quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Catarina, a Grande (Silvia Miguens)

Quando era apenas a pequena Figchen, muito antes dos acontecimentos que a tornariam imperatriz de todas as Rússias, um quiromante viu três coroas no seu futuro e o homem que tratava de endireitar os seus ossos - e que era também o verdugo de Stettin - disse-lhe que todo o sofrimento a tornaria mais forte. Na sua ascensão ao poder, a futura Catarina, a Grande, recordaria essa lição. Ambiciosa e determinada, o seu ponto fraco seria sempre a falta de amor - mesmo enquanto os favoritos se sucediam na sua cama. Catarina queria ser a mãe do povo russo. E, apesar das intrigas e dos sacrifícios, viria a consegui-lo.
Narrado na primeira pessoa e partindo de muito cedo na infância da protagonista, este é um livro que cativa principalmente pelo tom pessoal com que a história é apresentada. É Catarina, antes Figchen, que recorda as situações que marcaram a sua vida. É ela que observa as mudanças e, com elas, molda a sua atitude e os seus planos. Assim, é ela o centro de toda a narrativa, bem como os olhos que a contemplam e é por isso que, se alguma das personagens é, realmente dada a conhecer, essa é, essencialmente, Catarina.
Esse registo pessoal contribui também para que o retrato da protagonista seja mais o da mulher que o da imperatriz. A ambição e a força de vontade estão presentes em muitas das suas decisões e é bastante evidente, por vezes, o sacrifício da vida privada em nome de interesses maiores. Ainda assim, os momentos mais marcantes estão precisamente no que diz respeito a essa vida privada. Situações como a ligação ao tio Georgie ou o crescente apego ao neto Alexandre revelam, mais que qualquer sacrifício em nome do estado, a imensa humanidade por detrás do poder de Catarina.
Há, naturalmente, uma contrapartida para a escolha de narrar os acontecimentos pela voz de Catarina. É que, ao apresentar os factos pela voz da imperatriz, apenas o seu ponto de vista é apresentado e, principalmente no que diz respeito às questões de intriga palaciana, mas também a um contexto global do mundo para lá do que a protagonista vê, há momentos e motivos que acabam por ser abordados de forma limitada, por se resumirem à percepção que a protagonista tem deles. Não há, pois, um grande desenvolvimento a nível da perspectiva global sobre o reino que Catarina governa, sendo, ainda assim, essa falta compensada pela bem conseguida proximidade relativamente à protagonista.
Trata-se, assim, de um livro que, não sendo particularmente detalhado a nível de contexto histórico, consegue, ainda assim, traçar um bom retrato de Catarina, a Grande. Mais como mulher que como imperatriz, é certo. Ainda assim, um bom ponto de partida para um romance envolvente e agradável de ler. Gostei.

Sem comentários:

Enviar um comentário