quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Novidades Saída de Emergência para Setembro

O Messias de Duna – Frank Herbert

Doze anos depois dos eventos descritos em Duna, Paul Atreides governa como Imperador do Universo, tendo dado início a uma Jihad galáctica ao aceitar o papel de Mahdi do povo Fremen. Paul é o mais poderoso Imperador de sempre, mas é incapaz de travar a sangrenta Jihad que já ceifou as vidas de milhões de pessoas e destruiu mundos.
Com a sua visão presciente, Paul vê a Jihad a alastrar-se, mas não pode travá-la face às terríveis alternativas que se podem seguir. Motivado por este conhecimento, decide seguir um plano complexo e perigoso que pode evitar a extinção da Humanidade, uma visão que o atormenta dia e noite.
O que Paul desconhece é que muitos velhos inimigos se reúnem à sombra do Império, preparando uma conspiração para derrubar a Casa Atreides do trono. Mais do que um mero assassinato, preparam-se para fragilizar o Kwisatz-Haderach… Conseguirá Paul estar à altura dos desafios do seu papel como Imperador e evitar os perigos que o rodeiam?

O Fim Chega Numa Manhã de Nevoeiro – Renato Carreira

Quando um grupo de feiticeiros renegados decide despertar uma personagem maldita da história portuguesa para cumprir uma profecia de séculos, Baltazar Mendes (investigador policial a quem acusaram de loucura!) vê-se envolvido contra sua vontade num conflito mortal em que nem todos os oponentes são humanos. Tudo dependerá de si porque, se a profecia se cumprir e o desejado regressar, o fim chegará numa manhã de nevoeiro. Uma aventura frenética, metade thriller, metade fantasia, que apresenta uma nova e talentosa voz do fantástico nacional.
Acontecem coisas sinistras pelas ruas de Lisboa. Coisas que nos escapam ou que preferimos ignorar por falta de explicação. Também Baltazar Mendes as ignoraria, se pudesse, e talvez assim não se visse tristemente reduzido de inspector policial a sujeito compulsivo de uma avaliação psiquiátrica para determinar se é ou não um louco assolado por delírios mirabolantes e um perigo para a sociedade. Mas sabe bem que não são delírios. A culpa é do Sr. Salcedo, um investigador paranormal que insiste em arrastá-lo para um submundo de que não quer fazer parte. E tudo porque Baltazar tem um dom. Ou uma maldição...

O Ladrão da Eternidade – Clive Barker

Tem cuidado com o que desejas, pois pode tornar-se realidade…
Quando, nos longos meses de Inverno, um rapaz chamado Harvey se sente a morrer de tédio, eis que surge um homem que o conduz para uma estranha e fascinante casa onde em cada dia passam as quatro estações do ano e não há regras, apenas divertimento e milagres. A casa de férias do Senhor Hood existe há mais de 1000 anos, oferecendo as boas-vindas a todas as crianças e satisfazendo todos os seus desejos. Mas quando Harvey encontra um lago povoado por criaturas que eram, outrora, crianças como ele, descobre que há um preço a pagar pela sua estadia na casa, e o que era um sonho tornado realidade, cedo se transforma num pesadelo…

A Dança dos Dragões – George R.R. Martin

O Norte jaz devastado e num completo vazio de poder. A Patrulha da Noite, abalada pelas perdas sofridas para lá da Muralha e com uma grande falta de homens, está nas mãos de Jon Snow, que tenta afirmar-se no comando tomando decisões difíceis respeitantes ao autoritário Rei Stannis, aos selvagens e aos próprios homens que comanda.
Para lá da Muralha, a viagem de Bran prossegue. Mas outras viagens convergem para a Baía dos Escravos, onde as cidades dos esclavagistas sangram e Daenerys Targaryen descobre que é bastante mais fácil conquistar uma cidade do que substituir de um dia para o outro todo um sistema político e económico. Conseguirá ela enfrentar as intrigas e ódios que se avolumam enquanto os seus dragões crescem para se tornarem nas criaturas temíveis que um dia conquistarão os Sete Reinos?

O Rei do Inverno – Bernard Cornwell

Uther, Rei Supremo da Bretanha, morreu, deixando o seu filho Mordred como único herdeiro. Artur, o seu tio, um leal e dotado senhor de guerra, governa como regente numa nação que mergulhou no caos – ameaças surgem dentro das fronteiras dos reinos britânicos, enquanto exércitos saxões preparam-se para invadir o território.
Na luta para unificar a ilha e deter o inimigo que avança contra os seus portões, Artur envolve-se com a bela Guinevere num romance destinado a fracassar. Poderá a magia do velho mundo de Merlim ser suficiente para virar a maré da guerra a seu favor?
O primeiro livro da Triologia dos Senhores da Guerra de Bernard Cornwell lança uma nova luz sobre a lenda arturiana, combinando mito com rigor histórico e as proezas brutais nos campos de batalha.

Segredos de Sangue – Charlaine Harris

Depois de suportar tortura e a perda de entes queridos durante a breve mas mortífera Guerra dos Fae, Sookie Stackhouse sente-se magoada e furiosa. O único elemento positivo da sua vida é o amor que acredita sentir pelo vampiro Eric Northman. Mas este está sob olhar atento do novo rei vampiro por culpa do relacionamento de ambos. Enquanto as implicações políticas da revelação dos metamorfos começam a ser sentidas, a ligação de Sookie a um lobisomem específico arrasta-a para uma questão perigosa. Além disso, sem saber, apesar de os portais para Faery terem sido fechados, restam alguns fae no mundo humano... E um deles está zangado com Sookie. Muito, muito zangado.

A Paixão de Schopenhauer – Christoph Poschenrieder

Com pouco menos de trinta anos, Schopenhauer ansiava por ver como é que os filósofos e os letrados iriam reagir às suas ideias – como Hegel abandonaria o seu trono e ele se tornaria reconhecido aos olhos do velho Goethe.
No entanto, chegado a Veneza, Schopenhauer é posto à prova mais uma vez. Agora, terá que lidar com um novo conceito: o amor. Poderá o amor mudar o seu olhar sobre o mundo?
Uma viagem emocionante através da filosofia e da fantasia.

Lugares Inesquecíveis de Portugal (Paulo Alexandre Loução)

Uma viagem é, essencialmente, uma partida ao encontro de novos lugares, um percurso de descoberta e de criação de memórias. Mas a descoberta não se resume às características físicas do lugar e ao conhecimento racional. Por vezes, há significados ocultos, associações mitológicas, lendas e histórias antigas que acrescentam ao lugar toda uma nova essência de mistério. E deste tipo de lugares que este livro fala.
Num caminho que percorre todo o país e que tanto dá atenção a locais sobejamente conhecidos como a sítios mais remotos, cada um dos artigos que constituem este livro é, por si só, uma viagem a um cenário vasto e a um imaginário maior. Acompanhados pelas imagens mais relevantes de cada local, o que os artigos apresentam é mais que o que caracteriza o espaço. Há as lendas, os simbolismos, a componente mitológica e ainda algum conhecimento sobre as chamadas "ciências ocultas". O resultado é que, mais que caracterizar o local, é-nos apresentada uma visão abrangente e precisa da história e dos mitos a este associados. A alma destas "viagens com alma".
Entre as diferenças de abordagem de cada um dos autores convidados e as próprias diferenças que tornam peculiar cada um dos diferentes lugares, é apenas natural que cada um dos artigos transmita uma impressão diferente, havendo temáticas que despertam mais interesse relativamente às restantes. Ainda assim, há muito a descobrir em cada um dos artigos - quer a nível de conhecimento, quer a nível de força "emotiva" de cada lugar - e é precisamente esta vastidão de possibilidades o que mais marca nesta obra.
Importa ainda destacar os artigos dedicados às viagens literárias. Todos eles muito interessantes, marca de forma particular a visão da obra de Florbela Espanca e da inevitável ligação com o "seu" Alentejo.
Livro de viagens que não se limita ao essencial das viagens, este é, portanto, um bom livro para descobrir relações entre o passado e as marcas que esse passado deixou, tanto no espaço físico, como a nível de lendas e tradições. Uma obra interessante e uma boa leitura.

Novidades Casa das Letras para Setembro

Não Tenho Inimigos, Não Conheço o Ódio
Liu Xiaobo
Memórias

Esta primeira publicação em Portugal do Prémio Nobel de Paz 2010, Liu Xiaobo, apresenta os seus quase desconhecidos escritos e ensaios, que versam sobre características políticas e aspectos culturais chineses, bem como o papel emergente da China no contexto internacional. Mas mostra igualmente um lado mais sensível e delicado do escritor com um surpreendente conjunto de poemas, que mais não são do que um retrato vivo do que é o passado, presente e futuro desta cultura milenar.
Nas livrarias a 5 de Setembro.

Operação Overlord
Max Hastings
História

Os famosos desembarques do dia D, a 6 de Junho de 1944, marcaram o início da Operação Overlord, a célebre batalha pela libertação da Europa. Max Hastings desconstrói neste livro alguns mitos deste conflito, escrevendo um estudo memorável.
Com relatos na primeira pessoa de sobreviventes dos dois lados e uma grande profusão de fontes e documentos inexplorados, Operação Overlord proporciona uma perspectiva brilhante, mas também controversa, da devastadora batalha da Normandia.
Nas livrarias a 19 de Setembro.

O Terceiro Homem
Graham Greene
Ficção Literária
Viena de Áustria, pós-Segunda Guerra, uma cidade dividida e gerida pelas quatro potên­cias aliadas (Rússia, Inglaterra, França e Esta­dos Unidos).
Rollo Martins, um romancista de segunda linha, chega à cidade para visitar Harry Lime, o seu inescrupuloso amigo e he­rói de longa data. Logo descobre que Harry morreu e em circunstâncias muito suspeitas. Enquanto se faz passar por um célebre es­critor, dá início uma investigação por conta própria e procura resposta para a pergunta - o que Harry fez para merecer a morte?
O Terceiro Homem (escrito em 1949 como argumento para um filme realizado e inter­pretado por Orson Welles) é uma das mais importantes narrativas breves de Graham Greene, autor que, como ninguém, se debru­çou sobre os meandros do mundo da espio­nagem e da Guerra Fria.
Nas livrarias a 19 de Setembro

A Passagem: a 6 de Setembro, pela Editorial Presença...

A Passagem – Volume 1
Justin Cronin
Título Original: The Passage
Tradução: Miguel Romeira
Páginas: 560
Colecção: Via Láctea Nº 99
PREÇO COM IVA: 19,90€
ISBN: 978-972-23-4606-1
Código de Barras: 9789722346061

Publicada em dois volumes, incluídos na coleção «Via Láctea», A Passagem é uma representação de um tenebroso fim da civilização actual. Uma experiência científica a que o exército dos Estados Unidos submete vários homens e uma menina, para os tornar invencíveis, resulta numa catástrofe cujos efeitos têm consequências inimagináveis. Os homens submetidos àquela experiência tornam-se detentores de extraordinários poderes, mas são monstros assassinos sedentos de sangue.

A Passagem – Volume 2
Justin Cronin
Título Original: The Passage
Tradução: Miguel Romeira
Páginas: 416
Colecção: Via Láctea Nº 100
PREÇO COM IVA: 18,90€
ISBN: 978-972-23-4618-4
Código de Barras: 9789722346184

Neste segundo volume a humanidade vive uma era de trevas em que a sobrevivência dita as leis, não só em função dos ataques dos mutantes virais, mas em relação a quase tudo. Passaram entretanto noventa anos sobre a catástrofe e a Vagante, como muitos lhe chamam, regressa de uma longa e solitária jornada de décadas. Como numa viagem iniciática, durante essa obscura deriva ganhou forma dentro dela o terrível conhecimento de que ela é a Única que tem o poder de salvar o mundo destruído por aquele pesadelo.

Justin Cronin, nascido em Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, concluiu a sua formação em Harvard e no Iowa’s Writer’s Workshop. Anteriormente escreveu Mary and O’Neil, que venceu o PEN/Hemingway Award e o Stephen Craine Prize, e The Summer Guest, entre outros títulos.
A Passagem, livro que configura uma grande mudança de rumo na sua carreira de escritor, é o primeiro livro de uma trilogia.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nação Crioula (José Eduardo Agualusa)

Entre Portugal, Brasil, França e (principalmente) Angola, eis a história de Carlos Fradique Mendes e da sua relação a uma mulher que conheceu fortuna e escravidão. História de aventuras e atribulações em tempos de mudança, esta correspondência secreta é mais que uma simples história de amor, surgindo também como retrato de hábitos e mentalidades de uma época.
Apesar de muitas das acções de Fradique serem em função de Ana Olímpia, não é na relação de ambos que se encontra o essencial deste livro. Na verdade, na visão algo fragmentária que, inevitavelmente, resulta da estrutura epistolar em que quase todas as cartas são de Fradique, é mais a caracterização de costumes - e, principalmente, de linhas de pensamento - o que realmente marca nesta leitura. A própria Ana Olímpia é um bom reflexo da mentalidade habitual no respeitante à escravatura, já que, de escrava a senhora, não percebeu plenamente a posição dos seus escravos até se ver de regresso à antiga posição.
Relativamente breve e de leitura agradável, trata-se de um livro cativante, ainda que, por vezes, fique a impressão de que muito mais poderia ser dito em certos momentos. É, apesar disso, um livro que, entre personagens fictícias e figuras sobejamente conhecidas, tem muito de interessante para descobrir. Uma boa leitura, portanto.

Novidades Clube do Autor

Proclamado pela revista Time como um dos cem melhores romances em língua inglesa do século XX, Mrs. Dalloway é a grande obra de Virginia Woolf, o primeiro dos seus romances a sair dos cânones tradicionais, adoptando a técnica da corrente de pensamentos com maestria.
Romance sobre o tempo e a desconexão da existência humana, Mrs. Dalloway faz coexistir, não só na mente das personagens que integram a obra mas também nas suas páginas, o passado, o presente e o futuro, lembrando o leitor que o tempo actual é influenciado pelo que o antecedeu e pelo que lhe sobrevirá.
Centrado em Clarissa Dalloway e ambientando no período pós Primeira Guerra Mundial, o livro eleito por Teresa Patrício Gouveia reflecte, na verdade, a história da crise de um indivíduo, de uma classe, de uma sociedade e do próprio romance.
Não obstante o facto de ter sido publicado pela primeira vez em 1925, logo nas primeiras páginas, refere Teresa Patrício Gouveia no prefácio desta edição, «constatamos como o seu olhar (de Virginia Woolf) e a sua escrita são totalmente modernos».
Mrs. Dalloway é o quarto título da colecção «Os Livros da Minha Vida». Esta é uma colecção que visa destacar alguns dos livros que ao longo dos séculos marcaram a sua época, entraram para a História da Literatura e, por qualquer razão, se tornaram especiais para determinada personalidade pública.

Pequeno no número de páginas mas enorme no que à aclamação popular diz
respeito, este segundo romance de Penelope Fitzgerald foi o primeiro a figurar entre os finalistas do Booker Prize. A autora venceu o prémio em 1979 com Offshore.
Em 1959, Florence Green, uma viúva com uma pequena herança, arrisca tudo para abrir uma livraria na vila costeira de Hardborough. Depois de comprar o espaço, um velho edifício com fama de estar assombrado, e de vencer a resistência inicial, Florence decide colocar à venda o livro Lolita, de Nabokov, desencadeando um terramoto subtil mas devastador na pequena localidade.

Novidade Oficina do Livro

Entre Julho e Novembro de 1975, quase 200 mil portugueses interromperam abruptamente uma vida inteira passada em Angola e vieram para Portugal através de uma das maiores pontes aéreas de resgate de civis jamais implementadas.
Aviões da TAP e de várias companhias estrangeiras voaram sem pausas entre Lisboa e África para trazer todos os que quisessem sair das cidades e dos confins de Angola antes da independência. O desespero dos últimos meses e o medo de morrer às mãos dos chamados movimentos de libertação levaram milhares de colonos a correr para os aeroportos à procura de um lugar nos aviões que partiam de Luanda e Nova Lisboa a toda a hora e sobrelotados, com pessoas a viajar em porões e casas-de-banho para aproveitar o espaço ao máximo. Comissários e assistentes de bordo trabalharam sem folgas nesses meses loucos, acompanhando homens, mulheres, crianças, famílias inteiras desamparadas e soldados à beira da morte. As tripulações, exaustas, nunca conseguiram esquecer esses dias, nem as mães que lhes pediam para ficarem com os filhos.
Recuperando esse tempo de angústia e agitação, S.O.S. Angola é um livro dramático e profundamente enternecedor, que revela cada pormenor desta epopeia e evoca as tragédias pessoais de quem teve de sair de África sem nada em direcção a um país desconhecido que, ainda por cima, acabara de viver uma revolução. Para os passageiros da Ponte Aérea, o futuro não podia ser mais aterrador.

Rita Garcia nasceu em Lisboa em Julho de 1979. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, é repórter da revista Sábado desde 2005 e autora do livro de reportagens “INEM 25 anos. Recebeu o 2º prémio Henrique de Barros, atribuído pelo Parlamento Europeu em 2003, e o Prémio de Jornalismo Novartis Oncology em 2008.

Novidade Porto Editora

Morte, Juízo, Paraíso e Inferno.
As Quatro Últimas Coisas que nos reserva o Destino.
Agora há uma Quinta.
O Seu Nome é Thomas Cale.

De regresso ao Santuário dos Redentores, Thomas Cale parece aceitar o papel que lhe é atribuído: o destino escolheu-o como o Braço Esquerdo de Deus, o Anjo da Morte. O poder absoluto está agora ao seu alcance; o terrível zelo e domínio militar dos Redentores é uma arma nas suas mãos e ele está pronto para cumprir o objectivo supremo da Única e Verdadeira Fé – a destruição da Humanidade.
Mas talvez o sombrio poder dos Redentores sobre Cale não seja suficiente – ele vai do amor ao ódio num abrir e fechar de olhos, da bondade à mais brutal violência num segundo. A aniquilação que os Redentores procuram pode estar nas mãos de Cale – mas a sua alma é muito mais estranha do que alguma vez poderão imaginar…

Escritor e argumentista britânico, Paul Hoffman colaborou durante algum tempo com o organismo responsável pela classificação de filmes no Reino Unido. Escreveu o argumento de três filmes, em coautoria, e trabalhou, entre outros, com Francis Ford Coppola.
O seu primeiro romance, The Wisdom of Crocodiles, deu origem a um filme protagonizado por Jude Law e Timothy Spall. Seguiu-se The Golden Age of Censorship, uma comédia negra publicada em 2007.
No catálogo da Porto Editora figura já O Braço Esquerdo de Deus, o primeiro volume da trilogia que agora continua com As Quatro Últimas Coisas.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As Sábias (Roger R. Talbot)

Elas marcaram a história do mundo. Discretamente, lado a lado com os poderosos, exerceram sobre os homens a sua influência para moldar o mundo segundo os seus valores. Mas o seu objecto mais sagrado desapareceu e o único indício da sua localização parece pertencer ao território das lendas. Até ao dia em que um oligarca russo entra em posse de um pano de fundo particularmente poderoso. Nesse momento, os acontecimentos precipitam-se e, quando a ambição de outros causa a morte da sua esposa, Gavrijl e a sua filha estão dispostos a tudo para descobrir o culpado.
É uma ideia muito interessante a que está na base deste livro: uma irmandade de mulheres com conhecimentos superiores, códigos e ritos próprios e a capacidade para influenciar o rumo da História. E, contudo, acaba por ser este o aspecto menos desenvolvido e o que deixa a impressão de que mais haveria a dizer. Na verdade, a história das Irmãs é apresentada apenas na medida em que é essencial à acção e se isto contribui para o ritmo acelerado da narrativa, deixa também algumas perguntas sem resposta.
A história é, no geral, envolvente e a acção é um elemento quase constante. Além disso, ao seguir os percursos de diferentes personagens, algumas das quais nem se chegam a cruzar, o tom de mistério mantém-se, deixando muitas das revelações para uma fase bastante avançada. Por outro lado, o culpado é revelado bastante cedo, ficando como ponto central da narrativa a descoberta do Livro das Folhas - e a dúvida quanto a quem o alcançará.
Mas o mais interessante deste livro acabou por ser um aspecto relativamente secundário: a vida privada de Gavrijl Derzhavin. Homem poderoso, habituado a decretar mortes e torturas sem grande hesitação, há, contudo, na sua figura um lado emotivo e protector para com os que lhe são leais e este aspecto acaba por estar na base de alguns momentos particularmente bons.
Interessante e de leitura agradável, este é, pois, um livro que, apesar dos elementos que poderiam ser mais explorados, cativa com o essencial da história e com as características de algumas personagens. Gostei.

Novidades Dom Quixote para Setembro

Comissão das Lágrimas
António Lobo Antunes
Autores Língua Portuguesa

“Um doloroso canto de uma mulher torturada” foi o ponto de partida para Comissão das Lágrimas, o novo livro de António Lobo Antunes. A mulher torturada foi Elvira (conhecida por Virinha), comandante do batalhão feminino do MPLA, presa, torturada e morta na sequência dos terríveis acontecimentos de Maio de 1977 em Angola.
Mas este é apenas um episódio num livro denso e sombrio sobre Angola depois da independência. António Lobo Antunes não quis fazer um livro documental ou uma reportagem “verídica” sobre o que se passou em Angola, antes usou a sua sensibilidade e o espantoso poder evocativo da sua escrita para falar sobre a culpa, a vingança, a inocência perdida.
Nas livrarias a 30 de Setembro.

A Sul. O Sombreiro
Pepetela
Autores Língua Portuguesa

“Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho de puta.” Assim começa um grande romance de aventuras que nos conduz à Angola dos séculos XVI e XVII, enquanto Portugal vivia sob o domínio filipino.
Entre lutas de poder, muitas conspirações, envolvendo governadores e ordens religiosas, com os franciscanos e os jesuítas na linha da frente, travamos conhecimento com homens muito ambiciosos, com um inglês um pouco doido, e com os terríveis jagas, os guerreiros incomparáveis que povoavam os piores pesadelos dos brancos, ao mesmo tempo que nos deixamos encantar por um fugitivo que se torna um aventureiro e explorador de terras por desbravar.
O regresso de Pepetela com um empolgante romance ambientado nos primórdios do colonialismo, revelando uma época desconhecida da história de Angola.
Nas livrarias a 19 de Setembro.

A Educação Sentimental dos Pássaros
José Eduardo Agualusa
Autores Língua Portuguesa

A Educação Sentimental dos Pássaros, novo livro do autor, reúne onze contos. A unir todos eles, uma mesma preocupação sobre a origem e a natureza do mal. Como é que o pequeno Jonas se transformou em Savimbi? O que move Hillary? Anjos e demónios caminham entre nós e nem
sempre se distinguem uns dos outros.
Nas livrarias a 12 de Setembro.

A Grande Casa
Nicole Krauss
Ficção Universal

Uma romancista americana solitária passa vinte e cinco anos a escrever numa secretária que herdou de um jovem poeta desaparecido às mãos da polícia secreta de Pinochet; um dia, uma rapariga que se diz filha dele aparece-lhe com o propósito de recuperar a secretária e a sua vida transtorna-se por completo.
A Grande Casa é uma história suspensa entre duas perguntas: o que é que transmitimos aos nossos filhos e como é que eles absorvem os nossos sonhos e perdas? Como podemos responder ao desaparecimento, à destruição e à mudança?
Nicole Krauss, de quem a Dom Quixote já publicou A História do Amor, foi considerada pela The New Yorker uma das melhores escritoras com menos de quarenta anos.
Nas livrarias a 12 de Setembro.

Goa ou O Guardião da Aurora
Richard Zimler
Ficção Universal

Na colónia portuguesa de Goa, estava o século XVI a chegar ao fim, a Inquisição fazia enormes progressos na sua missão de impedir todos os 'bruxos' – quer fossem nativos hindus ou imigrantes judeus – de praticarem as suas crenças tradicionais. Os que se recusavam a denunciar outros ou a renunciar à sua fé eram estrangulados por carrascos ou queimados em autos-de-fé.
Tiago e a irmã, Sofia, gozam uma infância tranquila, aprendendo com o pai a ilustrar manuscritos e mergulhando no caos inebriante das festividades hindus celebradas pela sua amada cozinheira, Nupi. Quando as crianças atingem a idade adulta, a família é destroçada porque, primeiro o pai e depois o filho, são presos pela Inquisição. Mas quem poderia tê-los traído?
Primeira edição na Dom Quixote.
Nas livrarias a 26 de Setembro.

Adornos
Ana Marques Gastão
Poesia

Partindo da temática dos cinco sentidos, Adornos consiste numa reflexão sobre as faculdades da alma na sua dimensão física e etérea, tendo em conta as questões do desejo e da interdição, do tempo e da liberdade, do amor e da morte, da memória e do esquecimento. O livro integra cinco capítulos com doze poemas cada um: Antevisão; Rapto; Ondulações; Inflorescências e Confeitos.
Nas livrarias a 12 de Setembro.

Vozes
Ana Luísa Amaral
Poesia

Novo livro de poesia da autora.
Nas livrarias a 19 de Setembro.

domingo, 28 de agosto de 2011

Rapariga com Brinco de Pérola (Tracy Chevalier)

Na sequência do acidente em que o pai perdeu a visão, Griet vê-se na necessidade de trabalhar como criada para conseguir algum rendimento para a família. Mas o ambiente na casa da família de Vermeer não é nada do que a jovem conhecera até então. Catharina, a esposa do pintor, antipatiza com Griet desde o primeiro momento e os acontecimentos posteriores apenas servirão para potenciar o seu ciúme. E, à medida que Griet sobe na confiança de Vermeer, começando a desempenhar um papel no seu trabalho, o ambiente na casa torna-se cada vez mais hostil, deixando a jovem criada indefesa ante o interesse de homens mais poderosos e o fascínio que, apesar de tudo, o seu amo continua a exercer sobre si.
Escrito de forma envolvente e bastante pessoal, na medida em que é Griet a contar a sua própria história, este livro representa, antes de mais, um percurso de crescimento. Entre a jovem de dezasseis anos que chega a casa de Vermeer sem saber exactamente o que esperar e a mulher que, dez anos depois, aceitou a realidade sem nunca esquecer o fascínio do passado, há toda uma aprendizagem nos múltiplos aspectos da vida. Enquanto criada, Griet sofre e aprende com as maldades da filha de Vermeer, com a hostilidade tanto de Catharina como de Tanneke, com a necessidade de conjugar a rotina de trabalho com os deveres ocultos que lhe são atribuídos. Enquanto mulher, aprende a conviver com o interesse de Pieter (interesse dominante que pouco tem em conta a sua vontade) e com a luxúria de Van Ruivjen, imperioso, da sua posição superior, na necessidade de ter o corpo da rapariga - nem que seja apenas na visão de um quadro.
Em oposição à quase transparência de Griet está Vermeer, o amo. Figura misteriosa, distante, quase inatingível, o pintor fascina principalmente pelo efeito que exerce sobre a protagonista, o desejo que evoca, mas que nunca se materializa senão nas emoções de Griet. Esta atracção impossível acaba por se elevar ante todos os outros aspectos da vida da protagonista. A vida familiar, que se estilhaça com o conhecimento de que os afectos pouco importam nas escolhas que dela são esperadas. A vida amorosa (se tal se lhe pode chamar) com um marido escolhido por tudo menos amor. E a visão do mundo em geral, com todos os seus rumores e preconceitos, limitando acções e bloqueando possibilidades.
Envolvente, um livro com momentos de grande emoção e um final particularmente marcante - tanto pelo tom de resignação como pela visão de tudo o que poderia ter sido a vida de Griet, mas que simplesmente não aconteceu. Muito bom.

sábado, 27 de agosto de 2011

Cassie Draws the Universe (P.S. Baber)

Invulgarmente inteligente, mas quase totalmente fechada ao mundo em seu redor, Cassie Harper tem da vida e dos outros uma visão muito própria e definida - e não tem medo de o dizer. Mas a entrada em cena de um novo professor e da filha deste, que insiste a todo o custo em ser sua amiga, irão mudar a postura e o rumo da vida de Cassie. Para o melhor e para o pior.
Há neste livro uma envolvência estranhamente fascinante, quer pelas personagens quer pelo rumo de uma narrativa que é cheia de surpresas. Cassie não é propriamente a personagem que despertaria simpatia. Brusca, fechada, por vezes conflituosa e com momentos de uma certa arrogância, há alturas em que se torna difícil de entender. Contudo, e à medida que a sua história se desenvolve, há momentos em que é impossível não sentir com ela, principalmente a partir do momento em que uma distância calculada acaba por se revelar simplesmente numa densa e amarga solidão. Solidão que é, afinal, irrevogável, mesmo nos raros momentos em que parece passível de ser quebrada.
Surge, pois, uma evolução no tom narrativo, de um ambiente que começa por ser o típico cenário escolar (com os previsíveis conflitos adolescentes, mas nada que pareça preocupante) para uma situação global progressivamente mais negra, onde acontecimentos progressivamente mais dolorosos culminam numa mudança devastadora. E se Cassie é o centro deste universo, também os Cole têm um papel determinante a desempenhar, tanto nas mudanças positivas como na aproximação da tragédia que se vai insinuando com o aproximar da fase final.
Ainda a referir um ponto particularmente marcante nos paralelismos com o Titus Andronicus de Shakespeare. Se a discussão da peça em ambiente de aula é, por si só, um momento interessante, a forma como esta se relaciona com os acontecimentos da fase final é algo de poderoso - ainda que também de perturbador.
Escrito de forma envolvente, com uma mistura sempre interessante de ternura e tragédia, esperança e ódio, amizade e vingança, uma história que, apesar de um ou outro momento que poderiam ter sido mais explorados (principalmente nas consequências dos grandes actos) fica na memória quer pelo final devastador, quer pelos muitos temas que chamam à reflexão. Muito bom.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amores de uma Solteirona (Lillian Bell)

Chegada aos trinta anos e, em parte por opção pessoal, determinada na ideia de que ficará solteira, Ruth vive o amor através das experiências dos que a rodeiam. Sendo a "tia solteirona" da localidade, muitos a procuram para falar de amores e de relações sem amor, de casamentos consumados ou da necessidade de o consumar. E Ruth, na companhia do seu gato, ouve e aconselha. E define as suas opiniões.
O mais interessante desta leitura está no tom leve com que a autora constrói as reflexões da sua protagonista. Contado do ponto de vista de Ruth, o que este livro apresenta não é tanto a sua história, mas simplesmente a sua presença em função da história dos que o rodeiam. Conselheira e observadora, a vida de Ruth parece ser definida pelo acompanhamento das diferentes situações que lhe são apresentadas. E nestas há um pouco de tudo: triângulos amorosos, casamentos por interesse, adultério... Uma visão bastante global das desventuras da vida amorosa.
O problema é precisamente a impressão de não haver mais nada para além dessas aventuras e desventuras amorosas. Da simples coscuvilhice à intervenção activa na situação de um casal, todo o espectro de acontecimentos e pensamentos se baseia na necessidade quase imperiosa de um casamento: por interesse, por questões sociais, por praticamente tudo excepto (salvo raras excepções) amor. E o resultado é uma imagem que, apesar dos seus momentos divertidos e até de uma situação mais comovente, não deixa de parecer demasiado superficial.
Breve e de leitura fácil, há nestes Amores de uma Solteirona alguns momentos bastante interessantes. Fica ainda assim a impressão de faltar um maior desenvolvimento para lá das simples questões de amores e desamores para tornar a leitura realmente satisfatória.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Ponte Invisível (Julie Orringer)

Graças à oferta inesperada de uma bolsa de estudo, Andras Lévi está no caminho do seu sonho. Recém-chegado a Paris, para estudar arquitectura, traz consigo, para além dos seus escassos pertences, uma misteriosa carta que lhe foi pedido que enviasse. Então, quase que por acaso, o seu caminho cruza-se com Claire Morgenstern, a destinatária dessa carta e, à medida que as dificuldades se vão tornando maiores e os pequenos obstáculos do início perdem força ante os duros tempos que se aproximam, é a força da ligação que se desenvolve entre Andras e a misteriosa Claire o centro de uma vida que, com todas as desilusões e tormentos, pode ser ainda algo por que valha a pena lutar.
É difícil resumir os elementos essenciais deste livro em poucos parágrafos, tantos são os aspectos marcantes nesta obra complexa e de grande profundidade emocional. Ainda assim, a ideia na base da narrativa poderia resumir-se a uma certeza muito simples: nada na vida corre como planeado. E Andras Lévi é o espelho desta certeza: começando pelas dificuldades a nível escolar (elas próprias, a seu tempo, parecendo uma tragédia insuperável) e, de esforço em esforço, na tentativa de viver a melhor vida possível na iminência de um conflito capaz de mudar o mundo, Andras cresce do jovem sonhador para o adulto marcado por demasiadas esperanças devastadas. Passa da ilusão à perda, retomando a esperança apenas para sofrer uma perda maior. Espera, planeia e desespera quando os planos acabam por resultar apenas num grande nada. E, rodeado de guerra e morte, temendo pelos que estão longe, Andras resigna-se ao que tem de aceitar, sem por isso desistir de tudo o resto.
História de um judeu nos tempos da Segunda Guerra Mundial, o percurso de Andras não é o mais doloroso dos que são apresentados, mas é duro o suficiente. E se há algo que se destaca num livro que é, todo ele, impressionante, é a forma como a autora dá vida a cada uma das personagens que rodeiam o mundo de Andras, conferindo-lhes uma história e uma personalidade que deixam marca na visão global. As ligações familiares, as pequenas (e as grandes traições), as amizades que se perpetuam para lá de anos e anos de sofrimento e trabalho forçado (ou pior), a capacidade de perdoar ante o pior... Há, ao longo da narrativa, um pouco de tudo o que representa o pior e o melhor da natureza humana. E, ao mesmo tempo que se constrói uma visão global do que terá sido ser judeu naqueles tempos, há também uma visão pessoal cuidadosamente criada. Há uma demora na caracterização das personagens, nos relatos do quotidiano daqueles tempos, e é isto precisamente que faz com que a história de Andras seja próxima e marcante. O leitor aprende a conhecer as personagens. E a sentir com elas.
História de amor em cenário de devastação, A Ponte Invisível liga, de forma impressionante, as margens da ilusão e da realidade, do sonho que se torna perda e da vida que, apesar de tudo, persiste para lá dessa perda. Complexo e comovente relato de um tempo que nunca será - não deve ser - esquecido, uma visão de sobrevivência e de humanidade. Mesmo ante circunstâncias desumanas.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Prazer Mais Escuro (Gena Showalter)

Ameaçada pela fúria assassina de um dos Senhores do Submundo, Danika Ford está em fuga. O problema é que o seu perseguidor não é a sua única razão para ter medo. E, quando os Caçadores a encontram, Danika vê-se na necessidade de escolher entre as promessas dos seus captores e o grupo de seres imortais que a tentaram matar e que, por isso, odeia. Bem, excepto a Reyes. Este, possuído pelo demónio da Dor, intriga-a com as suas acções surpreendentes. E desperta uma atracção que, dadas as circunstâncias, não devia ser uma prioridade no pensamento de Danika.
Depois de um livro que ficou aquém das expectativas, este O Prazer Mais Escuro acabou por se revelar uma boa surpresa. É que muitos dos elementos que pareciam faltar na história de Lucien encontram-se aqui reflectidos. Claro que o romance entre os protagonistas continua a ser o ponto central, mas, talvez por haver elementos mais centrais à história global dos Senhores do Submundo, a autora apresenta um maior desenvolvimento das personagens secundárias, bem como um maior foco nas situações de acção.
É curioso que, sendo o livro anterior a história de Lucien, é neste que se revela o seu melhor. As ligações de lealdade e amizade que, até agora, pareciam pouco mais que palavras, manifestam-se agora em necessário conforto, em espírito de sacrifício e na escolha certa perante decisões difíceis. Estes elementos, mais até que o romance principal, dão interesse à narrativa e estão na base de alguns dos seus momentos mais marcantes. Continua, é claro, a haver espaço para maiores desenvolvimentos, mas este volume parece-me bastante mais equilibrado, quando comparado com os livros anteriores.
De referir ainda a caracterização da personalidade de Reyes, principalmente nas dificuldades da luta com o seu demónio e na forma como este condiciona a interacção com os que o rodeiam. Sério e sombrio, os seus traços de personalidade destacam-se pelo contraste com os seus amigos, demonstrando, ainda mais uma vez, o valor da maior caracterização das personagens secundárias.
Uma leitura leve, agradável, com os seus momentos divertidos, uma boa dose de acção e bastante emoção à mistura. Interessante e cativante, uma evolução notável comparativamente ao livro anterior.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Do Fundo do Coração (Nora Roberts)

De quando vidas se cruzam e a simples atracção se torna em algo mais profundo tratam as três histórias que constituem este livro. Romance, atracção e sensualidade são os elementos comuns. Muda o ambiente, diferem as personalidades e, por isso, o impacto final de cada história acaba também por ser diferente.
Em Uma Última Noite, uma antropóloga profissional é contratada para auxiliar na pesquisa de um romancista, mas a sua incursão na vida luxuosa de Jordan Taylor acabará por ser bem mais que um contacto profissional. De longe a melhor novela deste livro, a história é envolvente desde o início, apesar de um ou outro momento forçado. Escrito de forma cativante, é particularmente interessante a questão do crescimento de Alison e das suas carências. Na verdade, esta figura secundária, mas marcante pela inocência, acaba por ser o ponto alto de toda a narrativa. Ainda de referir a abordagem aos contrastes da vida em sociedade, a força emocional de alguns momentos e o tom divertido que fazem desta história uma leitura leve e cativante.
Uma Questão de Escolha apresenta a história de James Sladerman, polícia com aspirações a escritor, e de como este é enviado para proteger uma mulher cuja loja está, sem que ela o saiba, sob investigação policial. O ritmo é mais pausado que no conto anterior, já que autora se demora um pouco na caracterização do que motiva as personagens. Mais uma vez, há alguns momentos que parecem um pouco forçados (principalmente no início), mas a linha geral da história é cativante. Também é interessante a abordagem à questão do contrabando, que contribui bastante para o interesse da narrativa, já que o protagonista masculino (brusco, fechado e um pouco arrogante) não é propriamente uma figura muito empática. Uma história envolvente, ainda assim.
Por último, Fins e Recomeços trata de como os atritos de dois jornalistas em luta pela mesma história acabam por dar forma a uma atracção que há muito se insinuava. Mais uma vez, o protagonista masculino (incapaz de aceitar um não) não é do género que inspira empatia, mas a história é interessante, principalmente pelo ambiente em que decorre. Há, talvez, algum exagero na rapidez com que os protagonistas passam da agressividade ao desejo (principalmente tendo em conta a imperiosa necessidade de dominância de Thorpe), mas as coisas equilibram-se com o evoluir do enredo e o balanço final é positivo.
Há algumas semelhanças evidentes entre as três histórias, principalmente a nível de personalidades. Ainda assim, os factores que as diferenciam (a força emotiva no primeiro, a presença do perigo no segundo e a sombra do passado no último) fazem com que todas tenham os seus pontos de interesse. Não é propriamente um livro genial. Mas, com os seus momentos divertidos e situações comoventes, proporciona uma leitura leve e descontraída. Gostei.

Novidade Porto Editora

Foram arrancados da cama quando a noite já ia alta, quando o mundo estava coberto de neve.
Dez anos depois, Kate, Michael e Emma saltam de orfanato em orfanato e já não se lembram dos pais. Quando chegam à sinistra casa de Cambridge Falls, depressa percebem que algo de muito estranho se passa…
Ao descobrirem um antigo livro com uma encadernação fora do vulgar, dá-se início a uma mágica profecia, que os levará numa viagem por outros universos e tempos.
Só eles poderão salvar o mundo… e o seu próprio futuro.

John Stephens mora em Los Angeles e trabalhou durante dez anos como argumentista para séries televisivas. Mas a sua verdadeira aspiração era ser escritor. O Atlas Esmeralda, a sua estreia literária, roubou-lhe algumas horas de sono durante quatro anos. Mas o seu empenho e dedicação foram recompensados por uma recepção mundial extraordinária, tendo sido vendido em poucos dias para cerca de quarenta países.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Kikia Matcho (Filinto de Barros)

A morte de um ex-combatente e o avistamento, por três dos que lhe são mais próximos, de um mocho com as feições do falecido desencadeiam uma série de dúvidas e de buscas por uma resposta, enquanto a hora do funeral se aproxima e também as reflexões sobre o passado teimam em aflorar ao pensamento. Joana, sozinha num lugar que não é nada do que lhe fora prometido. Papai, combatente que, terminada a revolução, começa a descobrir que aquilo por que lutaram não tardará em desvanecer-se. E Benaf, doutor sem rumo de vida ou oportunidades de futuro. Na sua história, como na sua ligação a N'Dingui, cada um reflecte um lado diferente de um lugar e de uma forma de vida onde as aspirações eram elevadíssimas... mas só o fracasso restou.
É o tom de resignação, o desalento que transparece em cada pensamento e (quase) cada acção que mais marca desta leitura. A ideia de uma luta longa, marcada por demasiados sacrifícios e por umas quantas acções censuráveis, que terá acabado por culminar na degradação dos princípios dessa mesma luta não poderia conduzir senão ao desânimo. E é esse desânimo que transparece neste livro, tanto nos momentos importantes (como a ausência dos comandantes no funeral) como nas mais pequenas reflexões. Estas são, na verdade, uma parte fundamental (e de dimensão considerável), sendo predominantes num livro relativamente curto. O resultado é uma leitura pausada, onde a linha dos acontecimentos se dispersa, por vezes, no tom de divagação, mas em que a mensagem de luta (talvez) inútil é forte.
Um outro ponto interessante é todo o desenvolvimento das questões religiosas e dos ritos das diferentes tribos. Quer a superstição (desenvolvida a partir da visão do kikia), quer os atritos entre as gentes de diferente fé permitem uma visão bastante clara quer dos rituais quer das crenças mais íntimas de cada um dos que intervêm nesta narrativa.
Ainda uma última nota para o final que, depois de um desenvolvimento particularmente intenso aquando da manifestação de N'Dingui, acaba por ser demasiado aberto. Ficam por explicar as consequências efectivas da misteriosa cerimónia pedida pelo espírito, deixando-se à imaginação do leitor a exploração das diferentes possibilidades.
De leitura agradável, ainda que algo extenso nas divagações, um livro que, mais que pela história relativamente simples (mas com alguns momentos marcantes), cativa pela força da mensagem e pelo retrato de um tempo e de um lugar que talvez pudessem ter sido diferentes.

domingo, 21 de agosto de 2011

Correio de Droga (Luís Aguilar)

Baseado na história de um antigo correio de droga português, este livro apresenta Marco, homem cansado de trabalhar incessantemente para chegar ao fim do mês com um salário miserável, decidindo, por isso, procurar uma via mais fácil e lucrativa. Assim começa a sua aventura no mundo do tráfico de droga, da ascensão ao sucesso às perdas sucessivas quando tudo começa a correr mal.
Directo e sem dramatismos, o que primeiro impressiona neste livro é o tom quase distante com que, na primeira pessoa, a história de Marco é apresentada. Motivos e ambições são apresentadas com muito poucos momentos de sentimentalismo e, apesar da complexidade do tema, não há um grande ênfase na transmissão de qualquer mensagem moral. Na verdade, a impressão que fica é a de um narrador que tem uma história para contar e que, sem grandes elaborações, apresenta, no tom de quem olha para trás sem quaisquer arrependimentos ou desejos de regressar, os passos do caminho que percorreu.
Não há, portanto, nenhuma tentativa transparente de transmitir qualquer lição de moral. É a história o que o livro apresenta, com todas as ambições e fracassos, com as escolhas certas e as escolhas erradas. A lição a tirar está nas acções e é aí que o leitor a pode procurar.
Estranha-se, portanto, esta distância no tom da narrativa, principalmente numa fase inicial. Ainda assim, há neste tom directo e desapaixonado uma maior facilidade em assimilar a muita informação apresentada sobre os meandros do tráfico de droga, já que, tanto nas suas próprias experiências como nas descrições mais gerais dos métodos que conheceu, a informação dada pelo narrador raramente se perde em divagações.
É um livro interessante, portanto, ainda que pouco desenvolvido em termos emocionais. Na verdade, é bastante difícil simpatizar com o protagonista, tendo em conta as suas acções e o tom com que as apresenta. Trata-se, ainda assim, de um livro bastante preciso no que toca à visão apresentada sobre o mundo do tráfico de droga. E, nesse aspecto, é uma leitura esclarecedora.

sábado, 20 de agosto de 2011

Os Mistérios de Jerusalém (Marek Halter)

Uma morte aparentemente ligada à máfia russa coloca um jornalista numa posição delicada. Ambicioso e incapaz de se afastar do trabalho - mesmo quando as coisas se tornam problemáticas -, Tom Hopkins descobre também um certo sentimento de culpa relativo à morte da sua fonte. E, através dos dados que este lhe deixou antes de morrer, o seu caminho acaba por se revelar na (tantas vezes repetida) busca do Tesouro de Jerusalém. Mas a viagem é perigosa e há muitos que, das sombras (e com intenções que não são as melhores), observam o seu percurso, à espera do momento certo para intervir.
Num registo bastante diferente de obras como O Messias, há, na estrutura deste livro, uma série de semelhanças com a fórmula geral do thriller histórico/religioso. O enigma que importa resolver a todo o custo e que atrai a atenção de organizações poderosas e de motivações censuráveis é algo que está presente ao longo de toda a narrativa. Destaca-se, contudo, o cuidado em manter a contextualização adequada, desenvolvendo teorias e possibilidades que explicam cada descoberta e possibilidade no contexto do lugar e das mentalidades vigentes. Resulta desta opção um enredo de ritmo mais pausado, mas onde não ficam explicações por dar ou ideias pouco definidas.
Mas o mais curioso neste livro prende-se com uma das personagens. Na figura de um dos acompanhantes de Tom na sua viagem a Jerusalém, o autor coloca-se a si mesmo na pele de personagem importante ao longo da trama. Isto cria uma certa aura de mistério, como se a linha entre ficção e realidade se esbatesse ligeiramente, dando à história um toque mais pessoal.
Cativante, com uma boa conjugação de acção e caracterização (e até alguns momentos mais emotivos), uma boa história, com várias personagens interessantes e um enredo envolvente. Uma boa leitura.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Beijo Mais Escuro (Gena Showalter)

Possuído pelo demónio da Morte e marcado por um acontecimento doloroso no passado, cabe a Lucien conduzir as almas ao seu destino final. Mas houve algumas mudanças na hierarquia dos deuses e, competindo em simultâneo com Cronos e com os Caçadores pela descoberta da caixa de Pandora, Lucien tem ainda de se preocupar com... Anya. Deusa menor da Anarquia e bastante odiada pelos seus iguais, Anya tem a capacidade de fugir de praticamente qualquer circunstância. Mas há algo de inexplicável que a atrai para Lucien. E as coisas complicam-se, porque este recebeu ordens para a matar.
Não será surpresa nenhuma, principalmente para quem leu o primeiro volume desta série, que o romance seja o elemento predominante neste livro. Bastante centrada no casal protagonista, é principalmente a atracção entre ambos que domina a linha narrativa, desde os primeiros encontros desenvolvidos de forma algo apressada ao papel que a relação física entre Lucien e Anya desempenha no rumo de acontecimentos maiores.
O que acontece, portanto, é que a componente romântica ocupa uma parte (demasiado) significativa do enredo, deixando para segundo plano aspectos bastante interessantes que teriam beneficiado com um maior desenvolvimento. Os conflitos entre os diferentes deuses, por exemplo, bem como as motivações dos Caçadores (que, por vezes, parecem demasiado ingénuos) são elementos sobre os quais haveria bastante mais a dizer. Mas, no que toca a questões pouco desenvolvidas, é a relação entre os guerreiros que se destaca: fala-se de amizades e de lealdades profundas, mas, em parte devido ao pouco destaque dado aos restantes Senhores do Submundo, estas ligações acabam por ser mais constatadas que demonstradas.
Fica, por isso, como maior ponto positivo (e razão que me fez, apesar de tudo, gostar deste livro) a caracterização de Lucien. Também esta podia, nalguns aspectos, ter sido mais explorada, mas o essencial está lá. Demasiado sério, marcado pelo passado, pensativo demais para o seu próprio bem, Lucien representa, em muitos aspectos, o meu tipo de personagem.
Trata-se, portanto, de uma leitura agradável, no geral, mas onde a sensação inevitável é de que muito ficou por desenvolver e que, ao centrar-se no romance entre os protagonistas, o sistema e as personagens circundantes acabaram por ser, em parte, sacrificadas. A nível de entretenimento, ainda assim, foi uma leitura satisfatória e mantém-se a curiosidade em ler os próximos volumes.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Siddhartha (Hermann Hesse)

Filho de um brâmane, Siddhartha cresceu num ambiente protegido e foi rodeado de tranquilidade que desenvolveu a sua inteligência. Até ao dia em que a busca por uma sabedoria maior se torna inevitável no seu coração. Contrariando a vontade do pai e acompanhado pelo seu amigo Govinda, Siddhartha parte então na sua busca pela paz, primeiro entre os ascetas, depois junto do sábio Buda e, mais tarde, através do caminho da sua própria natureza.
Relativamente curto e com um foco mais na contemplação que propriamente nos acontecimentos, o que mais marca deste livro é, precisamente, a mensagem filosófica e espiritual. Através da aprendizagem de Siddhartha, da sua constante insatisfação com o mundo e com as diferentes doutrinas que descobre na sua busca, há neste livro uma forte mensagem de descoberta pessoal. Primeiro, é nos mestres que Siddhartha busca a sabedoria, mas a doutrina que serve os que o rodeiam não responde às suas necessidades. Por isso ele aprende o que pode receber daqueles que o recebem, mas, mais cedo ou mais tarde, a sua viagem tem de continuar.
Do convívio com os mestres a uma passagem pelos caminhos do amor e do prazer e, por fim, a um encontro mais pessoal com a tranquilidade de que precisa, a história de Siddharta questiona as doutrinas que definem normas para a sabedoria, apresentando a paz como um caminho a descobrir por tentativa e erro, alcançada não pela renúncia ou pelo luxo, mas pela percepção da totalidade. E tal como Siddhartha descobre a sua capacidade de reflectir com o mundo em volta - não com os homens, com tudo - também o leitor percorre, ao longo da leitura, as estradas dessa mesma descoberta, numa narrativa curta, mas deveras propícia à reflexão.
Fica, nalguns momentos, a impressão de que haveria ainda muito mais a dizer sobre a história de Siddhartha, sobre os caminhos e experiências que, para lá da simples contemplação, motivaram a sua ascensão espiritual. Ainda assim, o que este livro apresenta é, de facto, suficiente para transmitir a mensagem que a sua história contém. E isso basta para que seja uma boa leitura.

Novidade Casa das Letras

Caderno de Soluções começou por ser um simples guia para ensinar competências cognitivas essenciais. No entanto, rapidamente se tornou um bestseller adulto, graças à poderosa eficácia dos métodos de resolução de problemas de Ken Watanabe.
As ferramentas presentes neste livro surgem da experiência do autor enquanto consultor de topo da McKinsey. Contudo, não necessita de tirar um doutoramento para se servir delas. Vai aprender a expandir e a organizar o seu raciocínio acerca de um problema para que outras soluções possíveis se tornem evidentes.
Watanabe serve-se de humor e de exemplos acessíveis para tornar este livro acessível a todos.

Ken Watanabe estudou em Yale e na Harvard Business School e foi consultor de gestão durante seis anos na McKinsey & Company. Actualmente é fundador e CEO da sua empresa de educação, entretenimento e media, a Delta Studio. Vive em Tóquio.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Huck (Janet Elder)

Durante anos, Michael desejou ter um cão, mas o seu pedido sempre foi recusado pelos pais. Mas, quando Janet descobre que tem cancro da mama e que se segue um duro ciclo de tratamentos, ocorre-lhe que a presença de um animal de estimação pode ser, de certa forma, o refúgio de que o filho precisa. E é assim que Huck, um pequeno poodle, entra nas suas vidas. O problema é quando, durante umas férias, o cãozinho foge da casa dos familiares com quem ficara...
Apesar de ser a força de mudança na vida de Janet e da sua família, não é, na verdade, a história de Huck o ponto central desta narrativa. Claro que grande parte dos acontecimentos se prendem com os planos de busca e os passos dados na direcção do reencontro, mas não há propriamente uma grande caracterização da relação entre o cão e os seus donos. Entre as dificuldades da luta contra o cancro, na fase inicial do livro, seguidas da longa (e, por vezes, frustrante) busca do lugar onde poderá estar o cãozinho desaparecido, o centro da história acaba por estar nas pessoas que se unem e agem para responder ao apelo da família, e não propriamente em Huck.
Escrito de forma agradável e sem grandes elaborações, é no aspecto emocional que se encontra a grande força deste livro. Quer no confronto entre Janet e a doença, quer na relação com o marido e o filho e até mesmo na descoberta da bondade das pessoas ao longo das buscas, é a empatia que se vai criando que realmente cativa nesta leitura. A capacidade de mobilização das pessoas (principalmente em meios pequenos) para prestar auxílio a alguém com quem não têm qualquer relação é aqui apresentada de forma clara e enternecedora.
Trata-se, portanto, de uma história interessante, onde um cão é a razão de muitas mudanças, mas onde são as pessoas, na sua capacidade de ajudar, o que realmente importa. E o que realmente marca neste livro.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

As Naves de Calígula (Maria Grazia Siliato)

Os que contaram a sua história descreveram-no como um louco sanguinário. Mas ele era um homem com um sonho. Desde criança marcado pelas consequências de intrigas e condenações, Caio César descobriu-se na necessidade de parecer dócil e lento de raciocínio para preservar a própria vida. E a imagem que construiu, tal como a linhagem do seu sangue levou-o ao poder. Um poder que, tal como a sua ambição de criar a paz no império, se viria a revelar fatal.
O grande sucesso na construção desta história, aquilo que realmente marca nesta leitura, é, sem dúvida, a construção da personagem de Calígula. Contrariamente aos que criaram a reputação do imperador, a figura que a autora nos apresenta é, acima de tudo, um homem. Partindo de uma infância traçada nas linhas do sonho e, depois, da destruição, Maria Grazia Siliato molda a personalidade do seu protagonista através das suas experiências e sentimentos. A impotência ante progressivas perdas, a necessidade de se fingir néscio para se evadir à morte e, mais tarde, a ilusão de ingenuidade que lhe conquistaria o poder imperial, fazem de Caio César uma figura solitária, por vezes atormentada por dúvidas, mas radiante e intensa nos seus sonhos e ideais. Humana, em suma, com todas as suas forças e vulnerabilidades.
Esta construção gradual, juntamente com a relevância dada aos dados familiares, tornam o ritmo da narrativa um pouco lento. Principalmente na fase inicial, a apresentação dos múltiplos acontecimentos que marcaram as perdas na família de Caio César (e até na história dos seus antecessores) fazem com que a história avança de forma pausada, crescendo aos poucos, tal como o seu protagonista. Ainda assim, este aspecto é amplamente compensado pela força dos grandes momentos e pelo impacto que estes exercem quer sobre o protagonista, quer sobre os que, de uma ou outra forma, a ele estão ligados.
Ainda de referir a forma como a autora demonstra, em diversas circunstâncias, o poder do rumor e do escândalo no que toca à destruição de um homem. O contraste entre o sonho de Calígula e a quase revolta com que o Senado reage às suas intenções, tanto em palavras como em actos, representa na perfeição a ténue linha onde, entre domínio e traição, o poder se sustenta, enquanto acto solitário.
Interessante nos aspectos históricos, cativante no essencial da narrativa, mas impressionante, principalmente, pela construção da personalidade de Calígula, pode não ser um livro de leitura compulsiva. Mas fica, sem dúvida, na memória.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Impacto (Douglas Preston)

Um ex-agente da CIA em missão no Cambodja para descobrir a origem de uma série de gemas radioactivas que estão a aparecer no mercado. Uma rapariga com um fascínio pelo espaço e uma tendência para se meter em sarilhos que decide ir em busca de um meteoro. Um cientista que descobre dados inexplicáveis sobre emissões de raios gama a partir de Marte. E, ligando tudo isto, uma descoberta que pode pôr em risco a sobrevivência da espécie humana.
É interessante a forma como, partindo de personagens e acontecimentos que, inicialmente, parecem não ter qualquer ligação, o autor constrói uma história onde todas as personagens e todas as descobertas são importantes. Na verdade, e ainda que exista uma certa medida de construção de uma história prévia para as figuras mais importantes da narrativa, não são estes que se destacam, mas sim a história e as aventuras que vivem. Para além de Wyman Ford (já conhecido de outros livros do autor), o nível de contextualização para a vida de cada personagem, resume-se a pouco mais que o necessário, havendo referências ao passado de cada um, mas sem grandes desenvolvimentos.
Se, por um lado, isto tira alguma complexidade às personagens, permite, ainda assim, um ritmo narrativo mais rápido, onde a acção é constante e compulsiva e onde cada nova descoberta impõe uma imediata necessidade de agir. Assim, à medida que as diferentes linhas iniciais se cruzam, revelando a grande descoberta e as possíveis consequências, aumenta consideravelmente a tensão na narrativa, resultando numa leitura que se torna mais e mais viciante.
Falta referir, por último, a interessante abordagem ao que é, afinal, a ameaça presente ao longo da narrativa. Não sendo as características do artefacto (ou a sua origem) desenvolvidas ao pormenor, apresenta-se, ainda assim, o suficiente para manter constante o interesse do leitor, preparando caminho para um final interessante e surpreendente (ainda que um pouco brusco).
Viciante, com uma escrita agradável e uma história de ritmo compulsivo, um livro que, apesar de alguns aspectos menos explorados, cativa e entretém da primeira e última página. Muito bom.

Quadras (Fernando Pessoa)

A simplicidade característica das quadras populares e a complexidade temática caracteristicamente pessoana fundem-se, de forma muito interessante, nas quadras que constituem este livro. Num curioso equilíbrio entre gestos quotidianos e a complexa (e, por vezes, melancólica) que transparece em muita da poesia do autor, há nas quadras deste livro todos os elementos essenciais da obra de Pessoa - concentrados num formato simples, breve e directo.
Não sendo propriamente a minha forma poética predilecta, não surpreende que não estejam neste livro os poemas de Pessoa que, para mim, são os mais marcantes. Ainda assim, o essencial, principalmente a nível temático, continua presente e a necessária simplicidade estilística (tendo em conta o formato mais curto) acaba por tornar a voz poética mais directa. Além disso, é interessante descobrir as reflexões mais profundas por entre o toque mais popular de algumas das quadras.
É uma leitura mais simples e mais leve, se comparada com os poemas mais longos (que, pessoalmente, prefiro). É, ainda assim, um conjunto interessante e, para quem quiser conhecer a fundo a obra do poeta, há também, neste livro, toda uma nova faceta a descobrir.

Canções de Beber (Fernando Pessoa)

É algo de impressionante a diversidade da obra pessoana, quer a nível temático, quer a nível de estrutura. Aqui, a linha estrutural é o ruba'iyat e destaca-se, a nível temático, um certo tom de resignação que, associado a diferentes causas ou possíveis reflexões, não deixa de ser uma linha comum entre os vários poemas. E o conteúdo parece encaixar na perfeição com a forma, num resultado sempre belo e sempre marcante, onde o ritmo das palavras é também parte do que dá força à sua mensagem.
Se o essencial do livro são, de facto, os poemas, é também importante mencionar o esclarecedor prefácio. Tratando-se de uma forma poética que me era praticamente desconhecida, foi, sem dúvida, importante e elucidativo o conhecimento apresentado nessa introdução.
Influências e características estruturais à parte, foi, ainda assim, o conteúdo que mais marcou nesta leitura. Transparece principalmente, destes poemas, a sombra de um certo desânimo, uma resignação quase inevitável. E, por mais estranho que possa parecer, foi esse elo comum que mais me cativou.


sábado, 13 de agosto de 2011

A Vidente de Sevenwaters (Juliet Marillier)

Antes de proferir os seus votos finais como druidesa, Sibeal é enviada para passar algum tempo em Inis Eala. Mas o que deveria ser algum tempo de descanso na companhia das irmãs acaba por se revelar numa complicada missão, quando um navio nórdico naufraga. Apenas um estranho casal parece ter sobrevivo ao incidente. Mas quando Sibeal salva a vida de um terceiro homem, cuja memória parece ter desaparecido, os segredos da viagem do Freyja acabam por vir à luz do dia. E há uma missão à espera de Sibeal e do homem que salvou.
Regresso ao mundo de Sevenwaters, mas a uma nova geração, há, neste livro, uma magia que, ainda que, de certa forma, diferente da que transparece na trilogia original, não deixa por isso de ser cativante e comovente. A história da viagem amaldiçoada de Felix, e do próprio Felix, em demasia associado ao estatuto de "homem aziago" complementa, na perfeição, a história da calma e ponderada Sibeal. De determinada defensora da vida espiritual, Sibeal evolui para uma mulher mais completa, ao mesmo tempo a voz dos deuses e a mulher humana que sente, que ama e que sofre. E esta evolução é tão definida pela sua convivência com os habitantes de Inis Eala como pela experiência dura (e inesquecível) de conhecer e salvar Felix, de cumprir com ele a sua missão e, por fim, de enfrentar o conflito entre a vocação e o amor. Felix, por sua vez, tem a suposta culpa do passado para resolver e a serenidade de Sibeal funciona, de certa forma, como atenuante para os seus demónios interiores.
Ainda que o centro da narrativa esteja em Felix e Sibeal (até porque a história é contada pelas suas vozes), é particularmente interessante notar que a autora não esquece os outros habitantes do seu mundo. Desde as mais ténues aparições à quase constante presença dos elementos mais próximos, há algo de mágico na forma como a grande família de Sevenwaters continua a manifestar a sua união.
Ainda de referir a forma como a autora relaciona evidentes elementos de magia (as criaturas mágicas, o legado do sangue de Cathal...) de uma forma que encaixa na perfeição com os aspectos mais simples do quotidiano de Inis Eala. O resultado é uma história que, apesar dos elementos mais improváveis, nunca perde aquela impressão de proximidade que torna as experiências e sofrimentos de cada personagem algo com que é fácil criar ligações.
História de amor e de luta, de escolhas e de sacrifícios, A Vidente de Sevenwaters acrescenta a um mundo mágico e cativante uma nova linha de acontecimentos, feita de grandes momentos, mas também dos mais simples sentimentos que definem uma grande personagem. Uma boa história, com personagens cativantes e escrita da forma bela e envolvente que sempre transparece no trabalho de Juliet Marillier. E, por tudo isto, uma boa leitura.

Poesia 1931 - 1933 (Fernando Pessoa)

Há livros de que, à partida, não se espera senão o melhor. Este é, sem dúvida, um desses casos. De uma obra de tal forma diversa e impressionante como é a de Fernando Pessoa, não seria de esperar menos que um livro magnífico. E é, exactamente, disso que se trata.
Neste livro, reúne-se a obra poética produzida entre os anos de 1931 e 1933 e é particularmente interessante notar a forma como, ao longo do tempo, a linha temática se vai alterando. Há toda uma diversidade de temas, desde o mais simples gesto quotidiano à profundidade de um ritual iniciático, passando por uma fase de intensa presença da mortalidade. Em comum, contudo, está a presença daqueles elementos caracteristicamente pessoanos que, mesmo com um conhecimento apenas superficial da obra, transparecem quase de imediato: a ambiguidade sentimento/pensamento e a oposição entre fingimento e realidade, para citar apenas os exemplos mais evidentes.
É sempre fascinante descobrir um pouco mais da vasta obra de Fernando Pessoa. Diversidade temática e profundidade de conteúdos, mesmo na estrutura aparente simples que caracteriza grande parte da produção associada ao ortónimo, fazem de cada um dos poemas deste livro uma descoberta maravilhosa. Uma obra magnífica.