domingo, 2 de setembro de 2012

O Rapaz que Mastigava Cabelos (Luís Carlos Mendes)

Esta é a história de um rapaz estranho numa aldeia ainda mais estranha. Serôdio, filho de uma prostituta e de pai desconhecido, foi rejeitado pela mãe e deixado à sua sorte. Mas seus passos levaram-no a encontrar-se com a filha do casal mais temido da aldeia, que o levou para casa e o colocou na posição de se tornar servo do sinistro Calisto Mortágua. E é aí que começam as verdadeiras tribulações de Serôdio e das gentes da aldeia, pois, dominado pela fúria ante o abandono, o rapaz desobedece às ordens e sai à procura de explicações... ou de uma vítima. E, enquanto Serôdio é procurado pelos servos de Calisto e a aldeia lida com o roubo da cruz de pedra e com um caso de homicídio, os ânimos começam a exaltar-se e a estranheza torna-se cada vez mais evidente...
Construída num misto de estranheza e de envolvência, esta é um livro que, a nível de enredo, tem muito de cativante. O desenrolar dos acontecimentos é relativamente simples, apesar do evidente aspecto surreal que surge em muitas das situações, e a forma como é apresentado bastante sucinta. O resultado é uma leitura envolvente, em que a história das personagens desperta curiosidade em saber o que acontece depois e o lado sombrio do enredo contrasta com os pequenos momentos de quase ternura. 
Também a forma como o lado sobrenatural da história é explorado é interessante. Os segredos do casal Mortágua e as peculiaridades da natureza de Serôdio são um mistério que se confunde com a superstição das gentes da terra, o que cria, ainda que algumas perguntas sejam deixadas sem resposta, um agradável ambiente de mistério, num cenário em que o bem e o mal se confundem nas escolhas de alguns dos intervenientes.
Mas há algumas fragilidades, e estas estão essencialmente na escrita. Alguma estranheza na construção de algumas frases, pequenas falhas de pontuação e uma ou outra gralha ao longo do texto influenciam negativamente o ritmo de leitura, já que, não sendo graves ao ponto de se sobrepor ao interesse da história, funcionam, ainda assim, como distracção.
Com um enredo peculiar e um bom equilíbrio entre questões de crueldade e inocência, esta é, portanto, uma história que perde parte da envolvência devido às falhas da escrita., mas que consegue, ainda assim, ser uma leitura cativante e manter viva a curiosidade em conhecer o futuro das personagens. E acaba por ser isso o mais interessante neste livro.

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