terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Morte no Nilo (Agatha Christie)

Linnet Ridgeway tem tudo. Invulgarmente bela e dona de uma grande fortuna, não lhe faltam pretendentes e há pouco que esteja fora do seu alcance. É por isso que o seu casamento com Simon Doyle, um homem de origens modestas, não deixa ninguém indiferente. Mas nem todos desejam a sua felicidade, já que a notícia do seu casamento veio abalar muitos planos. E é por isso que, ao embarcar numa viagem pelo Nilo, Linnet se sente rodeada de inimigos, ainda que a única a mostar as razões para a odiar seja a antiga namorada do seu actual marido. Há muitos interesses em jogo sob a aparência de uma viagem de lazer. E, quando a tragédia acontece, todos são suspeitos e, ao mesmo tempo, a mulher com mais razões para agir parece ser a única garantidamente inocente. Ou não?
Há vários elementos neste livro a fazerem lembrar Um Crime no Expresso do Oriente. Desde logo, a forma como o mistério é construído, com todas as personagens envolvidas numa viagem e em que todos, ou quase todos, os presentes são suspeitos, evoca, em linhas gerais, esse outro enredo. Além disso, o próprio Poirot faz referência a esse caso, realçando essas semelhanças e essa ligação. O caso é, ainda assim, bastante diferente e a forma como a situação evolui é bem mais interessante, sendo a história mais cativante e o final bem mais intenso.
Ao abrir a história com um capítulo passado antes da viagem, é possível conhecer as personagens fora do contexto do mistério - ou em preparação para ele. Isto desperta, desde logo, curiosidade para as ligações entre todas essas personagens e, no centro, Linnet Ridgeway. Funciona, portanto, como uma boa abertura para o caso propriamente dito, o qual, de possibilidade em possibilidade, se vai tornando mais intrigante a cada nova revelação. Além disso, a história não se centra somente na resolução do mistério, até porque os crimes só começam a surgir lá para meados do livro, havendo, antes disso, uma série de movimentações e possíveis pistas dadas pela personagens que criam para o que se seguirá um ambiente intrigante e tenso que se adequa na perfeição às circunstâncias.
Quanto à caracterização das personagens, é feita de forma relativamente discreta, mas apresentando todos os aspectos relevantes para a evolução do enredo. Quase todos têm algo a esconder, e os mistérios de alguns são surpreendentes. Fica, ainda assim, a impressão de algumas figuras demasiado estereotipadas nos seus preconceitos, ainda que o contraste entre ambos - Mr. Ferguson e Mrs. Van Schuyler - acabe por ser, também, bastante interessante.
Intrigante e envolvente, este é, pois, um livro em que o mistério e a sua resolução são os elementos centrais, mas em que o desenvolvimento de algumas personagens e a forma como Poirot lida com os múltiplos segredos que tem em mãos acrescentam aos acontecimentos algo de agradavelmente inesperado. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.

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