nunca tiveram o amor como prioridade. O primeiro encontro dos noivos ocorria, muitas vezes, diante do altar, ou já depois das cerimónias concluídas. Era rara, por isso, a existência de familiaridade ou afecto entre o casal, o que, aliado às circunstâncias mais ou menos dramáticas da união, terá dado origem a várias situações complicadas - ainda que também a algumas uniões entusiásticas. O que este livro apresenta é um conjunto de pequenos relatos sobre as noites de núpcias da realeza (e até as atribuídas, pelos seus devotos, a alguns deuses). Os episódios vão do trágico ao caricato e são sempre muito interessantes.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a forma como, na narração relativamente breve de cada episódio, a autora consegue transmitir uma perspectiva bastante clara e humana dos seus protagonistas, criando empatia e interesse tanto pela situação como pelos que a vivem. Isto é mais evidente nos episódios mais dramáticos, e principalmente naqueles em que intervêm figuras particularmente cruéis ou particularmente inocentes, mas praticamente todos os episódios têm algo capaz de recordar a humanidade dos seus protagonistas e, ao reconstruir os diálogos mais importantes, a autora reforça o impacto das situações narradas.
À forma sempre cativante como a autora narra os acontecimentos, juntam-se os acontecimentos em si, já que também o contexto histórico em que decorrem as diferentes uniões (muitas das quais dizem respeito à corte francesa, mas nem todas) tem muito de interessante a descobrir. Cada episódio é, por si só, uma interessante introdução ao contexto da época em que decorre. Além disso, considerando diferentes episódios, ocorridos na mesma corte mas distantes no tempo, é possível ver, em linhas gerais, algumas das mudanças sofridas nesse mesmo ambiente, através dos tempos.
Leve e envolvente, este é, pois, um interessante conjunto de curiosidades históricas. Cativante pelo contexto das épocas em que decorre cada situação e também pela forma como a autora narra esses diferentes episódios (tendo sempre em vista a humanidade dos seus protagonistas), uma leitura agradável e com muito de interessante para descobrir. Muito bom, em suma.

Novidades Planeta


Uma mulher e um achado assombroso que revela instantâneos de uma juventude enterrada na rotina dos dias.  
Um passado vivido ao longo dessa emblemática estrada que liga a dourada sociedade da Linha de Cascais à cidade de Lisboa.  
Onde começa a margem e termina o «dever ser» para uma jovem portuguesa, nas décadas de 50 a 70 do século passado?  
Pode uma dúzia de imagens de um passado rebelde abalar a calma de um presente sem cor?  

Cristina Carvalho nasceu em Lisboa a 10 de Novembro de 1949. Durante a sua actividade profissional, contactou com milhares de pessoas e visitou inúmeros países, sendo a Escandinávia e o Oeste português as regiões que mais ama e que mais influência exercem sobre o seu imaginário e a sua personalidade enquanto transitório ser humano do sexo feminino, habitante do planeta Terra e, por acaso, escritora.  
Não por acaso, nesta sua actividade a que não chama profissional, é já autora de onze livros, com o presente, e outros se seguirão.  
Até à data, tem publicados: Até já não É Adeus (1989); Momentos Misericordiosos (1992); Ana de Londres (1996); Estranhos Casos de Amor (2003); O Gato de Uppsala (2009); Nocturno: o Romance de Chopin (2009) e Lusco-Fusco (2012) (os três últimos seleccionados para o Plano Nacional de Leitura); Tarde Fantástica (2011); A Casa das Auroras (2011); Rómulo de Carvalho/António Gedeão – Príncipe Perfeito (2012).

Sam Savage criou personagens que fascinaram o mundo. 
Em As Recordações de Edna, o autor regressa, mais uma vez, com uma personagem marcada pela contradição – ao mesmo tempo atraente e exasperante, cómica e trágica. 
O livro transporta-nos ao campo de batalha interior de um autor frente à sua máquina de escrever. 
Quando uma editora lhe solicitou que escrevesse um prefácio ao romance do seu falecido marido, Edna decide escrever um livro autónomo «não apenas sobre Clarence mas também sobre a minha vida, porque ninguém pode aspirar a conhecer Clarence sem isso». 
Ao mesmo tempo, a vizinha pede-lhe que tome conta do seu apartamento repleto de plantas e animais. As exigências dos seres vivos – uma ratazana, peixes, fetos – competem pela atenção de Edna com recordações há muito reprimidas.  
Dia após dia, páginas de pensamentos aparentemente aleatórios brotam da sua máquina de escrever.  
A pouco e pouco, toma forma no mosaico de memórias a história de um casamento notável e de uma mente levada ao limite. 
Serão as recordações de Edna uma homenagem ao marido ou um acto de vingança?  Terá sido a vítima culta e hipersensível de um marido bruto e ambicioso, ou terá ele tido que cuidar de uma mulher neurótica?  
Cabe ao leitor decidir.

Sam Savage é doutorado em Filosofia pela Universidade de Yale, onde leccionou algum tempo. Abandonou o ensino para se dedicar a outras actividades. Trabalhou como mecânico de bicicletas, pescador profissional e impressor tipográfico. 
Aos 65 anos estreou-se na literatura com Firmin (Planeta, 2009), uma obra carismática, que alcançou rapidamente um grande êxito em todo o mundo, a que se seguiu O Grito da Preguiça (Planeta, 2010). 
Sam Savage foi finalista dos Prémios Barnes & Noble Discover Great New Writers Award, do PEN L.L. Winship Award e Society of Midland Writers Award. 
Natural da Carolina do Sul, vive em Madison, Wisconsin. 

No submundo mágico da Londres vitoriana, Tessa Grayencontrou por fim a segurança com os Caçadores de Sombras.  Mas esta torna-se efémera quando forças desonestas na Clave se revelam para destruir a sua protectora, Charlotte, e substituí-la como chefe do Instituto.  
Se Charlotte perder a sua posição, Tessa será posta na rua – e presa fácil para o misterioso Magister, que deseja usar os poderes de Tessa para os seus fins obscuros.  
Com a ajuda do bonito e autodestrutivo Will e do devotado  e dedicado Jem, Tessa descobre que a guerra do Magister contra os Caçadores de Sombras é pessoal.  
Quando encontra um demónio mecânico com um aviso de Will, apercebe-se que o Magister sabe de todos os seus movimentos… e que um deles os traiu.  
Tessa descobre que o seu coração está cada vez mais atraído por Jem, apesar do seu anseio por Will e dos sombrios estados de alma que continuam a abalar a sua confiança.  
Mas algo está a mudar em Will… a parede que construiu à sua volta desmorona-se.  
A verdade leva os amigos para o perigo, e Tessa descobre que quando o amor e mentiras se misturam podem corromper até o coração mais puro.

Cassandra Clare nasceu no Irão e passou os primeiros anos a viajar pelo mundo com a família e vários baús cheios de livros de fantasia, entre os quais As Crónicas de Nárnia. 
Mais tarde, trabalhou como jornalista em  Los Angeles e Nova Iorque. Cassandra Clare vive em Massachusetts com o marido, os gatos e ainda mais livros. 
Caçadores de Sombras é o título da trilogia que começou com A Cidade dos Ossos, uma fantasia urbana povoada por vampiros, demónios, lobisomens, fadas, e que é um autêntico romance de acção explosiva.