segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Flor-de-Lis (Alda Gonzaga)

Joana é uma mulher de sucesso num mundo de homens. Mas a sua vida familiar não a satisfaz. O marido, Henrique, torna-se mais distante a cada dia que passa e a sua relação tornou-se uma rotina sem sentido. Mas tudo muda quando conhece Afonso. Também casado, este homem ver-se-á no mesmo conflito de escolhas que a própria Joana e a relação de ambos, que começa de forma atribulada, será todo um caminho de momentos bons e de grandes dificuldades.
Esta foi uma leitura que me despertou sentimentos ambíguos. Aspectos houve que me agradaram bastante. Outros, contudo, impediram que a história do casal protagonista me cativasse por completo. E se há nesta história momentos de grande força e uma base de um certo potencial, a oscilação entre momentos de força quase viciante e explicações quase dissertativas dá ao livro um ritmo algo irregular.
Entre os pontos positivos deste livro, realçaria fundamentalmente a escrita, que, na generalidade do livro, é agradável e sem elaborações desnecessárias. Também a personalidade de Joana, forte e orgulhosa, apesar das suas vulnerabilidades, num mundo predominantemente masculino, desperta para com a personagem um certo nível de empatia. E, além disso, a base das relações familiares, sem querer passar a ilusão de que tudo corre inevitavelmente bem, com os momentos mais egoístas e os atritos mais inevitáveis postos em vidência, confere ao que seria, à partida, uma clássica história de amor, um toque mais realista.
Nos aspectos menos bons, destaca-se o tal tom demasiado dissertativo aplicado a alguns excessos descritivos. Na necessidade de caracterizar detalhadamente a época em que o romance decorre, a autora acaba, por vezes, por deixar a impressão de ter esquecido os seus potagonistas, demorando-se em explicações sobre os costumes e a mentalidade da época, bem como (e este aspecto é particularmente explorado) das diferentes mentalidades políticas. Claro que estes elementos têm também o seu interesse, mas ao serem apresentados em descrições bastante longas onde a relação destes factos com o enredo se torna pouco relevante faz com que se perca alguma da envolvência, já que as personagens são, de certa forma, deixadas para segundo plano.
Um livro com alguns momentos marcantes e de grande intensidade, que cativa fundamentalmente pela força dos protagonistas, mas que acaba por perder alguma da sua força pelas quebras de ritmo provocadas pelos momentos de caracterização. O que é pena, porque o potencial da história é bastante.

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