segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Pintor de Sombras (Esteban Martín)

Pablo Picasso é um jovem apaixonado... por uma prostituta. Mas, enquanto o jovem descobre a sua identidade como pintor, enquanto ele os amigos divagam por entre os bares e prostíbulos da Barcelona que se tornou na sua casa, há um assassino à solta e os seus métodos são demasiado familiares aos do lendário Jack, o Estripador. É uma sombra, o culpado de tão atrozes mortes, uma sombra que está decidida a incriminar o jovem pintor e a, mais uma vez, desaparecer sem deixar rasto. Mas o auxílio de um famoso detective consultor é requerido. E este, que já no passado deixou escapar o seu infame adversário, está decidido a tudo fazer para conseguir justiça.
Há várias linhas essenciais que se cruzam ao longo do enredo deste livro: a história de Picasso enquanto jovem, a história dos novos crimes do suposto Jack, o Estripador e a investigação de Steven Arrow, com todos os elos que este novo caso estabelece com o seu passado. E há pontos de interesse em cada uma deles, ainda que, num ou outro aspecto, fique a sensação de que mais haveria a dizer. Pablo, com o seu carácter irascível e ferozmente determinado, não é exactamente o tipo de personalidade que desperte empatia, mas, à medida que os acontecimentos o parecem comprometer, há algo de preocupação que vai sendo instilada no leitor. Já Steven Arrow, com os seus paralelismos com o famoso Sherlock Holmes (que, neste livro, será uma personagem fictícia inspirada em Arrow) cativa pelas diferenças entre Arrow e a personagem de Conan Doyle. Arrow é um indivíduo bem mais acessível, com as marcas de uma vida atribulada. E estas diferenças são particularmente notórias devido a alguns momentos bastante semelhantes aos primeiros passos do mítico detective, sendo inevitável a comparação entre o momento em que Sherrinford e Arrow se conhecem e o primeiro contacto entre Watson e Sherlock. Até a abordagem ao caso de Jack, o Estripador evoca elementos bastante interessantes, principalmente no que respeita à possibilidade do referido assassino ser uma figura demasiado importante para enfrentar a justiça.
A leitura é envolvente, com capítulos pequenos e sem demasiados elementos de descrição, numa história que se quer cativante e centrada nas acções. Há, ainda assim, uma boa medida de caracterização, que funciona como uma mais valia num enredo onde tantas figuras - reais ou fictícias - são já bem conhecidas de outras obras literárias. E é também esta caracterização a fazer com que, mesmo nos momentos em que as coisas parecem ser algo abruptas, o interesse em seguir a evolução dos acontecimentos permaneça constante.
Cativante, com uma boa história, onde o misterioso e o peculiar se juntam para criar uma série de acontecimentos intrigantes, mas onde há também pequenos momentos que propiciam à reflexão. Porque entre as vítimas de Jack e a possibilidade de este ser um homem demasiado acima do comum mortal para ser sequer acusado, fica sempre a pergunta no ar. Seria aceitável ver no estatuto social uma medida para o valor da vida humana?

Convite

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald)

Jay Gatsby é um indivíduo estranho. Dá festas estonteantes que toda a sociedade parece ter interesse em perguntar, mas parece não conviver tanto quanto seria esperado de um anfitrião. É dono de uma fortuna considerável, mas o seu passado e a forma como chegou à posição que ocupa são explicadas por pouco mais que rumores. Nalguns aspectos parece não ter escrúpulos, noutros parece particularmente sensível. E quando Nick Carraway se torna seu vizinho, não faz ideia da complexidade da história em que se verá envolvido.
Os pontos essenciais deste livro poderiam-se resumir em duas áreas centrais: o retrato algo invulgar da sociedade que pretende caracterizar e a estranha história de amor do passado de Gatsby. E se o primeiro implica alguns elementos menos envolventes, como a enumeração de nomes e relações estabelecidades entre Gatsby e os seus supostos "amigos", é na história dos seus sentimentos por Daisy que se encontra a grande força desta narrativa. Não se trata de um amor vulgar e a verdade é que de romântico tem muito pouco. É mais evidente a obsessão, a necessidade de vislumbrar um sentimento único e exclusivo onde as relações, mesmo as oficiais, parecem significar muito pouco. E desde que o momento em que o passado se torna influente no presente, desde que a necessidade de reencontrar Daisy se torna num impulso inevitável, há algo de insinuação de tragédia que vai crescendo a cada novo desenvolvimento nos acontecimentos.
Entre personalidades diversas e peculiares, há, inevitavelmente, duas que se destacam. Uma delas é, claro, o infame Jay Gatsby, com as suas peculiaridades de comportamento e de pensamento, que o marcam como uma figura intrigante e que, estando longe da perfeição, não deixa de inspirar uma certa compaixão, principalmente nos momentos finais do livro (que são, para mim, os mais marcantes). O outro é Nick Carraway, com a sua quase deslocada firmeza de princípios, uma honestidade que o torna, em simultâneo, o completo oposto de Gatsby e o seu único verdadeiro amigo.
Não é uma leitura fácil. Há momentos peculiares e outros que, à primeira vista, parecem não contribuir muito para a narrativa, vindo a sua relevância a tornar-se nítida apenas bastante mais tarde. É, ainda assim, uma história fascinante, tanto enquanto retrato de uma época como enquanto história de um amor... disfuncional.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Frankenstein - O Filho Pródigo (Dean Koontz)

Duzentos anos passaram desde a criação do seu primeiro monstro e Victor Frankenstein - aliás, Victor Helios - tem agora um plano mais ambicioso. A Nova Raça, formada pelas suas criações, vai sendo progressivamente infiltrada entre os humanos. E é com base nesses seres mais fortes, mais capazes, estritamente racionais... e, claro, incapazes de questionar a vontade do seu criador... que Victor planeia uma nova era para o mundo. Mas nem tudo parece ser tão infalível como o criador julga e, enquanto mortes estranhas começam a marcar a vida em Nova Orleães, a primeira criação de Victor regressa da sua silenciosa ausência... para impedir a todo o custo que os seus planos se concretizem.
A primeira característica a impressionar nesta leitura é, inevitavelmente, a sua força compulsiva. Capítulos pequenos, acção quase constante, toda uma série de situações inexplicáveis que mantêm viva a curiosidade e uma escrita fluída, sem grandes elementos descritivos, mas com um ritmo cativante e os elementos certos para manter o suspense, este é um livro que, desde as primeiras páginas, se revela extremamente difícil de largar. E para isto contribui também o cruzamento de elementos tão díspares como a experimentação científica (a um nível impressionante), o mistério a desvendar e a necessária captura do assassino (com todos os elementos associados à análise comportamental e de cenas do crime) e os inevitáveis momentos perturbadores e arrepiantes, ligados essencialmente à forma como as múltiplas mortes se sucedem.
E, num livro onde, com a sua conjugação das medidas certas de horror, humor, acção e emoção, o objectivo principal parece de ser o de entretenimento, não deixa de ser curioso e cativante o lado mais dedicado aos meandros da natureza humana. Sendo uma parte fundamental da história o contraste entre a humanidade e a Nova Raça, não deixa de ser intrigante ver o contraste entre as emoções humanas que despontam em seres supostamente incapazes de emoção, a insensibilidade que tomou posse de uma figura supostamente humana, e a forma como, entre interesses racionais e emocionais, quase tudo pode ser posto em causa.
Intenso, intrigante, com uma boa história, personagens cativantes e uma abordagem surpreendentemente interessante a temas mais complexos do que seria de esperar, um livro para devorar com a força da compulsão. E a melhor parte... é que este é apenas o início.

Os Contos Completos de Ambrose Bierce - segunda parte

Continuando a incursão no mundo invulgar e por vezes improvável do imaginário de Ambrose Bierce, no ponto onde terminou o primeiro post dedicado a este livro, segue-se o conto Morto em Resaca, a história de um homem demasiado corajoso e de como encontrou o seu fim. É particularmente impressionante a forma como o autor mantém em suspenso os motivos do protagonista, para depois surpreender com uma conclusão poderosa.
O Funeral de John Mortonson apresenta, como o título indica, uma breve descrição de um funeral... mas com um twist inesperado. Marcante pela intensidade com que o autor fala da morte, numa força que contrasta com as particularidades do final. Já em A Corrida em Left Bower, o tema são as corridas de cavalos, num desafio em que um dos animais é invulgar. Uma história interessante e cativante, ainda que com algo de bizarro.
Mais um conto particularmente marcante, O Golpe de Misericórdia. No rescaldo de uma batalha, impõe-se cuidar dos feridos e enterrar os mortos. Mas há feridos para os quais a única salvação está no termo do sofrimento e é essa a base deste conto intenso, de grande força emotiva e que marca principalmente pela forma como o dilema de matar por piedade é apresentado.
Um Jarro de Xarope apresenta a história de um homem tão consciencioso que mesmo depois de morto, continua a atender os seus clientes. Algo improvável a forma como a situação é apresentada, mas o resultado é, ainda assim, envolvente e de leitura agradável. Já em Um Aviso Providencial, onde uma aposta, um aviso e uma égua de corrida estão na base de uma história onde a sorte parece ser soberana, há algumas pontas soltas, apesar do interesse da linha narrativa.
Segue-se A Ilha dos Pinheiros, mais um caso de um morto que se recusa a permanecer imóvel, desta vez aliado a uma morte inexplicável. Breve, mas de leitura envolvente, um conto com vários detalhes curiosos.
Em Um Oficial, Um Praça, um regimento liderado por um oficial inexperiente enfrenta uma batalha em vias de suceder. Há algo de cativante no tom de descontracção inicial que cede lugar a uma tensão crescente, para despertar uma mais intensa introspecção.
Para Lá da Parede é a história de um reencontro e de uma estranha paixão, com elos de sobrenatural, ligada à manifestação inexplicável do som de batidas na parede. Com um ritmo pousado, mas uma história que se torna progressivamente mais intensa, um conto envolvente com um final poderoso.
Em O Famoso Legado Gilson temos, mais uma vez, uma execução iminente, como ponto de partida para um interessante conto sobre uma inocência duvidosa e ligações que permanecem para lá da morte. E em O Homem Borda Fora retoma-se a estranha ligação entre navios e literatura, num conto marcado pelo surreal e pelo improvável, mas que tem como aspecto particularmente curioso a ligação estabelecida com outros contos do autor.
A Coisa em Nolan parte de um desentendimento familiar como pretexto para um homicídio, num conto com uma ideia bastante interessante e explorada de forma envolvente, mas que parece deixar bastante por explicar. Por sua vez, O Caso em Coulter's Notch retoma a sempre recorrente temática da batalha, desta vez na narração de um feito impressionante executado por alguém de lealdades ambíguas. Trata-se de um conto bastante descritivo no que toca aos pormenores do conflito, mas também de uma história bastante interessante.
Um Encargo Infrutífero trata de uma incursão numa casa assombrada. Mais uma vez, há coisas que ficam por explicar, mas a descrição dos acontecimentos sobrenaturais é particularmente intrigante. E, no mesmo tema, O Ambiente Adequado liga a história de uma suposta casa assombrada e o efeito do ambiente certo na apreciação de uma obra literária, num conto envolvente e cheio de surpresas, onde nada é o que parece.
Os Olhos da Pantera é, na sua essência, uma história de loucura... ou talvez algo de consideravelmente mais estranho. É, de qualquer das formas, um conto misterioso, com algumas surpresas, e que cativa principalmente pelo seu tom sombrio. Também A Coisa Maldita envolve algo de inexplicável, desta vez uma criatura associada a uma morte violenta. Trata-se de um conto bastante rebuscado, mas que tem como ponto alto o humor aplicado na descrição do interrogatório.
Por último nesta segunda parte, temos O Hipnotizador, a história de um homem capaz de exercer sobre qualquer ser humano a sua influência. Trata-se de mais um conto que impressiona essencialmente pela notória insensibilidade do protagonista, aparentemente incapaz de conceber o conceito de maldade.

A minha (longa) apreciação deste vasto e intrigante livro continuará num próximo post.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Encontro no teu olhar (Maria Teresa Loureiro)

O plano era apenas tomar um café rápido antes das aulas. Mas, ao cruzar aquela porta, o que ela descobriu foi todo um novo mundo de emoções. Um cenário invulgar, o daquele salão de chá, onde as pessoas pareciam demorar-se como se tendo toda a eternidade. E eis que os pensamentos e as histórias de vida de cada uma dessas estranhas figuras começam a ecoar-lhe na mente... como percursos que é imperioso seguir, caminhos que precisam de ser acompanhados. E as histórias que se cruzam, os amores frustrados, os ódios incontroláveis, as ilusões perdidas são também lições de vida para uma protagonista à procura... de si própria, talvez.
Há algo de impressionante na simplicidade com que as pouco mais de cem páginas deste livro conseguem dar voz a sentimentos tão complexos e intensos como o amor e o ódio. Porque esta é uma história simples, no seu essencial, sem grandes elaborações, sem floreados desnecessários, sem linhas narrativas de grande complexidade. E, contudo, a beleza dos sentimentos evocados na escrita é intensa. A força das paixões e ressentimentos que marcam a história de cada personagem é notória. E até o improvável, a impossibilidade do cenário para onde a protagonista se vê irresistivelmente atraída, serve de base para uma história onde o mais relevante, o verdadeiramente importante, está na força das ligações humanas, mesmo quando estas se revelam no seu mais vulnerável.
Tudo parece simples, na verdade. E, contudo, há uma curiosidade crescente ante o sucessivo desvelar de pensamentos e emoções associados a cada "habitante" do estranho salão de chá. Mesmo não sendo completamente explicada a ligação entre a protagonista e aquele local, as histórias que ela descobre tornam-se progressivamente mais próximas, e é essa familiaridade em pleno cenário de impossível que torna tão cativantes as simples vidas de cada uma dessas figuras.
Breve, mas envolvente e com uma grande força emocional, uma história que poderia decorrer num mundo à parte... mas que, no fundo, representa, na sua simplicidade, a proximidade de conflitos e emoções que poderiam marcar a vida de qualquer um de nós.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Seduzida (P.C. Cast e Kristin Cast)

Kalona foi afastado... pelo menos por algum tempo. Mas Zoey sabe que ele voltará, já que a sua presença é uma constante nos seus sonhos, e impõe-se uma acção contra os planos do anjo caído e de Neferet. Por outro lado, mesmo enquanto a tensão se torna mais forte e há forças imprevisíveis que precisam de ser controladas, os problemas mais simples não desaparecem. Heath, Erik e Stark são também um problema na vida da escolhida da deusa. E enquanto Zoey tenta lidar com a sua própria vida e com o colapso do mundo tal como o conhece, também a sua melhor amiga parece ter algo a esconder.
Sendo já este o sexto volume da série Casa da Noite, não será de surpreender que os elementos característicos dos livros anteriores - os melhores e os piores - estejam também presentes neste livro. Assim, e mais uma vez, destacam-se pela positiva o sentido de humor aplicado nalguns momentos, o cruzamento de magia e mitologias para criar um sistema bastante interessante e o ritmo bastante envolvente de acontecimentos. Por outro lado, o lado menos bom continua a prender-se essencialmente com os momentos constrangedores causados pela sempre presente situação amorosa de Zoey com os seus múltiplos "pretendentes".
Há, contudo, alguns aspectos novos neste livro. A inclusão de novos pontos de vista, dedicados a personagens até agora secundárias, dá uma visão mais ampla dos acontecimentos e do próprio sistema. Além disso, os capítulos dedicados a Refaim acrescentam uma nova perspectiva, uma visão onde a linha que separa o bem do mal não é tão clara como seria de prever.
O que me leva ao que mais me agradou neste livro: a ambiguidade. Tanto em Refaim, inerentemente malévolo, mas humano, apesar de tudo, e com um estranho sentido de lealdade associado a estes conflitos interiores, como no próprio Kalona, cujo nível de verdade e de manipulação se torna algo imprevisível. Também estes elementos conflituosos contribuem para um final de grande tensão, que culmina num ponto que deixa tanto para saber que é grande a vontade de passar imediatamente para o seguinte volume.
Uma leitura leve, sem grandes elaborações, mas com momentos de grande intensidade. Cativante, interessante, com pontos de grande emoção, um bom livro para entreter e descontrair.

Novidade Porto Editora

1919: Após o final da I Guerra Mundial, o Major Brendan Archer dirige-se até à Irlanda, na esperança de descobrir se de facto está comprometido com Angela Spencer, cuja família anglo-irlandesa é proprietária do em tempos famoso Hotel Majestic. Mas a sua noiva está estranhamente diferente e a fortuna familiar sofrera enormes perdas. As centenas de quartos do hotel deterioram-se a olhos vistos; os seus poucos hóspedes dedicam-se quase em exclusivo a pequenos boatos e a jogos de uíste; bandos de gatos tomaram positivamente conta do Bar Imperial e dos andares superiores; canas de bambu ameaçam as fundações do edifício; leitões brincam nos courts de squash.
Mas não são apenas as paredes do outrora grandioso hotel que prometem cair de vez. Lá fora, o império britânico enfrenta desafios vindos dos quatro cantos do mundo, incluindo da sua vizinha Irlanda.

James Gordon Farrell nasceu em 1935 em Liverpool, no seio de uma família anglo-irlandesa. É considerado um dos mais importantes autores do séc. XX, apesar da sua actividade de escritor ter sido tragicamente interrompida por um acidente enquanto pescava na costa irlandesa.
Tendo escrito outras três novelas antes de 1970, ficou famoso sobretudo pela “Trilogia do Império”, que retrata a decadência do Império Colonial Britânico com uma ironia sagaz, evidente nas descrições e nas características das personagens, enquanto o pano de fundo é um cenário histórico baseado em acontecimentos reais.
Em 1971 Troubles, o primeiro volume da trilogia, ganhou o Faber Memorial Prize, e em 1988 foi adaptado a telefilme. O segundo volume da trilogia, The Siege of Krishnapur, a ser publicado brevemente pela Porto Editora, ganhou o Man Booker Prize em 1973 e foi nomeado para o prémio Best of the Booker.

Passatempo Afonso Henriques - O Homem

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a autora Cristina Torrão, tem para oferecer um exemplar do livro Afonso Henriques - O Homem. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Qual o nome da mãe de D. Afonso Henriques?
2. Qual o título da obra mais recente de Cristina Torrão?
3. Que concurso venceu, em 2007, a autora deste livro?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 28 de Fevereiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Messias (Marek Halter)

Um príncipe do deserto, irmão do soberano de um reino que ninguém sabe exactamente onde fica. Um plano ambicioso: o de conquistar uma pátria para o povo de Israel. Uma missão: a de encontrar entre a cristandade os meios para concretizar o seu grandioso destino. E uma obsessão na mente dos povos, uma certeza desencadeada por uma simples conversão e por um fanatismo que se torna na arma da fatalidade. Porque David Reubeni pretende ser apenas a mão condutora de uma imensa missão - mas o seu povo necessita de um Messias para seguir.
É a fatalidade, essa força inexplicável que parece viver da contrariedade ante os planos dos homens, a grande essência de toda esta história. David surge como uma figura imponente, poderosa apesar das suas origens em grande parte desconhecidas. Num cenário onde os judeus são desprezados, quando não perseguidos, a majestade de David, a liberdade com que caminha entre as gentes, alcançando até os poderosos, e a atenção que lhe é dedicada por parte de figuras tão relevantes como a do próprio Clemente VII formam um nítido contraste entre sonho e realidade, reforçando essa convicção do possível, mesmo que para lá da imaginação. E é impressionante a forma como o autor conduz, ao longo de todo o livro, os caminhos de David, entre recepções mais que calorosas e conspirações ocultas, entre claros indícios de que o sonho é realizável e barreiras inesperadas capazes de derrubar o mais forte dos seres.
Mais que das viagens e das dificuldades de David, é do seu sonho que vive esta história, da força capaz de criar paixões impossíveis (e aqui Dina é o mais claro dos exemplos), ódios viscerais, lealdades inquebráveis e até uma súbita iluminação messiânica que acaba por ser, ao mesmo tempo, a grande força e a suprema ameaça para os planos do príncipe de Chabor. Pois, tão relevante como a personalidade forte e serena de David, há na loucura profética e fanática de Chlomo Mohlko uma evidente caminhada até à condenação e à frustração de um plano que, por várias vezes, parece quase demasiado próximo.
Escrito de forma envolvente, sem grandes teorias ou descrições desnecessárias, O Messias marca principalmente pela intensidade do sonho, por oposição à sua fragilidade. Pela oscilação entre triunfo e tragédia. Mas, principalmente, pela força de uma vontade humana, mesmo quando colocada no seu ponto mais vulnerável. Intenso, profundo e fascinante. Muito bom.

Novidades Casa das Letras para Março

Autobiografia de Fidel Castro
Norberto Fuentes
Biografia

Norberto Fuentes foi um membro da Revolução Cubana e fez parte, durante anos, do círculo mais próximo de Fidel Castro. Mas, nos finais dos anos 80, quando o regime começou a enviar alguns dos seus camaradas mais antigos para o pelotão de fuzilamento, passou a ser Um Homem Que Sabia de Mais. Tendo escapado à pena de morte e agora a viver no exílio, Fuentes converteu o seu conhecimento e a sua experiência naquela a que muitos chamam a biografia definitiva de Fidel Castro, mas fê-lo na primeira pessoa, como se fosse o próprio Fidel a redigi-la.

Nas Livrarias a 31 de Março

Sem Rumo
Joshua Ferris
Ficção Literária

Durante vinte anos de casamento, Tim e Jane Farnsworth saborearam os frutos do trabalho dele como advogado de sucesso: vivem numa casa confortável, fazem férias em locais exóticos, não têm quaisquer preocupações financeiras.
Tim venceu por duas vezes uma bizarra e inexplicável doença, mas tais episódios, embora não completamente esquecidos, fazem parte do passado. É então que a doença regressa,obrigando-o a comportar-se de uma forma assustadoramente nova.
Joshua Ferris foi recentemente considerado pela revista The New Yorker um dos melhores escritores com menos de 40 anos.

Nas Livrarias a 31 de Março

Casper – O Gato Viajante
Susan Finden
Ficção Fantasia

Casper tornou-se uma celebridade nacional quando os jornais divulgaram a história de um gato extraordinário que apanhava regularmente o autocarro número 3, fazendo viagens de dezoito quilómetros pela sua cidade, Plymouth, em Devon.
Contado de uma maneira comovente pela sua dona, que o amava profundamente, Casper, O Gato-Viajante, é a história tocante de um gato branco e preto muito especial, que viajava de autocarro e que conquistou os nossos corações.

Nas Livrarias a 21 de Março

Na Sombra do Desejo
J.R. Ward
Ficção Fantasia

Nas sombras da noite da cidade de Caldwell, em Nova Iorque, trava-se uma guerra territorial entre os vampiros e seus caçadores. Ali, existe um bando secreto de irmãos sem igual — seis guerreiros vampiros, defensores da sua raça. Mas agora um aliado da Irmandade está prestes a enfrentar os seus próprios desejos obscuros…

Nas Livrarias a 28 de Março
A Morte Tem Cura e Outras 99 Curiosidades Médicas
Roger Dobson
Saúde

Já pensou porque é que os bebés chupam no dedo ou porque preferem os homens as loiras? Quer saber como os chuveiros podem fazer mal ao cérebro ou descobrir por que razão as mulheres gemem durante o sexo? Ou tem curiosidade em saber como a depilação aumenta o risco de cancro ou apenas como curar os soluços? Gostaria de saber exa­ctamente a data em que vai morrer?
Cem dessas teorias foram reunidas em A Morte Tem Cura, livro baseado numa das mais polémicas publicações médicas do mundo: a Medical Hypotheses.

Nas Livrarias a 21 de Março

Vencedor do passatempo Oblívio

E terminou mais um passatempo. Mais uma vez, obrigada aos 59 participantes que enviaram as suas respostas.

O vencedor é...

16. Joana Silva (Vila Franca de Xira)

Parabéns e boa leitura!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dom Vito (Francesco La Licata e Massimo Ciancimino)

Uma perspectiva próxima e esclarecedora das relações entre o estado e a máfia corleonesa. É este o assunto de que trata este Dom Vito, relato da história do famoso (ou infame?) Vito Ciancimino e do papel por este desempenhado nos interesses políticos e financeiros da Cosa Nostra.
Talvez pela significativa colaboração dos dois filhos de Dom Vito na execução deste livro, há mais de relevante para lá do sistema de intrigas e subornos associado à máfia e do percurso em direcção à queda (por vezes devidamente auxiliada) de Dom Vito. Há, nas histórias contadas por Massimo e Giovanni, uma visão do homem por detrás do mafioso, uma precisa descrição das suas manias, medos e comportamentos obsessivos e até um vislumbre das suas verdadeiras preocupações por detrás da figura do homem tirânico que precisa que todos em seu redor vivam em sua função.
Há toda uma série de nomes e entidades envolvidas no percurso de vida de Vito Ciancimino, toda uma vastidão de termos e ligações a assimilar. Assim, dificilmente se poderá dizer deste livro que seja uma leitura fácil. É, ainda assim, bastante esclarecedor no que toca ao nível de ligações estabelecidas entre máfia e política, bem como na apresentação do homem por detrás da lenda. E é provavelmente nesta visão mais pessoal - mas sem sentimentalismos nem justificações para o inexplicável - que reside o maior interesse deste livro.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Rainha dos Malditos - volume I (Anne Rice)

No final do livro anterior, a situação de Lestat era bastante delicada. O seu desafio aos da sua raça e a sua vontade de se mostrar perante os humanos despertaram poderes que deveriam permanecer adormecidos. E as consequências surgem, ferozes e inevitáveis. Neste primeiro volume, há um recuo no tempo e uma mudança de ponto de vista. Já não é a história e o pensamento de Lestat que acompanhamos, mas o percurso dos que se interessam pelo seu desafio e que, para o deter ou simplesmente para assistir ao infame concerto, se deslocam, entre ameaças desconhecidas, em direcção ao local onde se dará o triunfo do vampiro. Mas há sonhos estranhos, vindos do passado, a perturbar essas mentes. E uma rainha de pedra que voltou a caminhar na noite...
Tudo o que me fascinou em Entrevista com o Vampiro e O Vampiro Lestat continua presente em força ao longo deste novo livro. E, contudo, há algumas diferenças consideráveis. A mudança da narração para a terceira pessoa parece afastar um pouco o tom pessoal e quase de confidência tão característico dos livros anteriores. E, contudo, a abertura do livro, ainda pela voz de Lestat, é poderosíssima e não pode deixar de despertar curiosidade para o que virá. Além disso, ao percorrer personagens tão diferentes como Daniel (o repórter de Entrevista com o Vampiro), Jesse, Khayman e o próprio Marius, há um percurso, gradual mas inevitável, em direcção a um clímax que se adivinha poderoso.
Há muitos enigmas ao longo deste livro. Os sonhos, os motivos que determinam a extinção de uns e a sobrevivência de outros, o passado de tantas novas personagens que vão sendo apresentadas... E Lestat, no meio de tudo isto, visto agora pelo olhar de outros da sua espécie, mas igualmente fascinante pelo efeito que exerce sobre todos eles. Fica, pois, a vontade inevitável de saber que poderosas revelações e situações marcantes se poderão esconder no segundo volume, já que este culmina num ponto onde a sensação que fica é que, a partir dali, tudo pode acontecer.
Um livro intenso, marcado por personagens complexas, reflexões bastante impressionantes e uma fluidez de escrita e de acontecimentos que desperta a curiosidade e a empatia desde a primeira página. Fascinante.

Sonetos Românticos (Natália Correia)

No que diz respeito à poesia, o soneto sempre foi uma das minhas formas de eleição, principalmente pela conjugação de ritmo e melodia capazes de dar voz, de uma forma breve, mas intensa, a qualquer sentimento. Foi, por isso, uma muito agradável surpresa percorrer os poemas que constituem esse livro e encontrar novamente o reflexo daquilo que me fascina nesta forma poética.
O tom é, na generalidade, algo sombrio, nocturno, um pouco melancólico. As imagens são cativantes, ainda que algumas delas tenham algo de complexo e inatingível. E, principalmente, os sentimentos, na sua vastidão de possibilidade, são parte fundamental de cada um dos sonetos. Uma voz presente, por vezes estranha, muitas vezes soturna, mas que tem algo de uma estranha proximidade que cativa e que fala à emoção.
E não é só de amor que vivem estes sonetos. Há todo um espectro de emoções, pensamentos e imagens, que vão desde a solidão ao amor romântico, mas também às ligações de amizade, de simples atracção e até de recusa perante as pessoas e as situações que marcam o dia de cada um. E há algo de inocente, tão mais marcado pelo contraste com o tom algo sombrio de outras visões, que dá a este livro, na sua globalidade, uma certa magia, algo de inatingível, mas que parece simultaneamente estar perto de cada um.
Sentimento, acima de tudo. Mas também uma criação de imagens surpreendentes, uma fluidez de palavras que, quase inconscientemente, se entranham na memória... e um resultado belo e cativante, em cada novo poema. Gostei.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Labirinto da Rosa (Titania Hardie)

Há um segredo na família Stafford, uma herança de família que tem passado de geração em geração e que remonta aos tempos do doutor John Dee. Mas o segredo escondido por detrás da chave acabará por se tornar na obsessão de Will que, depois de várias viagens e investigações, acaba por encontrar um fim inesperado. É então que o mistério passa para as mãos de Alex Stafford, bem como para as de Lucy King. E enquanto a relação entre estes dois se afasta da típica relação médico-paciente para se tornar em algo mais forte, também o enigma da chave se torna mais perigoso. Porque há outros que a procuram e a fé destes homens pode ser uma ameaça.
Há duas linhas principais ao longo do enredo deste livro: a história de Lucy e de como, após o seu transplante de coração, a sua relação com Alex começa a florescer; e a de Will e do enigma que se tornou causa da sua morte. E se os elos entre estas duas histórias são relativamente evidentes, tornando-se progressivamente mais claros com o avançar da narrativa, há alguns aspectos que, por si só, tornam interessante cada uma da história. Na de Lucy, todos os efeitos invulgares que nela se manifestam após o transplante, situações que poderiam ser justificadas pela teoria da memória celular e que aqui desempenham um papel relevante para o desvendar do mistério. Na de Will, que, se tornará, depois, a história associada a todo o mistério da chave e do legado de John Dee, são os múltiplos significados de cada nova descoberta, as teorias, as representações numerológicas e as associações a locais e obras literárias.
Tudo isto proporciona uma leitura que, de modo geral, é bastante envolvente, marcada por alguns momentos bastante emotivos, bem como pelas diversas teorias e descobertas que vão surgindo. Ainda assim, é na história de Alex e Lucy que se encontram os melhores momentos do livro: as recordações, as ligações a Will, a descoberta gradual dos sentimentos que unem o casal e até o aprofundar da personalidade do reservado doutor Alex Stafford.
O que me leva à fase final do livro. Se toda a história evolui a um ritmo relativamente pausado, em grande parte devido à interligação entre o mistério propriamente dito e o desenvolvimento das relações entre personagens, o final acaba por deixar a sensação de ser demasiado simples, tendo em conta todo o percurso envolvido até o atingir. E isto deixa uma certa sensação de faltar alguma coisa na fase final.
Com uma escrita envolvente, uma história interessante e alguns momentos de grande intensidade, este é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, é na generalidade cativante. E, ainda que a conclusão não seja completamente satisfatória, não deixa de ser interessante o percurso de descoberta apresentado ao longo da história. Uma mudança não só para os protagonistas, mas também para aqueles que os rodeiam.

Novidade Guerra e Paz

Enquanto o Mundo inteiro parece sucumbir à crise e ajoelhar-se em frente ao altar da Economia e dos seus gurus. A Economia parece ter metido o Mundo no bolso. Mas há quem resista. O jornalista espanhol Antonio Baños Boncompain, afirma, sem medos, que A Economia Não Existe.
Uma crítica ácida, mas com um enorme sentido de humor, pretende desmascarar esta «religião» que seguimos sem questionar. Em A Economia Não Existe o autor desmistifica números e modelos económicos e dá-nos a conhecer os verdadeiros responsáveis pelo fiasco do sistema capitalista.
Com humor, do mais negro, António Baños Boncompain faz uma leitura transversal dos clássicos e neoclássicos, dos progressistas e reaccionários e mostra que a economia não passa de um sistema de crenças disfarçado de ciência.
Um livro corajoso e destrutivo sobre a econocracia que, apesar de não oferecer soluções, promete dar explicações sem recorrer a conceitos complicados.

Antonio Baños Boncompain é um jornalista quarentão que, um dia, farto de sofrer com os reveses da economia, decidiu deixar de prestar atenção a essa pseudo-ciência.
Tem tido uma vida variada, mas sempre regida pelos cânones próprios de um pensador do início do século: fidelidade ao mileurismo e uma forte adesão à precariedade, tanto laboral como intelectual.
Trabalhou em revistas de grande tiragem, como Panadería e Molinería, Vida Apícola e é colaborador das publicações Que Léer e El Periódico.

O Meu Nome É Victoria (Victoria Donda)

Analía tinha 27 anos quando o seu mundo mudou, ao descobrir que não só os seus pais não eram, verdadeiramente, as pessoas que a criaram, mas também a sua identidade enquanto uma de muitas crianças retiradas aos pais durante os anos da ditadura. Esta é a história de Victoria, contada pela sua própria voz.
Não é uma obra particularmente complexa ou poética esta história. Não é esse o objectivo. O que este livro apresenta é o testemunho de uma vida em colapso, de uma identidade que se descobre ser inexistente e de todo um percurso de volta ao seu verdadeiro ser. Victoria apresenta sem floreados os passos da sua descoberta, desde o tempo em que julgava ser apenas Analía, mas em que dava por si já a percorrer o caminho dos mesmos ideais que a sua família desconhecia, até à recuperação do poderoso impacto que terá sido a descoberta da verdade, a aceitação de quem seria e com quem vivera e a forma como esse conhecimento viria a influenciar tanto a sua vida privada como a sua imagem pública.
É uma caminhada dura a da sua história e a autora apresenta-a de forma directa, sem rodeios e sem floreados desnecessários. Os acontecimentos são claros o suficiente e, no percurso pessoal de Analía, que se torna Victoria, transparece uma imagem precisa dos crimes cometidos pelo regime ditatorial, bem como das consequências que este teve tanto para os inocentes envolvidos como para os que conviviam, sem saber, com os culpados dos piores actos.
Uma leitura cativante, chocante por vezes, poderosa pela realidade espelhada nas palavras desta história. E uma imagem também, da força de viver perante o colapso do que seriam as certezas de toda uma vida, na coragem dessa jovem mulher de verdadeiro nome Victoria.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Madona (Natália Correia)

Paris, cenário de amor, de agitação e de decadência. É esse o destino escolhido por Branca, oriunda de uma aldeia obscura e em busca de uma vida diferente da que conhecera até então. E é ela o centro desta história. Ela, em ligação com as tribulações e os escândalos da família, mas principalmente no elo estabelecido com um homem que ama, mas não sabe se ama como deveria. Que deseja, mas que ao mesmo tempo a repugna na sua estranha forma de ser possessivo. E que, entre a proximidade e a separação, representa parte do mundo que ela conhece, das ilusões que pretende conhecer e das descobertas de uma realidade que, na glória e na decadência, é sempre diferente de todas as expectativas.
É na poderosa beleza da escrita que se encontra o grande ponto forte deste livro. Cenários apresentados com uma forma tão própria que parece quase inatingível, expressões de sentimentos, de pensamentos e de memórias que se tornam quase palpáveis, metáforas inesperadas que parecem soar quase demasiado próximas... Um intenso domínio da palavra, numa escrita quase poética, que, mais que em acontecimentos, se reflecte na evocação de imagens.
O que acaba, de certa forma, por levar ao que torna a leitura algo difícil e, por vezes, cansativa. De instante em instante, percorrendo situações que, nalguns momentos, roçam o surreal, é difícil distinguir exactamente uma linha narrativa. Passado, presente e futuro surgem numa mescla de momentos sem que haja uma orientação temporal precisa, como se surgissem de uma memória errática no pensamento da própria protagonista. E entre as divagações e os pensamentos, a sensação que fica é a de que, por vezes, a história acaba por se perder.
Marcado por alguns momentos intensos, uma fase final bastante perturbadora e, principalmente, uma escrita de tal forma poética que se torna, por vezes, difícil vislumbrar os acontecimentos simples por entre a complexidade das palavras, A Madona não poderá ser uma leitura fácil. Cativa, ainda assim, pela beleza das palavras e por alguns momentos que, como um vislumbre de outra vida, acabam por surgir... quase reais.

Novidade Porto Editora

Abandonado por uma mulher que o traiu com outro homem, Rafael recorre às consultas de uma psicanalista, com quem acabará por se envolver. Só que ele não sabe que está com isso a ressuscitar o seu passado e a expor-se a uma traição ainda mais dolorosa.
Fazendo uma pausa no romance histórico, que o consagrou como um dos mais populares autores portugueses, José Manuel Saraiva mergulha agora nas águas mais profundas da nossa actualidade, abordando um tema escaldante que fará ainda estremecer algumas boas consciências.

José Manuel Saraiva (Santo António de Alva, 1946) foi jornalista, pertencendo aos quadros de O Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso.
É autor de dois comentários sobre a Guerra Colonial, produzidos pela SIC, um dos quais foi transmitido pelo canal Arte em França e na Alemanha. É sua igualmente a história que deu origem ao telefilme A Noiva, de Luis Galvão Teles.
Em 2001, publica a sua primeira obra, As Lágrimas de Aquiles. Seguiram-se os romances Rosa Brava (2005) e Aos Olhos de Deus (2008), que o consagraram como um dos mais populares autores portugueses.

Os Contos Completos de Ambrose Bierce - Primeira Parte

Uma explicação prévia... Tratando-se de um livro que reúne um total de 92 contos, poderão imaginar a dimensão de um comentário que abrangesse cada um dos textos. Assim, este interessante livro, de conteúdos tão diversos como cativantes, será objecto de vários posts ao longo dos próximos dias, de modo a percorrer a minha opinião sobre cada um dos contos sem que o referido comentário se torne demasiado cansativo.
Começo portanto com A Morte de Halpin Frayser, onde um homem se descobre numa floresta... para se ver face a face com uma ameaça tão mais assustadora por não pertencer ao mundo dos vivos. Um conto misterioso e envolvente, fascinante nas descrições mais sombrias, mas principalmente na medida de inexplicável que deixa no ar.
Parker Adderson, Filósofo conta a história da última noite de um prisioneiro de guerra e da sua peculiar visão da morte. Curiosa a forma como o autor mistura filosofia, uma certa dose de humor e algumas acções imprevisíveis para criar uma história surpreendente.
Segue-se As Actividades Nocturnas em Deadman's Gulch, onde, numa noite clara, o único habitante da localidade recebe um hóspede. E conta-lhe uma história. Descrições precisas, que dão vida a um episódio estranho e bastante enigmático, onde parte do mistério é deixado à imaginação do leitor são a principal força deste conto.
O Tordo-dos-Remedos apresenta um sentinela perdido no próprio posto, atormentado pelo som de movimentos na escuridão. Intrigante, impressionante na descrição das percepções nocturnas e com um final surpreendente, ainda que um pouco abrupto.
Uma Recordação de um Naufrágio, por sua vez, conta a história de um homem cruel num navio prestes a afundar-se, num conto breve, mas que impressiona principalmente no retrato da insensibilidade do narrador/protagonista.
Mais uma história de fantasmas, desta vez Um Pequeno Vagabundo. Particularmente marcante pela força das descrições, apesar de um início algo confuso. Escrito, ainda assim, de forma impressionante e com um final lindíssimo.
Segue-se o meu conto preferido de entre os referidos nesta primeira parte. A História de uma Consciência decorre, mais uma vez, em cenário de guerra e apresenta a história de uma vida salva no passado, e a visão de um reencontro como causa de morte. Intenso, com uma escrita soberba, mas marcante acima de tudo pela força de princípios que representa.
Um Habitante de Carcosa apresenta uma descoberta de valor incalculável, mas também uma interessante visão da morte e do além-morte. Intrigante, envolvente, com descrições magníficas e um final de impacto. Uma Revolta dos Deuses, por sua vez, fala de um desentendimento familiar... de dimensões catastróficas. Sarcástico, com algo de surreal, um conto particularmente divertido.
É com uma execução iminente que abre Um Acontecimento na Ponte de Owl Creek. Um relato de luta contra a morte, bastante descritivo, mas intenso, sendo particularmente impressionante a descrição da luta pela sobrevivência, cujo impacto se torna mais forte ante a revelação final.
A Alucinação de Staley Fleming conta como um homem apela à ajuda de um médico para afastar o que julga ser uma alucinação recorrente. A ideia é bastante interessante, ainda que a brevidade do conto deixe a sensação de uma tensão menor que a que poderia ser transmitida ao leitor.
O Comandante do Camel é a história de uma expedição atribulada. Com bastante de improvável mas com um humor intrigante, uma interessante visão dos efeitos secundários da suposta literatura "popular".
Um Cavaleiro no Céu começa com um sentinela adormecido, seguindo para uma visão impressionante e um dilema entre dever e emoção. Muito bem escrito e com descrições cativantes, uma boa história, apesar do final algo abrupto.
Ainda os fantasmas, em A Casa Fantasma, apresentando a inevitável visita a uma casa assombrada. Sombrio e intenso, apesar da brevidade do texto e de alguns elementos mais previsíveis.
Termino com o conto Óleo de Cão, uma variante particularmente sinistra do fabrico do produto que dá nome ao texto. Uma história perturbadora, principalmente pela forma quase descontraída com que o narrador apresenta toda a situação.

Vai longo o comentário, pelo que, por agora, me fico por aqui. Esta opinião continuará em futuros posts.

Novidades Bertrand

Depois de Os Males da Existência – Crónicas de Um Reaccionário Minhoto, em 2008, chega uma nova compilação de crónicas de um dos maiores cronistas portugueses.
«Um cronista exemplar» – Maria Filomena Mónica

«O meu médico de Viana (a quem recorro nas aflições, e que vigia o temperamento das coronárias e do fluxo renal) não o diz, mas sei que a longevidade dos Homem o aflige como um milagre da província. O segredo é só este: espremer a pasta de dentes pelo fundo, não ler demasiados romances, manter os retratos dos antepassados, levantar cedo e evitar ceder à indignação. Depois de fazer oitenta e cinco anos, já lá vão uns tempos, a família trata-me como uma página do álbum de glórias, anterior ao Titanic, destinado ao naufrágio ou ao museu. Faço o que posso, só para não os desiludir.»

«Aquilino Ribeiro… aceitou o encargo de compor a vida dos grandes portugueses, príncipes, reinantes ou apenas caudilhos, que deixaram na história mais que uma passagem meteórica (...) O critério dele é o do romancista: interessa-lhe tudo o que não é comum. Para a história, de resto, não há apenas ouro, há também o oricalco. (…) Aquilino Ribeiro olhou para esses grandes de Portugal e pintou-os como Velasquez fazia com as tintas do arco-íris. Tais como eram. Melhor, tais como lhe pareceram. Sem deixarem de ser a obra do historiador, escreveu estes perfis o novelista.»

Excerto da «Advertência ao Leitor» que Aquilino Ribeiro escreveu para ser assinada pelos primeiros editores dos Príncipes de Portugal, onde tecia diversas considerações sobre a natureza, o espírito e a forma como traçara o perfil das personagens históricas que escolhera.

Novidade Eucleia

Brilhante, original e arrebatador. Búfalo é violência e ternura, é caos e ordem, perfeição, humor e amor. Escrito num ritmo alucinante e pleno de inteligentes e poderosas metáforas e de imagens que conduzem o leitor a uma experiência literária única e marcante no panorama da Literatura contemporânea.

«O umbigo aparece como a cereja no bolo. A barriga estava lisa e deus chorou uma lágrima de satisfação pelo trabalho realizado com êxito. A lágrima de deus caiu ali na barriga dela e fez-se o umbigo. Deus, com mais emoção ao observar seu último feito intuitivo, chorou um temporal. Temporal esse que me acordou e acordou todo o mundo paralisado. O beco voltou a ser beco com vida e quando me dei conta estávamos, eu e a mulher, ajoelhados frente a frente tomando o temporal divino e pesado sobre nossos corpos. Com as pupilas em ótimo estado pude reparar o bico de nossos narizes se aproximando até o toque. Não havia acontecido na existência do universo um toque de ponta de nariz como aquele. Era amor à primeira e à segunda vista. Micro big bang aflorado e se expandindo. Dupla sertaneja no auge do sucesso. Duas almas se encostando pela primeira vez. O máximo do belo. Tudo o que é dois acontecendo junto. Mantivemos aquela mesma posição por horas a fio, unificados somente pelas pontas dos narizes. Permanecemos nos beijando daquela forma. Nosso primeiro beijo foi assim, pelo nariz.»

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Terceiro Segredo (Steve Berry)

O terceiro segredo de Fátima parece ter-se convertido numa obsessão para o papa Clemente XV. Mas ninguém compreende porquê. Apenas os que lhe são mais próximos sabem, de facto, dessa necessidade visceral de investigar e, por isso, Colin Michener, o seu secretário, será os olhos e as mãos para aquele que é, no fundo, um homem preocupado e atormentado também com os seus próprios segredos. Mas há ambição entre os príncipes da Igreja e o cardeal Valendrea, que sabe mais do que deveria sobre aquilo que o papa tenta descobrir, recorrerá a todos os meios necessários para impedir que a verdade seja revelada. E, de preferência, para que seja ele o sucessor do envelhecido Clemente XV.
Uma história envolvente, marcada pelos elementos característicos deste género de livro, mas com algumas situações inesperadas, aliadas a personagens bastante mais complexas do que seriam de esperar. É esta a base deste romance e a força que o torna numa leitura simplesmente viciante. Capítulos curtos, alternando entre os sucessivos progressos de Colin, os planos e obsessões de Valendrea e a inevitável divisão de Katerina entre o que sente e aquilo que foi chamada a fazer dão a todo o enredo um ritmo intenso, que mantém constante a vontade de saber mais. E se os elementos de maior acção e as surpresas que vão surgindo pelo percurso servem em grande parte para manter a curiosidade, há também algo de mais profundo que torna este livro mais que apenas mais um thriller sobre religião.
Primeiro, a ambiguidade de sentimentos de Colin e Katerina. Colin é um padre (e, como tal, obrigado ao celibato), mas viveu com Kate uma relação e o seu reaparecimento virá provar-lhe que os seus sentimentos não desapareceram. Esta situação (assim como outra revelação numa fase posterior do livro) servem de base a uma abordagem bastante precisa à questão do celibato. Por outro lado (e aqui a revelação do "segredo" é bastante conveniente neste aspecto) a ideia de que muitos dos supostos dogmas religiosos poderiam ser, afinal, recusados por uma vontade superior, propicia a uma certa reflexão sobre temas tão polémicos como o aborto e o sacerdócio exercido por mulheres.
Há ainda mais um elemento que torna a leitura constantemente cativante e este é, como não podia deixar de ser, o protagonista. Mas que pelas suas aventuras e descobertas, é nos conflitos interiores de Colin, na firmeza, apesar de tudo, dos seus melhores princípios e na lealdade segura perante o seu protector que se vislumbra a força do seu carácter e é também esse aspecto a tornar Colin Michener numa personagem tão cativante e capaz de despertar empatia.
Cativante, com um mistério intrigante, uma interessante abordagem às diferentes profecias e personagens com vidas e personalidades mais vastas que a simples ligação da sua presença nos acontecimentos que marcam todo o enredo. Intensa e viciante, uma boa leitura.

Novidade Porto Editora

Lorenza e Mateo chegam a Buenos Aires em busca de Ramón, o antigo amante de Lorenza e pai de Mateo, por quem ela se apaixonou durante a «guerra suja» argentina, quando os dois eram fervorosos militantes que se opunham à ditadura de Videla. Agora, mãe e filho, embora se encontrem encurralados no mesmo quarto de hotel, estão muito distantes quanto à forma exacta de achar o pai.
Lorenza, que chegou à idade adulta no meio do torvelinho político dos anos sessenta, reflecte sobre as suas antigas convicções ideológicas e emocionais; o filho, um miúdo dos anos noventa que não se interessa de todo pela política nem pela ideologia, procura um pai real, de carne e osso.
Laura Restrepo, um dos maiores nomes da literatura latino-americana, oferece-nos, em Demasiados Heróis, um romance exemplar sobre o conflito de gerações.

Laura Restrepo nasceu em Bogotá, na Colômbia, em 1950. Licenciada em Filosofia e Letras, foi professora universitária e dedicou-se activamente à vida política e ao jornalismo. Actualmente, é professora na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Alguns dos seus romances – O Leopardo ao Sol, Doce Companhia, A Noiva Obscura e Delírio – encontram-se traduzidos em Portugal.
Recebeu, entre outros, os prémios Sor Juana Inés de la Cruz, France Cultura, Grinzane Cavour (para o melhor romance estrangeiro publicado em Itália) e Alfaguara (sendo presidente do júri José Saramago).
Demasiados Heróis, publicado originalmente em 2009, confirmou-a como um dos grandes nomes da literatura latino-americana.

Vencedor do passatempo A Vingança do Lobo

Mais um passatempo terminado, desta vez com 129 participações. E é altura de anunciar mais um resultado.

E o vencedor é...

51. Cátia Patrício (Armação de Pêra)

Parabéns e boas leituras!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Deixa o Grande Mundo Girar (Colum McCann)

Naquele dia, um funâmbulo percorreu um cabo esticado entre as duas torres do World Trade Center. E o mundo parou para ver. Esta é a história de vidas que mudaram naquele dia. Dos que o viram e se sentiram abalados pela sua coragem. Dos que ouviram falar e quiseram saber mais. E dos que nunca chegaram a saber porque perderam algo de irrecuperável naquele mesmo momento. Estas são histórias de vidas que, aparentemente, nada têm de comum, mas que se ligam de forma imprevista ao longo deste livro.
Há várias histórias interligadas ao longo desta narrativa. Cada capítulo corresponde a uma nova personagem, uma nova história e um novo ponto de vista. Nalguns deles, sabemos de antemão as suas ligações com figuras anteriores. Noutros, essa ligação é ténue, um contacto de instantes, ou acaba por se revelar apenas muito mais tarde. E se esta complexidade, esta multiplicidade de histórias e de vidas diferentes, cria uma certa confusão inicial (demasiadas linhas a seguir, demasiadas histórias encerradas quando queremos ainda saber mais), o impacto final de todas estas histórias, por vezes aparentemente incompletas, é maior pelo facto de um simples acontecimento estar, afinal, ligado a tantas vidas diferentes.
Alguns momentos são bastante impressionantes. Se algumas das histórias são, de facto, mais cativantes que outras (e aqui as de Corrigan e Claire têm uma força muito marcante), também é verdade que, em todas elas, marca a intensidade da escrita, não só no mais emotivo, mas também na forma como a memória permanece ligada aos mais pequenos pensamentos e acontecimentos. E isto é algo que o autor parece dominar na perfeição.
Ainda que o número elevado de personagens e linhas narrativas cruzadas exija bastante concentração, sacrificando talvez parte da envolvência, o balanço final desta leitura é claramente positivo. Personalidades marcantes, acontecimentos poderosos e decisões irreversíveis marcam toda uma série de vidas ao longo deste livro, deixando no ar, enfim, uma certeza e uma pergunta. Aconteça o que acontecer, a vida continua sempre. E não é a vida uma história sempre incompleta?

Novidades Dom Quixote para Março

E Agora, Zé Ninguém?
Hans Fallada
Ficção Universal

Alemanha, finais dos anos 20. Apesar da grave crise económica que afecta a vida de muita gente, Johannes e Emma, carinhosamente chamada Cordeirinha pelo seu caloroso marido, levam a vida com confiança e entusiasmo. Acreditam que apoiando-se no amor, podem superar todas as dificuldades, mas rapidamente se apercebem de que a sorte não está do seu lado e que a realidade é muito mais dura de enfrentar do que tinham imaginado.Uma história de sobrevivência obstinada com que Hans Fallada, um dos mais importantes escritores da língua alemã, consegue tocar os corações de todas as idades.
Nas livrarias a 28 de Março

Método Prático da Guerrilha
Marcelo Ferroni
Ficção Universal

O Metódo Prático da Guerrilha é uma obra de ficção, sobre ambição e loucura, que, partindo de factos reais – a última expedição revolucionária de Che Guevara –, subverte a história documentada, recriando personagens e situações. É também uma história de amor e um thriller sobre os poucos que permaneceram ao lado do combatente até ao fim.
Nas Livrarias a 21 de Março

Deixem Falar as Pedras
David Machado
Autores Língua Portuguesa

No dia em que se ia casar, Nicolau Manuel foi levado pela Guarda para um interrogatório e já não voltou. Alternando a narrativa dos sucessivos infortúnios de Nicolau Manuel – que é também a história de Portugal sob a ditadura, com os seus enganos, perseguições e injustiças, Deixem Falar as Pedras é um romance maduro e fascinante sobre a transmissão das memórias de geração em geração, nunca isenta de cortes e acrescentos que fazem da verdade não o que aconteceu, mas o que recordamos.
Primeiro romance do autor na Dom Quixote.
Nas livrarias a 21 de Março

Os Terraços de Junho
Urbano Tavares Rodrigues
Autores Língua Portuguesa

Quase todos estes contos se caracterizam pelo insólito, pelo mágico, pelo surpreendente. Pairam entre o real e o irreal numa fascinante contradança de amor, aventura e desespero. E, contudo, como em toda a obra do autor, o social nunca é esquecido. Mas é na segunda parte, num conjunto de textos intitulado “Angústia com Licor de Rosas”, que o onírico prevalece e a intensa pulsão poética da escrita de Urbano Tavares Rodrigues
ganha contornos de invulgar sedução.
Nas livrarias a 31 de Março

A Noite das Mulheres Cantoras
Lídia Jorge
Autores Língua Portuguesa

Neste novo romance de Lídia Jorge, há uma pergunta que o percorre da primeira à última página: quantas vítimas se deixam pelo caminho para se perseguir um objectivo? A acção decorre no final dos anos 80 do século XX e invoca um tema de inesperada audácia – o da força da idolatria e a construção do êxito – visto a partir do interior de um grupo, narrado 21 anos mais tarde, na forma de um monólogo.
Nas livrarias a 21 de Março

A Humilhação
Philip Roth
Ficção Universal

Acabou tudo para Simon Axler, o protagonista deste livro de Philip Roth. Um dos mais destacados actores de teatro americanos da sua geração, agora na casa dos sessenta, perdeu a magia, o talento e a confiança. Quando sobe ao palco sente-se louco e faz figura de idiota.
Esgotou-se a confiança nas suas faculdades: imagina que as pessoas se riem dele, já não consegue fingir que é outra pessoa.
Depois das sombrias meditações sobre a moral e a morte em Todo-o-Mundo e O Fantasma Sai de Cena, e do amargamente irónico olhar retrospectivo sobre a juventude e o acaso em Indignação, Roth acrescentou mais um ao grupo dos seus inesquecíveis romances recentes.
Nas Livrarias a 31 de Março

Novidade Porto Editora

Num vale belo e pacífico desponta uma antiga casa de pedra, conhecida como Mas Lunel. O seu proprietário é Aramon Lunel, um alcoólico de tal forma assombrado pelo seu passado violento que é incapaz de qualquer existência relevante, negligenciando os cães de caça e a propriedade da família. Numa casinha à vista de Mas Lunel mora a sua irmã, Audrun, que sonha com a vingança de todas as tragédias que lhe destruíram a vida.
Este mundo fechado e abalado por experiências sinistras é visitado por Anthony Verey, um negociante de antiguidades exilado, oriundo de Londres, que espera poder reconstruir a sua vida em França e começa a visitar propriedades na região.
Dois mundos e duas culturas colidem. Ultrapassam-se limites ancestrais, quebram-se tabus, comete-se um crime. E, enquanto o mundo desaba, as colinas de Cévennes observam.

Rose Tremain é uma conhecida autora de romances, contos e peças de teatro. Vive em Norfolk, Londres, com o biógrafo Richard Holmes.
Os seus livros estão traduzidos em diversas línguas, e têm conquistado muitos prémios, entre os quais, o Whitebread Novel of the Year, o Prémio James Tait Black Memorial, o Prémio Femina Etranger, o Prémio Dylan Thomas, o Angel Literary Award e o Livro do Ano do Sunday Express.
Restauração foi nomeado para o Booker Prize e adaptado a filme; The Colour foi nomeado para o Orange Prize e seleccionado pelo Clube de Leitura do Daily Mail. A mais recente colectânea de Rose Tremain, The Darkness of Wallis Simpson, foi nomeada para o First National Short Story Award, bem como para o Frank O’Connor International Short Story Award. Regressar a Casa (The Road Home) foi galardoado com o Orange Prize for Fiction 2008.

Passatempo Oblívio

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Editorial Presença, tem para oferecer um exemplar do livro Oblívio, de Filipe Faria. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chama o herói das Crónicas de Allaryia?
2. Quantos volumes constituem esta saga?
3. Como se chama o primeiro livro das Crónicas de Allaryia?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 20 de Fevereiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Vencedor do passatempo A Rainha Vermelha

Terminou mais um passatempo. Muito obrigada aos 159 participantes e, se não foi desta, outras oportunidades hão-de surgir.

E o vencedor é...

102. Rita Verdial (Azeitão)

Parabéns e boas leituras!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Novidade Porto Editora

A ameaça de um grande atentado contra o Papa desencadeia uma intrincada investigação. Mas, no meio eclesiástico, as mortes não explicadas sucedem-se, adensando um clima de suspeita e medo.
Entretanto, o porta-aviões Varyag, transformado em casino flutuante, é palco para o assassínio de Lady Godiva, uma bela e afamada cantora.
Muitos anos antes, no fim da Segunda Guerra Mundial, o Submarino U-1277 foi afundado junto ao Porto pelo seu comandante; a tripulação desembarcou em botes na praia de Angeiras e desapareceu. Ninguém sabe o que aconteceu a Helmuth Draier, nem qual a secreta missão de
que vinha incumbido.
Desvendar quem matou, como o fez e porquê é um dos desafios para o detective Mário França. O outro é mergulhar no passado e resolver um enigma. Do seu escritório no Muro dos Bacalhoeiros, no Porto, será ao som do Requiem de Mozart que ele conduzirá a investigação até ao sucesso final.

Miguel Miranda é médico (chefe de serviço de Medicina Geral e Familiar) e autor de vários romances, livros de contos e livros infantis. Recebeu o Grande Prémio de Conto da APE pelo livro Contos à Moda do Porto (1996); o Prémio Caminho de Literatura Policial pelo livro O Estranho Caso do Cadáver Sorridente (1977); e o Premio Fialho de Almeida pelo livro A Maldição do Louva-a-Deus (2001). Está traduzido em Itália e representado em diversas colectâneas. Entre outros, publicou os romances Bailado de Sombras, Livrai-nos do Mal, Dois Urubus Pregados no Céu, O Silêncio das Carpideiras e O Rei do Volfrâmio, e os livros de contos A Mulher que Usava o Gato Enrolado ao Pescoço e Como se Fosse o Último. Dai-lhes, Senhor, o Eterno Repouso é o seu sexto romance.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Mulher do Capitão (Ludgero Nascimento dos Santos)

Uma história de amor e morte, no cenário de uma pequena vila angolana, em plena Guerra Colonial. A história de Diana, de como se deixou convencer a casar com um homem que não amava para fugir a uma vida de dificuldades e de um certo desprezo. E de Luís, o alferes que descobre o amor em toda a sua força na bela figura da mulher do capitão.
O mais interessante ao longo desta leitura está na forma como as emoções vão ganhando vida, gradualmente, à medida que acontecimentos mais difíceis se vão sucedendo. Se a abertura da história é, por si só, de impacto, a verdadeira dimensão dessas declarações iniciais só se alcança em pleno bastante mais tarde, quando a história de Luís e Diana atinge um ponto sem retorno. E é nestes momentos mais intensos que o autor consegue mostrar o melhor da história, evocando emoções tão divergentes como a piedade e a repulsa, o perdão e o desejo de vingança, numa clara e longa viagem ao passado.
A própria caracterização de cada personagem, bastante precisa nos elementos que realmente interessam, contribui para despertar no leitor alguma reacção. E isto não se aplica apenas ao protagonista. Figuras como a de Josefina, com a sua obsessão quase louca, e Simão, com uma lealdade para além da morte e capaz de ditar qualquer acção, dão aos acontecimentos uma nova força, uma maior amplitude de aspectos de interesse.
Em termos de escrita, há algumas peculiaridades em termos de pontuação que, inicialmente, provocam alguma estranheza. São aspectos, ainda assim, que, passada uma fase inicial, se assimilam com facilidade, não prejudicando muito a leitura.
Uma leitura interessante, com alguns momentos bastante emotivos e algo de intrigante em várias das personagens que constituem esta história. Gostei.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sangue de Anjo (Nalini Singh)

Elena Deveraux é uma caçadora de vampiros. Mas não do estilo que anda pela noite a cravar estacas em criaturas imortais sugadoras de sangue. Não. Na verdade, os vampiros são criados pelos anjos e subordinados a estes durante um período estipulado em contrato. O trabalho de Elena, portanto, é capturar os que tentam evitar os seus deveres e devolvê-los aos respectivos chefes, e ela é extraordinariamente boa no que faz. Mas isso significa problemas quando o arcanjo Raphael a escolhe para um trabalho bem mais arriscado.
Uma das grandes forças deste livro e aquela que chama a atenção desde o princípio é a caracterização das personagens. Tanto Elena como Raphael são fascinantes à sua própria maneira. Ambos têm um passado mais enigmático do que tudo faria pensar e as personalidades de ambos revelam-se melhor na relação de choque e atracção que desde cedo se estabelece entre eles. Elena é forte, persistente, consciente das suas capacidades e evidentemente incapaz de submissão (mesmo quando isso significa um certo desprezo pela continuidade da sua própria existência). Raphael, por sua vez, representa poder, crueldade, mistério, autoridade, beleza irresistível... mas também, e apesar da sua fortíssima certeza de não ser humano, um certo laivo de sensibilidade que acabará por ser despertado pela presença de Elena. E diga-se que, para um "anjinho", o arcanjo de Nova Iorque tem, de facto, muito que se lhe diga.
Também o enredo tem muito de interessante. Seria de prever uma considerável componente de desenvolvimento romântico e sensual. E é um facto, a atracção entre os protagonistas tem grandes momentos de destaque ao longo do livro. Não deixa de ser curioso, ainda assim, ver a forma como o antagonismo inicial passa a estrita atracção física... e depois... a algo bastante mais intrigante que os jogos de Raphael com os seus brinquedos. Mas há mais, para lá do romance. A missão de Elena implica, de facto, situações de perigo e momentos de acção, que culminarão num momento bastante impressionante. Ao mesmo tempo, existem traços da história passada tanto da caçadora como do arcanjo, que, ainda que não sejam completamente revelados neste primeiro livro, deixam no ar uma inevitável curiosidade.
Envolvente, intrigante, com momentos de um humor delicioso e outros de uma força fascinante. Intenso, tanto na crueldade como na ternura, um livro que cativa desde as primeiras páginas e que se torna simplesmente impossível de largar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Os Mágicos (Lev Grossman)

Uma entrevista de admissão à faculdade era tudo o que ocupava os pensamentos de Quentin Coldwater naquele dia. Mas, quando entraram na casa, o homem estava morto e havia uma estranha carta à espera do rapaz. Alguns passos, a perseguição a uma nota e Quentin dá consigo em Brakebills, escola de magia. Mas um sonho realizado nem sempre significa felicidade. Às vezes, representa apenas o início dos problemas.
Há um certo desequilíbrio ao longo do enredo deste livro, como se o autor tivesse várias ideias, algumas delas bastante interessantes, e fosse imperioso que todas fossem, de alguma forma, misturadas numa mesma narrativa. O resultado é que, durante uma boa parte do livro, os acontecimentos que se sucedem não parecem seguir uma linha de enredo principal, mas espalhar-se através do cenário como situações confusas e cujas ligações parecem difíceis de compreender.
Alguns momentos são realmente muito bons. A história do irmão de Alice, o método de ensino do professor Mayakovsky, a mudança de Martin Chatwin e alguns outros momentos espalhados ao longo do livro são, de facto, bastante cativantes. O problema é que, entre estas, outras situações são apresentadas que, ou tornam o enredo confuso, ou parecem não contribuir para a história ou não chegam a ver explicada a sua verdadeira importância (como no caso do teste facultativo da Antárctida). Assim, por mais interessantes que sejam os melhores momentos do livro, o resultado é uma distância inevitável face a história e personagens que, com as suas acções por vezes inexplicáveis, raramente chegam a permitir grande empatia para com o leitor.
Ainda de referir toda a parte da história construída em volta de Fillory. É, na verdade, nas partes dedicadas a este mundo que se encontram alguns dos aspectos mais curiosos do livro, principalmente na ligação entre o que os protagonistas realmente encontram e aquilo que a sua imaginação lhes permitira retirar dos livros. Há, nesta fase, um ritmo um pouco mais constante e bastantes mais pontos relevantes, em comparação à fase de aprendizagem em Brakebills.
Dificilmente poderei dizer que este livro correspondeu às minhas expectativas. Existem, ainda assim, alguns pontos de interesse, principalmente nalguns momentos mais dedicados à reflexão sobre o valor dos sonhos e do poder. Pena que não tenham sido o suficiente para cativar por completo.