sábado, 5 de novembro de 2011

As Regras da Casa da Sidra (John Irving)

Esta é a história de Homer Wells, órfão de St. Cloud's que nunca pertenceu a qualquer outro lugar. A história de uma criança que cresceu para ansiar por liberdade e por conhecer um mundo para lá de St. Clouds. Para descobrir valores e, por vezes, a necessidade de os quebrar. Para conhecer o amor e a tolerância para com as situações mais invulgares. Para encontrar, enfim, o seu lugar no mundo. Esta é, também, a história do seu mentor, Wilbur Larch, director do orfanato, obstetra e aborteiro e defensor da necessidade de ter serventia na vida.
São mais de setecentas páginas e uma história cheia de pormenores, de subtilezas, de relações complexas e invulgares. E, contudo, não há um único momento em que a envolvência se perca. Há uma unidade na narrativa, mesmo quando os seus principais intervenientes se dispersam por rumos divergentes e uma ligação - ainda que ténue, ainda que apenas pela memória - que traça entre todos eles uma linha comum. É uma verdadeira odisseia a vida de Homer Wells, um caminho marcado por experiências marcantes (e, algumas, algo peculiares) e por emoções intensas e, contudo, parte de Homer uma série de ligações para personagens igualmente importantes. Destaca-se Larch, é claro, com os seus valores muito próprios e também uma muito própria história na sua base. Mas também Melony e a sua disfuncional espécie de amor, Wally com a sua experiência de guerra. E, claro, Angel, tão importante sem saber quem realmente é.
Se a história é, por si só, algo de marcante e as personagens são figuras muito bem construídas, importa ainda destacar o relevo dado a temas importantes. Na verdade, St. Cloud's é, na sua totalidade, uma base para uma importante reflexão sobre a temática do aborto. E há ainda um outro elemento que transparece ao longo de todo o livro (começando no próprio título): a importância das regras e a necessidade de, por vezes, as pôr de parte.
Há, portanto, toda uma história de emoções e de experiências em As Regras da Casa da Sidra. Com uma escrita muitíssimo cativante (pontuada por momentos deliciosos de um humor muito particular), personagens complexas e reais nas suas escolhas e dilemas e uma história feita de todo um mundo de elementos interessantes, não ficam dúvidas de que vale a pena ler este livro.

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