sexta-feira, 18 de maio de 2012

Idades (Ana Wiesenberger)

Um percurso pelas memórias através das diferentes fases da vida, com imagens ora de uma simplicidade enternecedora, ora de uma vaga nostalgia, passando ainda pela percepção das mudanças que o tempo operou sobre o mundo em volta. É esta a linha essencial deste conjunto de poemas, em que as ideias se juntam ao ritmo do pensamento para criar, em torno de um ponto central que é, em suma, a recordação, uma série de imagens interessantes e envolventes.
Ao ter como elementos comuns à vasta maioria dos poemas a memória e a passagem do tempo, é inevitável que estes poemas se destaquem, em grande medida, pelo registo pessoal. São principalmente os sentimentos a sobressair enquanto se reflecte sobre as recordações e as mudanças, o que fica e o que se perdeu. Ainda assim, há também um toque de ambiguidade que faz com que essas mesmas memórias não se tornem demasiado específicas, permitindo a quem lê identificar-se com o sentimento ou com a experiência do sujeito poético. Até porque de aprendizagem e crescimento se fazem todos os percursos de vida e a saudade associada ao acto de recordar é algo de quase inevitável - e que surge também como um elo central ao longo de muitos dos poemas deste livro.
Interessante também é a forma como, sem grandes mudanças a nível estrutural, há um evidente contraste entre a simplicidade de alguns dos poemas (mais centrados no concreto e nas recordações de eventos e cenários) e o lado mais elaborado que, por vezes, evoca imagens completamente inesperadas. Em comum a todos eles, há um lado emocional e introspectivo que traz à memória aqueles elementos familiares com que cada leitor se pode identificar.
Breve, mas agradável e de ler e envolvente tanto pela fluidez das palavras como pela sensibilidade que se evidencia no conteúdo, Idades cativa pelo lado pessoal e, ao mesmo tempo, empático da viagem que percorre no mundo da recordação. Gostei de ler.

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