domingo, 29 de julho de 2012

Uma Carta Inesperada (Barbara Taylor Bradford)

No dia em que Justine Nolan abre uma carta dirigida à mãe e enviada de Istambul, a sua vida muda. A carta é curta, simples. Vem sem remetente e o nome da mulher que a assina é-lhe completamente desconhecido. Mas traz uma revelação devastadora: a avó, que, segundo a mãe, morrera anos antes num acidente de viação, está afinal viva e bem, mesmo que a sofrer pela separação que a filha lhe impôs. Justine e o irmão não têm dificuldades em acreditar no que lêem. Mas, mais que a vontade de confrontar a mãe, importa descobrir onde se encontra a avó e, por isso, Justine parte para Istambul em busca de respostas. Mas encontrar Gabriele é apenas o início das revelações...
Com uma escrita directa e envolvente, sem grandes divagações ou elaborações, esta é uma história que vive, em grande medida, dos mistérios na vida das suas personagens. É este mistério que, desde as primeiras páginas desperta curiosidade, que dá envolvência à narrativa e que torna as personagens interessantes, com a sua busca e o que os move. Além disso, há vários aspectos, no decorrer da narrativa, que surpreendem pelo potencial que revelam, destacando-se, como não podia deixar de ser, a grande revelação de Gabriele e da sua história em plena Segunda Guerra Mundial.
Um outro aspecto bem conseguido é a caracterização de Istambul. Construído de forma gradual, tal como a descoberta que Justine faz da cidade enquanto a percorre em busca da avó, o retrato da cidade é feito de forma cativante e tentando transmitir o máximo da sua beleza, o que cria a agradável sensação que acompanha a descoberta - mesmo que à distância - de um lugar diferente. Esta beleza contrasta, também, com o lado mais sombrio, que será revelado com o passado de Gabriele.
Também a nível de personagens, há várias figuras cativantes e de grande potencial. É, naturalmente, o romance entre Michael e Justine que se destaca, mas, mais que a história da sua relação, são os seus percursos individuais que os tornam cativante: Michael pela sua ocupação misteriosa, Justine pela persistência na sua busca. E a estes juntam-se outras figuras secundárias, mas igualmente relevantes, como Anita, com a sua amizade e a paixão pela cidade que a acolheu, ou Joanne com o companheirismo e a devoção oferecidas a Richard.
Há, portanto, um vasto potencial nesta história, quer a nível de temas, quer a nível das personagens que intervêm na narrativa. Fica, contudo, a impressão de que esse potencial não foi completamente explorado, sendo alguns dos elementos explorados de forma demasiado apressada. Isto evidencia-se, em particular, na forma como Richard e Justine tiram conclusões a partir de um conhecimento reduzido. Mesmo que a sua posição se venha a revelar acertada, a sua facilidade em julgar e tomar partidos faz com que uma figura também com muito potencial - a mãe de ambos - acabe por ser caracterizada apenas de forma distante, sendo mostradas as suas más acções e pouco mais. Juntem-se a isto alguns momentos em que fica a sensação de que mais haveria a dizer, e a impressão que fica é a de que, apesar de interessante tal como é, esta história podia ter sido muito mais.
Trata-se, assim, de uma leitura cativante, com uma boa história e vários momentos marcantes. Apesar de perder um pouco pela abordagem apressada a alguns dos mistérios e experiências das personagens, Uma Carta Inesperada apresenta, ainda assim, uma história envolvente, com alguns momentos surpreendentes e, somando todos os seus elementos, uma leitura agradável. Gostei, portanto.

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