segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Senhora de Shalador (Anne Bishop)

Depois de demasiados anos a esconder pensamentos e tradições do olhar das rainhas corruptas, o povo de Shalador vê em Cassidy uma nova esperança. Não sendo uma figura de grande beleza ou de profundo poder, Cassie representa tudo aquilo que os que a rodeiam procuram e - mesmo que a custo das suas próprias forças - está disposta a dar à terra e ao seu povo aquilo que for necessário. Mas há uma sombra dolorosa no passado e, quando esta se torna presente, conquistando os de vontade mais fraca, a mudança terá de suceder, no mundo e nas pessoas, para o melhor ou para pior. Porque as Viúvas Negras previram a queda de Dena Nehele, mas muita alegria entrelaçada na dor.
Por esta altura, já não deve ser necessário explicar o quanto me fascinam e emocionam estes regressos à escrita de Anne Bishop e ao mundo das Jóias Negras. São livros que, com a sua força emocional, com a obscura majestade do seu mundo e com a intensa força dos seus principais intervenientes (e por força pretendo referir os valores assim como o poder a cada um associado), fascinam desde a primeira página e deixam saudades ao terminar da última.
E este livro não desilude. Retomando os acontecimentos a partir das últimas circunstâncias de Aliança das Trevas, a autora continua a explorar as dificuldades de um lugar devastado por demasiado sofrimento, na sua luta para regressar aos velhos valores. Isto torna-se particularmente evidente nas apreensões iniciais da gente de Shalador (na indecisão quanto ao que devem revelar sobre as suas tradições), mas é também claro nas atitudes de vários Príncipes de Dena Nehele (representando figuras que preferem permanecer nas sombras). Trata-se, pois, de uma história de mudança, mas também de escolhas ante um possível retrocesso. A posição de Theran Grayhaven, na escolha entre o coração e a honra, no comportamento quase obsessivo de demasiado tempo e na sua constante incapacidade de ver o que é já demasiado claro, acaba por surgir como linha essencial para essa possibilidade de retrocesso, tão capaz de instaurar um novo mundo como de destruir tudo o que foi conquistado.
Ainda que este livro estaja bastante centrado na história de Dena Nehele e de Shalador, com a construção da nova corte de Cassidy e os obstáculos levantados por Theran, ante a chegada da que é a sua rainha ideal, é inevitável referir os momentos dedicados à já tão familiar família SaDiablo. O mundo das Jóias Negras não seria o mesmo sem a paciência de Saetan, a perigosa sedução de Daemon e o temperamento de Lucivar. São, na verdade, estes a proporcionar aqueles momentos divertidos que, num livro como este, conferem leveza à narrativa quando as coisas ameaçam tornar-se demasiado sérias.
Dois outros aspectos a referir. Os sceltitas, em clara dominância durante uma boa parte deste livro, e também eles fonte de situações constrangedoras e divertidas. E o final que, deixando no ar algumas perguntas sobre o futuro de Cassidy e do seu território, marca essencialmente pela força e justeza da mensagem associada ao valor de uma segunda oportunidade.
Um livro mágico, envolvente, com personagens de imenso valor e uma história que, num mundo tão diferente, se torna, nalguns momentos, de uma proximidade devastadora. Belo, sombrio e intenso, um magnífico regresso a um mundo inesquecível.

2 comentários:

  1. "Belo, sombrio e intenso, um magnífico regresso a um mundo inesquecível."

    Ai... É mesmo isso :)

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  2. Olá
    De facto o livro valeu a pela pela pontual presença da Corte das Trevas :).
    Tenho agora para ler o derradeiro livro (na versão original) que irá finalizar a saga.
    Boas leituras

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