quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Ninfa Inconstante (Guillermo Cabrera Infante)

Ele é um homem (demasiado) culto, casado, mas que fica fascinado pela jovem beleza de Estela desde o primeiro dia em que a vê. Ela é ainda menor, incapaz de entender o discurso pejado de citações e vocábulos estranhos com que ele se lhe dirige, mas definida por uma estranha mistura de inocência e perversidade. E esta é a história de uma estranha espécie de amor, por vezes ingénuo, por vezes destrutivo, mas nunca eterno.
Numa mistura de inocência, de fascínios proibidos, de uma certa (e por vezes impossível) sensualidade e de uma perversidade ténue, mas presente, este é um livro que, apesar de ser também interessante na história peculiar que apresenta, fascina essencialmente pela complexidade da escrita. O autor mistura referências literárias e cinematográficas, cria jogos de palavras e frases de sentido ambíguo e desenvolve diálogos que, a espaços, chegam a ser surreais. E, apesar de tudo isto, a leitura nunca perde a sua força cativante, já que a forma fluída e quase espontânea com que o texto transmite, em cada pequeno momento, a sua beleza, nunca deixa de estar presente ao longo do enredo.
Também os estranhos protagonistas deste livro têm algo de fascinante. A extensa cultura do narrador, que o leva a criar, por vezes, diálogos quase absurdos, cria um claro contraste com a inocência de Estela. Esta, por sua vez, tem também os seus momentos de contradição, na forma como conduz as suas provocações, dando origem a alguns dos mais estranhos momentos de toda a história. E, se há amor nesta história, este não podia andar mais longe da ideia idílica e romântica da paixão que desperta entre casais. Desde cedo que é claro que não haverá um "felizes para sempre", nem tal é esperado de tais personagens. São demasiado peculiares, antagónicos nas suas mudanças, inconstantes na sua forma de ser. E o sentimento que os liga, se existe, não deverá ser propriamente esse amor, mas algo como uma atracção despoletada pelo fascínio que exercem um sobre o outro.
Uma história interessante, a recordar, numa fase inicial, a Lolita de Nabokov, mas que cedo ganha uma identidade própria. Mas, mais que a história, é a escrita complexa e, contudo, cativante, que torna este livro tão intenso na sua expressão. Muito bom.

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