domingo, 9 de outubro de 2011

Não Podemos Ver o Vento (Clara Pinto Correia)

A partir do momento em que começa a frequentar o Palácio de Guilherme, a curiosidade de Mariana desperta. Mais que uma ocupação para os tempos livres das filhas, Mariana vê naquelas visitas uma oportunidade de conhecer melhor Guilherme, em tempos membro dos Grupos Especiais e um homem tão complexo como contraditório. Mas a relação entre Mariana e Guilherme ultrapassa o âmbito do simples (ainda que pouco ortodoxo) estudo psicológico e as contradições e complicações da história (e da personalidade) de Guilherme vão bem mais longe que o que Mariana alguma vez imaginou.
Divagando entre diferentes momentos do tempo, como que num cruzamento de linhas narrativas que envolvem experiências próximas e distantes da figura da protagonista, há algo de cativante na forma algo fragmentária como este romance é construído. Há muitos elementos em contraste e interesses em colisão. Para Mariana, confundem-se os elementos do seu estudo sobre crescimento pós-traumático com relações que se tornam mais profundas e pessoais, mas que dão origem a dúvidas e tensões. Guilherme, por sua vez, fala de traumas e de grandes experiências de guerra, como se tivesse vivido demasiadas vidas em simultâneo. E entre as experiências e relações de ambos, há histórias de guerra e de aventura, mas também de romance e de humilhação. No fundo, ninguém é o que parece. E é isto o que mais claramente transparece neste livro.
Outra consequência da oscilação entre diferentes momentos temporais é uma leve insinuação de mistério. Não havendo, à partida, grandes enigmas por resolver (excepto, talvez, o passado), há, ainda assim, nas diferentes experiências vividas por Mariana, e na forma como estas se relacionam com os homens do seu mundo, uma envolvência que mantém viva a curiosidade em saber como acabará a história de Guilherme e Mariana. E há uma fluidez de escrita, uma conjugação interessante entre a simplicidade das conversas e um certo toque de poesia, que torna a leitura cativante desde as primeiras páginas.
Trata-se, portanto, de uma história de contrastes entre a ilusão e a realidade, entre o que se espera e o que se encontra. Interessante, com momentos marcantes e um final particularmente surpreendente. Muito bom.

3 comentários:

  1. Desde que li o "Adeus, Princesa" que dispenso livros da CPC. Ainda lhe dei uma segunda oportunidade com o "Ponto Pé de flor", que deixei nem a meio, tal era a desgraça.

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  2. Não li nenhum dos dois. Li, há uns anos, "Os Mensageiros Secundários" e, apesar de gostar da ideia base, também houve momentos em que me custou avançar. Felizmente, isso não aconteceu com este livro.

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  3. Suspeito que seja mais um caso de plágio. Ainda não tive oportunidade de o ler, embora o tenha cá em casa, mas já li em vários sitios que a "pesquisa histórica" é cópia integral não autorizada do blog http://gruposespeciais.blogs.sapo.pt/ e do livro "A Minha Guerra" do Clube de Autores...

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